quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Funeral



Era Domingo quando embora foi sem prevenir, porque assim o quis a dor. Abalou.
Foi andando com o pensamento pelas costas, carregado de palavras que lhe diziam ser ele o seu dono, sim, e não uma carta de jogar. Fora, baralho podre e viciado!
Adormeceu no exílio do seu eu. Desperta acordando de si.
Olha para trás. Quando partiu não chovia.
Agora, de regresso, vê o seu país fustigado pela dibanda. Pára entre duas gotas. Vê à frente e atrás, à esquerda e à direita. As armilas já lá não estão. A eclíptica, o equador e os meridianos desapareceram. O vermelho escarlate é laranja e o verde amarelo.
Volta a olhar, não vá a chuva fazê-lo entrar em disfunção. Vê o mesmo, e mais: o país está encarquilhado. E, como em dizer de Saramago, para aqui trazido, as nuvens estão ali pardas e pesadas.
Então solta o pensamento e pergunta-lhe:
- De quem é este funeral?