segunda-feira, 30 de abril de 2012

1º de Maio

Não há que esquecer
 A 20 de Junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu convocar anualmente os trabalhadores para uma manifestação pela conquista das 8 horas de trabalho diário. Em homenagem aos trabalhadores “ Mártires de Chicago” (a cidade que era o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época), o dia escolhido foi o Primeiro de Maio. Em 23 de Abril de 1919, o Senado francês aprovou a jornada diária de 8 horas e proclamou feriado o dia 1 de Maio desse ano. No ano seguinte a Rússia adoptou o Primeiro de Maio como feriado nacional, exemplo que foi seguido por muitos outros países. Instituíra-se o Dia Mundial do Trabalho.
Como se chegou aqui:
 Há que retroceder aos primórdios da Produção Capitalista, quando ainda eram comuns práticas selvagens. Não apenas se procurava, desenfreadamente, a mais-valia, através de baixos salários, como até mesmo a saúde física e mental dos trabalhadores era comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas de trabalho diário, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal, cuidados de saúde, apoio à maternidade e reformas não existiam. Para se protegerem, os trabalhadores criaram vários tipos de organização como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando maiores salários e redução das horas de trabalho diário. Greves, nem sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos, era, também, um dos grandes centros sindicais. Duas centrais lideravam os trabalhadores em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As organizações (centrais), sindicatos e associações, que surgiam, eram formadas principalmente por trabalhadores de tendência socialista, anarquista e social-democrata. Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. Os trabalhadores reivindicavam melhores salários e a passagem da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias. À época, Chicago não era apenas o centro da máfia e do crime organizado, era, também, o centro do anarquismo na América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.As entidades patronais controlavam igualmente jornais, onde os líderes operários eram descritos como “preguiçosos e canalhas” que só procuravam a desordem. O Chicago Tribune foi mais longe e publicou em editorial: "Para estes vagabundos esfarrapados, a melhor comida é uma carga de chumbo no estômago". No decorrer da greve, uma passeata pacífica, pela Avenida Michigan, de trabalhadores no activo, desempregados e familiares, vestindo roupas de Domingo, e empunhando cartazes onde se lia "8 horas para trabalhar, 8 horas para descansar e 8 horas para fazermos o que for de nossa vontade", silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos no curto prazo. Do alto dos edifícios e nas esquinas a polícia vigiava, fortemente armada. A passeata terminou com um comício. No dia 3, a greve continuava em muitos estabelecimentos. Diante da fábrica McCormick Harvester, a policia disparou contra piquetes de greve e outros operários, matando seis, deixando 50 feridos e deteve centenas. August Spies convocou os trabalhadores para uma concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos líderes pedirem calma. Os oradores revezavam-se; Spies, Parsons e Sam Filiem, pediram a união e a continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180 policiais atacou os manifestantes, espancando-os. Uma bomba explodiu no meio dos guardas. Sessenta foram feridos e vários morreram. Chegaram reforços policiais que começaram a atirar em todas as direcções. Morreram centenas de pessoas: mulheres, homens e crianças. Os acontecimentos ficaram conhecidos como A Revolta de Haymarket. A repressão foi aumentando num crescendo sem fim: o Governo decretou o “Estado de Sítio”, e o recolher obrigatório, com a consequente proibição de circulação pelas ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gangsters, pagos pelos patrões, invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo-lhes bens. A justiça levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O julgamento começou a 21 de Junho de 1886 e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas.
Mártires de Chicago
A sentença foi lida a 9 de Outubro. Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte por enforcamento; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.
Linng, ao centro na foto, não foi enforcado por ter sido encontrado morto na sua cela.
Gerou-se, então, um movimento de solidariedade internacional pressionando o governo dos Estados Unidos a realizar um novo julgamento, o que acabou por acontecer em 1888. O novo júri, entretanto constituído, reconheceu a inocência dos trabalhadores, admitiu, como provado, que fora um capitão da polícia a mandar rebentar a bomba em Haymarket, culpabilizou o Estado norte-americano e decidiu a libertação dos trabalhadores presos, incluindo os condenados a prisão perpétua.
  
Em Portugal só a partir da Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, é que se voltou a comemorar o Primeiro de Maio, livremente, e este passou a ser feriado nacional. Hoje, as duas centrais sindicais, CGTP (Central Geral dos Trabalhadores Portugueses) e UGT (União Geral de Trabalhadores), assinalam-no, em liberdade, com manifestações e comícios por todo o país. Durante a ditadura salazarista do Estado Novo as comemorações eram reprimidas pela polícia.
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Os Estados Unidos, onde tudo começou, não reconhecem, apesar disso, ainda hoje, o Primeiro de Maio como Dia do Trabalhador. Naquele país também se celebra um Dia do Trabalhador (Labor Day), mas isso acontece na primeira segunda-feira de Setembro. É feriado federal (nacional), estando relacionado com o período das colheitas e com o fim do Verão. A decisão de assim ser foi tomada pelo presidente Stephen Grover Cleveland (Partido Democrata), por recear que a celebração em Maio reforçasse o movimento socialista nos Estados Unidos.
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 Viajar pela História deixa-nos uma certeza: lutando por melhor, é sempre possível mudar.
Nunca desistir é lema que sigo desde sempre.
Recordo, com emoção, o 1º de Maio de 1974 em Lisboa. Nunca vira manifestação como aquela. Vivi-a com o sentimento de ter recuperado esse bem precioso que é a Liberdade. Chorei enquanto desfilava e ouvia os líderes políticos regressados do exílio. Hoje, não fora a ainda impossibilidade de caminhar como quero, voltaria à Manifestação.
Deixo-vos com palavras de Manuel Alegre:

É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor é possível o pão. É possível viver de pé! Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre.
( Em Portugal estamos a regressar aos primórdios da Produção Capitalista. Na cena política portuguesa ressurgiram os vendedores de ilusões, que nos pretendem acorrentar de novo)
Volta a ser necessário ouvir e agir:


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Abril não desarma



Conhecidas as razões, aplaudo.
Entretanto, a PSP anunciou tolerância zero às manifestações populares.
Cobarde, o governo usa a polícia para atemorizar.
Os portugueses saberão responder.
O tempo é de rotura e não de resignação.
[Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo]
- Sophia de Mello Breyner Andresen -
(Inspirado na leitura do Conversa Avinagrada)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Aniversário


Esta cubata faz hoje três anos.
Deixei-a pronta a 24 de Abril de 2009.
Véspera de um dos dias mais felizes da minha vida, o que nasceu da ALVORADA LIBERTADORA DO 25 DE ABRIL DE 1974.
No mundo da blogosfera tem sido uma descoberta de amizades, companheirismo e muito carinho. Senti bem tudo isso, nos momentos difíceis porque já passei, nalguns dos quais mordi os ossos da alma e tive que partir as vidraças das janelas do espírito.
A todos muito obrigado por me acompanharem e se darem ao trabalho de me lerem.
No solo da minha, e vossa, cubata os cravos continuarão a florescer.

[…Enquanto não alcançares a verdade, não poderás corrigi-la. Porém, se a não corrigires, não a alcançarás. Entretanto, não te resignes…]
(José Saramago

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Do Mwata (Cocos e Cálculos)

Porque julgo ser o texto que o Carlos me enviou a vós dirigido, aqui vo-lo deixo: 
estafilococos aureus
“Sabe não ser eterna a veste que usa, a carcaça com que se cobre. Dura quanto tiver que durar. Mas há, sob ela, um corpo real que sente. Anda, alheio, na missão que se impôs, quiçá inútil, de desenhar a geografia da realidade, sendo tal, porventura, a razão de um destino. Por isso se pergunta: Onde é que o Universo é ele, a Terra ela é, e ele, ele próprio tem que ser? Não sabe se o destino foi, ou é, fruto de arquitectura trabalhada na forja de deuses ensandecidos ou resultado de uma imbecil incúria médica. Sabe, sim, que a terrível e predadora bactéria que dá pelo nome de estafilococos aureus voltou a implantar-se, enfraquecendo-a, na estrutura óssea que lhe suporta a prótese total da anca esquerda. Na arrecadação do espírito, no sótão da alma, para onde migra de quando em vez, encontrou artes para o combate e foi vencendo, batalha a batalha, incluindo as com o médico que não passa de capataz duma companhia de seguros. Não é uma guerra ganha. Este cocos é recidivante e oportunista. Ataca à mínima debilidade do hospedeiro, como já o fez, por várias vezes, forçando a remoção e substituição de próteses. De há uns tempos para cá tem aparecido enfraquecido (assim parece…), fruto, talvez, das 60 sessões de oxigenoterapia na câmara hiperbárica do Hospital da Marinha. É que, diz quem julga saber destas coisas, o aureus foge do oxigénio como o diabo da cruz. Sustido o cocos, logo irrompeu a litíase renal bilateral. 
cálculo renal
Cerca de três semanas com uma cólica renal violenta. Duas idas às urgências hospitalares. Tudo tentado, nada resultando, cirurgia marcada com utilização de cateter para condução de um lazer com o objectivo de “ir à procura” dos cálculos, no dizer do médico especialista. Dois dias antes as “pedras” forçadas pela pressão do liquido drenado pelo rim, e aproveitando a boleia da força da gravidade, resolveram vir por ali abaixo, rasgando ao som da dor. Três! Uma pequenota, outra com seis milímetros, a terceira com um centímetro de largura – o dobro do diâmetro do uretere! A dor foi passando, o rim desinflamando. Grande rim, verdadeiro resistente! Desmarcada a cirurgia. Não será desta vez que a equipa de urologistas (quatro) irá “à procura” dos calhaus. Vencidos os furacões, tudo está de regresso à normalidade. Muito lentamente, ainda.”
Pediu-me ele para vos dar a explicação da ausência, e, também, a todos um grande abraço.