quarta-feira, 27 de abril de 2011

E vão dois anos!

Nos dias passados nas terras do Sul ventou, choveu e trovejou. Alturas houveram em que pareceu ir o céu cair. Mas, não! Fortes, como são, os pilares do Tempo aguentaram-se com a algazarra lá de cima. Num desses dias o calendário disse-me estarmos a 24 de Abril. Olha! Faz hoje dois anos que nasceu o Conversas Daqui e Dali, corria a tarde de 24 de Abril de 2009. Dois anos no mundo virtual da bloga, vendo surgir amizades, gerarem-se afectos e proporcionarem-se encontros e desencontros através do sortilégio das palavras, embora nalguns casos apenas de bocados delas. O número de seguidores inscritos muito me honra e sensibiliza. A todos, muito obrigado!

Como os meus amigos e visitantes sabem, nesta cubata habitam três personagens: O Mwata, o Viajante e eu próprio. Pois quero dizer-vos que no último dia 24, numa pausa do mau tempo, encontrámo-nos os três.

O Mwata apareceu-me com ar de recluso, que anda a comer o passado, mas de alma desconsolada, de angústia trajada, reclamando presente e futuro. Achei-o cansado, assim com ar de ser a quem se esgotaram as sensações inúteis, e de se ter chegado ao pôr-do-sol do esforço. Existir sem viver e sentir sem pensar é coisa de que não gosta. Por isso se demorou nas palavras quando mo disse.

Atarefado surgiu o Viajante, que nem sentar-se quis. Explicou, ele, andar há tempos numa lufa-lufa, à procura das palavras migratórias. Disse, também, que quando viaja pelo que o rodeia pouco mais encontra do que uma ténue luz quase apagada. E acrescentou estar cansado da palavra dos homens e dos homens sem palavra. Ainda lhe ouvi o que se me afigurou ser a palavra encruzilhada. Quase o senti como estando num desterro, tal a inquietação de estar longe que denotava.

A noite chegou-se. Perguntaram-me ambos, em uníssono: E tu?

Não era suposto haver tal atrevimento. Como, porém, não é meu hábito deixar perguntas no ar, respondi-lhes, não sem antes ter feito um gesto, daqueles que se fazem quando se desenha um sonho em busca de um alento:

Eu vou encostar-me a esta noite, idêntica às últimas, onde a Lua se esconde. Nela ficarei com o gesto guardado.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Breve ausência

Será uma ausência pequena. Espero estar de volta no próximo dia 27. Deixo-vos já com o toque da saudade, e…

Peço aos políticos que enterrem os canhões e os tanques da sua verborreia, e ponham de lado o mujimbo soez.

Peço aos políticos que deixem que a vida dê vida, a vida que há no povo que somos.

E aos analistas, comentadores, politólogos e jornalistas que não transformem os canteiros onde pode a flor germinar, em espaços de terra queimada, como têm vindo a fazer.

Ordeno aos profetas da desgraça que recolham às suas grutas obscuras, por lá se deixando ficar.

E peço, peço aos cidadãos do meu País que façam as crianças sorrir e as flores desabrochar.

E peço, ainda, a todos, que no próximo Dia 25 de Abril coloquem, em cada janela, uma bandeira do Nosso País, e vão buscar à memória o “Grândola Vila Morena”.

É que…

Se de luto nos vestirmos

Se em vão nos acusarmos

Que vitória conseguiremos

Se vitória não acharmos?

(Inspirado no “Hino à Paz” do povo angolano – 1992)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A blogosfera está de parabéns!

Soube-o por mero acaso, não que ela mo tenha dito, tem a humildade dos grandes. A Maria João, amiga virtual da minha cubata, e comentadora, desde há quase dois anos, autora do blogue Pequenos Detalhes, vai publicar o que creio ser o seu primeiro livro de poesia, com o título “Do Outro Lado do Espelho”. O lançamento será daqui a um mês (14 de Maio), pelas quatro da tarde, no Auditório do Campo Grande, em Lisboa. A apresentação estará a cargo da escritora Mel de Carvalho, também ela nossa companheira na bloga (Noite.De.Mel) e da jornalista Otília Leitão. A editora é a Lua de Marfim.

Conheço muitos dos poemas, e outros textos, que ela tem editado no seu blogue. É-me, por tal, fácil adiantar que o seu livro será um êxito.

Não quis deixar, desde já, de vos dar esta notícia, sugerindo aos que puderem a ida ao lançamento. Quando um bloguista publica é motivo de alegria.

Muitos parabéns, Maria João.

E a todos vós, amigos e visitantes, peço: vão ao blogue da Maria João dar-lhe um abraço.

Devolvo à terra

O saber sedento da água cristalina
A fecunda criação verdejante
A fresca brisa envolta em neblina

Devolvo à vida

A utopia presa em voo alado
O lamento feito choro suplicante
O presente inteiro gasto em passado

Devolvo-te meu amor

O soneto febril, verbo imperfeito
A carícia colada à pele, viajante
O desejo que esculpiste no meu leito

Devolvo-me

Ao prazer de mergulhar em seiva minha
À recusa de saber-me degradante
À triste sorte de me sentir sozinha

Depois…

Lanço a alma ao mar e me liberto
Num acto insano, demente
De querer sorver-te mundo, tão impuro
Renascendo na maré, sentindo gente

(Maria João, Janeiro de 2010)


terça-feira, 12 de abril de 2011

Confrangedor

Passos Coelho andou, durante semanas, a mentir ao País, dizendo que soubera do PEC4 apenas por um telefonema. Em entrevista a Judite de Sousa (TVI) revelou, agora, que fora a São Bento a pedido do PM e que este lhe revelou as medidas que apresentaria a Bruxelas. A comunicação social continua a dar provas de estar bem amestrada. Não se encontra uma única notícia (como noutros casos, sistematicamente, em relação a José Sócrates) a dizer que o presidente do partido de Cavaco Silva mentiu.

--

Os partidos da Direita doméstica, mais o PSD do que o CDS, disseram que o último Congresso do PS não passou de um “grande comício”. Numa entrevista à RTP Mário Soares juntou-se-lhes e disse o mesmo. Nessa mesma entrevista, como poderão ler, perguntado sobre se Passos Coelho daria num bom governante, responde: "Isso é como os melões, só depois de abertos é que se percebe"!

--

A última aquisição do PSD (Fernando Nobre) tem suscitado alguns comentários. O irrequieto social-democrata Morais Sarmento diz que o presidente da AMI é um “activista” e não tem perfil para Presidente da Assembleia da República. Mário Soares mostrou-se surpreendido e põe algumas “reservas” à capacidade de Nobre para exercer tal cargo, embora nas últimas presidenciais tenha considerado que ele “daria um bom Presidente da República”!

Levando à letra o que aqui se pode ler, Fernando Nobre terá feito um grande negócio!

--

Felícia Cabrita, jornalista do SOL, publicou um livro. Título: “Passos Coelho – Um Homem Invulgar”. Escreve a autora, a dada altura, referindo-se ao presidente do PSD: “…os suspiros que o rapaz de cabelo loiro e olhos claros despertava nas raparigas do liceu…”!


domingo, 10 de abril de 2011

Há que abrir a janela....

Os portugueses conheciam o seu trabalho humanitário à frente da AMI, e, antes, nos Médicos Sem Fronteiras. Talvez por isso, e porque entenderam a sua como uma voz de Esquerda ao lado dos desprotegidos, muitos lhe deram o seu voto quando Fernando Nobre concorreu às últimas eleições presidenciais. Para tal contribuiu, também e muito, o apoio de Mário Soares, cuja filha, Isabel, chegou a intervir num comício de apoio ao então candidato presidencial.

Outros portugueses, contudo, quiçá estranhando a viragem para a política, interrogaram-se: Quem é este homem?

O mistério parece esclarecido.

Fernando Nobre abandonou os braços do antigo Presidente da República, para se atirar para os do actual presidente do PSD, Pedro Passos Coelho.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Eles cazuzam...

Picada de marimbondo

Junto da mandioqueira

perto do muro de adobe

vi surgir um marimbondo

Vinha zunindo

cazuza!

Vinha zunindo

cazuza!

Era uma tarde em Janeiro

tinha flores nas acácias

tinha abelhas nos jardins

e vento nas casuarinas,

quando vi o marimbondo

vinha voando e zunindo

vinha zunindo e voando!

Cazuza!

Marimbondo

mordeu tua filha no olho!

Cazuza!

Marimbondo

foi branco que inventou...

(Ernesto Lara Filho - poeta e cronista angolano - Benguela 1932, Huambo 1977)

Bom fim-de-semana

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A propósito...


Falando, um dia, sobre o “Ultimatum” por si escrito, disse o heterónimo de Fernando Pessoa:

«Esta guerra é a dos pigmeus mais pequenos contra os pigmeus maiores. O tempo mostrará quais são os maiores e quais os mais pequenos, mas, de qualquer modo, são pigmeus».

«Pouco importa quem ganha a guerra, pois será ganha, de certeza, por um imbecil. Pouco importa o que dela resultará, pois o que virá será seguramente imbecilidade.”

domingo, 3 de abril de 2011

O Reacender da esperança

Já quase tinha perdido a esperança, mas eis que ela se reacende.

Na sua última intervenção pública o Secretário-Geral do PS, ainda Primeiro-Ministro em gestão, disse que o problema com que o País hoje se confronta é a “agenda ideológica” que o PSD (e logo o CDS) pretende aplicar. Quer se goste ou não dele (admiro a sua combatividade, reconheço que nunca nenhum PM foi tão maltratado pela Comunicação Social como ele, mas não sou seu simpatizante), José Sócrates foi o único político da área da Esquerda a ter a lucidez de chamar os bois pelos nomes, ao falar da “agenda ideológica” do PSD.

Hoje, mais do que nunca, o futuro do País passa por uma definição clara e aprofundada dos pressupostos ideológicos dos partidos políticos, retirando-os, duma vez por todas, das fajãs da política. Sou dos que defende, sem tibiezas, que a vida da Democracia está na existência plural dos partidos políticos.

Como homem de Esquerda, não tenho dúvidas de que o que está em causa é a tal agenda escondida com que o partido de Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, tendo como presidente Passos Coelho, pretende transformar o nosso Estado Social num ser sem vida. Privatizar o ensino, a saúde, a segurança social, tudo o que o grande capital quiser, incluindo a Caixa Geral de Depósitos (pilar da sustentabilidade financeira do Estado), entregando-a ao capital estrangeiro. E vai mais além, ao pretender retirar da Constituição o despedimento sem justa causa, criando uma geração mais à rasca do que a actual.

Perante este quadro, porque digo que a esperança se me reacendeu?

Porque voltei a acreditar que a Esquerda (PCP, BE e PS), possa ser sacudida pelas palavras de Sócrates, pondo de lado dogmatismos, obsessões e vaidades, e encontrar um caminho, por muito difícil que seja de escavar, que retire o País do rumo para o abismo traçado pelo PSD.

Caminho que deverá passar pela criação de um novo modelo económico assente no desenvolvimento, na reactivação do sector produtivo, na criação de emprego, no combate à pobreza, distribuindo mais equitativamente a riqueza criada. Por outras palavras, pôr o País a produzir aquilo com que se enchem as prateleiras dos super-mercados, e, também, a exportar.

Claro que é um sonho (será!?), mas como eu gostaria de ver Portugal dizer à Europa conservadora e trauliteira: Vamos pagar a dívida, sim, mas, antes, vamos tratar do nosso povo!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cântico de Amizade


A minha cubata foi distinguida, honrada, com este selo. A Fê blue-bird, uma amiga virtual, é senhora dum blogue onde sempre se encontra a poesia, acrescida à sensibilidade dos seus textos, versando, a mais das vezes, a realidade em que vivemos. Os poemas que partilha com quem a visita, são autênticas pérolas por ela recolhidas do sonho dum mundo onde os sonhos são a vida, e, habitam os poetas. Eu, que não sou poeta, tenho o direito de gostar de poesia. E gosto! Utilizando um linguarejar da terra africana onde nasci, entro por ela, a poesia, como um garfo desatinado num arroz de cabidela à procura das miudezas. Sempre que toco num poema tremem-me os dedos, talvez receosos de se encontrarem com as confidências da vida de que os poetas nos querem falar. Amiga Fê muito obrigado pela honra que me concedeu ao afirmar-se amiga da minha cubata. Agora ofereço-lhe, a si, e a todos os amigos que por aqui passarem, este poema de Alda Lara, poetisa angolana (Benguela, 1930 – Cambambe, 1962).

Quadras da minha solidão

Fica longe o sol que vi,
aquecer meu corpo outrora...
Como é breve o sol daqui!
E como é longa esta hora...

Donde estou vejo partir
quem parte certo e feliz.
Só eu fico. E sonho ir,
rumo ao sol do meu país...

Por isso as asas dormentes,
suspiram por outro céu.
Mas ai delas! tão doentes,
não podem voar mais eu...

que comigo, preso a mim,
tudo quanto sei de cor...
Chamem-lhe nomes sem fim,
por todos responde a dor.

Mas dor de quê? dor de quem,
se nada tenho a sofrer?...
Saudade?...Amor?...Sei lá bem!
É qualquer coisa a morrer...

E assim, no pulso dos dias,
sinto chegar outro Outono...
passam as horas esguias,
levando o meu abandono...

(Desejo a todos um bom fim-de-semana)