Nos dias passados nas terras do Sul ventou, choveu e trovejou. Alturas houveram em que pareceu ir o céu cair. Mas, não! Fortes, como são, os pilares do Tempo aguentaram-se com a algazarra lá de cima. Num desses dias o calendário disse-me estarmos a 24 de Abril. Olha! Faz hoje dois anos que nasceu o Conversas Daqui e Dali, corria a tarde de 24 de Abril de 2009. Dois anos no mundo virtual da bloga, vendo surgir amizades, gerarem-se afectos e proporcionarem-se encontros e desencontros através do sortilégio das palavras, embora nalguns casos apenas de bocados delas. O número de seguidores inscritos muito me honra e sensibiliza. A todos, muito obrigado!
Como os meus amigos e visitantes sabem, nesta cubata habitam três personagens: O Mwata, o Viajante e eu próprio. Pois quero dizer-vos que no último dia 24, numa pausa do mau tempo, encontrámo-nos os três.
O Mwata apareceu-me com ar de recluso, que anda a comer o passado, mas de alma desconsolada, de angústia trajada, reclamando presente e futuro. Achei-o cansado, assim com ar de ser a quem se esgotaram as sensações inúteis, e de se ter chegado ao pôr-do-sol do esforço. Existir sem viver e sentir sem pensar é coisa de que não gosta. Por isso se demorou nas palavras quando mo disse.
Atarefado surgiu o Viajante, que nem sentar-se quis. Explicou, ele, andar há tempos numa lufa-lufa, à procura das palavras migratórias. Disse, também, que quando viaja pelo que o rodeia pouco mais encontra do que uma ténue luz quase apagada. E acrescentou estar cansado da palavra dos homens e dos homens sem palavra. Ainda lhe ouvi o que se me afigurou ser a palavra encruzilhada. Quase o senti como estando num desterro, tal a inquietação de estar longe que denotava.
A noite chegou-se. Perguntaram-me ambos, em uníssono: E tu?
Não era suposto haver tal atrevimento. Como, porém, não é meu hábito deixar perguntas no ar, respondi-lhes, não sem antes ter feito um gesto, daqueles que se fazem quando se desenha um sonho em busca de um alento:
Eu vou encostar-me a esta noite, idêntica às últimas, onde a Lua se esconde. Nela ficarei com o gesto guardado.