terça-feira, 30 de junho de 2009

Conversa minha (Mapa das nuvens)

O mar Oceano vem numas.
Noutras flocos de algodão.
Olham-se desconfiadas.
Não tarda pegam-se.
E lá vem por ali abaixo o mundo que o homem criou para contrapor ao que lhe deram quando aqui chegou.
Não sei a que propósito vem isto.
Aquelas são embirrações que me não interessam!

O que estou agora a desenhar é um mapa das nuvens, sem escala, para navegação à vista.
Hei-de encontrar a que me guarda as coisas esquecidas!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sobressaltos (MFL)





Um susto!







Rasgar, repudiar e romper.
É o que Manuela Ferreira Leite (MFL) fará às políticas do actual Governo se chegar a primeira-ministra. Trocando por miúdos, mexerá na Educação, na Saúde e na Segurança Social, entregando-as a privados. Quem puder paga e tem. Quem não puder vai pedir para a porta da igreja. Diz o FMI sobre a crise global que os ricos continuarão a ser mais ricos e os pobres mais pobres. Só nos restará uma saída – construir mais igrejas.
MFL dirá não a auto-estradas, ao TGV e a nova ponte sobre o Tejo que serviria a ligação de alta velocidade entre Lisboa e Madrid. Isto até que as contas do Estado estejam de novo em dia. Durante os mais de dois anos em que foi ministra das Finanças num governo do actual PR não conseguiu arrumá-las. Aquilo estava uma desgraça, era preciso mais tempo, disse ela. Quanto? Conhecendo-se-lhe o horror à alta velocidade, mas como não é, de todo, uma “maluquinha contra os comboios”, optará pela locomoção a vapor. Talvez quarenta a cinquenta anos. A Europa não ficará à espera, ligar-se-á por alta velocidade, como já quase o fez. Quando um europeu vier em viagem para Sul, parará às portas de Portugal onde um conterrâneo nosso lhe dirá: agora desça, temos aqui uma carroça à sua disposição, se não gostar de juntas de bois, pode optar por uma a dois cavalos!
Terceira ponte sobre o Tejo? Para quê? Deite-se às águas das Tágides uma jangada movida a bordões como as que no passado venciam os rios das então nossas colónias. É barato, não poluente e cria quatro postos de trabalho, no mínimo!
MFL é um susto! Quer pôr o país a arrastar os pés. Se os sapatos se gastarem aparecerá por aí um sapateiro a mandar botar-lhes meias solas, né?
Mas que importa isso se o Saviola vai jogar ao lado do Aimar no Benfica; se o Cristiano Ronaldo está no Real de Madrid; se o Brasil ganhou a Taça das Confederações?

domingo, 28 de junho de 2009

Conversa minha (Dois)

Os deuses e Deus não quiseram ver
(de outro livro a nascer)
"...São mais de cem os dias passados desde a despedida de Paulo e Helena.
Antes do alvorecer que se aproxima, os deuses, e os outros, ausentam-se da sanzala do velho da carapinha branca.
Deus também.
Escuta-se o estrondo de obuses a rebentarem.
De seguida, o estampido de espingardas automáticas.
Daquela ponta do povoado, e do outro extremo, sai gente a correr para o bananal e para os cafeeiros. Impiedosa, a metralha crepita e ceifa.
Sulcos de rodados pesados marcam o chão lamacento à passagem de viaturas camufladas. Soldados rastejam ao lado. Soltam-se labaredas de tubos de armas.
Escombros de cubatas em chamas soterram as mulheres parideiras e as kafekas.
Maria da Fé e o seculo não chegam a despertar.
Do bolso do pano-saia da kuxingila ali caída, tomba o manipanço. Do cordão atado à cinta desatam-se os pós de fumo que não mais serão deitados.
A memória de André foge.
O amanhecer rompe em silêncio, a sangrar vermelho..."

Conversa minha (Um)

A Kuxingila
(de outro livro a nascer)

Já muito andou Paulo à procura da sua Ingrid. A meio da história...
André, o negro amigo de Paulo, é assassinado. Paulo guarda-o na memória. Um dia, já sem o amigo e companheiro de viagens, entra numa sanzala onde conhece um soba de carapinha branca, homem de grandes saberes a que, porque era sábio, juntou outro, o da sua matriarca, a kuxingila que anda sempre de saquito de pele de bambi à cintura, cheio de poderes mágicos como os pós de fumo e um manipanço. Paulo vê-a vestida de novo pano-saia com o tal saquito pendurado numa corda envolvendo-lhe a cintura, voltas de missangas ao pescoço de onde caiem, também, dois dentes de javali, e argolas que lhe parecem de fios metálicos entrelaçados em pele de um qualquer bicho do mato, do tornozelo até meio das pernas.

“…De entre todos na sanzala, só ela conhece o tempo certo em que os pós de fumo devem queimar para que os chamamentos resultem, não se falando, é bom dizer-se, da meia dúzia de rezas para livrar o corpo da morte e das palavras raras, para outros segredos, de seu conhecimento exclusivo, quase em desuso no mundo que se conhece, e sem as quais não há madjau ou mariábu – como aqui chamam aos sortilégios –, que valham.
Ao vê-la assim aperaltada, sabendo já o que sabe, Paulo pergunta à memória de André, de que ainda se não desligou, se ela acredita que a matriarca tem, de verdade, arte para chamar e usar poderes.
- Ché, meu irmão! Não sei se acredito. Te juro sim que os mais velhos falam que ela tem uma data de sabedorias, que não faz nada à toa, que é mesmo capaz de andar de ligações com um ser que tudo saiba – um ou mais, agora sou eu que te digo, sei cá!
- Então, André, não é mesmo uma quinhenta de conversa fiada?
- Ué! Para quê saber tanto? A nossa África não gosta que lhe perguntem…”

sábado, 27 de junho de 2009

Eleições (Legislativas e Autárquicas -2)

Serão em separado

Indo ao encontro do que defendiam o Governo e os partidos políticos, à excepção do PSD que queria eleições simultâneas, o Presidente da República anunciou hoje que as legislativas serão a 27 de Setembro. O Governo revelara ontem que marcara as autárquicas para 11 de Outubro. As eleições serão, portanto em separado. A campanha eleitoral para as legislativas decorrerá entre 12 e 15 de Setembro.
A sondagem que mantive durante dias neste blogue, perguntando aos visitantes o que decidiria o PR, simultâneas ou em separado, deu o resultado seguinte: simultâneas 69%, em separado 31%.

Cogitações (Fim-de-semana)


Agradecimento
ao
Sábado

Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta (STQQS).
Faz tempos que andam por aqui, na mesma rotina: Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta…e, voltam ao princípio, a girar o disco e a tocar o mesmo, ou a levar o CD para a faixa 1.
São todas, as STQQS, substantivos femininos, são elas, sem tirar nem pôr, por muito que arrefeça à Segunda, granize à Terça, troveje e chova à Quarta, reaqueça à Quinta, e nos multem à Sexta, ao regressarmos apressados a casa, perante o faz de conta, esquece, da senhora Sexta, ela própria a pedir que lhe mandem a Segunda e nos arredem do caminho. Umas chatas, é o que elas são, especialmente a Segunda, essa menina que mais não sabe do que pôr-nos a semana à frente.
Sábado, Domingo. O Sábado é dado a leituras, como adiante se verá.
Mexem por aqui, igualmente, ao que se supõe, ao mesmo tempo que elas. Rolando, rolando, mas decidindo, um dia, quebrar o vinil, coisa que, antes de nós, já eles conheciam. São, ambos, substantivos masculinos, são eles, igualmente, como elas, sem tirar nem pôr, não se diga tal, porque não é tanto assim, é pior. Ao Sábado e ao Domingo, não há chuva, granizo ou vento, relâmpago ou trovão, que não nos bata à porta, se meta pelas janelas e nos perturbe, às vezes levemente, como se poeira mais grossa fosse, que por aqui não há neve, outras nem tanto, mais parecendo demónios à solta, ou os celtas vermelhos e pretos do halloween a perguntarem-nos: gostosuras ou travessuras? Brrr…! Ao Sábado e Domingo, também, é certo e sabido, lá aparecem os compradores de almas a venderem-nos credos religiosos; o vizinho do lado que gosta de cozinhar nestes dias, mas se esqueceu de comprar os ovos para as omeletas, ou quer fazer um buraco e não tem berbequim; o não sei quem aos gritos porque ficou preso no elevador; o pneu do carro furado; o filme que não passa no cinema do shoping porque acabou o tempo de exibição; as televisões a repetirem enlatados; o passeio adiado porque chove a potes; um Trojan no computador a pôr o Avast! aos berros; a Net que foi abaixo porque a Zon não dá conta do recado.
Só as multas ficam de fora, quando nos quedamos na cubata sem que a Sexta nos ponha o olho.
Um dia tudo mudou. O Sábado, dado a leituras, como ali atrás se disse, pôs os olhos em O Dia da Criação:
"...Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por vias das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal..."
(Vinicius de Moraes)

Cochichou com o Domingo, perguntaram ambos, não se sabe o quê, desconhece-se a quem, juntaram farrapos em união de facto, esticaram indicadores e médios num V, e fizeram-no nascer: O Fim-de-semana. Acabou a bagunça. Deixámos de andar, como saltimbancos, de Segunda para Terça, às vezes esquivando-nos à Quarta para chegar à Quinta, e por aí fora. Queremos lá saber do Sábado e do Domingo. Pegamos no Fim-de-semana e zarpamos até fartar! Por vezes nem a noite que os une se salva! Obrigado Sábado por gostares de leituras.
Artistas, não?
Há por aí alguém quem não goste da criação?

É o que temos (PT/Média Capital-3)




"Golden-share"?



Vimos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar – Manuela Ferreira Leite (MFL) acusar o PM de utilizar a “golden share” na PT para defender a sua imagem, recorrendo "ao argumento mais extraordinário", de afastamento de suspeições, para vetar o negócio com a Media Capital.
MFL, já o escrevi em post anterior, está mais solta, sorridente, mais vivaça. Não vai descalça para a fonte, como Leonor pela verdura. Caminha calçada, por tapetes vermelhos, ou quer, de imagem mais produzida, não formosa, e nada segura. Veja-se:
O PM não poderia vetar o negócio da PT, a “golden share” não lhe dá tal poder. O negócio, a fazer-se, seria uma decisão do conselho de administração da PT, e o Estado (Governo) só pode actuar (interferir) na assembleia-geral da mesma. Se a PT quisesse avançar com a compra de parte da Média Capital o PM não poderia opor-se.
A tal “golden share” representada por quinhentas acções do Estado no capital da PT confere, na verdade, poder de veto na Assembleia-Geral anual onde os representantes do Governo podem opor-se à aprovação das contas da empresa, à distribuição de dividendos aos accionistas, à emissão de obrigações para dívida ou a Operações Públicas de Aquisição (OPAS). O negócio da PT, de que se tem falado, não teria de ser aprovado em Assembleia-Geral, mas sim no Conselho de Administração onde o Estado não tem poderes. Claro que no Conselho de Administração da PT há representantes de empresas estatais do grupo, mas mesmo que estes votassem contra (sem o poder de veto que o não têm), não inviabilizariam o negócio, pois são em minoria.
MFL é economista e foi ministra das Finanças de um governo em que o actual PR era primeiro-ministro. Não sabe ela que o PM não poderia usar a “golden-share”? Porque o acusou, utilizando a falácia? Mais do que uma jogada de baixa política, perpassa a ideia de que foi por ignorância.
Dá, assim, para entender porque quando foi ministra das Finanças durante mais de dois anos, não foi capaz de pôr em dia as contas do Estado, como ela própria confessou em entrevista à SIC (último “Dia D – Especial”). Quer ela que acreditemos ser dama capaz de levar o País para a frente?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

É o que temos (PT/Média Capital - 2)

Sedução pelo abismo


O PM disse hoje que se oporá ao negócio PT/Média Capital porque não quer que “haja a mínima suspeita de que a compra de parte da TVI se destina a qualquer alteração na sua linha editorial”. Compreende o interesse empresarial da PT, sobejamente esclarecido na véspera por um dos seus administradores em entrevista à RTP, mas “não quer que este negócio possa ser visto por partidos ou por protagonistas políticos como uma tentativa de influenciar uma qualquer linha editorial…Eu próprio tenho feito críticas à linha editorial da TVI e, por isso, quero que seja absolutamente claro e transparente que o interesse empresarial da PT não é intrumentalizável para outro fim que não seja esse interesse empresarial”.
Para o PM o PR esteve bem: “...exprimiu um desejo que é consensual na sociedade portuguesa no sentido de que todas as acções empresariais tenham o máximo de transparência – e acho que a PT o teve quando comunicou à Comissão de Mercados Valores Mobiliários (CMVM) as suas intenções”.
A Prisa, accionista maioritária da Média Capital, não comenta a decisão do PM.
Os partidos políticos aplaudem o PM. Não não é consolo, antes uma novo libelo acusatório, agora dizem que estavam certos nas acusações que fizeram. Um deles, o BE, foi claro: a decisão do PM foi acertada mas só veio provar que havia algo de obscuro!
Título de imprensa: pressão política evita saída de Moniz.
Manuela, a do PSD, diz que tinha razão.
Apareceu no meio da confusão: Marques Mendes, a pedir boleia, gritando que o Governo quer ter um pé na TVI. Este senhor? Então não foi secretário de Estado com a tutela da Comunicação Social quando Cavaco Silva era primeiro-ministro e Moniz o patrão da RTP? Esqueceu-se do que se fazia na estação pública? Porque não se cala?!?
Moniz: disse ele, ontem, que o negócio PT/Média Capital era bom para a TVI. Sobre ele escreve agora o Semanário Sol que a Prisa havia já decidido a sua demissão, há uns dias, estando o anúncio iminente. Faltava apenas concluir a negociação da elevada cláusula de rescisão prevista no contrato de Moniz, seis milhões de euros, o equivalente a um salário de cinquenta mil euros por mês, ordenado que receberia se concorresse e fosse eleito presidente do Benfica.
Fica claro porque Moniz era a favor do negócio. Ao que dizem a Prisa está com falta de liquidez e a venda à PT sempre era uma ajuda para pagar a tal rescisão.
Frustrado: Moniz que vê fugir-lhe o pássaro da mão, perdão os milhões. Quando será a candidatura à presidência do Benfica?
Certeza: Moniz tem bons padrinhos políticos a começar pelo PR que, este sim, não se esquece de tempos antigos.
Esteve mal: O PM parece seduzido pelo abismo. De que teve medo? Quem não deve não teme. Não há bala que corte a razão a uma consciência limpa. O que fez hoje transformou as dúvidas de muita gente em certezas de que havia gato escondido! Este é o segundo tiro que deixa darem-lhe no porta-aviões. O primeiro foi o TGV. Não deveria ter cedido. Por este andar, não tarda, perde a armada. É que o terceiro tiro está aí à vista: A Comunicação Social. Foram reveladas mais fraudes no BCP. Das grossas, envolvendo antigos administradores afectos ao PSD. Silêncio, a história está esquecida nos alinhamentos das notícias, o jornalismo de investigação esmoreceu. Corporativismo? Talvez. A SIC é de Pinto Balsemão, a TVI da generala e do marido, as rádios e jornais da Sonae, Lusomundo, Cofina, etc.
Os trauliteiros estão de moca afiada.
Também esteve mal: O PR. Nunca se lhe escutou, como desta vez, uma única "sugestão" ou aconselhamento sobre temas de relevância nacional, e muitos foram os polémicos, como o caso Dias Loureiro/Conselho de Estado em que se fechou no silêncio como viria também a fazer Manuela Ferreira Leite. O Presidente da República e a presidente do PSD nem sequer esconderam o gato - fizeram do negócio PT/Média Capital o que este não era: uma jogada política!
A opinião pública vinga-se da crise. Está como os que sofrem de depressão, atira-se à comida que apanha e engorda morbidamente. Quer é fofocas e coscuvilhice a ver se mata a fome aos bolsos vazios. Nada que dê muito trabalho.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

É o que temos (PT/Média Capital)

Os caçadores



O negócio PT/Média Capital foi levado ao Parlamento pelo CDS-PP. Depressa o PSD foi atrás, pegou-lhe e transformou-o numa questão política, chegando a insinuar-se que o Primeiro-ministro queria ver-se livre de José Eduardo Moniz e de Manuela Moura Guedes! Por muito que a PT tivesse dito que não informou o Governo, o PM que desconhecia a história, e que economistas tenham explicado que, do ponto de vista económico, o negócio até pode fazer sentido, o PSD não desengantilhou. A sua chefe, Manuela Ferreira Leite disse em entrevista à SIC que o PM não estava a dizer a verdade e que: "Se neste processo for substituído o director-geral é gato escondido com corpo todo de fora e trata-se simplesmente de uma intervenção do Governo num órgão de comunicação social que, como ele [José Sócrates] disse várias vezes, lhe era incómodo. Eu acho isto gravíssimo para a democracia e para a comunicação social. Seria verdadeiramente escandaloso."
A SIC levou hoje o tema ao seu programa “Opinião Pública”. Dos espectadores não ouvi uma única opinião sobre o negócio, embora em estúdio José Gomes Ferreira o tenha analisado, de forma lúcida, com os elementos de que actualmente dispõe. Voz quase unânime dos espectadores: o que o PM quer é controlar José Eduardo Moniz e calar Manuela Moura Guedes! Um chegou mesmo a dizer que comparado com o que a PT vai pagar, Cristiano Ronaldo até foi barato!
O 25 de Abril fez deste um país livre em que cada um pode expressar a sua opinião sem medo. Mas, senhores, nós não somos um rebanho de carneiros que só sabe caminhar atrás do latido do canino! O filme TVI não é novo. Recorde-se, para os de memória mais curta, a altura em que foi nomeado um ex-ministro do PS (Pina Moura) para a Prisa, accionista maioritária da Média Capital. O que disse o PSD na altura? O que se pretendia era correr com o Moniz e amordaçar a TVI. O que aconteceu? Moniz ficou ainda melhor do que estava, ao que constou e a TVI, basta vê-la, não anda de açaime. Lembram-se?
Na altura em que o “Opinião Pública” estava no ar, José Eduardo Moniz mostrava-se favorável à venda de parte da Média Capital à PT: “a eventual associação [da Media Capital] a uma empresa de telecomunicações de grande dimensão em Portugal e no estrangeiro, numa perspectiva estrita de negócio, pode proporcionar a uma estação de televisão líder a abertura de novas oportunidades para a geração de conteúdos e o alargamento da sua capacidade de oferta, favorecendo o seu crescimento nos mercados nacional e internacional” (fonte – Público on-line).
Então, e agora?
Provavelmente o PSD por Paulo Rangel e não Ferreira Leite (esta não se exporá a isso) virá dizer que Moniz diz o que diz porque na posição em que está não poderá dizer outra coisa; que mesmo Moniz diz o que lhe mandam, quando lhe mandam, especialmente estando tanto dinheiro em jogo. Será que os espectadores que estiveram hoje no “Opinião Pública” também acreditarão nisto?
Afinal quem mente no meio de tudo isto? Quem tem intenções ocultas? Quem invade o intelecto popular lá semeando ventos?
Projectos para vencer a crise, nem vê-los.
Os PSDs estão cada vez mais parecidos com os caçadores do Capuchinho Vermelho – dois tiros no lobo mau e este não comerá mais criancinhas a caminho da floresta!

Entrevistas (MFL à SIC)


Manuela Ferreira Leite
no
“Dia D – Especial”

Na semana passada coloquei aqui um post sobre a entrevista do PM à SIC. Agora este, mantendo o estilo, sobre outra entrevista.
Lá em cima, dentro do parêntesis, está MFL. A sigla ou acrónimo (senhores puristas?) significa Manuela Ferreira Leite, a dama que é presidente do PSD – Partido Social-democrata, que em tempos já foi PSD-PP, valendo o PP por Partido Popular. Nestes tempos o CDS é que usa o PP. Tal como ao PM (Primeiro-Ministro) também não antecedi MFL de Dr.ª. As razões já as expliquei no post referido no primeiro parágrafo.
MFL foi, como o PM, ao programa da SIC “Dia D – Especial” para ser entrevistada pela jornalista Ana Lourenço. Mantendo a sobriedade, a voz calma e o sorriso certo Ana esteve, porém, pior do que na entrevista ao PM. Há outras, mas destaco duas razões. A primeira: não perguntou a MFL o que a distinguia do PM. A segunda: no final da entrevista não leu um texto sobre a entrevistada como o fez aquando do PM, de que muito disse, sem se esquecer de passar pelo Freeport! Foi pena, gostaria de ter ficado a saber coisas sobre a Presidente do PSD. O quê? Que pergunta! A senhora é casada, divorciada, tem filhos, netos, cunhados, sobrinhos, animal de estimação, lê, gosta de sardinhas assadas e de sangria? Já algum Outlet se meteu na sua vida? Estava satisfeita consigo própria quando foi ministra da Educação e das Finanças?
Não vou insinuar que a assessoria de MFL tenha interferido (em Democracia a palavra pode parecer feia, mas não me ocorre outra) na forma final do programa, amputando-lhe o conteúdo, mas lá que a suspeita é legítima, é, sobretudo neste caso em que há termo de comparação. Adiante.
Até aqui MFL parecia próxima do fim do prazo de validade. Na entrevista apareceu diferente, mais solta, sorridente, afirmativa, mais vivaça. Fez criticas, muitas, não ao Governo mas a José Sócrates (JS), o PM. Disse verdades que todos conhecemos, incluindo JS, mas também coisas à toa como quando falou do caso PT versus Prisa. Ana quis saber se MFL vai pedir maioria absoluta nas legislativas. Não, isso não se pede, o que ela quer é ter mais votos do que o PS para correr com JS. Tanto insistiu nisto que mais parecia o Capuchinho Vermelho: tenho medo do lobo mau.
Grandes obras públicas? Cruzes! Nem vê-las. O País está, não disse de tanga, mas endividado. Mais soft na escolha do vocábulo do que foi Barroso. Como estamos de tanga, perdão endividados, há que fazer investimentos de proximidade; recuperar escolas e hospitais, por exemplo, o que o Governo já está a fazer, reconheceu. Mas, atenção, aqui também JS está mal pois não devem ser as grandes empresas a fazê-lo, estas não geram emprego. Nas pequenas e médias empresas (PME) é que está o segredo para enriquecer o país. Estas é que precisam de ajuda. Que ajuda? Que os Estado lhes pague as dívidas!
Auto-estradas, não. TGV, não. Ponte sobre o Tejo, não. Novo aeroporto, talvez, aquilo é feito por módulos! E, acrescento, provavelmente pelas PME!
O que fará se vier a ser Governo? Nada disse, só lá para fins de Julho é que há programa eleitoral. Para já só uma promessa: não aumentará os impostos!
Crise global em Portugal: terramotozinho!
Dias Loureiro? Engasganço. Fez de conta. Silêncio amigo e aconchegante.
Victor Constâncio? Palavras de respeito.
Depois da entrevista o painel de opinantes: Graça Moura, Bettencourt Resendes, Luís Delgado e Ricardo Costa. Em relação ao painel para o PM, da semana anterior, foram substituídos o politólogo Maltês e Nicolau Santos.

Graça Moura: as evidenciadas simpatias por MFL roubaram-lhe o discernimento;
Bettencourt Resendes: lúcido. “Nos Estados Unidos os americanos nascem, vivem e morrem endividados e o país avança”. Falta de ajuda às PME? Mas as primeiras linhas de crédito já foram esgotadas! Só lhe falta ser um pouco menos politicamente correcto para dizer tudo o que sabe;
Luís Delgado: Clareza. Um manifesto de opinião independente como poucas vezes se lhe tem ouvido;
Ricardo Costa: Sôfrego a deitar cá para fora a muita informação que tem. O excesso de informação provoca, por vezes, ruído, dificulta a comunicação. Caiu na brejeirice, aqui e ali,

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Eleições (Legislativas e Autárquicas - 1)


Simultâneas,
ou em separado?


São já conhecidas as preferências dos partidos políticos. PS, BE, PCP, Verdes e CDS-PP querem-nas em datas diferentes. O Governo também. Só o PSD discorda: devem ser no mesmo dia.
Depois de o terem comunicado ao PM e ao PR, disseram os partidos em síntese:
PSD: - “Campanhas sucessivas são custos muito elevados para o país”;
PS: - “A democracia é importante demais para nos preocuparmos com custos desta dimensão”;
BE: - se forem simultâneas terão “um efeito de diminuição da clareza democrática”;
PCP: - “ A democracia só beneficiará com duas campanhas, duas batalhas diferenciadas…”;
Os Verdes: - “São dois actos eleitorais distintos”;
CDS-PP: - simultaneidade “provoca duplicação de custos na campanha eleitoral dos partidos”.
Em termos de vontades expressas emerge, claramente, uma maioria.
Ao PR não é dado emitir opinião nesta matéria, apenas decidir e informar. Contudo, já se lhe ouviu: “ sondagens que terão sido feitas manifestam uma preferência por eleições simultâneas”.
A sentenciar por preferências de sondagens não teria sido necessário gastar dinheiro nas últimas europeias. Vitória ao PS – baratinho! Só que as sondagens eram enganadoras. O povo ordenou diferente.
Agora, porém, não é o povo a mandar.
A ordem virá do Palácio de Belém. O que vai o PR decidir?
Retirei hoje (27 de Junho), a sondagem que aqui esteve durante dias, depois do PR anunciar a data das eleições legislativas - 27 de Setembro. O Governo anunciara ontem as autárquicas para 11 de Outubro. Serão, portanto, em separado. O resultado da sondagem deste post foi diferente. 69% dos visitantes votaram em eleições simultâneas e 31% em separadas!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Berlusconi




Abjecção






A televisão mostrou outra vez Sílvio Berlusconi. Falava para jornalistas, a propósito da generalidade da imprensa italiana mostrar fotos, bem explicitas, das orgias ocorridas numa das suas casas, comentando que nelas se incluía o consumo de cocaína, e, hoje em particular, dar à estampa a entrevista de uma senhora, de profissão prostituta, que diz ter recebido mil euros para passar uma noite com ele.
O que disse Berlusconi?
Que nada daquilo é escandaloso, escandaloso, sim, é o tirar-se fotografias com tele-objectivas, violando a privacidade das pessoas. Não fosse ele o que é e poderia dar-lhe ,eventualmente, razão. Cada qual tem direito à sua privacidade e os paparazi violam, amiúde, esse direito. Neste caso, porém, as fotos nem são de um paparazi, mas sim do repórter Antonello Zappadu do jornal espanhol “El País”. Berlusconi não colhe. Ele não pode esquecer-se que é político, figura pública e, a somar a isso, primeiro-ministro (Presidente do Conselho de Ministros, como lá se diz, à semelhança do que acontecia em Portugal no tempo de Salazar), chefe de um governo – à partida um modelo a seguir pelos seus concidadãos.
Berlusconi manda tudo isso às urtigas, faz o que lhe apetece – em Agosto de 2008 fez aprovar um novo regulamento dos voos de Estado, que passou a autorizar o transporte de diferentes categorias de passageiros, de acordo com as necessidades do chefe de governo. À luz deste regulamento foram transportados, em aviões pilotados por oficiais da Força Aérea Italiana, para a sua casa de férias artistas, bailarinos e vedetas da televisão italiana por si controlada. Berlusconi ofende quem quer (recorde-se o que fez, não há muito tempo, à chanceler alemã, apesar de pertencer à sua família política), assume-se como ser perfeito acima de tudo e de todos, inatingível. Um dia destes acabará por dizer que é Deus!
O primeiro-ministro italiano é-o com a legitimidade que lhe advém de ter sido eleito pelos italianos, sobrevivendo a várias acusações de corrupção, de ligações à Máfia, para além de ter apoiado, sem rebuços, a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. É um facto!
Diz a revista Forbes que é o homem mais rico de Itália e o décimo quinto mais rico do mundo (vinte mil milhões de euros, mais coisa menos coisa!). De tal poder resultou a Mediaset uma empresa que é um império na comunicação social (rádios, jornais e televisão), controlada pelo grupo Fininvest, também seu; a aquisição de um clube de futebol – o AC Milan; a propriedade de vários bancos. Correu a fundo para a política. Em 2007 dissolveu o seu partido Força Itália, perdedor de eleições anteriores com Romano Prodi e constituiu o Popolo della Libertá (Povo da Liberdade). Arrebanhou grupos nacionalistas da direita empedernida. Prometeu tudo a todos, foi a votos e ganhou. Passou a mandar na Itália.
Tudo isto acontece na Itália do Renascimento, da “descoberta do mundo do homem”, de Boccacio, da Vinci, Raffaello, Michelangelo e João XXIII. De Giuseppe Verdi e de Giuseppe Garibaldi que com a sua guerrilha e a música do compositor unificou a Itália, lutando contra invasores e tiranos, fazendo do seu país um guia da Europa e dos europeus.
No melhor pano cai a nódoa, diz o aforismo. É bem certo. Para não se recuar em demasia, na Itália já caiu Mussolini. Depois de perceberem o que ali estava, e logo que puderam, os italianos desenvencilharam-se dele da forma que se sabe. Agora, outra mancha lá caiu – Berlusconi. O que é isto?
Saramago já lhe chamou uma coisa perigosamente parecida a um ser humano.
A foto reproduzida é de Antonello Zappadu, El País

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ricos e Pobres



Tyrannosauros Rex,
FMIs,
Casa Branca



Posto em português que a todos dá para entender, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI), numa avaliação futurista da crise global, que os ricos continuarão a ser cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Para que não haja espúrias leituras do que direi à frente fica desde já esclarecido: nada tenho contra os ricos, mas tenho tudo contra a permanência da pobreza. A pobreza rebaixa, obscurece, degrada, oprime, exclui, incapacita, tolhe e humilha, revolta, é daninha e impotente para mudar o que pode e deve ser mudado, mata. Pois, já sei que uns me virão dizer que sempre houve ricos e pobres, a Bíblia e a Igreja assinam por baixo, e que outros proclamarão que quando o homem chegou à Terra, vindo não se sabe de onde, já trazia na bagagem ricos e pobres, pretos e brancos, amarelos, vermelhos e albinos, e que assim continuará a ser quando partir para povoar outras terras. O melhor, dirão uns e outros, é orar e parar aqui. Não oro nem paro!
Quando amanhã o homem esgotar este e partir à conquista de outro mundo, espero que para um onde já tenha batido meteoro de peso a livrá-lo de dinossauros, senão de todos, pelo menos dos vorazes e insaciáveis predadores Tyrannosaurus Rex, não irá igual ao que aqui chegou. Levará consigo uma estirpe nova: o mestiço. Mestiço de sangues, de culturas, de pensamentos, de atitudes, de perfeições nem sempre perfeitas, com grande contributo dos portugueses que os criaram por onde passaram, sem ajudas divinas. A esperança de que é possível juntar para dividir melhor. Não me venham, portanto, dizer que as coisas são imutáveis, que não há volta a dar. Há!
Dois pontos: não sou rico, nem pobre, nem mestiço. Sou apenas eu, tentando não perecer na globalização.
Voltando ao FMI, entidade a que o Brasil emprestou há pouco tempo uma pipa de massa (mais de mil milhões de euros), o Brasil, disse bem – parece que Lula já trata Obama por tu – voltando ao FMI, bem podiam os seus escrevedores de coisas dizer porque vão os ricos ficar mais ricos e os pobres mais pobres. Mas não, não dizem.
Se o fizessem teriam que explicar que a globalização (nada tenho contra ela, pelo contrário desde que seja outra que não esta de modelo conservador neo-liberal) não é para todos. Teriam que explicar, que a riqueza e a pobreza estão como estão porque, entre outras coisas, os fluxos financeiros dos países ricos são encaminhados para os não desenvolvidos para lhes sugarem as matérias-primas, deixando-os pior do que estavam: com menos recursos, olhando para a evolução como se de uma miragem se trate. Mas, ó explicas!
Disse, lá em cima, que há esperança mas, por esta Terra, ela parece estar a expirar. Na próxima a que o homem chegar desejo que não haja, nem Tyrannosaurus Rex, nem FMIs, nem qualquer Casa Branca.
A imagem foi retirada do Google-Imagens

domingo, 21 de junho de 2009

Domingo (Dia antes da Segunda)




Ardente

Meteu-se no léxico português chegado do latim “dies Dominicus”. Adoptado, passou a ser o “dia do Senhor”. O mesmo fizeram os castelhanos (vá lá, espanhóis), italianos e franceses tratando-o por Domingo, Domenica e Dimamche.
Os pagãos da Antiguidade, servos de vários senhores, também o tiveram, mas como “dia do Sol”, o astro a que chamavam rei, nobreza que igualmente nós lhe reconhecemos, até ver. Aos gentios foram outros povos, como o inglês e o alemão, buscar os seus Sunday e Sonntag, sempre como “dia do Sol”, neles pondo o Sun e o Sonn para que assim continuem a ser.

Como não tenho Senhor nem astro que me monopolize atenções, também gosto da Lua, da Terra em que estamos, e até de Marte por me seduzirem os seus mistérios, para já não falar de Plutão que anda perdido lá pelos confins. Como não tenho nada disso, estava eu a dizer, chamo-lhe apenas Domingo, tão só!
Podia ter chegado hoje com nuvens escuras a chover, como na semana passada. Mas veio ao contrário: quente e cheio de Sol. Saímos, não para passar o Domingo no Parque, como o Gilberto Gil, mas para ir ao shoping, perdoe-se-me a intrusão em léxico alheio.
Sem sombras de parque, acolheu-nos a sauna da rua. Só o ar condicionado do carro pôs ordem no destempero.
Comidos o cabrito assado no forno e a espetada de cherne (para esquecer, salvou-se a cerveja bem tirada e fresca), numa ala mais fresca do restaurante, fomos às compras para pôr em dia a prenda de aniversário do filho mais velho. Tivemos mais sorte do que com o almoço.
Depois das mércolas, nas voltas que demos cruzámo-nos com gente, não muita, com ar enfastiado a começar pelo empregado brasileiro que nos atendeu onde fomos tomar o café, como se um favor nos estivesse a fazer! Só faltou pedirmos desculpa pelo incómodo!
Será da crise ou do calor? Ou juntaram-se ambos para nos esquentarem a cuca? Lá fui eu, outra vez, a casa alheia!

sábado, 20 de junho de 2009

Porque hoje é Sábado (Vinicius de Moraes)

Reencontro
com
o poetinha,
o branco mais negro
do Brasil

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo




(…) Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado

Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado

Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado

Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
(…)

De O Dia da Criação que pode ser lido, na íntegra, aqui.

Conheci Vinicius poeta e diplomata, de violão, copo de whisky na mão, cigarro entre os lábios, pé calçado sem meia, e os seus companheiros de viagens por poemas e músicas Tom Jobim, Toquinho e Baden Powell, faz tempos. Estas são memórias guardadas, no espaço das coisas boas, que a distância não apagou, antes as mantém frescas e disponíveis, por exemplo, para este Sábado ardente de Junho. Ouvi-lhe, um dia:

(...)Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado em baixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
(...Samba da Benção »»» )


A Anunciação

Virgem! Filha minha
De onde vens assim
Tão suja de terra
Cheirando a jasmim
A saia com mancha
De flor carmesim
E os brincos da orelha
Fazendo tlintlin?
Minha mãe querida
Venho do jardim
Onde a olhar o céu
Fui, adormeci.
Quando despertei
Cheirava a jasmim
Que um anjo esfolhava
Por cima de mim...

A Bíblia

A Bíblia já dizia
Pra quem sabe entender
Que há tempo de alegria
Que há tempo de sofrer
Que o tempo só não conta
Pra quem não tem paixão
E que depois do encontro
Sempre tem separação
Que o dia que é da caça
Não é do caçador
E que na alternativa
Viva e viva
E viva o amor
A gente vem da guerra
Pra merecer a paz
Depois faz outra guerra
Porque não pode mais
E deixa andar e deixa andar
Até a guerra terminar
Vamos curtir, vamos cantar
Até a guerra se acabar

Entrevistas (PM à SIC)



José Sócrates
no
“Dia D – Especial”


O PM que está lá em cima, entre parêntesis, quer dizer Primeiro-Ministro e chama-se José Sócrates. Desculpe-se-me o não ter colocado Eng.º antes do nome mas, como disse um falante estrangeiro das coisas da gente que nos visitou no principio do ano e com o qual estou de acordo, Portugal burocratiza-se e auto-elitiza-se em demasia ao colar títulos às pessoas que acabam por deixar de ser elas próprias para passarem a ser nem elas sabem o quê, já que quase, para não dizer sempre, o Eng.º ou o Dr. mesmo os de impostos à taxa mínima, como quase todos, não lhes acrescentam mais valia por aí além.

O programa a que levaram o PM, na Quarta-feira dia 17 deste mês de Junho, chama-se “Dia D – Especial”. Entrevistadora: Ana Lourenço, jornalista oriunda da rádio, personagem de voz calma, imagem sóbria e sorriso certo. Não se confunda com melíflua porque ela não o demonstrou ser. Ave rara no jornalismo televisivo – parece perceber que ao jornalista não cabe ser protagonista a fazer-se ao retrato de família em bicos de pés, mas perguntador dando ao entrevistado espaço de resposta para que se perceba quem é. Vamos a ver se a conversa com José Sócrates foi uma excepção, ou se assim continuará a comportar-se.
A entrevista correu. Ana perguntou a Sócrates o que pensava este do que tem feito à frente do Governo. Respondeu o PM estar satisfeito consigo próprio. Depois, Ana quis saber (tal como nós, julgo) o que distingue o PM de Manuela Ferreira Leite (a chefe do PSD). Diferenças de mundividência disse Sócrates, acrescentando que nunca lhe passaria pela cabeça afirmar, como Manuela, que o casamento tem como única função a procriação ou que as obras públicas só vão beneficiar os trabalhadores ucranianos e cabo-verdianos. Não ficou por aqui – Manuela quer revogar imediatamente a lei do divórcio. E a diferença entre ele Sócrates e o PSD? José, o PM, disse haver um ponto fundamental a separá-los: ele defende as funções sociais do Estado, o PSD quer privatizar Segurança Social e a educação, e acabar com o Serviço Nacional de Saúde. Quanto ao TGV, a história já tem quinze anos e não decidir tem um custo.
Mais foi dito, claro, que a entrevista andou por uma hora. Depois dela, no mesmo canal, o que já vai sendo costume: um painel de gente a opinar.
Foram quatro: Graça Moura, Nicolau Santos, um politólogo, salvo erro de nome Maltês, e Ricardo Costa.
Graça Moura: presença inútil – só falou de inocuidades, muito preocupada com o novo estilo de comunicar de Sócrates que, ela não o disse mas deu a entender, não bate a bota com a perdigota.
Nicolau Santos: lúcido – o país demora tempo a decidir, os partidos mudam constantemente de opinião. O PM também o tinha dito.
Politólogo: o que ele gosta de se ouvir!
Ricardo Costa: certeiro, centrando desvios da conversa com o pôr na mesa informação indesmentível. Mordaz: há comentadores que sabem mais que os políticos!
Disseram os partidos parlamentares, fora do estúdio:
PSD ( Paulo Mota Pinto): "tentativa de encenação de um novo estilo pele de cordeiro, de alguma aparente modéstia".
BE (Helena Pinto): "o estilo do primeiro-ministro pouco contará se as políticas não mudarem".
PCP (Bernardino Soares): "ausência de referência à gravissima situação do desemprego e ao escândalo social".
CDS-PP (Diogo Feio): "não deu uma palavra de esperança em relação às pequenas e médias empresas".

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Conversa de Sexta-feira (A modos que um conto sem ponto)







O Reino vegetal
na República dos homens.


Aquele anafado que ali vai mora no rez-do-chão do prédio de gaveto da Rua Sul, a principal do centro da urbanização mais recente da zona. Ao olhar-se-lhe fica a impressão de ter dormido bem a noite. Parece fresco que nem uma alface. Atrás caminha o vizinho do primeiro direito a quem o habitante do piso térreo chamou há tempos, na fervura de uma altercação entre ambos, mariquinhas pé de salsa. Mais ao fundo vê-se agora, vem a porteira do condomínio. Já lhes pôs o olho em cima. Lembra-se ela de ter assistido, por mero acaso, à tal discussão entre os dois. Na altura nada disse que se ouvisse. É pessoa comedida, não metediça na vida dos outros, já lhe bastam os enredos da sua, mas pensou lá com ela: pois, aquilo é só repolho podre, a culpa é de quem os criou que se esqueceu que é de pequenino que torce o pepino. Se qualquer deles tivesse escutado aqueles pensamentos teria, certamente, ficado vermelho que nem um tomate. A porteira acelera o passo, passa-lhes à frente e vai à sua vida.
Mais rápido, não vá o que vem atrás chegar-se-lhe, o do rez-do-chão dirige-se para o café da praça ao fim da rua onde é habito encontrar-se com um amigo, com este tomar o pequeno-almoço e dar um dedo de conversa, antes de seguir cada um para o emprego. Chegou. O amigo aparece agora. Sentam-se, pedem o costume: um croissant com fiambre sem manteiga para um, um pão de deus recheado com creme pasteleiro para outro, e duas meias de leite.
Diz o amigo:
- Então, trouxeste o livro que te pedi ontem?
- Não, não me lembrei.
- Irra! Já é a terceira vez. És bem um cabeça de alho chocho!
- Deixa-te disso, vai à fava, trago-to amanhã.
Os croissants foram-se, as meias esvaziaram-se.
- Vai uma bica?
Pergunta o do rez-do-chão, que logo continua:
- Lembras-te de te ter contado aquela cena com o meu vizinho do primeiro direito?
- Sim, e então?
- Pois não é que ontem à noite, estava ele à janela e eu a chegar, me chamou abóbora!
- E tu, o que fizeste?
- Nada, para discussão já basta a que houve.
- Que grande nabo me saíste, és bem um banana!
A conversa fica por aqui, porque da mesa ao lado se levanta uma colega do morador do rez-do-chão por quem este sofre de amores inconfessados.
- É boa como o milho!
Diz o amigo.
- Pois é.
Insiste o amigo:
- Só não percebo porque tremes que nem varas verdes sempre que a vês.
Já levantado, o do rez-do-chão, mãos nos bolsos e cigarro ao canto da boca lá vai para o trabalho, a pensar com os seus botões: que coisa, nem hoje que é Sexta-feira, dia de Vénus e de Afrodite, ele me larga o tomateiro!

Aqui termina, por hoje, a intromissão do Reino vegetal na República dos homens.

Benfica (JEM, ainda não)




Ufa!


A Prisa, grupo espanhol accionista maioritário da TVI ter-lhe-á dado luz verde para se candidatar à presidência do Benfica, autorizando-o a suspender as suas funções no canal televisivo. Os espanhóis ter-lhe-ão assegurado que se ganhasse ficaria como consultor do grupo para a Península Ibérica, se perdesse voltaria para a TVI. Os que o convidaram, “Movimento Benfica, Vencer, Vencer”, ter-lhe-ão garantido um salário líquido mensal de cinquenta mil euros, a suportar por investidores estrangeiros. Nada mau!
José Eduardo Moniz (JEM) ponderou. A Prisa, entretanto, recuou: se perdesse, JEM não voltaria à TVI. JEM decidiu não aceitar o desafio da candidatura. Anunciou-o em Conferência de Imprensa, ontem, passava um pouco das 21 horas. As televisões apareceram, concedendo-lhe amplo espaço de antena em horário nobre.
JEM aduziu as razões da recusa, afirmando, a dada altura, não precisar do Benfica para obter projecção! Ao optar pela Conferência de Imprensa para dizer não aos que o convidaram, contradisse-se, pois somou, obviamente, uma parcela importante à sua quota de notoriedade à custa do Benfica. Segundos de televisão valem mais do que milhares de caracteres impressos em páginas de jornais, ele sabe-o como poucos em Portugal, e teve largos minutos. Nem o Capitão Gancho tanto lhe deu mas, é sabido, o Glorioso é um mãos largas.
Falando sobre a decisão de JEM, Miguel Sousa Tavares (MST), comentador da TVI, considerou-a uma boa notícia para a TVI e para o Futebol Clube do Porto. Não surpreende – MST e JEM são amigos e a continuidade de JEM não põe em risco o seu lugar na cadeira de comentários das notícias. O mesmo não se pode dizer de MST e Pinto da Costa (PC), o patrão dos dragões, conhecida que é a opinião de MST sobre PC. JEM não será, para já, presidente do Benfica. Digo para já porque se lhe garantirem condições financeiras sólidas para se pagar a si próprio e a um exército profissional, catequizado e submisso, ele avançará para comandar as tropas! Por agora, não. Ainda bem, ufa!!!
Está-se a ver o Benfica com uma primeira-dama como Manuela Moura Guedes (MMG)?!?
Já sei, já sei que MMG parece ter dito a JEM para não avançar para os votos. E depois? O perigo rondou.
Ah, pois, pode acontecer-me o mesmo que ao sujeito que estava no elevador e não respondeu à boa tarde que outro lhe deu ao entrar: quando o elevador começou a subida quebrou o silêncio e perguntou ao chegado: para que andar vai? A resposta foi assim: o que é que você tem com isso?!?. Meta-se na sua vida!
Mas, oh senhores, é com a minha vida que estou a meter-me!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Vá lá, um sorriso (Podem ser três)

Por aqui, os dias têm andado acinzentados, pingando chuva, ora a molhar tolos como logo os que o não são. Andam por aí ventanias soltas. As noites acordam e deitam-se escuras e quentes. As correntes estáticas viajam por elas, chispando, aqui e ali, um ou outro relâmpago sem trovão, desenhando no ar estranhos arabescos. Não creio que seja o tempo a condizer. Será, provavelmente, alguma escaramuça, lá em cima, ou lá em baixo, entre os mandantes. Que seja!
Se os dias e as noites assim têm sido, as noticias das rádios, televisões, jornais e net, seguem-lhes o caminho. Desencantos, desavenças e tricas terrenas.
Fui à janela gritar ao tempo: vou sorrir a ver se mudas. Aos outros digo que se me vai esgotando a paciência.
De autor desconhecido, citado no Pensador:
"Um dia a lágrima disse ao sorriso: invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: enganas-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor".

Fiquemos com o sorriso.
Revezes do Ministro das Finanças

Para quem não saiba


Viagens do Primeiro-ministro

"Se alguém está tão cansado que não possa dar-te um sorriso, deixa-lhe o teu". (ditado chinês)

A reprodução das charges foi autorizada pelo seu autor: Bruno, São Paulo, Brasil, também autor do blogue Charges Bruno, a quem aqui agradeço.

É o que temos!



Eleição faz de conta?




Paulo Rangel foi cabeça de lista do PSD às eleições europeias de 7 de Junho ganhas pelo seu partido. Onze dias depois, ontem, foi-lhe perguntado, numa das televisões, se admite regressar a Portugal para integrar um governo social-democrata, caso o PSD vença as legislativas e o convidem para tal. Foi claro: “não afasto a possibilidade, não me custa nada dizer que não afasto”.
Durante a campanha eleitoral O Jornal de Notícias perguntou-lhe se tencionava cumprir o mandato no Parlamento Europeu. O então candidato respondeu, para que não subsistissem dúvidas: “não tenho mais nenhum plano senão esse”.
Cerca de um mês antes das eleições, a 20 de Abril, o secretário-geral do PSD proclamou que os candidatos social-democratas cumpririam os mandatos e não fariam parte das listas do partido às autárquicas e legislativas – “não haverá quem quer que seja que se candidate a mais do que uma coisa, nem haverá candidatos falsos ou candidatas falsas. Não haverá essas duplicidades de situações por parte do PSD. Isso nem se coloca”.
Pelo que se está a ver se Rangel não foi um candidato falso, o que foi então?
Recorde-se, o PR no seu apelo ao voto:
“Estas eleições para o Parlamento Europeu são importantes para o futuro da Europa e são importantes para a vida dos portugueses, para o nosso desenvolvimento e porque sei que nos próximos anos as instituições europeias irão tomar decisões com influência directa na vida dos portugueses. Basta pensar que muita da legislação que hoje se aplica em Portugal às actividades económicas, à nossa vida, é legislação aprovada no Parlamento Europeu e que o Parlamento Europeu tem uma voz cada vez mais forte, principalmente quando entrar, esperemos que entre, em vigor o Tratado de Lisboa".
Pelos vistos Paulo Rangel não pensa assim. Rangel é um homem estruturado e inteligente, embora belicoso. Disse o que disse quando foi candidato e agora diz que sim mas também, prefere instalar-se em São Bento. Pode ser que Sr. Ministro lhe soe melhor do que Sr. Eurodeputado. Ou, então, de duas uma - ou tem memória do tamanho de uma alcagoita, ou agiu com intuitos escondidos.
O que pensarão os seus eleitores?
Foram enganados ou participaram, conscientemente, numa eleição faz de conta?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ida aos rascunhos (O que eles sabem!)


Sobre as últimas europeias.
Numa televisão por cabo.

Ao centro a entrevistadora, ou moderadora, se assim acharem que melhor fica dito. À esquerda ela que costuma falar numa coisa televisiva com mais uns quantos. À direita ele que é director de um semanário e vai à TV vezes que cheguem.
Faziam contas sobre percentagens, a propósito da elaboração de cenários para as legislativas que estão para chegar, ou melhor, das possibilidades para tal que delas possam resultar.
Dizia a moderadora que PSD e CDS-PP, pela amostra das europeias, somam 40% - uma hipótese de sustentabilidade governativa.
Dizia ele, pois, o PS e toda a esquerda não dá, não funciona. Pelas contas que fiz, aqui com a calculadora da barra do Office, o PS e toda a esquerda juntam mais de 40%. Mas ele lá saberá porque disse o que eu ouvi. Só não percebi o não funciona. Conjecturo eu: estaria ele a dizer para se olhar para outro lado?
Acrescentou ela: a direita portuguesa não é como a de - citou dois países. A direita portuguesa, continuou ela com ar meio docente meio discente, a direita portuguesa é civilizada. Quereria dizer, sei lá, não se assustem com o que pode vir, aquilo é gente urbana! Quereria?
Disse ele: nada, ficou em silêncio.
Interveio a moderadora: terminou o tempo, boa noite e obrigada aos dois.
O que eles sabem!
Aprendi, com ela, que a direita portuguesa é civilizada. Não me era, de todo, desconhecido que a direita portuguesa tinha sido evangelizada, mas, pensava eu, os missionários prosseguiam, ainda, com o seu trabalho a bem da fé e da nação, longe da civilização.
Fiquei a saber que há silêncios de clausura para um director de semanário.
Nenhum dos dois adjectivou a esquerda. Ela porque se encantara em divagações. Ele porque a voz se lhe escapulira.
É o que temos. São o que são.

Vá lá, um sorriso

De vez em quando há que trocar as voltas às voltas que a vida dá no cirandar frenético a que nos obriga, dia após dia, às vezes sem qualquer propósito. Não que haja mal nisso, desculpemo-la, ela é assim, uma despropositada, mas porque temos direito a uma volta a sós, ao arrepio dela.
Foi o que hoje fiz. Viajei até Youtube e lá descobri o pitoresco a que achei graça e me trouxe um sorriso. Por isso lhe não resisti e o partilho neste tempo de todas as crises. Sorrir faz bem e ainda é gratuito!

Insólito! (Talvez não)


Querem trabalhar?
Paguem
!

Por e-mail a British Airways convidou os seus trabalhadores a prescindirem de um salário, como forma de se evitar o desemprego na companhia.
O presidente dá o exemplo: não receberá o seu próximo ordenado, qualquer coisa como setenta e três mil euros. Há quem ganhe mais. Pois há!
Caixa negra aberta: A British quer que os seus empregados trabalhem gratuitamente, um mês. Para já!
Manobra de diversão: a conversa do presidente.
Reacção dos trabalhadores: é um insulto! Mas muitos, por certo, se não todos, lá serão tentados a ceder. Dá para ver onde vai cair a escolha entre o ir para casa um mês com os bolsos vazios e o deixar que o desemprego os ponha ao relento.
Antevisão: Virá o tempo em que quem quiser trabalhar na British terá que pagar!
Perigo de pandemia: perfilarem-se outros para seguirem a transportadora aérea de Sua Majestade.
Outra notícia: A British acaba de vender 24 Airbus A320 ao Katar.
Conclusão: não há cara que aguente!
Aviso:»»»

...Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Guerreiros (A ânima)






O guerreiro Masai

é o da direita,

de cabelo à escovinha,

a dar ânima ao outro.

Invasores (Dupla face)

Novo!

Especificidades:
- Folha de dupla face;
- Rugoso;
- Áspero;
- Esguio;
- Agarra-se às mãos;
Stock:
- In China.
Custo:
- Por definir.
Utilização:
- Em S.O.S.
Contra indicações:
- Possível transmissor de virús e bactérias daninhas;
- Não é biodegradável;
- Entope.


Foto emprestada por NoThing buT SomEthing

domingo, 14 de junho de 2009

Transferência (Cristiano Ronaldo, ainda)


Vivam os perguntadores televisivos.


Quando, em 1998, estava eu orgulhoso a ver a televisão, José Saramago recebeu o Prémio Nobel da Literatura (um milhão de dólares, menos de um milhão de euros), um perscrutador televisivo perguntou-lhe:

- O que vai fazer com tanto dinheiro?

Não disse com o dinheiro, mas com tanto dinheiro!
O autor de Memorial do Convento, Ensaio sobre a Lucidez, Ensaio sobre a Cegueira, A Jangada de Pedra, A Viagem do Elefante e de tantas obras que engrandecem e prestigiam a literatura portuguesa e mundial lá respondeu, quase com humildade, que era, de facto, muito dinheiro e que iria tentar empregá-lo o melhor que soubesse e pudesse – citei de memória.
Agora, a propósito da transferência dos noventa e quatro milhões, e dos vinte e cinco mil euros de salário diário, por cinco ou seis anos, não ouvi, nunca, dizer-se tanto dinheiro, apenas coisas como a mais cara transferência de sempre. Muito menos fazer-se idêntica pergunta ao futebolista Cristiano Ronaldo, para quem o milhão de Saramago nada mais é do que um punhado de alcagoitas. Em vez disso, para bom entendedor imagens bastam, os perguntadores não perguntaram, mostraram-no aos mimos com Paris Hilton e de férias em Los Angeles onde se pagam dois mil e quinhentos euros por uma noite! Deram-nos a ver outras coisas como jovens de Madrid felizes e contentes, algumas sequiosas, pareceu-me, por passarem a tê-lo à mão, quero dizer, por lá.
Também nos mostraram o senhor Joseph Blater, presidente da FIFA, exultando de satisfação. Para ele o futebol não conhece a crise. Está pujante, compra e vende bem as estrelas de que precisa para fornecer emoções às pessoas, por ser isto o que elas querem. Tal e qual!
De Nova Iorque chegou algo de diferente: disse a ONU que com os noventa e quatro milhões matava a fome a oito milhões de etíopes! Demagogos! O que tem Blater a ver com a Etiópia?
Vivam os perguntadores televisivos! Abaixo a demagogia!

sábado, 13 de junho de 2009

Transferência (Cristiano Ronaldo)




Obsceno!

Os espanhóis desembolsaram noventa e quatro milhões de euros, assim em itálico, a vermelho e por extenso para que se lhe veja bem a grandeza, para o levarem de Manchester para Madrid. Se outros ventos não soprarem ficará na capital do Reino de Castela 5 ou 6 anos, vizinho de Rodriguez Zapatero e de Juan Carlos de Bourbon y Bourbon, vencendo vinte e cinco mil euros por dia, a acreditar nas contas das televisões.

Ouviram-se noventa e quatro milhões de aplausos – um deles de Carlos Queiroz, o seleccionador do futebol português. Disse ele que se pagaram tal por Cristiano Ronaldo é porque ele o vale. Não se ficou por aqui, acrescentando ter dificuldades em calcular o valor das pessoas. Por exemplo, quanto vale Dustin Hoffman, rematando que muita gente se oferece gratuitamente, acabando por sair cara! Sendo ele um agente da indústria do espectáculo, só falou de gente do espectáculo. Nada mais se lhe pode exigir. Não lhe sei responder à pergunta, mas sempre lhe digo que em 10 filmes que vejo de Hoffman, nenhum me desencanta. Quanto a Ronaldo vejo-o a jogar 10 vezes na selecção – em 9 desilude-me, com pena minha!
Fique claro: comecei por gostar do futebol-desporto. Depois metamorfoseou-se para futebol-espectáculo. Persisti no gosto, embora o preferisse como desporto que suava camisolas. Vivemos na Sociedade do Espectáculo.
Do que não gosto é do que gera, quando multidões descontroladas dele se apoderam: violência entre os espectadores, cargas policiais, mortos, feridos, triste desfilar de intriga entre dirigentes num vale tudo, enfim, o caos. Tudo porque mexe com as massas, excita-as, incendeia paixões, radicaliza nacionalismos pacóvios, tapa jogos sujos, é válvula de escape para frustrações, angústias, gritos de injustiça e medos. Deixa de ser o espectáculo de festa que devia ser. Fuma-se um jogo de futebol, e finge-se a vida! Não o culpo, nem aos jogadores (admiro alguns pela sua postura), mas a quem o conduz.
Não acontece só com o futebol-espectáculo. O tempo moderno caminha às cegas. Veja-se o que sucedeu nos bairros límitrofes de Paris, na Grécia, na Itália e, mais recentemente em Portugal.
Pé ante pé, assim a modos que paulatinamente, a Sociedade do Espectáculo caminha para a Sociedade do Caos.
Continuo a gostar do futebol-espectáculo e a desejar que o Cristiano Ronaldo deixe de me desiludir quando joga pela selecção.
Mas, é obsceno o que se deu para o pôr a jogar em Santiago Barnabeu e mais obsceno, ainda, o que lhe vão pagar por dia, mesmo que se pretenda ajudar o rapaz a ser tão ou mais rico do que ela (Paris Hilton) para a poder ter nas férias. Assim uma espécie de toma lá vai-te a ela!
Obsceno!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

10 de Junho (Ainda)

Jogar em casa


Em 2008 o Presidente da República foi ao passado. Não se fez à vela, ao que se sabe, por mares nunca dantes navegados. Ficou-se aquém da Taprobana, Evitou perigos e guerras esforçados por lhe sobrar a fraqueza humana. Não conheceu gente remota, ficando, assim, incapaz de entre ela edificar o que quer que fosse. Teve encontros, presume-se. Com o épico, não.
No regresso, sabe-se, passou por Viana do Castelo chamando Dia da Raça ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Há quarenta e oito horas, em Santarém, homenageou o capitão de Abril, Salgueiro Maia, enaltecendo-lhe a qualidade de português e de combatente pela liberdade.
Há vinte anos, era então chefe do governo, negou uma pensão ao mesmo militar a quem a liberdade reconquistada dos portugueses tanto deve.
Nos últimos tempos o Presidente da República tem-me aparecido com um new look: penteia-se à Gary Grant, o actor norte-americano de ascendência inglesa que (fonte – Wikipédia), para além de quatro casamentos, viveu com Randolph Scott, outro actor, conhecido pelas fitas de índios e cowboys. Já vinha reparando, outrossim, que o Presidente saliva menos e articula melhor as palavras, para o que terão contribuído, por certo, as aulas de dicção recebidas de uma boa falante do português. Com as eleições europeias a sua família política ocupou a Europa. Os cravos murcharam. O Presidente Sorri mais!
Dia da Raça, depois já não.
Pensão negada a Salgueiro Maia – o Herói preocupava.
Agora, homenagem – o Herói já não incomoda.
O Presidente joga em casa.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Culinária (Quitaba)


Ninguém me disse para lá ir, mas fui,
às memórias de criança já espigadota.


Encontrei a lavadeira de casa dos meus pais a ensinar-me a fazer um petisco salgado e picante, cujo degustar muito prazer me dava, a mim e a ela, que o comíamos a meias. Eu contribuía com os géneros surripiados da despensa de casa, ela com o saber e a arte. A ele voltei, já homem e pai. O sabor foi quase o mesmo, só faltou o toque da lavadeira amiga. Mas, enfim, pode ser que algum dos visitantes que por aqui passe lhe mexa com melhor jeito. Aqui vai.

Quitaba:
Óptima para entrada ou aperitivo a acompanhar uma cerveja fresca no Verão que um dia destes nos vai entrar por aí adentro.
Comece-se por pouco. Se ficar ao gosto aumentam-se as quantidades, proporcionalmente.
- 200 grs de amendoim torrado e descascado;
- 100 grs de farinha de pau de moagem meio fina, da mesma com que se faz a farofa (compra-se em qualquer supermercado);
- sal ao gosto de cada um;
- 5 ou 6 piripiris;
Passa-se o amendoim pela 1,2,3 (a minha lavadeira não a tinha, suponho que nem sequer estava ainda inventada, socorria-se de um pilão e de um seixo para moer, o que demorava muito mais tempo), até que disso resulte uma pasta não muito liquida. Tira-se a pasta para uma tijela, juntando-se-lhe a farinha o sal e o piripiri. Mistura-se tudo até se obter uma pasta tipo queijo de figo do Algarve. Prova-se a ver se está bem de sal e piripiri. Estende-se a pasta com a altura que se quiser, corta-se aos quadrados ou aos rectângulos, e já está! É fácil, é barato, não dá milhões mas sabe bem.


Na terra onde nasci chama-se jinguba ao amendoim e jindungo ao piripiri. No Algarve, já que o pus ali em cima, os amendoins dão pelo nome de alcagoitas. E, a língua portuguesa é assim mesmo, não há nada a fazer, alcagoita (um substantivo com os dois géneros) quer também dizer,quando no masculino, homem de pouco valor.
Vá lá saber-se porque portas e travessas se chegou àquela paridade!
Ah! E, já agora, garantem os botânicos: o amendoim é um membro da família da beterraba marítima. Quem imaginaria tal?
Se quiserem que lhes diga porque tem o petisco nome feminino, não mo perguntem, não sei! Isso a lavadeira não me explicou, aliás ela era mais dada a feitos do que a falas.


Os pequenos ali na foto são os jindungos, já maduros, mas ainda frescos. Estes são os caluquetas; se forem menores, aí por metade do tamanho e muito mais assanhados, quer dizer, picantes, são quimbundos; também os há arredondados, do tamanho de uma ginja crescida - os cahombos.

10 de Junho (Dia de Portugal)

Puseram-no a olhar para as câmaras.
Mostrou-se-me pela televisão.


Vi gente anónima, outra conhecida. Alguma de pé: o PR e a senhora Maria (esta sentar-se-ia cansada, provavelmente, que a idade vai pesando), o PM e mais uns quantos a olharem para o desfile. PR, com um novo ajeitar do cabelo, e PM, com cara de poucos amigos; a senhora Maria não tanto.
Passaram boinas verdes e vermelhas; caras camufladas; blindados e outras armas, muitas, algumas aconchegadas a peitos como crianças de colo; vários caninos de ar enfastiado; peitos empandeirados de medalhas. Lá por cima voaram caças a jacto e helicópteros.
Falaram o presidente das comemorações e o PR que é de todos, como é de bom tom dizer-se, militares incluídos.
Trinta e sete personalidades, como tal as apresentaram, foram condecoradas. Umas mais, outras menos. A Grã Cruz não chegou para todas, houve que trazer as comendas à liça.
Tudo certo, muito certinho, trajando a rigor. Programa cumprido à risca. Tudo na ordem, a andar pelo mesmo carreiro.
Acabou? Não, ainda não.
Sem nada saber que perguntar, como a isso já nos vão habituando, um repórter inquiriu a criança de rosto rosado e olhos brilhantes:

- Vais querer ser militar?
- Não, não quero ser militar.

Caiu o pano, para o ano há mais.
Porque teimam em inventar o nada?
Não tivesse ouvido a criança e teria regressado à vil e triste apatia.
Não, não quero o país cerimonioso, sisudo, encarcerado, que a televisão me pôs na sala. Quero-o uma ave solta a voar sem anilhas. Quero-o a festejar nas ruas. Quero-o a comemorar Camões com alegria, com fraternidade, com igualdade, com amor. Quero vê-lo alegre no bairro, na vilas, nas aldeias, nas cidades, nos convívios jovens, nas colectividades de recreio, nas academias para a terceira idade, nas casas de cada um. Quero ver o meu país orgulhoso de o ser. Num coreto engravatado podem lá pôr-se os discursantes e as ordens honoríficas.
A criança deu-me alento para a leitura deste dia:


Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

( José Carlos Ary dos Santos)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quotidiano (Manifestação de Polícias)


Esclarecedor!

Vi-os na televisão. Eram muitos. Iam, em marcha, para a residência oficial do 1º Ministro protestar contra o que consideram falta de abertura do Governo na discussão do seu estatuto profissional, actualizações salariais, antecipação da idade de reforma para os 55 anos, ou 36 de descontos, e melhores serviços de saúde. Tudo bem, estão no legítimo direito de o fazerem. A rua é muitas vezes necessária para que os governos nos ouçam. Este é um país livre. A Constituição da República, nascida do 25 de Abril, confere a cada um de nós, a liberdade e os direitos de expressão, reunião e manifestação. E, acrescento, também o direito à indignação. É por isso, por ter tal direito, que falo aqui do que vi e ouvi.
Vi chapéus dos polícias a serem atirados, às dezenas, para a rua frontal à residência do PM. Por pouco, alguns deles não atingiram duas viaturas particulares que por ali circulavam. Se as tivessem apanhado e danificado, quebrando, por exemplo, um vidro, como seria? Não vi, mas, pelo que li, até sapatos, casacos e uma camisola da selecção nacional foram arremessados.
As imagens mostraram polícias exaltados, vociferando e querendo avançar. O responsável pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia considerou normal a exaltação dado o estado de revolta dos polícias.
Esclarecedor!
Mas, o que mais me chocou, indignou e deixou estupefacto, foi o que ouvi de um dos polícias. Perguntou-lhe a reportagem.
- O que vai dizer ao 1º ministro e ao ministro?
- Que são uns mentirosos!
Os nossos políticos não prestam – vox populi. A medir por aquele, os nossos polícias não lhes ficam atrás, o que me inquieta; se não forem eles quem vai zelar pela nossa segurança? Os políticos podemos nós mudá-los pelo voto, os polícias não!
Muito parecido com os que vemos nos filmes americanos, série B, o que vi e ouvi era jovem, ar marialva, trajando à civil, barba por fazer, com uns grandes óculos escuros de vidros reflectores, estilo desportivo. Depois de o ouvir sumiu-se-me o respeito pela sua autoridade. Não o esquecerei. Se um dia destes, andando por aí, for por ele interpelado e acusado de não querer colaborar com a autoridade, a propósito do que ele possa, eventualmente, invocar, dir-lhe-ei, não aos gritos, mas serenamente:
- Você é um mentiroso, está a mentir.
Não há ingenuidade que admita ficar o polícia a discutir comigo.
Certo e sabido que me deterá e conduzirá à esquadra mais próxima, se outra coisa antes não fizer.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eleições (Parlamento Europeu)


Reflexão de quem votou
Não é nada porreiro, pá!





Obama chegou à presidência dos Estados Unidos porque os norte-americanos perceberam que os republicanos (conservadores e neo-liberais), os tinham enganado e posto a pedir. Agarraram-se à esperança soprada pelas propostas de mudança do sim nós podemos, e elegeram-no, virando costas a um quase clone do cowboy Bush, igualmente em corrida para a Casa Branca. Muito tem feito Obama, nos poucos meses passados. Os americanos continuam a acreditar e a conferir altas taxas de popularidade ao seu presidente.
Quando ouvi Obama disse, para comigo, não acreditar que os europeus e os políticos que governam os países mais ricos tivessem capacidade e vontade, sobretudo vontade, para o entender e acompanhar. Quanto aos políticos da chamada esquerda democrática que igualmente governam alguns países do leque dos menos ricos, não lhes via, nem vejo, rasgo de asa para tal, embora me parecesse, e pareça, terem vontade.
As eleições de Domingo confirmaram as minhas inquietações.
Seduzidos pelo gesto fácil de penalizar governos só porque o são, sem o raciocínio necessário para analisar o mundo que os cerca, despidos da vontade e da clarividência necessárias para se ser cidadão, acomodados à abstenção estúpida e egoísta, convencidos de que a Europa continuará sempre a ser terra de paz, de liberdades e de modelo social, os eleitores europeus fizeram, com o seu voto, regredir a Europa. Os ventos de mudança que sopram do outro lado do Atlântico ficaram-se pelo caminho.
Como foi possível premiar-se Sarkozi, Merkel, Berlusconi, o chefe do PP espanhol e outros, que sempre se opuseram a uma Europa mais social e mais distributiva? E, por arrasto, voltar a pôr Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. Memória curta têm os europeus que se esqueceram rapidamente do encontro dos Açores onde Barroso foi anfitrião e mordomo submisso de Bush, Blair e Aznar, tendo dali partido o grito de ataque ao Iraque, justificado na infâmia: existência de armas de destruição maciça e a falsa relação de Sadam Hussein com Al Qaeda. O resultado foi o que o mundo viu, e grande parte da Europa contra isso protestou: uma guerra ilegal, injusta e sem sentido; centenas de milhares de mortos; um país destruído; crescimento das forças do terrorismo internacional; aumento da tensão no Médio Oriente; em suma um mundo mais inseguro. Quando confrontado com a verdade, Barroso fingiu-se enganado.
Com aqueles cresceu, também, a extrema-direita, facto que deveria deixar os europeus apreensivos, não se me afigurando necessário dizer aqui porquê, tão óbvio isso me parece. Por essa Europa fora, comentadores, como em Portugal Pacheco Pereira, estabelecem uma paridade entre extrema-direita e extrema-esquerda. Sem razão, intelectualmente desonesto. A extrema-direita ascende ao poder da governação por via de alianças que com ela fazem os partidos vencedores como os de Domingo. A extrema-esquerda fica sempre de fora, mesmo quando são outros os ganhadores.
Dos Estados Unidos à América Latina, da Ásia a África, o mundo percebeu que o modelo de desenvolvimento gerado pelos conservadores está errado, fomenta a injustiça, humilha os fracos, premeia os corruptos, gera o saque desenfreado. Porque assim é, ensaia a mudança. Os europeus acham que não e dão-lhe o aval.
Que visão da Europa e dos seus cidadãos foi dada ao Mundo?

Eleições (Parlamento Europeu)

É tempo de zarpar
Olhares de quem votou.

Ontem, Domingo, eleições.
Ganhador: PSD.
Ganhador, também: BE.
Ganhadores assim-assim: PCP/PEV, CDS-PP.
Perdedor: PS
Preguiçosos: 62,4%
Contentes: os irmãos Portas (especialmente o Miguel), Ferreira Leite e Rangel (até quando?), Jerónimo e Ilda.
Ausentes: Os barões do PSD.
Festas: Num bar (PSD); numa sede de campanha (BE).
Tristezas: À saída de um hotel.
Descorteses: Vital por não ter telefonado a felicitar Paulo, este, por disso ter feito queixinhas na Televisão. Feios, os dois!
Mordaz: Ricardo Araújo Pereira. Disse ele, numa das televisões, que o acto eleitoral tinha revelado uma profunda crise na indústria hoteleira cá da terra, pois nunca tinha visto o Hotel Altis tão vazio!
Afirmativo: Louçã.
Perdido: Rodrigo Guedes de Carvalho.
Semi-perdido: José Alberto Carvalho.
Desamparado: António Costa.
Cavalheira: Judite de Sousa.
Polido q.b.: António Vitorino.

Chatos até mais não: Pulido Valente, Maria João Avilez, TVI.
A mais: Pacheco Pereira e Teresa Caeiro.
Trabalho de sapa/propaganda: Moção de censura do CDS-PP
Ainda ali, porquê? Sousa Tavares.


Hoje, Segunda:
Regresso à rotina.
Chuva e vento, Sol escondido a pedir para entrar. Radiação UV muita alta em Évora, Faro, Lisboa e Sines. Bolsa mergulhada no vermelho. Euribor a subir. Jardim, e Berlusconi na televisão. Dentinho a falar, sem nada dizer, de Paris para a RTP, à hora do almoço. Grande plano a esconder-lhe as exiguidades. Quando tiram o rapaz dali? Porque não o põem na Católica emparelhado com Cintra Torres? Quinto dia de greve na PGA.

Esta Segunda-feira acordou mal disposta.
Amanhã é véspera da ponte mais longa do ano. É tempo de zarpar.

domingo, 7 de junho de 2009

Releituras (Eça de Queiroz)



Domingo de eleições
Para além de ter ido ao voto
releio
A Perfeição
Um dos treze contos de Eça de Queiroz
Depois de vencer a guerra de Tróia, Ulisses fez-se ao caminho para regressar a Ítaca, a sua terra natal. O destino, porém, trocou-lhe as voltas, arrastando-o para uma ilha praticamente deserta, onde reinava Calipso, uma das cinquenta nereidas. Ali tudo era perfeito, harmonioso, pacifico. Ao fim de oito anos de lá estar Ulisses cansou-se de tanta serenidade, de passar as horas a divagar sentado numa rocha, a invejar os guerreiros que haviam perecido nas batalhas a que ele resistira. Estava esquecido dos homens e dos deuses, prisioneiro dos amores da deusa, que o tratava garantindo-lhe paz, doçura, abundância e beleza eterna, com o poder de ser, ela própria, filha de Nereu, um deus do mar que reinava no Mediterrâneo.
As folhas das árvores não amareleciam nem caiam, as flores eram, desde o dia em que chegara, sempre belas e viçosas, nem as tempestades apareciam a fustigar-lhe a choupana onde habitava. Tudo era uma harmonia perfeita. O tédio apossou-se do herói. Isso e as saudades de seu filho Telémaco e de sua mulher Penélope angustiavam-no. Saudades tinha, também, da morte que tantas vezes vira de perto.
Um dia apareceu Mercúrio, o mensageiro dos deuses, com uma ordem para que Calipso libertasse Ulisses. Júpiter era o deu dos deuses. A nereida não lhe desobedeceu mas pôs em dúvida que Ulisses não quisesse ficar imortalizado na ilha perfeita, nos seus braços perfeitos. Ele, porém, disse-lhe ter batalhado já muito, que a sua glória entre as gerações estava segura e que só aspirava ao repouso, vigiando os seus gados, concebendo sábias leis para os seus povos. Partiu para regressar a Ítaca.
A despedida:

Mas então recordou que nem beijara a generosa e ilustre Calipso! Rápido, arremessou o manto, pulou através da espuma, correu pela areia, e pousou um beijo sereno na fronte aureolada da deusa. Ela segurou de leve o seu ombro robusto:
- Quantos males te esperam, oh desgraçado! Antes ficasses, para toda a imortalidade, na minha ilha perfeita, entre os meus braços perfeitos…
Ulisses recuou, com um brado perfeito:
- Oh deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delícia das coisas impe
rfeitas!
-.-.-.-.-.-.-.-.-.

A eternidade, a eternidade… só existiu enquanto os deuses duraram!

A dor da saudade...essa, só é dominada por quem não a sente!

sábado, 6 de junho de 2009

Palavras Sábias (Não se faz queixa de um irmão)



Era Sábado
O meu irmão mais velho
e eu.
Tremuno rijo, que é como quem diz jogar à bola, em linguagem mais tratada, no quintal lamacento da nossa casa, com uma redonda de meia, entrapada com pedaços de serapilheira e sumaúma da mafumeira do Kynaxixe à mistura; quando disto não havia, também lá metíamos papel pardo de cartucho com que o Sr. Mário, de alcunha “o porco sujo”, embrulhava a manteiga na mercearia ao lado da Invicta.

Só um instante para dizer porque foi o Sr. Mário assim alcunhado. Andava sempre de avental, atado à barriga e não pendurado ao pescoço, com surro acumulado por nele limpar as mãos depois de as ter tido na lata da manteiga, nos potes da banha, no toucinho, nos torresmos, nos chouriços, nas morcelas, nas barricas da salmoura, nos fardos do bacalhau da Noruega, nos figos secos a granel, na torneira do barril de vinho tinto, nas barras do áspero sabão macaco, nas latas de petróleo para os petromax, no dendem chegado do Caxito, nas curitas para os arranhões, na testa para sacudir o suor, sei lá em que mais (naquela mercearia havia de tudo, como na drogaria, incluindo quinino para as sezões e sulfamidas para as feridas), sem nunca as passar por água e sabão! Às vezes, viram os meus olhos de puto, encarrapitado na ponta mais baixa do balcão, também chegava o avental ao nariz. Eu gostava do Sr. Mário, sempre o tratei assim. Quando lá ia, a mando da minha mãe, buscar manteiga para matabichar e lanchar, dava-me, nunca se esquecia, dois rebuçados que tirava de um frasco redondo de boca larga com aquelas mãos, e uma piscadela cúmplice do olho esquerdo. Que bem me sabiam, a guloseima, com sabor a abacaxi, e o piscar!

Voltando ao Sábado que aqui me trouxe.


Pontapé daqui, corrida para acolá, mergulho a defender, ora ele, o meu irão, ora eu, chega para lá pelo ombro, como víamos fazer aos seniores; e, claro, o puxar pela camisa para atrasar a chegada à bola, sem que fosse marcada falta pois árbitro não tínhamos, ali só nós, quer dizer, ele, o mais velho, mandava. O meu resmungar de nada servia. E pronto! Zás, um puxão mais forte e lá se foi a camisa com um rasgão de alto a baixo. Pus-me a chorar e fui a correr para dentro de casa, procurar a mãe para lhe dizer que tinha sido ele, o mais velho, a fazer-me aquilo. Mal acabei, ofegante, o que lhe fora comunicar, puxou-me uma orelha e disse-me:
- Não se faz queixa de um irmão. É feio!
Deu-me uma ralha e mandou-me para a celha do banho; indiferente continuou a fazer o que estava, não querendo saber de mais nada. As lágrimas secaram-se-me. A orelha latejante e aquelas palavras entraram por mim adentro, abalaram-me. Eu, inocente, fora castigado. Ele, o rasgador de camisas, que também me pregava rasteiras e me magoava as canelas, embora disto não me tivesse queixado, ficara incólume! Não era justo! Este sentido de injustiça não cedeu, não acalmou, não me deu tréguas. Não fosse eu tão recente na vida e ela minha mãe, teria berrado; fiquei-me por gemidos e lamentos surdos que me tomaram o corpo. À noite, ao deitar-me, olhei para o tecto e pus-me com ele à conversa, quer dizer, conversa conversa não era, dos dois só eu falava, como desde cedo na vida continuo a fazer. Porque me dissera ela o que disse? O que quereria ela dizer que ficara calado? Nunca diz tudo o que pensa...Pois, se calhar, que devia ter resolvido o problema entre mim e ele, lá no quintal, não chegando a ela de lágrimas e dedo acusador. Se calhar… Adormeci. Andei pelos sonhos à busca de entendimentos que não fossem mudos como eu ficara. Acordei convicto: fora sapiente, a mãe, no que dissera, e acertada no “castigo”. É mesmo feio fazer queixa de um irmão. A orelha deixou de doer. As palavras, essas, ficaram, têm-me acompanhado ao longo da vida, continuam cá dentro.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eleições (Parlamento Europeu)




Eleições para o Parlamento Europeu
Domingo, dia 7



Cito de memória:
Sentado à mesa da esplanada bebericava um café, ao que me pareceu. Rosto jovem, barba meio crescida. Na rua passava uma campanha eleitoral. Pergunta o repórter televisivo:
- Acha que as campanhas esclarecem os eleitores?
- Não sei, depende de como são feitas, do que os candidatos dizem.
- Tem aí uns prospectos. Já os leu?
- Não, nem vou ler, isto não me interessa.

Opina e depois nem sequer lê o que lhe propêm! Foi pena não ter dito o que lhe interessa, sempre ficávamos a saber.

Noutro local.
A câmara mostra um rosto de mulher já não muito jovem. Não apanhei a pergunta, só a fala da senhora:
- Eles dão alguma coisinha?
Ainda estamos nisto? Somos assim? Mais de 30 anos de Democracia e permanecemos incapazes de ser cidadãos, embora andemos por aí a criticar, muitas vezes com razão, e a clamar por direitos de cidadania?
Não, não acredito, recuso-me a crer e a admitir o direito de crítica a quem não participa.
Sou filho de uma Pátria libertada e adulta.
Portugal está na Europa e esta desenha-se no Parlamento Europeu. Quero lá ter muita gente a pensar como eu, no Portugal que eu quero, para que as coisas mudem.
No dia 7 vou votar.