segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eleições (Parlamento Europeu)


Reflexão de quem votou
Não é nada porreiro, pá!





Obama chegou à presidência dos Estados Unidos porque os norte-americanos perceberam que os republicanos (conservadores e neo-liberais), os tinham enganado e posto a pedir. Agarraram-se à esperança soprada pelas propostas de mudança do sim nós podemos, e elegeram-no, virando costas a um quase clone do cowboy Bush, igualmente em corrida para a Casa Branca. Muito tem feito Obama, nos poucos meses passados. Os americanos continuam a acreditar e a conferir altas taxas de popularidade ao seu presidente.
Quando ouvi Obama disse, para comigo, não acreditar que os europeus e os políticos que governam os países mais ricos tivessem capacidade e vontade, sobretudo vontade, para o entender e acompanhar. Quanto aos políticos da chamada esquerda democrática que igualmente governam alguns países do leque dos menos ricos, não lhes via, nem vejo, rasgo de asa para tal, embora me parecesse, e pareça, terem vontade.
As eleições de Domingo confirmaram as minhas inquietações.
Seduzidos pelo gesto fácil de penalizar governos só porque o são, sem o raciocínio necessário para analisar o mundo que os cerca, despidos da vontade e da clarividência necessárias para se ser cidadão, acomodados à abstenção estúpida e egoísta, convencidos de que a Europa continuará sempre a ser terra de paz, de liberdades e de modelo social, os eleitores europeus fizeram, com o seu voto, regredir a Europa. Os ventos de mudança que sopram do outro lado do Atlântico ficaram-se pelo caminho.
Como foi possível premiar-se Sarkozi, Merkel, Berlusconi, o chefe do PP espanhol e outros, que sempre se opuseram a uma Europa mais social e mais distributiva? E, por arrasto, voltar a pôr Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. Memória curta têm os europeus que se esqueceram rapidamente do encontro dos Açores onde Barroso foi anfitrião e mordomo submisso de Bush, Blair e Aznar, tendo dali partido o grito de ataque ao Iraque, justificado na infâmia: existência de armas de destruição maciça e a falsa relação de Sadam Hussein com Al Qaeda. O resultado foi o que o mundo viu, e grande parte da Europa contra isso protestou: uma guerra ilegal, injusta e sem sentido; centenas de milhares de mortos; um país destruído; crescimento das forças do terrorismo internacional; aumento da tensão no Médio Oriente; em suma um mundo mais inseguro. Quando confrontado com a verdade, Barroso fingiu-se enganado.
Com aqueles cresceu, também, a extrema-direita, facto que deveria deixar os europeus apreensivos, não se me afigurando necessário dizer aqui porquê, tão óbvio isso me parece. Por essa Europa fora, comentadores, como em Portugal Pacheco Pereira, estabelecem uma paridade entre extrema-direita e extrema-esquerda. Sem razão, intelectualmente desonesto. A extrema-direita ascende ao poder da governação por via de alianças que com ela fazem os partidos vencedores como os de Domingo. A extrema-esquerda fica sempre de fora, mesmo quando são outros os ganhadores.
Dos Estados Unidos à América Latina, da Ásia a África, o mundo percebeu que o modelo de desenvolvimento gerado pelos conservadores está errado, fomenta a injustiça, humilha os fracos, premeia os corruptos, gera o saque desenfreado. Porque assim é, ensaia a mudança. Os europeus acham que não e dão-lhe o aval.
Que visão da Europa e dos seus cidadãos foi dada ao Mundo?

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