sábado, 13 de junho de 2009

Transferência (Cristiano Ronaldo)




Obsceno!

Os espanhóis desembolsaram noventa e quatro milhões de euros, assim em itálico, a vermelho e por extenso para que se lhe veja bem a grandeza, para o levarem de Manchester para Madrid. Se outros ventos não soprarem ficará na capital do Reino de Castela 5 ou 6 anos, vizinho de Rodriguez Zapatero e de Juan Carlos de Bourbon y Bourbon, vencendo vinte e cinco mil euros por dia, a acreditar nas contas das televisões.

Ouviram-se noventa e quatro milhões de aplausos – um deles de Carlos Queiroz, o seleccionador do futebol português. Disse ele que se pagaram tal por Cristiano Ronaldo é porque ele o vale. Não se ficou por aqui, acrescentando ter dificuldades em calcular o valor das pessoas. Por exemplo, quanto vale Dustin Hoffman, rematando que muita gente se oferece gratuitamente, acabando por sair cara! Sendo ele um agente da indústria do espectáculo, só falou de gente do espectáculo. Nada mais se lhe pode exigir. Não lhe sei responder à pergunta, mas sempre lhe digo que em 10 filmes que vejo de Hoffman, nenhum me desencanta. Quanto a Ronaldo vejo-o a jogar 10 vezes na selecção – em 9 desilude-me, com pena minha!
Fique claro: comecei por gostar do futebol-desporto. Depois metamorfoseou-se para futebol-espectáculo. Persisti no gosto, embora o preferisse como desporto que suava camisolas. Vivemos na Sociedade do Espectáculo.
Do que não gosto é do que gera, quando multidões descontroladas dele se apoderam: violência entre os espectadores, cargas policiais, mortos, feridos, triste desfilar de intriga entre dirigentes num vale tudo, enfim, o caos. Tudo porque mexe com as massas, excita-as, incendeia paixões, radicaliza nacionalismos pacóvios, tapa jogos sujos, é válvula de escape para frustrações, angústias, gritos de injustiça e medos. Deixa de ser o espectáculo de festa que devia ser. Fuma-se um jogo de futebol, e finge-se a vida! Não o culpo, nem aos jogadores (admiro alguns pela sua postura), mas a quem o conduz.
Não acontece só com o futebol-espectáculo. O tempo moderno caminha às cegas. Veja-se o que sucedeu nos bairros límitrofes de Paris, na Grécia, na Itália e, mais recentemente em Portugal.
Pé ante pé, assim a modos que paulatinamente, a Sociedade do Espectáculo caminha para a Sociedade do Caos.
Continuo a gostar do futebol-espectáculo e a desejar que o Cristiano Ronaldo deixe de me desiludir quando joga pela selecção.
Mas, é obsceno o que se deu para o pôr a jogar em Santiago Barnabeu e mais obsceno, ainda, o que lhe vão pagar por dia, mesmo que se pretenda ajudar o rapaz a ser tão ou mais rico do que ela (Paris Hilton) para a poder ter nas férias. Assim uma espécie de toma lá vai-te a ela!
Obsceno!

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