sábado, 29 de dezembro de 2012

2013



“…Os combates pela dignidade, pela justiça, pela solidariedade efetiva, pelos direitos humanos, pelo direito ao trabalho, pelas liberdades, pela democracia vão ter de estar presentes nos 365 dias do ano. A persistência na denúncia pode, por vezes, parecer ausência de criatividade mas, em tempos de escuridão, a ilusão de que podemos ser conduzidos por quem nos apagou as luzes pode sair muito cara…”
(Manuel Carvalho da Silva)
O texto, na íntegra, pode ser lido aqui
Bom fim-de-semana
 


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Para onde foram?



Vive com a sublime memória das palavras que partiram.
Partiram, talvez, ou mesmo por certo, para um futuro que não passará de um outro presente.
As que ficaram tornaram-se errantes, andam perdidas, pisam hoje um chão que é já outro, de cardos feito, lhes embaraça o andar e lhes tolhe o vocabulário.
Apesar disso esforçam-se por encontrar o legado dos seus antepassados, as palavras que já cá estavam, por cá andavam, antes de quem hoje as procura.

 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Bom Natal


Escrevedura de 2009, reeditada com alterações
Um repente sacudiu-me, despertou-me, e vi-a chegar. Não me pareceu uma estrela entre estrelas. Provavelmente, nem estrela seria. Mas que se despegou do manto tricotado a luzes, lá em cima, e veio rodopiando pelas encostas do céu, cá para baixo, é verdade!
Tive-a, sentada, a meu lado. Perguntei-lhe ao que vinha. Cumprir uma ordem, disse. Uma ordem? Que ordem? Uma ordem, e basta, replicou, seca.
Não são muito de fiar, as estrelas que falam. Desconfio que aquela, pois que fosse estrela e não um qualquer objecto desassossegado e perdido, sem nome, seria a do anúncio do nascimento de um Menino, a querer dizer-me que vai ser Natal. És tu, não és? Carregou-se-lhe o olhar, crispou-se-lhe a face. Disse não dispor de tempo para conversas, a noite poderia esgotar-se rapidamente. Não desfez a minha desconfiança.
Falei-lhe que não, que não queria que nascesse outro Menino, o fizessem crescer e depois o pregassem vivo a uns paus cruzados, ali o deixando até a morte o desamarrar da dor e do sofrimento. Não, insisti, já bastam os milhares de outros meninos e meninas que todos os dias morrem de fome, pregados aos braços de mães moribundas. Não, teimei, já bastam os milhares de outros meninos e meninas que, todos os dias, as guerras mutilam, aniquilam. De outros milhares, que todos os dias são atirados para as ruas apodrecidas da prostituição, ou devorados pela pedofilia predadora. De outros milhares diariamente acorrentados a trabalho escravo. De outros milhares a quem todos os dias põem armas na mão, maquinando-os para o mal, dizendo-lhes vão, vão matar.
Não, não quero que faças nascer outro Menino! Não quero que ergas mais cruzes.
Quero que ensines os botões de flor a sorrir, o mar a cantar e o vento a embalar sonos livres. Quero que mates a fome, cures a doença, pares a guerra e apagues a violência. Quero que não roubes almas, mas lhes dês forma e beleza, as enchas de valores e as forres de Natal. Quero que cuides de todos aqueles meninos e meninas, e não faças nascer outro Menino. Quero que corras, com o chicote que já usaste, as mentiras dos homens. E, não te esqueças, corre com a canalha, o bando de más consciências, que tomou o poder no meu País.
Sem me olhar e nada dizer, cabisbaixa, envergonhada me pareceu, a estrela regressou. Foi, por ali acima, esconder-se por detrás das nuvens de portas fechadas.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

E ela não chega, a Trovoada




“…(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?...Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos…
Poderia julgar que o Sol
É Deus, e que a trovoada

É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós…
Ah, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)

E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz…
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega…
(Alberto Caeiro)




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

É o que é, nada!



Derrubou as casas que lhe apareceram, tijolo a tijolo.

Pelos jardins fora, pôs-se a cortar as árvores, uma a uma.

Custe o que custar, não ficará nenhuma! Pensou tão alto, que se ouviu a si próprio.

Para lá das árvores caídas foram portas o que viu.

Olhou, olhou. Todas fechadas.

Estava entre os seus.

Tinha chegado à terra onde todos são o que não são.

(Desejo a todos um Bom Natal. Santo, para os que assim o entendam.)

 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

José Saramago





Faria hoje 90 anos.
Que falta faz a continuidade da sua escrita!



“…Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem…”
“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos…”
 (In, Ensaio Sobre a Cegueira)

“Escrevo para desassossegar os meus leitores”
(José Saramago)


sábado, 3 de novembro de 2012

Publicado no Brasil



Aceitei o desafio. 
Mandei um trabalho para a Editora Multifoco, do Rio de Janeiro. Se fosse seleccionado seria publicado, o que aconteceu. Na Colectânea de contos O Tempo De Cada Um, da colecção Antologia, cuja capa reproduzo do exemplar que a editora me enviou, estão publicados quinze autores, todos eles brasileiros, à excepção deste vosso amigo.
Sobre o meu trabalho, O Tempo de Todos os Tempos, escreve a editora:
“…delicada construção sobre a vida comum e os desígnios entre Deus e o demo. Aqui o xadrez aparece como em O Sétimo Selo de Ingmar Bergman. Quem leva a partida? Quem dará o xeque-mate…?
Perdoem-me, mas não quis deixar de partilhar convosco a alegria que sinto.
Na página 61 lá está O Tempo de Todos os Tempos