(If I Were a Rich Man, do musical Fiedler on the Roof, passado ao cinema. A interpretação, brilhante, é de Topol)
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
A semente de Tamarindo
Sem história, mas senhora duma arte: esfria o calor, refrescando tudo à sua volta. É mãe de muitos rebentos, sobre os quais as manhãs costumam empoleirar-se. Dias há em que por eles sussurram abelhas. Já se ouviu a voz do tempo dizer ser filha da jaca do quimbo de Adão e Eva.
É alta e robusta, embora mais baixa que o tamarindeiro, mas, ao contrário deste, arquitecta de larga sombra. No meio da folhagem verde-escuro por onde passeiam as amoras, primeiro verdes, depois arroxeadas, e, a seguir, já quando maduras, tintas como sangue, abre-se um espaço. Chuvas rijas despejadas do interior e ventos vagabundos varridos do mar, os mesmos que no equinócio impelem as calemas, quebraram-lhe um galho, que se desprendeu arrastando folhas e ramos mais pequenos, sem que qualquer ninho de bico-de-lacre trouxesse, desenhando o lugar por onde agora se vê o outro lado.
Ao pôr-do-sol, que é quando o tempo lhe sobra, e a luz da estrela por lá espreita, senta-se na escadaria da varanda, ajeita a madeixa teimosa e põe-se a mirar pelo buraco.
Lá está, Ela. Morena, nariz arrebitado, olhos gaiatos, risonhos, sedutores, mescla de azul e verde, onde faisca o querer, cabelos dourados com fios arruivados.
Ela tem também uma árvore no jardim, um tamarindeiro. É sob ele que está, contando as sementes que se soltam dos vagens caídas de cima, já mucefas. Chega-lhe o olhar trazido do poente viajando pelo buraco da amoreira. Uma das sementes de tamarindo salta-lhe para o regaço. Olham-se as duas. Diz Ela: leva-me a Ele.
Do alto do tamarindeiro desce um remoinho, sorve as sementes, chama o Sol já de partida, e a Lua que chega. Leva-os, a todos, à escadaria da varanda do jardim onde vive a amoreira. Tece colares. Deixa um no peito d’Ele, regressa com outro para Ela. Dos corações de ambos escutam-se tan-tans alvoraçados.
O Sol despede-se, a Lua enche, perene de luz e essências do ceu. O buraco da amoreira fecha-se. Na manhã de amanhã o tamarindeiro folheará mais verde.
Ela e Ele vivem hoje um amor eterno, de sementes de tamarindo, e beijos de amora.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Prémio (Blog Instigante)
“ Blogs que, além da assiduidade das postagens e do esmero com que são feitos, provocam-nos a necessidade de reflectir, questionar, aprender e – sobretudo – que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria.”
É pedido que repasse o selo, a sete blogs. Trabalho árduo. São tantos os de que gosto, e em que encontro qualidade! Regra, é regra. Eis os sete a que repasso:
http://clarices-bichocarpinteiro.blogspot.com/
http://blogcronicasdateresa.blogspot.com/
http://gvpoeta.blogspot.com/
http://tudoepossivel-infinitoparticular.blogspot.com/
http://desejoselugares.blogspot.com/
http://agulheta.blogspot.com/
http://reflexoeseoutrasdivagacoes.blogspot.com/
Tenho recebido selos e prémios. São incentivadores e bem-vindos. Ainda poucos coloquei. O espaço começa a ser exíguo. Por outro lado, quanto mais preenchido estiver o blog mais morosa se torna a sua abertura. Vou mesmo ter que criar um blog para os guardar com amizade. Que nome lhe darei? Tenho uma ideia, mas aceito sugestões dos amigos bloguistas. Querem dar-mas?
Um abraço a todos.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
A mendiga
Reparo, agora, passada a noitada, que uma ficou. Saltita pelo beiral, qual pisca, mãos atrás das costas, cara de curiosa, vê-se. Não fora avisá-la, tropeçaria no cestito dos búzios. Pára junto ao vaso onde vive uma flor, pergunta-me: esta flor tem perfume? Respondo-lhe, não, o perfume é que tem essa flor.
Zangou-se!
- Não te deram o direito de me falares assim, trocando as voltas, só porque estou vestida como estou, também sou uma palavra! Sei, muito bem, o que me queres dizer. Não perguntes, respondo antes, trajo assim porque procuro uma mão que me ajude a caminhar por uma estrada de gente, que me leve a um rio de palavras vivas, correndo por águas livres.
Estendeu a mão vazia e foi de boleia com a brisa, vestida como chegara, de mendiga.
domingo, 25 de outubro de 2009
Crónica de guerra
A velha matriarca, sentada no toco duma mulemba, mulher do seculo de carapinha que a idade tornou mais rala, lança pós de fumo para a fogueira. Repousa a cabeça sobre as mãos abertas e cotovelos fincados nas pernas, vestidas por matebas. Leva o olhar a percorrer as espirais desenrolando-se até que o vento as recolhe. Desce o silêncio. Na mata em redor aninham-se os rumores, mudos. Odor estranho envolve-os. Pergunta Paulo:
- O que está ela a fazer?
Diz-lhe André, o amigo e companheiro de viagem:
- A matriarca queima pós para aceder aos favores dos deuses bons, ou afugentar, por si só, os abundantes espíritos, malignos e contumazes. Ensinaram-me os mais velhos da sanzala onde me deixaram para nascer. Me contaram, até, que a voz da matriarca costuma falar outras vozes. Ela, agora, procura resposta para te dar.
Seja lá pelo que for, este relacionar personalizado da velha com o que, à falta de melhor, poderá chamar-se sobrenatural, prática a que, nos muitos povos ao redor, apenas ela se atreve, e não é de agora, já vem de quando o tempo era outro, é, sem dúvida, um sinal de amizade e respeito, só muito raramente esboçado, para com o visitante branco, que hoje lhe chegou e de quem o seculo disse ser amigo. Dissaquelas assim, em que para além dos pós usa um manipanso, unhas de pintada, pelo negro de juba de leão, pé de cabra, e palavras sem rosto, fá-las pela primeira vez.
Os esclarecimentos de André não ajudam. Paulo escuta, finalmente, a voz dela, de olhos tristes, não digo o que vi, só sei que te chamam!
Paulo fica por compreender, regressa com André.
Semanas passadas é militar, por chamamento à vida da tropa.
Não é grande o tempo corrido, o vento traz-lhe notícias:
“Antes do alvorecer, os deuses, e os outros, ausentaram-se da sanzala da matriarca e do seculo. Rebentaram obuses. Espingardas dispararam. Da ponta da sanzala, e do outro extremo, saiu gente a correr para o bananal e cafeeiros mais próximos. A metralha crepitou, ceifou. Com brancos e negros dentro delas, fardas rastejaram. De tubos soltaram-se labaredas. Cubatas em chamas desmoronaram, soterrando quem dentro estava.
A matriarca e o seculo não chegaram a acordar. Da mão da velha tombou, queimado, o manipanso. O seculo como estava ficou, enroscado a seu lado.
O amanhecer rompeu a sangrar.”
sábado, 24 de outubro de 2009
"esse blog é VIP"
Ué, Teresa, esse selo tagradeço muito! Fiquei feliz! Lhe deixei ele no meu blog. Meu Mwata viu VIP e me falou: Veste Inté Prasempre! Lhe vesti.
O selo vai para MIUÍKA e Lusibero (Maria Ribeiro).
A frase: “Just perfect, your blog is wonderful"
Caté, Teresa, tagradeço mesmo por teres enviado o selo a que apuseste a frase "Just perfect, your blog is unmissable"
José Saramago (Caim)
Conheceu Lilith (na Terra antes de Eva?), mulher de Noah. Do adultério, por ela desejado, nasceu Enoch. Andou quase por toda a parte, e com gente em abundância se deu.
Umas referências, apenas. Insurgiu-se contra o sacrifício de Isaac, evitando que a mão de Abraão descesse com o punhal, antes que um anjo salvador aparecesse; passou por Babel; viu Moisés destruir o bezerro de ouro, ficando uns tempos à conversa com o patriarca; olhou para Sodoma e Gomorra destruídas; fez-se soldado de Josué; chegou ao vale onde se apresentou a Noé com ele embarcando na Arca. Passado o Dilúvio terá ouvido Deus dizer-lhe: “…a nova Humanidade, houve uma, não haverá outra e ninguém dará pela falta…”
--
A partir de uma leitura literal da Bíblia, “Caim” está escrito ao estilo de Saramago, com recurso constante à metáfora.
Não é meu propósito analisar a obra, criticá-la. Apenas sugiro aos amigos bloguistas a leitura, e o regresso ao meu blog, se o entenderem, para aqui deixarem as suas opiniões. Acrescento que encontrei, ao longo da escrita, expressões que considerei excessivas, porventura até mesmo insultuosas. Em entrevista recente Saramago reconheceu ter cometido "excessos". Não apagou. O que escreveu em “Caim”, lá continua.
Canção para este Sábado
Vitor Jara
Te recuerdo Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha, la lluvia en el pelo,
no importaba nada, ibas a encontrarte con él,
con él, con él, con él, con él.
Son cinco minutos.
La vida es eterna en cinco minutos.
Suena la sirena de vuelta al trabajo,
y tú caminando, lo iluminas todo.
Los cinco minutos te hacen florecer
Te recuerdo Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha, la lluvia en el pelo,
no importaba nada, ibas a encontrarte con él,
con él, con él, con él, con él.
La sonrisa ancha, la lluvia en el pelo,
no importaba nada, ibas a encontrarte con él,
con él, con él, con él, con él.
Que partió a la sierra.
Que nunca hizo daño. Que partió a la sierra,
y en cinco minutos quedó destrozado.
Suena la sirena, de vuelta al trabajo.
Muchos no volvieron, tampoco Manuel.
Te recuerdo Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha, la lluvia en el pelo,
no importaba nada, ibas a encontrarte con él,
con él, con él, con él, con él.
(Vitor Jara)
(Professor na Universidade do Chile, músico e compositor, Vitor Jara foi torturado e assassinado, em Santiago do Chile, pelas hordas nazis de Augusto Pinochet em Setembro de 1973, poucos dias antes de fazer 41 anos de idade)
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
De novo o Mwata Milagre
Kyandas chamavam os pescadores às criaturas surgidas do mar em noite de Lua Cheia, no tempo das calemas. Nunca as viram. Só as silhuetas, ao longe, meio emersas. Que coisas serão, interrogavam-se. Enquanto trabalhavam as artes da pesca fantasiavam. Uns, imaginando tratar-se de princesas de soberanias desconhecidas, outros acreditando serem manigâncias do génio do mar.
Fora sempre assim.
Ao correr da faina, contavam os pescadores aos filhos, uns avistavam duas, outros três ou quatro. Não mais, que as criaturas eram raras de aparecer. E nada de caminhar mar adentro, ao seu encontro. Se o fizessem não voltariam, pois a soberana delas, a Kyanda de Luanda, mais poderosa que a Rainha Ginga das terras de Pungo Andongo, os aprisionaria no seu reino das profundezas, para sempre.
Eram as regras dos dois mundos.
Uma noite a Ilha moveu-se. A Lua mais cheia ficou. As calemas aquietaram-se. O mar mirrou. A Kyanda branca de tranças louras que olhava a Lua deitada sobre uma pedra ficou no seco, tocou terra. A Lua apagou-se. Nuvens escuras almofadaram o céu, luzes fortes as rasgaram, ribombaram trovões, como nunca antes sucedera.
Na praia, os pescadores sentiram as cordas frouxas. O mar encambutou. As redes repousaram sobre a areia com miríades de peixes estrebuchando, caranguejos esticando as tenazes por entre as malhas.
Suru olhou em frente, buscando o explicável. Viu-a na areia húmida. O mar estava lá mais abaixo. Aproximou-se. Deu com olhos verdes, fundos como as águas da sua pesca, reluzindo pregados nos seus. Sentiu um aperto no peito e calor abrasando-o. Correu em frente. Ela atirou-lhe braços e mãos. Repousaram as cabeças nos ombros. As tranças suaves enroscaram-se na carapinha áspera. Soube-lhes um gosto de aprazimento nunca sentido.
Do mar ergueu-se a Kyanda de Luanda, chispando raivas pelos olhos, soltando fúrias pelos cabelos, lançando ameaças pelas mãos. Dos ombros caíram-lhe cachoeiras de águas em fúria como as da Gabela. Ia destrui-los!
Num repente, a Lua voltou a brilhar. A Kyanda de Luanda viu o beijo prolongado de Suru e Mafu. Comoveu-se. Desculpou-lhes o toque profano. Regressou ao seu reino. Nas libatas, assim se chamavam as aldeias da Ilha, ouviu-se o rufar de tambores em festa.
Hoje, os filhos de Mafu e Suru, da cor misturada dos dois, acompanham os pais. Eles ajudando Suru nas artes da pesca. Elas aprendendo com Mafu a entrelaçar o cabelo.
sábado, 17 de outubro de 2009
As Gémeas
Contou-me o Mwata Milagre:
Um dia, por desavença com o Criador nascida das dúvidas com que os mortais do sítio olhavam para a sua cor, e porque já era dona de alguns poderes, mudou-se de capa. Fez-se negra como eles que, a partir dali, seus devotos ficaram. Pensou em tornar-se mágica. Talvez deusa. Desistiu, santa era melhor!
Deus não gostou. Na altura, pesava-lhe ainda no espírito se havia de criar devoções da cor dos terrenos de cada local, dúvida ainda hoje mantida. Por outro lado, revoltas nunca foram do seu agrado, muito menos agora, a idade já vai indo. Entendeu, do mesmo modo, ser presunção, orgulho e heresia a mais. Irou-se. Susteve-se, contudo. Deixou que a rebelde continuasse negra, mas condenou-a a ficar ali para sempre como santa residente, – o degredo na terra da aparição – e duplicou-a em branco, mandando a réplica peregrinar pelo mundo, para, invocando-O, originar outras adorações. Porém, nem mesmo o Criador está a precato de percalços. Tempos depois, cansada de vaguear, e estando Deus por fora, a Senhora branca levada por brisa brumosa chegou à Muxima. Deitou-se aos pés de uma panga-panga. Gritou a fadiga. Ficou a ver a voz morrer no meio dos ecos. Cheirou o vento, este uivou e escapou-se! Cerrou os olhos. Das nuvens desceu sobre ela uma lamparina acesa. Adormeceu. Despertou com o afago de uma mão negra.
Estava ali, à distância de um toque, a sua irmã, a Senhora negra. Deram-se abraços, misturaram lágrimas e risos. Viraram costas ao hálito do rio. Falaram de coisas. A Senhora branca contou ter observado muitas terras e gentes, diferentes dos Dondos do Kwanza, que é assim que se chamam os povos Bantos daqui. Fizera conhecimento com outras santas, mas nenhuma negra como a sua gémea, o que a não surpreendeu por ser aquela assim por artes próprias e não por vontade de Deus, embora tivesse ouvido falar de uma Santa Negra em terras muito distantes, onde não chegara, e quase só havia brancos. Do Criador reconheceram ambas ainda guardarem melindres.
Depressa os esqueceram, reconhecendo-Lhe bondade por de uma ter feito outra, libertando-as da solidão. É que, disse a branca à irmã, das Santas que conhecera, todas se lastimavam de estarem sós, não terem com quem falar, pois aos devotos só os ouviam, estando-lhes interdito dizerem-lhes uma única palavra que fosse. Só podiam conceder-lhes graças, mesmo assim nem sempre, e, só excepcionalmente mostrarem-se. Elas, ao menos, embora por distraimento divino, tinham-se encontrado, viam-se, tocavam-se, falavam-se, o que era bom e lhes apetecia.
Uniram poderes. Pararam o tempo. Cismaram à vontade. Gizaram ideias novas e uma astúcia: a construção de uma igreja para onde todos os anos se encaminharia uma marcha. Longe estavam as manas santas de adivinhar que pela boca morreriam, como o peixe. Morrer não é propriamente o caso, que de um anexim se trata, mas a verdade é que o Criador se aproveitou da ideia. Não tardou em transformar a marcha em peregrinação com penitentes pagadores de promessas, outros à busca de milagres, e uma procissão paramentada a preceito – a Procissão da Senhora da Muxima –, o que significou esforço suplementar para as irmãs, a partir dali obrigadas ao acompanhamento permanente dos devotos. Mas isso foi depois.
Voltando às parecidas, elas, sem medo que Deus as julgasse desajuizadas, com a intuição de mulheres que também o eram, de que as sentenças Dele ficam sempre por acabar, e tendo já aprendido, de outros saberes, que a mentira tem perna curta, falaram-Lhe dos seus desejos. Em voz alta, Deus estava de mau ouvir!
Paciente, Deus escutou. Como já dera a volta à sagacidade das veneráveis, não discordou. Doravante, as duas poderiam encontrar-se, mas impôs regras: a rebelde continuaria na Muxima, a outra, viajando. Os encontros seriam apenas de cem em cem anos, no tempo dos humanos. E, como definitiva concessão, acrescentou: os encontros poderiam ser testemunhados por devotos e por quem o não fosse, e, para que na memória das gerações ficassem, cada uma delas concederia duas graças à escolha. Assim foi.
As irmãs obedeceram, pois opção não tinham, já que Criador só aquele conheciam e o risco não era vereda de seu agrado. Quanto às graças, apesar de duas, século a século lhes não darem trabalho por aí além, nem exigirem temperada imaginação, demorou-lhes a porem-se de acordo. Mas lá assentaram que só as concederiam aos necessitados de espírito, porque dos corpos tratassem os mortais! As almas? Ver-se-ia mais tarde, se necessário. Meteram-se ao trabalho.
Os feitos logo se conheceram. De toda a parte, daquela terra e de fora dela, chegava gente para ver e mais tarde adorar a Senhora Negra da Muxima. Eram negros, brancos e mulatos, estes chamados de pardos, naqueles tempos, alguns albinos que também os havia. Muitos de outras crenças que, na curiosidade do pode ser que, por ali peregrinavam correndo o risco da conversação, como a alguns aconteceu. Os que passavam pela Muxima ao dobrar dos séculos, no ano cem de cada um, viam de uma sair outra, e as duas amilagrarem em conjunto.”
Um antepassado do Milagre testemunhou a duplicação das Senhoras. Não recebeu graça nenhuma, mas com isso pouco se importou, pois de espírito não era pobre e à demanda da Muxima não fora para graças receber; apenas para ver. Contou o que testemunhou aos descendentes, e estes, às gerações a seguir.
Canção para este Sábado
(Gracias a la vida foi composta, e também interpretada, por Violeta Parra. Ambas já nos deixaram, mas entre nós permanece o seu rico legado)
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
BlogAction Day
É cada vez mais necessário estarmos atentos à preservação do mundo de modo a garantirmos, não só o nosso bem-estar, mas também a sobrevivência das gerações futuras.
Não sou especialista na matéria para estar aqui a despejar conselhos ou sugestões. Qualquer pesquisa pelo Google dará, a quem o desejar, informações precisas sobre o que há a fazer. Na minha rede familiar vigoram práticas que visam a baixa do consumo de água (bem cada vez mais precioso) e de energia, diminuindo a utilização de agentes poluentes, bem como a separação do desperdício (lixo) para reciclagem.
Sugiro aos meus amigos visitantes que adiram a esta iniciativa, referindo-a nos respectivos blogs. Os que quiserem juntar-se ao movimento podem visitar o BlogAction Day e nele se inscreverem. O endereço é este:
http://www.blogactionday.org/
A todos um abraço
Estou cá com uma neura!
estou cá com uma neura!
O Fixo toca. O Móvel sibila desafinado, como um pastor descuidado a assobiar às ovelhas. O Fixo está sobre a mesa de três pés que me enche o escritório de aroma e frescura libertados da madeira exótica de que a esculpiram, lá por África. O Móvel costuma andar por ali, naquele lado esquerdo, a mais das vezes a repousar sob os ramos enrodilhados do Ficus simpático que todos os dias, ao ver-me, me diz bom dia, parte deitada nas folhas caídas, o resto acomodado no ombro do vaso. Fixo e Móvel são vizinhos, já se viu, mas não se falam, estão de zanga. Ciúmes, diz-se! Ainda por cima não os largam, os que me azucrinam!
- É da pt comunicações…
- Não, obrigado, os bytes e os megas cá de casa já chegam.
-/-
- Fala da Optimus. TV, Internet e telefone só por…
- Já tenho!
-/-
- A Clix está a fazer…
- Vieram tarde!
-/-
- Lançámos uma nova gama de sapatos….que número calça?
- Ando descalço!
-/-
- Estamos a fazer uma pesquisa sobre comidas preferidas…
- Não como, alimento-me!
-/-
- Temos uns aparelhos purificadores da água da torneira…
- Bebo água engarrafada, pouca, prefiro o tinto!
-/-
- Este é um convite para a festa de lançamento da nossa…
- Não posso, vou agora para fora e só volto daqui a 10 anos!
-/-
- Quer fazer um “test drive” do nosso novo modelo…?
- Não se importa de ir poluir para outro lado?
-/-
- Parabéns foi premiado no nosso sorteio. Tem uma viagem…
- Já dei para esse peditório!
-/-
- Felicitações foi premiado no nosso sorteio. Tem uma viagem… (agora em sotaque não português)
- Outra vez!? Ó da guarda!
-/-
- Os nossos colchões ortopédicos e anatómicos…
- Durmo no chão sobre uma manta.
---
A cada fala minha sucede um clic seco. Sem um obrigado, um desculpe o incómodo. Sem nada! Mal-educados! Irra! Isto dá cá uma neura do caraças!
Fixo regressa à mesa, Móvel volta para a cama de folhas. Ambos, seres de enevoada inteligência, em breve recuperarão. Eu não, continuo com a neura!
--
Este é o din don da porta de casa. Espreito. Abro devagar. Duas senhoras, bem aperaltadas, com olhares de quem chega para cuscar, falam-me com voz colocada a meio tom, papeis na mão que me parecem folhetos. Tento sorrir.
- “…a palavra de Deus…”
- Desculpem, estou de saída para a farmácia!
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Grosseira e inculta!
Em 2007 a actriz brasileira Maitê Proença elaborou uma reportagem para o Canal GNT ridicularizando Portugal e a sua História, o mesmo tendo feito no programa “Saia Justa”.
Foi em 2007, mas só agora rebentou a polémica com a apresentação de um vídeo na Internet, que pode ser visto aqui. A reportagem, feita em Portugal ,ofende portugueses e envergonha brasileiros, tendo já dado origem a uma petição online exigindo um pedido de desculpas por parte da actriz.
Na reportagem Maitê Proença classifica (em tom grosseiro) Sintra ( Património da Humanidade pela UNESCO) de "vilazinha", confunde o rio Tejo com o mar, passa um atestado de incompetência a técnicos de informática e ao serviço prestado por uma unidade hoteleira de luxo, afirma que Salazar encabeçou um regime ditatorial durante cerca de 20 anos, satiriza o estilo manuelino do Mosteiro dos Jerónimos, ridiculariza figuras incontornáveis da história portuguesa e mundial, de Vasco da Gama a Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, além de cuspir, com escárnio, na fonte daquele monumento nacional. Tendo visto na porta de uma casa, em Sintra, um 3 invertido (símbolo maçónico) logo soltou os seus conhecimentos culturais: “essa gente nem um algarismo sabe escrever direito.”
Na sua página do Twitter, Maitê deixou a mensagem: "Que chato o pessoal que não sabe lidar bem com o humor".
Com esta palhaçada perdeu a imagem de actriz culta, mostrou-se grosseira, revelou falta de educação.
A conduta de Maitê Proença não culpabiliza os brasileiros, isso para mim é claro! Envergonha-os!
Já veio pedir desculpas, mas, pior a emenda que o soneto: “Se alguém levou aquilo a sério é porque não tem sentido de humor”.
Antes de se desculpabilizar, Maitê Proença deveria, publicamente, culpar-se a si própria pela sua ignorância.
Depois, sim, pedir desculpas, não só aos portugueses, mas também aos brasileiros, os nossos irmãos do outro lado do Atlântico.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Interagindo na Blogosfera (5)
Acrescento que no meu blog não permitirei, nunca, linguagem insultuosa.
Trago-vos hoje o poema “Desabafos” de Maria João, autora do blog “Pequenos Detalhes”.
Obrigado, Maria João.
Desabafos
Inundaram-se teus olhos gratos
Procurando alento, os perdidos
Caíram do ninho desfeito
Restos de orvalhos feridos
Pousaram nos meus já cansados
Que de sol e lua se atrevem
Mesmo que nada levem
Os teus lá ficam guardados
Esconde em mim teus segredos
Virás buscá-los um dia
Com eles enxoto os meus medos
Sem eles, não sei que seria
Despe então o desalento
Que te amarra a corrida
Mais do que este momento
A tua missão é a vida
E ao vento lanço teus ais
Essa busca amargurada
Se não sabes bem como vais
Segue nua, vai sem culpa, vai sem nada
(Maria João – Outubro de 2009)
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Dia Mundial da Criança
“Tens todos esses direitos, seja qual for a tua raça, sexo, língua ou religião. Não importa o país onde nasceste, se tens alguma deficiência, se és rico ou pobre.”
Art. 19º:
“Ninguém deve exercer sobre ti qualquer espécie de maus-tratos. Os adultos devem proteger-te contra abusos, violência e negligência. Mesmo os teus pais não têm o direito de te maltratar.”
Art. 30º:
“Se pertenceres a uma minoria, tens o direito de viver de acordo com a tua cultura, praticar a tua religião e falar a tua própria língua.”
Art. 31º:
“Tens o direito a brincar.”
-/-
Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui vinhas.
Brinca na poeira, brinca!
Aprecio a tua presença só com os olhos.
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.
O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.
(Alberto Caeiro, Heterónimo de Fernando Pessoa
sábado, 10 de outubro de 2009
Saudade
Talvez porque passou mais um dia – amigo que foi e não volta. Quiçá porque o ramo de afectos não é mais de hoje, mas de ontem ali recolhido ao colo das memórias.
Está Sol. Fui à varanda cumprimentar as plantas que lá florescem. A flor que ontem ao entardecer chorava porque a humidade embaciara a vidraça e a chegada da noite lhe furtara o dia, está hoje a sorrir. O caroço do abacate espigou! Já se vêem os bracitos das sementes do jindungo lançadas à terra, faz hoje uns dias. Lá fora a folha das árvores permanece verde. Um chorão ajoelha beijando o chão. Sobre a relva aparada do parque pinoteiam crianças, ouço-lhes o riso. Das mãos de uma delas solta-se uma bola azul, assim parecida com uma Terra pequenina que vai girando, deixando-se levar para a sombra da acácia. Porquê, então, esta saudade de ontem?
Saudade
Saudade – O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.
Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.
Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.
Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...
(Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage)
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Barack Obama (Nobel da Paz)
Os pólos terroristas tocam-se – Os taliban também criticaram a atribuição do prémio.
Que não se confunda - O Nobel foi atribuído a Obama - o mensageiro da esperança - e não ao país de que é presidente!
A eleição de Obama, um humanista, foi um abanão nos Estados Unidos e no mundo em geral. Pela esperança nascida num mundo melhor, mais fraterno, mais dialogante, mais interagindo na busca do melhor. Esperança que urge não deixar morrer.
"Yes, We Can!" Que o menino da Casa Branca se não esqueça!
O Nobel da Paz atribuído a Barack Obama é um reconhecimento justo, mas é, acima de tudo, uma nova responsabilidade por ele adquirida – a de ganhar cada vez mais consciência do quanto o mundo dele precisa.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Conto da meia-noite
Tarda-lhe o sono. Experimenta a contagem. Em vão. Os carneiros tresmalham-se.
De inadaptável a pastor com ajustes por descobrir, não tendo sequer perro com quem se apurar no ofício, e o termo não é aqui trazido, nem pouco mais ou menos, não haja espúrias leituras apressadas, como tendo alguma coisa a ver com a infâmia porque já se designaram os Mouros, mas apenas querendo dizer o que se quer, passa a observador.
Observador fascinado da lagartixa que todas as noites, por volta da meia-noite, como é hoje o caso, estando o quarto e o que sobra da casa em silêncio, sai debaixo do guarda-roupa onde mora, trepa cautelosa com poses de atleta olímpica a caminho de veneras, pata ante pata, por uma das paredes, e se posta próxima do foco de luz, à cata de traças atraídas pelo clarão, vez por outra de aranhiços ou mosquitos, regressando a casa pelo mesmo percurso, apressada, receosa de ser descoberta, mas repleta com o banquete. O pequeno sáurio – repara ele –, cresce a olhos vistos. A pele, ainda há dias translúcida, tornou-se opaca. O ventre enverdeceu-se. As extremidades dos dedos alargaram-se. Rabeja mais forte.
Esta noite é diferente. A lagartixa regressa distraída, sem pressas. Tropeça numa flor caída no chão, cheira-lhe o perfume. Pára un instante. Prossegue. Antes de chegar ao guarda-roupa volta-se para trás e diz:
Ele responde:
- Boa noite!
E adormece.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Conto do passado
Respondeu à brisa chegada perguntando por onde era o caminho.
- Por ali? Vamos, então. Dá-me a mão.
Pela janela por onde entrara, trazida pelo amanhecer de Outono, levou-o ao passado. Chegados, soltou-se-lhe.
- Logo, antes do Sol se despedir virei buscar-te.
Ele está aqui estreando calça comprida de bainha virada, sapato novo feito à medida, cabelo de popa segura com fixador adragante, camisa de fora, dois botões soltos, cigarrito caricoco fumegante entre o indicador e o médio da mão direita, mão esquerda no bolso da calça. No quintal da rebita de Sábado à noite, na casa da senhora do Bairro Operário. Ali à direita, debaixo da mangueira, estão as celhas com gelo, cerveja e spur-cola. Numa delas vai mexer, a iniciar-se no gosto da cerveja. À frente uma mesa com petiscos. À esquerda, protegido por um telhado de chapas de zinco, o gira-discos rodando música de mexer com a gente. Agora, ouve bem a Peneira de Luís Gonzaga.
Ela vem lá do fundo. Pára junto dele.
- És novo? Nunca te vi!
Linda, morena, de olhos verdes mestiços, cabelo comprido correndo-lhe sobre o peito até à cintura, decote cheirando doce. Um sorriso parecendo o do mar calmo antes das calemas. Um pestanejar como o das casuarinas em noite de luar. Os passos que a trouxeram bambolearam-na. Flutuou, era uma visão, por certo!
- Vem, vamos dançar.
Avançou para as estreias. Foram com os pés dele pisando os dela, e ela sorrindo um sorriso de Kyanda. Põe-lhe a mão no ombro. Encosta a sua à cara dela. E ela sussurra, vem…
A esteira não tinha metades. Foi única, para os dois.
Pelo pé de caxinde, crescido ao canto, desceu a brisa. Era hora de regressar ao futuro, onde chegaram ao entardecer de Outono. Ele com uma flor na mão, cheirando a ela.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A República (99 anos)
Interagindo na Blogosfera (4)
Soem sirenes inquietas
Acordem o silêncio do mundo
Que dorme no muro da indiferença
Sobre os escombros da incerteza
E da inquietação.
Soem trombetas de alerta
Alertem consciências moribundas
Dos poderes da ganância
Que nos devoram
Nos sugam a razão.
Soem gritos silenciosos
Sufocados nas gargantas
Pelo fumo da mentira
Pela poeira da corrupção.
Que se ergam raios de sol
Neste céu cinzento
De nuvens carregadas
Onde a nossa alma
Se alaga
Pela chuva da desilusão.
(Mário Margaride - Outubro 2009)
domingo, 4 de outubro de 2009
Dia Mundial do Animal
TOURADAS
Nem arte nem cultura
T O R T U R A
Andando pelo espaço onde vivem as minhas recordações encontrei fotografias do tempo em que, como repórter, elaborei uma série de trabalhos sobre o meio tauromáquico. Ambiente de que, por nada me dizer, antes me enfadando e me causando repulsa, me afastei.
Porque vi as fotos chegaram-me à memória as discussões que de vez em quando se travam sobre as touradas. Quem as defende fala muito de “tradição e vivência cultural da festa de touros”. Que tradição? Que cultura? Que festa?
A tourada não é arte nem cultura. É tortura!
Deixem que vos fale disto:
Em 2007 Guillermo Vargas Habacuc, um susposto “artista plástico” costa-riquenho, apanhou um cão abandonado na rua e atou-o com uma corda curta à parede de uma galeria, em Manágua, na Nicarágua, onde expunha. Assim deixou o animal, sem água nem comida, durante dias, até morrer de inanição, seguramente depois de ter passado por doloroso, absurdo e incompreensível calvário. O “artista” considerou o seu feito como arte. A notícia encheu o mundo de vergonha e nojo. Chegaram a correr petições para impedirem a presença do “artista” em exposições. Vejam:
Nas touradas há algo de parecido: a utilização abusiva de um animal que se leva à morte pelo sofrimento.
Em Portugal as autarquias de Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra proibiram a realização de touradas nos seus concelhos. Porque continuam no resto do país?
Até a Igreja Católica as vem condenando desde 1567 (Papa Pio V)!
O vídeo que aqui coloco ilustra bem até que ponto se leva a tortura numa praça de touros. Não é aconselhável aos mais sensíveis.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Olímpiadas de 2016
Parabéns Brasil!
O Rio de Janeiro entra na história das Olimpíadas, ao ser a primeira cidade sul-americana a realizar um dos maiores eventos desportivos do mundo
O presidente Lula da Silva apelou com todas as forças: "Para os outros candidatos, será mais uma edição. Para nós, será a oportunidade de construir um novo Brasil. E a candidatura não é só nossa, é de toda a América do Sul, com 400 milhões de pessoas, entre elas 180 milhões de jovens".
Lula da Silva fez tudo para que a história tomasse um novo rumo. Fez sobressair a grande paixão brasileira pelo desporto, fez dessa euforia a sua porta-estandarte. Nunca a América do Sul, com bastantes tradições no desporto, recebeu uma Olimpíada e o Presidente brasileiro desafiou: “Há que pôr fim a isto".
Parabéns Brasil!
O Dia do Idoso
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Dia Mundial da Música
Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai, quem me dera ver morrrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor
Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais
Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim
Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim
(Vinicius de Moraes)