domingo, 31 de outubro de 2010

Do Mwata

OE.

Para que não haja confusões, OE quer dizer Orçamento do Estado. Fica a explicação para que não surjam leituras, estranhas à boa linguagem, clamando que OE mais não é do que Ocidental (e lusitana) Estupidez.
Não é, não senhor! Veja-se a gritaria que por aí vai: Ufa, até que enfim há acordo!
A vaga habitual de analistas, comentaristas e politólogos (a mais recente estirpe dos faladores) alagou jornais, rádios e televisões. Todos, sem excepção, se extraviaram em jogos semânticos, anunciando vencedores e perdedores, azucrinando-nos o juízo. Tempo perdido, trabalho inútil.
Vencedor há apenas um. O leite achocolatado!
O PS do engenheiro José Sócrates, partido que apoia o Governo e que se diz de esquerda (gandas malandros!) sempre disse que o leitinho com chocolate era coisa para endinheirados. O PSD do Dr. Passos Coelho, partido de matiz neo-liberal, que se esgadanha contra o Governo, dizia que não, aquilo é um bem de consumo adquirido pela classe média, havia que não o subir de preço.
Entre os 23% de IVA pretendidos pelo Governo e os 6% exigidos pelo PSD, a vitória foi para os últimos. Ganhou o leite achocolatado!
Mexe aqui, toca ali, foi o acordo assinado, logo aparecendo o ministro das Finanças a gritar que o entendimento tinha aberto um buraco de 500 milhões de euros no OE. Não encontro no ministro características de alfaiate, quero com isto dizer que não estou a vê-lo pegar num pedaço de ganga de umas calças já muito roçadas, a um passo do lixo, e com ele remendar o rasgo orçamental. Como também não me parece que o ministro seja ser de fugir com o peito às balas (pelo menos até agora), não me custa admitir que nos próximos tempos andará por aí numa correria desenfreada à procura de um Norte que lhe traga a solução.
Tenha calma, senhor ministro. Não se afadigue.
A solução está à mão. Devolva um dos submarinos à senhora Merkel, sim, essa que quer ser imperatriz da Europa, tendo por bobo da corte o senhor Sarkozy, que toca piano e fala francês. Mete ao bolso os 500 milhões. O OE flutuará e Portugal também, nem que seja por uma ou duas semanas, logo se verá. Não se importe que digam submarino ao fundo. E depois? Pedimos uns dongos aos angolanos, não há salalé que lhes dê. Se a coisa der para o torto, não se preocupe, cá nos desenrascaremos. Não são os portugueses um povo desenrascado como não há igual?
Mas, pelo sim pelo não, não vá o diabo tecê-las, arranje aí uma quinhenta de jeito. Mande comprar uns coletes salva-vidas e distribui-los à rapaziada.
E agora, senhor ministro calce as pantufas, chegue-se à lareira e beba um leitinho com chocolate, bem quentinho. Deixe-se estar. Nas eleições que aí vêm escolheremos outros. Poderá, então, tirar a tal fotografia que queria ao lado do Dr. Catroga, o seu "adversário" nas conversações, ambos por nós colocados na reforma. Quando a um e outro perguntarem a profissão, responderão apenas: pensionistas.
Entretanto cá a populaça continuará no tinto carrascão, mesmo que lhe ponham 23% de IVA às costas.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Do Mwata

O OE e os cabelos brancos


Dizia o povo português: “Velhos são os trapos”.
Passando pelo tempo em que assim se falava, escreveu Saramago:

“(…) Velhos seriam, claro, mas não inúteis, não incapazes de meter a sovela no lugar certo do sapato, ou de guiar a a relha do arado com que andassem lavrando. A vida tinha uma coisa má: era dura. E tinha uma coisa boa: era simples. Hoje continua a ser uma coisa dura, mas perdeu a simplicidade (...)”

Os cabelos brancos não se entenderam. A vida continuará a ser ainda mais violentamente severa. No lugar dessa coisa tão simples que é a simplicidade, plantaram um nó de sarilhos.
E aqui chegado, deixo-vos com uma pergunta de Almeida Garrett:

“E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”

sábado, 16 de outubro de 2010

E agora?

Até quando?
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O PM comunicou aos autarcas da sua área política (PS) que as verbas para as autarquias vão ser reduzidas em 5%. Aos jornalistas, disse um dos autarcas, cito de cor: temos que cortar nas gorduras. Como sabem há deslocações em autocarros e almoços para idosos, de quinze em quinze dias. Isso custa dinheiro, vamos ter que cortar nas gorduras. Quem assim falou é presidente de câmara, tem à porta do município, para seu uso, um automóvel de fabrico alemão, quase topo de gama, com motorista às ordens. Porque não manda vendê-lo, bem como os dos vereadores, e comprar outros mais baratos? Porque não determina que dia sim, dia não (para que o emagrecer não seja brusco) ele e a vereação andem de transportes públicos. Com a poupança já não tinha que cortar os passeios e almoços dos idosos, que bem os merecem. E, já agora, uma linguagem de respeito para com os idosos não lhe ficava mal. Faltou-lhe o chá, em pequenino, está visto!
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Farinhas, margarinas e óleos alimentares vão ser taxados em 23% de IVA, o valor máximo do imposto. São três bens essenciais, senão mesmo vitais, na dieta alimentar de gente que vive no limiar da pobreza. Porquê tanta violência sobre os mais frágeis e carenciados?
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Uma sociedade livre, justa e solidária, com observância do direito à dignidade humana. É o que queremos. Em seu lugar, porém, vivemos no reino da hipocrisia. Os nossos dias vão sendo cada vez mais marcados pela impaciência e pela falta de respeito mútuo entre os cidadãos, que advêm de constantes ataques à ética e a preceitos morais nos diversos sectores do poder político tutelar do poder público e no poder financeiro tutelar do poder privado.
O desbaratar do dinheiro dos contribuintes, a par de uma violenta agressão tributária, alargam o espectro da fome e da miséria, numa ameaça, já realidade, de desestruturação das famílias.
Entramos numa era de caos, desordem nas instituições públicas e privadas, na família, na sociedade em geral. Confrange que o notemos, mas que apenas critiquemos, critiquemos, alheando-nos da consciência do papel que cada um de nós, por si e em conjunto, deveria desempenhar no resgate de sentimentos e comportamentos indispensáveis a um ideal de vida.
A crise não pode servir de desculpa. Não deve acomodar-nos ao encolher de ombros. Há que exigir justiça e verdade na gestão da coisa pública. Aos que governam há que exigir, sem tibiezas, que terminem com a ineficiência e a ineficácia do aparelho estatal, que ponham fim à corrupção e ao tráfico de influências, que deixem de ser capatazes de um latifúndio para amigos.
Os portugueses estão prestes a gritar viver para quê?!
Antes que o façamos, clamemos a nossa indignação. Não é necessário que sejamos super-homens, basta não deixarmos que o ruído das querelas político-partidárias dos que se dizem pertencer ao chamado arco do poder, abafe as nossas vozes.
Há que resgatar, quanto antes, o sentimento da esperança, fugindo à morte de desânimo pela vida.
E hoje, que o meu país assim está, com um PM que se chama José e um Pedro que PM quer ser, chegou-se-me à memória o poema José, de Carlos Drummond de Andrade. Extractos:

“E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? (...) a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? (...) Com a chave na mão, quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou. (…) José, e agora? (...) Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Desafios

Partidas e chegadas...

O que faz você feliz?

Chamando-lhe brincadeira a Acácia Rubra convidou-me para este desafio. Convite aceite, resposta dada:

Entre partidas e chegadas sopram, por vezes, ventos desencontrados, horríveis. Terá sido, provavelmente, um desses ares agitados que fez das areias de Ogígia e dos braços e colo da bela nereida Calipso uma chegada para Ulisses. Chegada de que o mais sublime dos homens, como lhe chamou Eça, não gostou. Sete anos, para ele longos e vazios, partilhou, forçado, o leito da ninfa do mar dela recebendo um amor quase divino, um bastão de príncipe dos povos e a promessa de vida eterna. Nada o fez feliz. A tudo reagiu com uma indiferença persistente. Perdeu o fulgor. Enclausurou-se em si próprio, passando o tempo de olhar perdido na distância. Calipso não conseguiu arrebatar-lhe o coração.
Ulisses desejava uma outra partida para uma nova chegada. Assim aconteceu. Sete anos depois partiu de regresso a Ítaca para a chegada feliz, finalmente, aos braços da sua amada Penélope.
Entre as muitas chegadas e partidas porque passou, só a chegada ao amor o fez feliz!
Estou com Ulisses!
E as minhas amigas e amigos?

(Dizem as regras para copiar o selo e colocar o link do blogue desafiador. Já feito. Por fim passar o desafio a cinco blogues. Quebro a regra. Acho o desafio interessante. Assim, lanço-o a todos os que por aqui passarem. Vá, peguem nele e dêm largas à imaginação. Ah, outra regra, se aceitarem o desafio devem vir comunicar-mo. Valeu?)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

É tempo

É tempo de percebermos que políticos, salvo excepções que disso não passam, banqueiros e economistas não vivem senão o sentido doente porque o mundo e eles próprios caminham.
É tempo de nos libertarmos da confusão entre o que nos faz falta e o que querem que desejemos. De virarmos costas ao engano.
É tempo de entendermos que políticos, banqueiros e economistas são homens vulgares, mas que dentro de cada um deles pode existir um homem fatal.
É tempo de nos precavermos, de nos deixarmos de ir atrás.
É tempo de, um a um, nos irmos ensinando a ser o povo que queremos.
É tempo de abrirmos a janela ao vento revolto.
É tempo de passarmos a ser.

domingo, 10 de outubro de 2010

Perguntando


Este Domingo
10-10-10
Dia 10.
Mês 10.
Ano 10.

Como vamos de superstições?
E de crenças?

sábado, 9 de outubro de 2010

Do Viajante

(Consultas a serem comparticipadas pelos Serviço Nacional de Saúde, que há quem queira implantar em Portugal)
Um abraço e bom fim-de-semana para todos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Do Mwata

A Kuxingila

São já muitos os caminhos andados por Paulo à procura de Sabrina. Com ele deambula também André, o seu amigo negro, pisteiro de caminhos difíceis, pesquisador de destinos.
Hoje, entram numa sanzala onde Paulo conhece um soba de carapinha branca, homem de grandes ciências, diz-lhe André, a que, porque é sábio, juntou outro, o da sua matriarca, a kuxingila que anda sempre de saquito de pele de bambi à cintura, cheio de poderes mágicos como pós de fumo e cheiro e um manipanço, e vazio de ilusões, estas, coisas para ela desconhecidas. A velha, porque de mulher antiga como a vida se trata, aparece-lhes enrolada num pano das cores da mata em redor, com o tal saquito pendurado numa trança de mateba envolvendo-lhe a cintura, voltas de missangas ao pescoço, que parecem rir ou chorar, consoante o ângulo de que se olhe para elas, de onde se dependuram, também, dois dentes de javali, e argolas feitas de fios metálicos, entrelaçadas em pele de um qualquer bichano do mato, do tornozelo até meio das pernas.
De entre todos na sanzala é com ela que têm de falar, pois só ela conhece o tempo certo em que os pós de fumo devem queimar para que os chamamentos resultem, não se falando, é bom dizer-se, da sua capacidade de mezinhar para atrasar a ida do corpo para as terras do sono sem despertar, e das palavras raras, para outros segredos, de seu conhecimento exclusivo, quase em desuso no mundo que se conhece, e sem as quais não há madjau ou mariábu – como por ali chamam aos sortilégios –, que valham.
Sentada num cepo à beira do crepitar de uma fogueira, a matriarca ouve o que André lhe transmite na língua falada por ambos. Adquire uma postura de estar perdida, provavelmente não isso, mas achada noutras paragens. Só as mãos se lhe movem lançando pós para as chamas dançantes.
Ao vê-la assim, sabendo já o que sabe, Paulo pergunta a André, se ele acredita que a Kuxingila tem, de verdade, arte para chamar e usar poderes.
- Ché, meu irmão! Não sei se acredito. Te juro sim que os mais velhos falam que ela tem uma data de sabedorias, que não faz nada à toa, que é mesmo capaz de andar de ligações com um ser que tudo sabe – um ou mais, agora sou eu que te digo, sei cá!
- Então, André, não é mesmo uma quinhenta de conversa fiada?
- Ué! Para quê saber tanto? A nossa África não gosta que lhe perguntem.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fotomaton

A República apaga as velinhas do bolo.
O tempo pôs-se a caminho. São cem, os anos percorridos…

“A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem.”
(José Saramago)
“Aos ricos, o favor da lei, aos pobres, o rigor da lei.”
(José Saramago)

Retrato do meu país, em fotomaton, tirado hoje depois das cerimónias do centenário da República:

Políticos incapazes e um povo indiferente…

(Para que não haja mal entendidos, ou quaisquer distorções – SOU REPUBLICANO)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Presente!

O porquê do silêncio.

Os seguidores e leitores do Conversas Daqui e Dali ter-se-ão, eventualmente, interrogado sobre o silêncio a que me remeti desde o dia 25 do mês passado, data do meu último post, bem como sobre a ausência nas caixas de comentários de cada um. Alguns já me enviaram mails a quererem saber. Porque como amigos virtuais vos tenho, devo-vos uma explicação.
Não desertei da blogosfera. Se, porventura, tivesse pensado em desistir do blogue, tal vos teria já comunicado. Sucedeu, apenas, que um contratempo, um transtorno de saúde, já ultrapassado, me bateu à porta. Não tendo sido nada de por aí além, a verdade é que os meus neurónios se meteram por um lapso do tempo, correndo a aconchegar-se no repouso. E por ali ficaram como bonecos articulados a que de repente se tira a pilha – paralisados! Nem um ténue feixe de energia lhes encontrei para vos ir visitar e dizer um olá que fosse.
Passado que está o percalço aqui estou. Presente!
São muitas as visitas por fazer, mas a partir de hoje voltarei aos vossos blogues, reiniciando, igualmente, a edição de posts.
Sei, pelo contador de visitas, que muitos por aqui têm passado. A todos muito obrigado.
Um abraço.