sábado, 16 de outubro de 2010

E agora?

Até quando?
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O PM comunicou aos autarcas da sua área política (PS) que as verbas para as autarquias vão ser reduzidas em 5%. Aos jornalistas, disse um dos autarcas, cito de cor: temos que cortar nas gorduras. Como sabem há deslocações em autocarros e almoços para idosos, de quinze em quinze dias. Isso custa dinheiro, vamos ter que cortar nas gorduras. Quem assim falou é presidente de câmara, tem à porta do município, para seu uso, um automóvel de fabrico alemão, quase topo de gama, com motorista às ordens. Porque não manda vendê-lo, bem como os dos vereadores, e comprar outros mais baratos? Porque não determina que dia sim, dia não (para que o emagrecer não seja brusco) ele e a vereação andem de transportes públicos. Com a poupança já não tinha que cortar os passeios e almoços dos idosos, que bem os merecem. E, já agora, uma linguagem de respeito para com os idosos não lhe ficava mal. Faltou-lhe o chá, em pequenino, está visto!
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Farinhas, margarinas e óleos alimentares vão ser taxados em 23% de IVA, o valor máximo do imposto. São três bens essenciais, senão mesmo vitais, na dieta alimentar de gente que vive no limiar da pobreza. Porquê tanta violência sobre os mais frágeis e carenciados?
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Uma sociedade livre, justa e solidária, com observância do direito à dignidade humana. É o que queremos. Em seu lugar, porém, vivemos no reino da hipocrisia. Os nossos dias vão sendo cada vez mais marcados pela impaciência e pela falta de respeito mútuo entre os cidadãos, que advêm de constantes ataques à ética e a preceitos morais nos diversos sectores do poder político tutelar do poder público e no poder financeiro tutelar do poder privado.
O desbaratar do dinheiro dos contribuintes, a par de uma violenta agressão tributária, alargam o espectro da fome e da miséria, numa ameaça, já realidade, de desestruturação das famílias.
Entramos numa era de caos, desordem nas instituições públicas e privadas, na família, na sociedade em geral. Confrange que o notemos, mas que apenas critiquemos, critiquemos, alheando-nos da consciência do papel que cada um de nós, por si e em conjunto, deveria desempenhar no resgate de sentimentos e comportamentos indispensáveis a um ideal de vida.
A crise não pode servir de desculpa. Não deve acomodar-nos ao encolher de ombros. Há que exigir justiça e verdade na gestão da coisa pública. Aos que governam há que exigir, sem tibiezas, que terminem com a ineficiência e a ineficácia do aparelho estatal, que ponham fim à corrupção e ao tráfico de influências, que deixem de ser capatazes de um latifúndio para amigos.
Os portugueses estão prestes a gritar viver para quê?!
Antes que o façamos, clamemos a nossa indignação. Não é necessário que sejamos super-homens, basta não deixarmos que o ruído das querelas político-partidárias dos que se dizem pertencer ao chamado arco do poder, abafe as nossas vozes.
Há que resgatar, quanto antes, o sentimento da esperança, fugindo à morte de desânimo pela vida.
E hoje, que o meu país assim está, com um PM que se chama José e um Pedro que PM quer ser, chegou-se-me à memória o poema José, de Carlos Drummond de Andrade. Extractos:

“E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? (...) a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? (...) Com a chave na mão, quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou. (…) José, e agora? (...) Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?!

15 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Carlos, eu respondo a esse seu outro Carlos, qual a marcha e que sentido lhe dá José...

é um percurso dentro de um labirinto que, por mal desenhado, não tem saída e onde o trajeto de retorno é remotamente possivel. Só quebrando paredes é possível a salvação...

Marilu disse...

Querido amigo, muda apenas o país, os problemas são iguais, no Brasil temos os remédios com taxas altíssimas de impostos, produtos alimentícios, coisas de primeiríssima necessidade. Você acha que alguem se preocupa? Nossos políticos estão interessados em desviar todos os recursos para suas grandes propriedades. Enfim esses são nossos paises. Tenha uma linda semana. Beijocas

joaquim do carmo disse...

à volta do orçamento!... Tem volta?!...
Abraço

Carlos Albuquerque disse...

Rogério Pereira
Quebremos as paredes, então...

Carlos Albuquerque disse...

Marilu
Algum dia isto vai mudar.
Beijocas

Carlos Albuquerque disse...

joaquim do carmo
Julgo que não, por muitas voltas que lhe queiramos dar.
Abraço

Mª João C.Martins disse...

Carlos

Eu fiquei feliz quando o meu país ficou livre. Quando as pessoas vieram para a rua gritar, felizes, esperançosas pelo futuro que se avizinhava. Hoje estou triste, porque desse voo, se quebram as asas. Porque a liberdade implica responsabilidade e isso não foi dito. E se pensado, foi ignorado no sabor de uma ilusão. Chegámos sedentos à fonte e, incautos, não percebemos que os ditados antigos têm o seu fundamento. " Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado vem". Hoje pagamos a factura. A nossa? Sim, claro, todos somos responsáveis!! Mas também aquela dos que legitimámos para nos desgovernarem em suposta democracia.
Resta-nos recuperar a ética, o princípio solidário, a luta pelo bem comum. Resta-nos gerir o que temos, à luz da sobrevivência e olhar... nunca deixar de olha, para aqueles que há muito já nem isso têm.
Dos discursos, da demagogia, da hipocrisia, dos carros, das festas, da pompa e circunstância com que vive o poder, todo ele, pede-se no mínimo um pouco mais de respeito e vergonha, porque já nem isso têm.

Um beijinho

zeparafuso disse...

Cá para mim, que sou analfabeto, os portugueses destas gerações recentes, só sabem ser floristas. Os agricultores perderam-se, estão demasiado.....usados. Se não contarmos que estas gerações mudem de fluricultores para agricultores, não vamos muito longe. Primeira atitude a tomar é exigir que o PM, deixe o governo e que passe a ter uma reforma de €475. Fazia o quê ? Segunda atitude, trabalhar na estiva, para ver se aprendia alguma coisa. Irrita-me este tipo de governação, isto é uma mentira pegada.

Anónimo disse...

Já tinha saudades de ler as suas´sempre lúcidas reflexões, caro Carlos. Confesso que a minha esperança em relação ao futuro é quase nula mas, tendo em cosideração a minha idade, não me poso queixar muito da vida que me calhou em sorte. O que mais me preocupa é que os jovens também não podem esperar grande coisa do futuro e, por isso, aos mais válidos a única solução será emigrar.
Os militares que fizeram o 25 de Abril não mereciam que os políticos que hoje em dia comandam o país,empenhassem a nossa Liberdade e nos vendessem ao desbarato aos interesses do mercado e da alta finança.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Carlos!

Espero que o Zé povinho, ou o Povão, em vez de esperar mais e vir para a rua gritar (coisa que nem ainda faz), faça como diz o cantor...

" Vamos fazer o que ainda não foi feito"

Abraço

Rosa Carioca disse...

E assim vou vivendo numa pseudo-democracia...

São disse...

Eu proponho uma solução infalível: matança geral de funcionários públicos, idosos, aposentados, crianaçs, jovens , doentes e trabalhadores por conta de outrém.

Boa semana.

Laura disse...

Ai Carlos, para onde quer que me volte, lá estamos nós mal por todos os lados, e eles? ah, eles é como dizes, na maior, carros que nem sei, e os pobres dos mais velhos ficam sem passeio, coitados, ainda mais?
Nem quero ver o que vai ser quando começarem a implementar as medidas de que falam...esperemos que tudo passe e voltemos a viver felizes com pão amor e paz...

beijinho da laura

Catsone disse...

Carlos, já passei por algumas crises mas nunca, em nenhuma delas, vi tanta indignação e sentimento de revolta.
Está nos blogs, está nos jornais, está nas vozes das pessoas e, gostaria, que estivesse também numa revolução. Que essa revolta se mostrasse como a que se mostra em França (sem a violência gratuita de alguns mal intencionados).
Caraças, não somos nós a maioria? O povo? Havia de rolar alguma cabeça (não literalmente, claro)!

E parabéns pela memória de Drummond ;)

Agulheta disse...

Amigo Carlos.Realmente é de doidos o que se lê e ouve diáriamente.É sempre o zé povo a pagar o que os engravatados (roubaram)onde para o meu país de Abril,a justiça,para com os mais velhos,se eles vivem no limiar da pobreza depois de anos a trabalhar.O que deviam era terem respeito pelo cidadão,isto para não falar em tantas coisas que me revoltam no dia a dia.Estou cheia de pavões de papo cheio,que tentam difinir a nossa vida à pobreza,o povo precisa de acordar enquanto tem tempo...faço suas as minhas palavras.
Beijinho de amizade