Escrever é uma demora de vento enfurecido.
Mais do que dizê-lo, ele assim pensa.
Solta as palavras.
Umas há que, quando outras as procuram, se sentem violadas
na sua intimidade.
Ouve-as, gritando umas para as outras:
- Vocês roubam-nas a nossa circunstância.
Outras, por dá cá um agá ou uma vírgula, envolvem-se em
peleja sem fim.
A um canto, num espaço sem sítio, evocando emoções, há as
que vão contando histórias já por outras contadas. Certezas desfeitas.
Outras, ainda, a nada pertencem, nada desejam. Não passam de
distraídas abstracções.
Baralha-as.
Troca os rios da alma pelos vales e montes do espírito.
Não sabe ele quais vencerão, ou se vencedoras haverão.
Sabe, sim, ser ele o derrotado.
(Ali de cima vieram umas aqui escrever:
Será o que somos, o
que podemos ser?)