quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2011

Vestido de capicua, aí vem ele, o ano 11. Diz-se que ao número, que também é primo, se atribui boa sorte. Nem sempre o ditado acerta. Será o caso deste Novo Ano, que má sorte para muitos (sempre os mesmos, e mais alguns) trará. Para outros (sempre os mesmos) não. Mas, creio que 2011 poderá ser, também, o ano da recuperação de oportunidades perdidas.
A oportunidade de não nos acomodarmos, mas de nos alarmarmos. A oportunidade de rompermos com o conformismo. A oportunidade de soprarmos o mar, levantando-o em ondas alterosas, nelas afogando a da apatia.
Anda por aí muita gente a brincar à caridade. Nada tenho contra a caridade, rejeito, contudo, de todo, a hipocrisia que a envolve. Por outro lado, penso que a caridade disfarça apenas o instante (muitas vezes importante, eu sei), e por aí se fica. É preciso ir mais longe, estender o gesto solidário e fraterno aos que entendem dever ser o Estado em que vivemos uma pessoa de bem que garanta o apoio social a quem dele precisa, seja no combate à pobreza, como no garante da saúde, da educação, da justiça e na procura da criação de emprego. Que queiram estreitar, cada vez mais, o arco das desigualdades. E, enquanto desprotegidos houver, que o Estado, que quero social, lhes estenda a mão amiga.
2011 será ano de eleições. Das presidenciais, em Janeiro e, provavelmente, meses depois, das legislativas.
Abre-se nova oportunidade de não ficarmos pelo pensamento zero, de não nos acomodarmos. De romper!
Temo, porém, que o povo que somos tenha deixado de ser temerário, e prefira caminhar sobre o lodo a fazer-se às águas alterosas.
Desejo a todos um Novo Ano com tudo de bom. Quanto mais não seja com paz, harmonia e amor. E em família.
Um abraço.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O Menino o Papagaio e a Estrela

O Natal já foi!

Para muitos terá partido, sem mesmo ter chegado.
Naquela Noite a estrela, que eu vi, andava confusa, à procura de um Menino perdido. Num instante fugaz mostrou-me o que eu não queria ver: muitos outros meninos, olhando o céu, também eles buscando. O que eles encontraram foi apenas um céu escuro, sem luzes brilhando, mas apenas com lágrimas chorando.
Um dos meninos é aquele que ali está sentado à porta da cubata na Libata da Ilha da Quianda. A mãe, quitandeira, bate, numa panela entre as pernas, o funge que há-de juntar ao pirão do jantar, já feito na fogueira com a rama das casuarinas. O pai, pescador, dá jeitos na arte da pesca, que há-de lançar ao mar ximbicando por ele adentro, mal chegue a madrugada, procurando o peixe do sustento.
O menino sentado tem nas mãos um fio, que sobe por ali acima, segurando, na ponta, um papagaio de papel feito pelo pai. Acredita o menino (que ninguém lhe diga não ser assim) que o seu papagaio há-de passar o tecto do céu e entregar à Estrela o seu pedido: Ela que venha até cá abaixo, ao chão da sua Libata, para que a mãe e o pai não voltem a chorar.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Já conhecia “Little Drummer Boy”, mas não a interpretação de Celtic Woman, que encontrei na casa do Rogério. Encantou-me! Bati à porta e disse-lhe vou levá-la comigo.
Aqui a partilho com todos vós, horas antes da chegada do que para muitos é a Noite Mágica. Voltarei no Dia de Natal.
Um abraço a todos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bom Natal!

A todas as amigas e amigos da minha cubata desejo um BOM NATAL, e que o Novo Ano vos traga tudo de bom. Ofereço-vos esta canção na voz inesquecível da mulher notável que foi Mercedes Sosa.
Espero que gostem.
Um abraço a todos.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Do Mwata

O Sorriso
(Transpirar de uma memória)

Aumentou o som do gira-discos para que todo o pelotão ouvisse Jingle Bells, naquela véspera da Consoada. Ordenou, de seguida, que verificassem as armas e munições, e distribuíssem a ração de combate pelos bolsos dos camuflados. Ao pescoço pendurou a máquina fotográfica, companheira de andanças, guardadora de memórias.
Com o nascer da manhã, cinzenta e cacimbeira, chegara a ordem para avançarem ao encontro da sanzala à beira da lagoa, bombardeada de véspera por ser tida como abrigo do inimigo. Natal sem presépio seria o seu, vivido a verificar danos, registar baixas infligidas, marcar a sanzala como território vencido e domado.
Ultrapassada a ourela da mata, caminharam separados pelos contornos das árvores, dobrando-os como esquinas cortantes num andar penoso, procurando pisar com cuidado pedaços de chão não estalantes para que o solo se não fizesse ouvir, denunciando-os. Ele ia pensando que este, como todos os outros passos que até ali o tinham levado, mais não eram do que um procurar da inutilidade, de um obstinado e cego adiar do que a História iria escrever.
Chegados, a névoa confundia-se com o fumo que subia da terra queimada, das lavras ardidas, das cubatas em destroços. A paisagem já não era verde, como a deixada para trás, mas turva. Diante dos olhos teve ele, surpreso, gente a chegar do outro lado da lagoa: crianças, mulheres e homens idosos. Vindos de mais atrás, ouviu latidos e cacarejos. Baixem as armas! Ordenou.
Com uma criança pela mão, um dos velhos, quiçá o soba, caminhou, lento e desconfiado, ao seu encontro. Bom dia, disse. Bom dia, respondeu-lhe, perguntando a seguir: onde estão os homens novos? Aqui não tem, já não tem deles faz muito tempo, foram na guerra da guerrilha, anunciou a voz do velho. Na guerra?! Então, velho, o que aconteceu aqui? Aqui, senhor, só nos mandaram bombas, nos queimaram as lavras, secaram a terra e nos fizeram fugir com os cães, os cabritos e as galinhas. Não teve guerra, não senhor. Os soldados de matar só chegaram agora. E mortos? Não tem deles, senhor.
Franziu-se-lhe a testa, entregou-se ao esforço de tentar compreender o que acabara de ouvir. Soldados de matar…!? Nisto estava, com o pensamento querendo correr para longe, quando a criança se soltou do velho e lhe puxou por uma das mãos. Tenho fome, mais velho da tropa, me dá comida. O dizer do menino entrou, turbulento, por ele adentro, fazendo-o cerrar os punhos e levá-los ao peito.
Num repente esvaziou os bolsos, deitando para o chão o que lhe restava da ração de combate. A criança atirou-se a uma embalagem. Pediu-lhe, por gestos, que a abrisse, levou à boca o que dentro dela saiu, trincou e logo fez o mais lindo sorriso, com uma mosca pousada na ranhoca à mistura, que ele alguma vez vira, sorriso acompanhado por um tagradeço amigo! Deste-me o meu presente de Natal, pensou sem o dizer. Guardou o riso na máquina das memórias. À noite dormiu ao relento. No céu apenas brilhava uma estrela com ar de andar à procura, e um fulgor diferente do que era hábito ver-se por ali luzir.
Aquele sorriso transformou em paz a agitação do seu interior, mudou-o para sempre, já não era o que nunca fora nem quisera ser, um soldado de matar, mas um amigo.
Regressado ao aquartelamento o seu pelotão foi autorizado a ajudar na reconstrução da sanzala. Semanas passadas o quimbo ajeitou-se. Reergueram-se as cubatas, os animais regressaram ao seu andar à solta, mulheres e homens idosos estavam de novo entregues ao amanho das lavras, as crianças brincavam, a velhice dos homens voltara a ser aquecida pelo sol, as mandioqueiras voltaram a crescer, bem como o caxinde. O soba podia, de novo, sentar-se à porta da cubata. Pela lama das franjas da lagoa já não corriam pés em fuga. Ele terminou o tempo de andar fardado.
No avião que o levou de regresso à terra da sua casa distante, releu a carta escrita à mulher no dia de Natal. Nela lhe contara a festa de despedida na sanzala da lagoa, e que tinham dado o seu nome a uma mandioqueira. Depois, tirou do bolso a fotografia do sorriso e falou-lhe: tagradeço amigo!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Laços de amizade


A Fê do “Só te peço 5 minutos” abriu espaço no seu blogue para um conto colectivo de Natal. A ideia era a de que cada visitante deixasse um ou mais parágrafos, a que outros dariam continuidade. Assim nasceram os “Retalhos de Natal”, fruto da amizade com que bloguistas responderam ao apelo do convívio, lançado pela Fê.
Um dos participantes, o Rogério, bloguista de conversa avinagrada, mas de coração que nunca mais acaba, puxou da imaginação, meteu mãos à obra e construiu a bela árvore de Natal que ali está. Fui buscá-la ao quintal dele, prometendo-lhe que a trataria bem. Aqui a plantei, à porta da minha cubata, para que as minhas amigas e amigos a possam admirar. E, digam lá, não é verdade que a blogosfera é um espaço aberto à Paz, Concórdia, Convívio e Cultura, como bem disse a Licas no seu blogue?
Um abraço a todos.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Natal apresta-se.

Há quem seja feliz a dizer que passa a vida a pensar na infelicidade dos outros.
Há os que têm dinheiro e os que têm fome.
Há os que têm a consciência na alma que lhes não dói.
Há os que a têm na carne que sangra.
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(Hoje o sol-posto demorou-se, encarrapitado num nuvem que ficou. Depois, partiu triste.)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pedido ao Pai Natal

Sei que andas cansado, de bússola na mão, de dores às costas. Sei que olhas em redor, observas a intolerância, a estupidez, a ignorância, a fraternidade desaparecida, a ingratidão, e meditas. Meditas, e de ti não se desgruda o travo amargo da vida que vais vendo.
Sei que acordas, por vezes, mais cedo do que gostarias, sem nada que queiras fazer.
Sei que, no teu passo já curto e algo incerto, quando te pões a andar caminhas contra o vento, não deixando que ele te sopre pelas costas, e sei que as tuas mãos continuam fortes, com elas agarrando a trovoada.
Sei que sabes que o tempo não espera. Por isso deixaste de andar só pelos caminhos. Por eles vais com o amor por companhia.
Sei, sei tudo isso, e mais: sei que te inventas a cada momento, revigorado, com a liberdade no peito onde o teu coração sente e sangra.
Por isso sei, Pai Natal, que me podes dar o presente que quero: um País sem gentes postiças.
Obrigado.
Para ti, um Bom Natal.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Tempo da poetisa (Alda Lara)

Hoje a chuva intimidou-se, entaramelaram-se-lhe os pingos. Ficou por chegar. Em seu lugar trouxe a manhã um cacimbar frio, cortante, e, com ele, a saudade da terra quente e distante, onde nasci e vive parte do meu coração de alma perdida num constante vaivém. Com ele também a saudade e um sentir de solidão.


Quadras da minha solidão

Fica longe o sol que vi,
aquecer meu corpo outrora...
Como é breve o sol daqui!
E como é longa esta hora...

Donde estou vejo partir
quem parte certo e feliz.
Só eu fico. E sonho ir,
rumo ao sol do meu país...

Por isso as asas dormentes,
suspiram por outro céu.
Mas ai delas! tão doentes,
não podem voar mais eu...

que comigo, preso a mim,
tudo quanto sei de cor...
Chamem-lhe nomes sem fim,
por todos responde a dor.

Mas dor de quê? dor de quem,
se nada tenho a sofrer?...
Saudade?...Amor?...Sei lá bem!
É qualquer coisa a morrer...

E assim, no pulso dos dias,
sinto chegar outro Outono...
passam as horas esguias,
levando o meu abandono...
(Alda Lara, poetisa angolana. Benguela, 1930, Cambambe 1962)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Do Mwata - Políticos contam histórias infantis

“Contos Pouco Políticos” é o título de um livro de histórias infantis escritas por políticos de diferente matriz ideológica, como Ribeiro e Castro (CDS), Maria de Belém Roseira (PS) e Jerónimo de Sousa (PCP), entre outros, recentemente publicado.
Na apresentação do livro, alguns dos autores apareceram com os seus netos. Um deles, Jerónimo de Sousa, disse isto:

“Sou um avô contador de histórias. Contei-as às minhas duas filhas e agora conto-as aos meus dois netos. Umas vezes dos livros, outras de improviso. Com uma vida tão intensa, esta é uma das formas de atenção e partilha que temos.”

Gostei!
Até dá para acreditar que nem tudo está perdido no reino dos políticos. Não vos parece?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Do Mwata


Mais alguns dias, não tantos que não se possam contar pelos dedos das mãos e dos pés, mais alguns, e é Natal!
E depois?
Vá, digam.
E depois?
Bom dia, para uns; boa tarde, para outros; e para outros, ainda, boa noite!
Para todos, um abraço.
Que cada um responda à pergunta: E depois?