domingo, 15 de julho de 2012

Perderam-se os moldes


Há muito que o não via.
Ontem, já a tarde se metera na tarde, encontrou-o.
Ouviu-lhe não se sabe o quê. Pareceu-lhe uma voz que dançava, assustada. Fosse outro o tempo, a era do musseque das pirucas de Sábado, e aquela pareceria uma fala à toa, ou mesmo uma chaladice de adormecer.
Prestou atenção nele.
A voz ainda dançava assustada:
“Perderam-se os moldes. Os humanos desapareceram. Agora há só uma sub-espécie, espécie de pedras com olhos, onde não mora o carácter. São pedras com feitio de curva de ferro-de-engomar, que nos queimam. Queimam tudo, até as estrelas já vestem de escuro. Vou. Vou, pelo suor que me escorre no corpo, à procura dos moldes perdidos. Enquanto lá não chego, e hei-de chegar, fico por aqui em convívio com os roseicollis.”
Roseicollis!?
O que serão?
 E hoje? Bem, hoje é Domingo!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Paixões...


Há muito que ele sabe estar apaixonado pela palavra. Enamorado, assim, é como sofrer de doença incurável. Só outra palavra é capaz de aliviar o sofrimento, pensa ele. E quantas vezes parte numa busca desenfreada…!
Cogita, do mesmo modo, que com as ideias passar-se-á algo de idêntico.
Então, que venham outras, porque as até agora suas conhecidas, restos deixados pelo tempo, mantêm-no agarrado à dor.
 

sábado, 7 de julho de 2012

Penteado ou despenteado, eis a questão!


Diz-lhe ela:
- Estás a pentear-te para quê? Vais deitar-te!
Fala ele:
- Queres que me vá deitar despenteado? Já viste o que era aparecer assim num sonho?
Replica ela:
- Mas, querem lá ver…
Continua ele:
-Quero, pois! Despenteado já basta como me fazem andar na vida. Dorme bem…Caté.