domingo, 28 de junho de 2009

Conversa minha (Um)

A Kuxingila
(de outro livro a nascer)

Já muito andou Paulo à procura da sua Ingrid. A meio da história...
André, o negro amigo de Paulo, é assassinado. Paulo guarda-o na memória. Um dia, já sem o amigo e companheiro de viagens, entra numa sanzala onde conhece um soba de carapinha branca, homem de grandes saberes a que, porque era sábio, juntou outro, o da sua matriarca, a kuxingila que anda sempre de saquito de pele de bambi à cintura, cheio de poderes mágicos como os pós de fumo e um manipanço. Paulo vê-a vestida de novo pano-saia com o tal saquito pendurado numa corda envolvendo-lhe a cintura, voltas de missangas ao pescoço de onde caiem, também, dois dentes de javali, e argolas que lhe parecem de fios metálicos entrelaçados em pele de um qualquer bicho do mato, do tornozelo até meio das pernas.

“…De entre todos na sanzala, só ela conhece o tempo certo em que os pós de fumo devem queimar para que os chamamentos resultem, não se falando, é bom dizer-se, da meia dúzia de rezas para livrar o corpo da morte e das palavras raras, para outros segredos, de seu conhecimento exclusivo, quase em desuso no mundo que se conhece, e sem as quais não há madjau ou mariábu – como aqui chamam aos sortilégios –, que valham.
Ao vê-la assim aperaltada, sabendo já o que sabe, Paulo pergunta à memória de André, de que ainda se não desligou, se ela acredita que a matriarca tem, de verdade, arte para chamar e usar poderes.
- Ché, meu irmão! Não sei se acredito. Te juro sim que os mais velhos falam que ela tem uma data de sabedorias, que não faz nada à toa, que é mesmo capaz de andar de ligações com um ser que tudo saiba – um ou mais, agora sou eu que te digo, sei cá!
- Então, André, não é mesmo uma quinhenta de conversa fiada?
- Ué! Para quê saber tanto? A nossa África não gosta que lhe perguntem…”

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