domingo, 28 de junho de 2009

Conversa minha (Dois)

Os deuses e Deus não quiseram ver
(de outro livro a nascer)
"...São mais de cem os dias passados desde a despedida de Paulo e Helena.
Antes do alvorecer que se aproxima, os deuses, e os outros, ausentam-se da sanzala do velho da carapinha branca.
Deus também.
Escuta-se o estrondo de obuses a rebentarem.
De seguida, o estampido de espingardas automáticas.
Daquela ponta do povoado, e do outro extremo, sai gente a correr para o bananal e para os cafeeiros. Impiedosa, a metralha crepita e ceifa.
Sulcos de rodados pesados marcam o chão lamacento à passagem de viaturas camufladas. Soldados rastejam ao lado. Soltam-se labaredas de tubos de armas.
Escombros de cubatas em chamas soterram as mulheres parideiras e as kafekas.
Maria da Fé e o seculo não chegam a despertar.
Do bolso do pano-saia da kuxingila ali caída, tomba o manipanço. Do cordão atado à cinta desatam-se os pós de fumo que não mais serão deitados.
A memória de André foge.
O amanhecer rompe em silêncio, a sangrar vermelho..."

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