sexta-feira, 29 de julho de 2011
O FIM
terça-feira, 26 de julho de 2011
Do Mwata (À Procura de Palavras)
Passa o olhar pelo redor que o cerca.
Choveu a chuva guardada na promessa da última ida. A anhara, ainda ontem de corpo ressequido e gretado, veste-se agora de seda, porque assim se vê a água que a cobre sorrindo para o céu. Emergindo, aqui e ali, as bissapas e as espinheiras juntam-se às acácias, emigrantes da savana. Sobre as folhas reverdejadas, debaixo dum vento flutuando e falando por assobio, estende-se o manto prateado das tuqueias aglomeradas, parecendo estrelas penduradas. Não tarda, virão as mulheres, talvez Bienas ou Luchazes, recolher o “peixe do capim”, ou como outros dizem o "peixe que voa".
Quando aqui chegou sabia não ter vindo para um ponto de destino mas, tão só, ter atingido uma linha de partida. Tem que seguir; quando a Lua chegar dir-lhe-á para onde.
Tão certo como a existência das tuqueias, sabe que irá encontrar outras terras, gentes, noites e manhãs, sonos e despertares novos, um Sol diferente, e, é o mais certo, aquele grande lago de que lhe falaram e que lhe disseram chamar-se Mar.
Não o amedronta a viagem, nem a incógnita dos novos encontros, quiçá reveladores de descobertas. Nele não moram agitações; é calmo e paciente como o velho cágado da sua meninice, de que se separou já não sabe quando nem onde. O que o inquieta é não saber o que, para além dele, há-de levar consigo.
Aproveitando uma termiteira poupada pelas águas, a ela se encosta, dando-se a pensar: O melhor será levar palavras, sempre poderão ajudar-me nos entendimentos.
Pega num pedaço de terra vermelha amolecida da base da casa das térmitas, e põe-se, com ela, a fazer palavras, passando-as de uma mão para a outra. Assim tem estado, deixando correr o tempo apenas com o silêncio do gesto das mãos, até que a Lua chega, avisando serem horas de partir.
Não, diz ele, só seguirei quando em mim for manhã. É que, sabes, ainda não descobri de quantas palavras vou precisar.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Foram-se!

Para trás ficou o terno abraço do rio ao mar. Os golfinhos sorrindo nas águas azuis, as gaivotas e as águias pesqueiras. Onde estive?
Pouco importa. O regresso acontece no Dia da Amizade. Aqui vos deixo o meu abraço.
Se Eu Morrer Antes de Você
Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:
Chore o quanto quiser, mas não brigue comigo.
Se não quiser chorar, não chore;
Se não conseguir chorar, não se preocupe;
Se tiver vontade de rir, ria;
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão;
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me;
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam;
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo...
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
-"Foi meu amigo, acreditou em mim e sempre me quis por perto!"
Aí, então, derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu.
"Ser seu amigo, já é um pedaço dele..."
(Chico Xavier)
Adenda: Já depois de editado o post recebi daqui este selo, que reproduzo com todo o gosto.
terça-feira, 5 de julho de 2011
Mukanda
O Homem quer, os deuses não, a obra não nasce.
Os deuses endemoninharam-se, o Homem passou a ser ninguém, a obra nada mais é do que um cadáver adiado.
-_-_-_-_-
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
(Fernando Pessoa, Poemas Escolhidos)
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-Parto para férias. Vou para a beira da água ver os golfinhos. Um abraço a todos, e até depois.-