quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Funeral



Era Domingo quando embora foi sem prevenir, porque assim o quis a dor. Abalou.
Foi andando com o pensamento pelas costas, carregado de palavras que lhe diziam ser ele o seu dono, sim, e não uma carta de jogar. Fora, baralho podre e viciado!
Adormeceu no exílio do seu eu. Desperta acordando de si.
Olha para trás. Quando partiu não chovia.
Agora, de regresso, vê o seu país fustigado pela dibanda. Pára entre duas gotas. Vê à frente e atrás, à esquerda e à direita. As armilas já lá não estão. A eclíptica, o equador e os meridianos desapareceram. O vermelho escarlate é laranja e o verde amarelo.
Volta a olhar, não vá a chuva fazê-lo entrar em disfunção. Vê o mesmo, e mais: o país está encarquilhado. E, como em dizer de Saramago, para aqui trazido, as nuvens estão ali pardas e pesadas.
Então solta o pensamento e pergunta-lhe:
- De quem é este funeral?
 

10 comentários:

ematejoca disse...

Apanhei um susto!!!

Laços e Rendas de Nós disse...


A TUA VOZ ergueu-se, Carlos!

O funeral é de um país inteiro que se esquece das amarras que Abril soltou.

Em tempo de tempestade, abram-se as palavras, ergam-se os braços e avancemos no/pelo QUERER em nome do futuro.

Já tinha saudades tuas!

Deixei-te um miminho, lá. Aceita-o, sim?

Carinhosamente, um beijo

Laura

folha seca disse...

Caro Carlos Albuquerque
Ando numa fase da minha vida (profissional)que me ocupam o tempo e me retiram a disposição, em que os comentários são raros. Embora vá lendo quase tudo o que os meus bloggers de referência vão publicando.
Não comento o seu post. Apenas lhe digo que gostei muito de o ver por aqui.
Um grande abraço
Rodrigo

Rogério G.V. Pereira disse...

Não nos habituamos à ausência. A saudade é filha dessa incompetência.

E tinha-as, mãe e filha. Acredita

De ti
Das palavras que saem de tua escrita

Catsone disse...

Belo texto, amigo Carlos.
Abraço.

São disse...

Ah! Que imensa alegria vê-lo de regresso!

Até porque lhe vou oferecer o Prémio Dardos, porque o merece de todo.

O texto parece-me desecantado, mas o importante é ter regressado.

Espero que não desapareça novamente e, ainda menos, por tanto tempo!

Um abraço de matar saudades.

Janita disse...

Meu Caro Carlos Albuquerque.

Este funeral, é de um País chamado Portugal!

Gostei muito de o ver regressar, Carlos. Desejo que esteja bem.

Um abraço.

Janita.

Roselia Bezerra disse...

Olá,
Em cada coração exite um funeral não lembrado... ou um sem nome...
Abraços fraternos de paz e bem

Filoxera disse...

Tão bom, vir aqui sorver textos que sempre me deleitam!
Beijinhos.

Teresa Santos disse...

Querido Mwata, meu Mwata,

Que bom ter-te de volta, que bom poder ter-te connosco.
O título do post? Nem sei que te diga, mas que não era coisa que se fizesse, não era!

Adiante.

Funeral, sem direito sequer a missa de 7.º dia.
Tudo isto é tão triste, mas tão triste!
O que é que fizeram do nosso País? E os responsáveis? Não haverá responsáveis? Tanto quanto me parecem têm nome, ou não?

Abraço do tamanho do mundo, meu Mwata.
Obrigada por teres voltado.