sábado, 5 de junho de 2010

Santos populares


Junho, que mês és tu?!


Apareceste depois do mês do meu casamento. Deste-me o filho mais velho, levaste-me o mais novo. Depois disso fizeste nascer o meu neto caçula, ainda nem sequer tinhas chegado ao sétimo dia!

Estranha criatura és, que dás, tiras, e voltas a dar. Deste de novo porque te arrependeste? Ó Junho, porque tiras, se dar podes tu?
Consta que o teu nome foste buscá-lo a Juno, uma deusa, mulher de Júpiter, um deus. Que deuses são esses que te fizeram assim?
Se te risco do calendário? Não, não te apago. Talvez gostasses de voltar atrás, devolvendo-me o que roubaste. Não sei..., ficamos assim.
Que dizes, agora? Nada de especial. Que vais anunciar a chegada do Verão e é tempo dos santos populares. De quem? Destes três:
- (Dia 13) – António, o milagreiro, protector dos noivos, casamenteiro. Viajante de meio mundo. Até em Praga na Ponte Carlos sobre o rio Moldava, está uma estátua sua olhando quem passa a ver se descortina dedos livres de aliança.
- (Dia 24) – João, de alho-porro na mão, chamando gente para saltar a fogueira. Quem saltar a fogueira na noite de S. João, em número ímpar de saltos e no mínimo três vezes, fica por todo o ano protegido de todos os males, dizem os entendidos nestas coisas dos santos.
- (Dia 29) – Pedro, que se chamou Simão e era pescador. Respondeu certo à pergunta: quem é Jesus? Tal valeu-lhe o rebaptismo para Pedro (pedra) e sobre ele foi construída uma Igreja.
Queres que festejemos os santos populares. Não o farei, sabes bem porquê. Comprarei apenas um manjerico que colocarei na varanda a falar com o Sol e a cuscar com a noite até que a seiva se lhe esgote.
Adeus.

41 comentários:

Helga Piçarra disse...

O rancor que guarda de Junho, guardo eu de Maio. Mês, em que tal como o Carlos, também casei, tive um filho, perdi outro e recentemente também o meu avô. Não o riscarei do calendário por isso. Trouxe-me coisas boas, deu-me coisas más.
Não será esse o propósito da vida? A cumplicidade e a gestão da alegria e da tristeza e a lembrança de memórias, que a dada altura do ano se transformam em pesadelos vivos e reais?

Sejamos fortes e enfrentemos o calendário, a cada ano com mais força, porém sempre com saudade.

Um abraço solidário, e que o manjerico lhe traga de volta os cheiros de Junho... por mais difícil e impossível que isso possa parecer.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Ah, meu amigo, junho chega sempre trazendo saudades,,, das festas populares (que aqui chamamos juninas), com sua alegria, suas cores, sua música típica, seus balões (que nem sabíamos o mal que causavam), com as sortes tiradas pelas meninas casameneiras, com a saudade dos que já aqui não estão para festeja-lo conosco. E aqui vem (ou vinha) frio e garoento, o que tornava o estar ao pé da fogueira muito agradável...
Saudades de junho, em junho? Assim o é.
Beijos e um junho florido, ensolardo, quente e perfumado pelo manjerido, para você

VASCODAGAMA disse...

Espreitei, pela janela
gostei do que vi.

Vou voltar

Daniel C.da Silva disse...

Finalmente encontro o local onde colocar comentarios... uff. das outras vezes nao dava...

Ah os santos populares: sardinha assada, manjericos, batata a murro, pão com sardinha, jarros de vinho e sangria. Ha toda uma iconografia nos Santos Populares... sem falar das marchas...

abraço

Catsone disse...

Olá Carlos. Gostei muito do texto, afinal Junho é muito especial para mim, principalmente o dia 24. Costumo dizer que o pessoal do Porto, Braga, F da Foz, etc, costuma fazer uma fazer uma grande festa para mim ;)
Abraço.

Maria disse...

Abraço-te...

Impulsiva disse...

Nossa Carlos, que texto...forte!
Tudo isso em junho...coincidência? Destino?
Afinal serão nossas eternas indagações.

Mesmo sendo um texto visivelmente motivado por uma certa revolta e pela dor, está muito bem escrito, por isso direi sim que ele está bonito de se ver...

Grande abraço, paz no seu coração,
Kenia.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo querido, Carlos!

Tens razões fortes para sentir essa ambiguidade entre o agri-doce sabor do mês de Maio.

De Junho já as lembranças são bem melhores, mais animadas, mas parece que não vais festejar...

Curiosamente para mim, o mês com sabor azedado é Junho.
Junho deu-me um marido...mas traz-me sempre à memória o aniversário do meu irmão mais novo que me foi roubado demasiado novo.

Beijinhos amigo, espero que estejas já completamente recuperado.


Na Casa do Rau

Teresa Diniz disse...

Carlos
Junho é como a vida, traz-nos coisas boas e más. Há que aproveitar as boas, enquanto limpamos a lagrimita que teima em cair.
Um beijinho maior do que os do costume.

Carlos Albuquerque disse...

Helga,
É exactamente como diz. Há que enfrentar o calendário, só que nem sempre é fácil...
Também o sabe por experiência própria, como imagino, muitos dos amigos que por aqui passam.
A vida é uma megera (Lobo Antunes empregou outro termo),mas só há uma, e é com ela que temos que viver.
Obrigado pelas suas palavras

Carlos Albuquerque disse...

Dulce,
Senti a alegria das suas palavras. "Vi" as suas festas juninas. Tem razão quando fala da saudade dos que já aqui não estão para festejá-las connosco.
Beijos.
Por cá o dia não nasceu ensolarado. Há nuvens viajando pelo céu à boleia de um vento soprando um pouco frio.

Carlos Albuquerque disse...

VASCODAGAMA,
Olá,muito bem-vinda.
Irei também espreitar pela sua janela.
Abraço

Carlos Albuquerque disse...

Daniel Silva (Lobinho),
É com grande satisfação que o recebo na minha cubata. Dificuldade para abrir os comentários? Pela primeira vez chega-me tal observação. Que se terá passado?
A iconografia...pois!
Imagine que já há por aí petinga espanhola a fazer de sardinha...!
Um abraço.
Volte sempre

Carlos Albuquerque disse...

Catsone,
Obrigado!
Dia 24 de Junho (João, o baptizador)com todo esse povão numa festa só para ti?!
Certa, por certo, está a razão de quem te festeja.
Abraço

Carlos Albuquerque disse...

Maria,
Obrigado!
Um abraço para ti, também.

Carlos Albuquerque disse...

Impulsiva,
É mesmo, Kenia, serão sempre as nossas eternas indagações...
Grato pelas palavras gentis e sensíveis.
Grande abraço.

Carlos Albuquerque disse...

Fernanda,
Sinto como tu.
Grato pela tua visita, sempre desejada.
Não estou a cem por cento, mas espero lá chegar.
Beijinhos, Amiga.
--
PS - Continua a ser-me impossível entrar no teu blogue, razão pela qual notarás a ausência de comentários meus. O problema é mesmo da placa gráfica do meu PC. Estou a tentar resolvê-lo.

Laços e Rendas de Nós disse...

Obrigada, Carlos, pela ideia que me deu.

Vou também comprar um manjerico, aspirar o seu perfume e depois deixá-lo " até que a seiva se lhe esgote".

Afinal como a vida nos vai fazendo...

Beijo

Menina Marota disse...

Bom dia... de um Junho com Sol aqui no Litoral... onde o S. João e o S. António se festejam em diferentes Freguesias...

A Vida tira-nos e oferece-nos... o tal calendário que não escolhemos porque dizem que o Destino já está traçado, algures num Livro qualquer.
Se te tivesses casado em Março ou Julho... o que terias? Ou o que te teriam tirado? Menos? Mais?

A Vida é uma incógnita... o que tira não dá ou... será que dá de uma outra forma?

Bjo.
Contei muito de te ler...

Carlos Albuquerque disse...

Teresa,
Sem dúvida, há que aproveitar as coisas boas. Faço-o, mas há alturas em que a lágrima, mesmo que não visível, se sobrepõe.
BJS

Carlos Albuquerque disse...

acácia rubra,
Dei-lhe uma ideia e aproveitou-a. Fico feliz.
Pois é, a vida vai-nos esgotando a seiva...
Beijo

Carlos Albuquerque disse...

Menina Marota,
Uma primeira visita é sempre, para mim, motivo de satisfação.
Recebo-te com um abraço fraterno.
Provavelmente, tens razão,a Vida dá o que nos tira, mas de outra forma. Já tenho reflectido sobre isso.
Obrigado por aqui teres vindo. Volta sempre que quiseres. A porta está aberta, a casa é tua.
Beijo

Ava disse...

Perante a este post tão sentido, e por ainda não ter passado por nenhuma perda significativa, fiquei sem palavras, pois nada do que possa dizer tem algum valor perante as suas palavras.
Deixo-lhe apenas um forte abraço.

Beijinhos doces, Ava.

maresia disse...

Olá!
Eu gosto de Junho! Sabe que Junho para mim, é sinónimo de dias quentes, solarengos! (espero eu)E isso é bom sinal...Sinal de que posso dar um pontapé numa coisa escura que me apoquenta a vida...Muito mais em meses de frio! por isso gosto de Junho...e de Julho e de Agosto!
Mas compreendo porque o irrita tanto este mês...Já lho li...na alma!
Uma florita para o Carlos, tá!
Besito

Osvaldo disse...

Caro amigo Carlos;

Comovente e terno o inicio deste post. Também eu sei um pouco tudo isso.

Quantos aos nossos Santos, entre os três, gosto de todos eles porque me levam à minha meninice quando em Tabuaço se festejavam os Santos Populares e em especial o São João e mesmo São Pedro para a reinação.

Um grande abraço, amigo Carlos.
Osvaldo

maria teresa disse...

Quase todos temos um mês que nos deu muito e nos tirou, quiçá mais.
Para contrabalançar há meses que só nos dão...
A vida teve, tem e terá estes mistérios que o homem não tem capacidade para entender!
Que todos os meses se mantenham no calendário porque o nosso "querer" tem força suficiente para não esquecer, mas também para dar valor às "sobras".
Abracinho

Mª João C.Martins disse...

Carlos, meu amigo..

Há tantos momentos assim. Momentos onde nos interrogamos na incompreensão do que nos acontece, na mágoa que não abandona a saudade, na lágrima que nos retira a força. E há sempre um Junho belo e traiçoeiro para alguém, ou um Abril ou um Janeiro. Há sempre na vida de todos nós, momentos a lembrar e outros, que por não conseguirmos esqueçer, nos irão acompanhar o resto da vida. E somos feitos de tudo isso, e somos imensos, na força e na coragem, na determinação que nos move a continuar em frente.
Porque o relógio, esse não pára. Só a vida, às vezes, cá dentro.

Um beijinho enorme de profunda admiração e respeito

Teresa Santos disse...

Querido Mwata,

Não fora o roubo que sofreste neste mês e até podiamos considerá-lo simpático. Assim, não! Não porque revolve feridas que nunca saram, feridas que sangram mais sempre que se lhes mexe, feridas incuráveis.
Cheira o manjerico, procura (nem que isto fosse possível!)acalmar a mágoa com o odor único daquela ervinha singela.
Abraço.

Anónimo disse...

Para mim, Junho é um mês bom. Maus são Maio e Agosto que também me deram e tiraram bocados de vida que julgava pertencerem-me por direito.

Laura disse...

Há meses que nos trazem dores
alegrias e desamores
mas quando a nossa alma dói
num dia qualquer de um certo mês
a gente revolta-se e diz
que não quer recordar
tantas dores outra vez !...

Um beijinho da laura

Carlos Albuquerque disse...

Ava,
Obrigado.
Beiinhos

Carlos Albuquerque disse...

Amordemadrugada,
Dar um pontapé numa coisa escura que lhe apoquenta a vida..., força!
Gostei da florita.
Besito

Carlos Albuquerque disse...

Osvaldo,
Obrigado pela visita. Já há muito tempo que não nos víamos!
Grande abraço

Neve disse...

Carlos: um belo texto, esse seu. Bom para a gente refletir. Aqui no Brasil, no sudeste, é o mês que anuncia o inverno(frio). No nordeste (do Brasil) ele anuncia o tempo da invernada, que são as grandes chuvas, uma vez que lá no nordeste não faz frio, é verão o ano todo. Temos festas folclóricas, no Brasil todo, nesse mês.
Tenho uma filha e uma neta nascidas em junho, todavia não é um mês que me fale ao coração.Mas gosto dos aniversários, é claro.É tão bom celebrar a vida, não é?
Adoro abril e setembro.
Um abraço pra você!

ju rigoni disse...

Oi, Carlos!

Passando para atualizar-me.

Acredito que todos tenhamos um ou mais meses do ano que marcam definitivamente nossas vidas. E sempre é muito complicado aprender a viver nessa fenda entre o sim e o não... Difícil e inevitável aprendizado, porque é preciso seguir o caminho.

Bjs, Carlos, boa semana. E inté!

ematejoca disse...

Já li este seu texto, Carlos, assim como o anterior várias vezes, sem conseguir comentar, porque me lembra o dia mais infeliz da minha vida, o dia 25 de Abril, não de 1974, mas sim, o de 2006.

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Antes de ir com o alho porro na mão a atacar os portuenses na Noite de São João, deixo um desafio e um selo no "ematejoca azul".
O selo não tem nada a ver com o desafio. Queria oferecer esse selo a todos os meus leitores, quando o "emateja azul" completou os 2 anos. Tentei escrever nele o nome do blogue, mas não consegui. Ofereço-o agora, mesmo sem nome, para não se esquecerem da ematejoca durante a sua estadia na cidade invicta.

Abraço ainda de Düsseldorf!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Você sabe o que dói na sua alma. Parabéns pelo texto.

Um grande abraço, amigo poeta.

Penélope disse...

Carlos, saudades daqui.
Estou em dívida com as visitas...
Todas as vezes que o desgosto chegar viva-no assim como viverias uma alegria, não importa se no mês de junho ou outro tempo qualquer.
Um grande abraço,meu amigo

o mar e a brisa do prazer de aprender disse...

Sempre amei o mês de junho, pois é o mês do meu aniversário e do Sagrado Coração de Jesus. Parabéns por compartilhar conosco suas emoções. Abraços criativos

rosa-branca disse...

Olá amigo Carlos como vai essa saúde? está recuperando bem? espero que sim. É meu amigo... existem meses que os riscava de bom grado do calendário. O junho era um deles(levou meu irmão a 17)
mas a vida não nos dá tréguas e temos que a viver o melhor possivel. Com todas as mazélas mas isso o amiga sabe. Gostei do texto amigo mas fiquei com nó na garganta. Beijos com muito carinho e recupere depressa.

Virgínia do Carmo disse...

A aceitação é um exercício difícil que eu vou conseguindo gerir vivendo intensamente os meus picos de tristeza nos intervalos dos meus dias felizes...

- O ideal seria eu ser capaz de ser grata, até pela dor.. -

Deixo-lhe uma lágrima e um sorriso