Diz-me ele:
Passam desgraças sem fim e as telenovelas, o futebol e uma ministra de bandarilhas na mão, olhando, queda e muda, a queima e a degola de livros. E o circo, de tenda erguida, instala-se no Parlamento, em grande espectáculo com feras amestradas, aves de canto treinado, cães sem açaime. Gente, também, mas doente.
Assim vai o teu País, marulhoso.
Em águas engrossadas por gordura encardida de sebosas mentes vertida, banham-se políticos e jornalistas numa dança orgíaca. Delas se ouvem vozes, vociferando sem nada dizerem, gritando por virgindades ofendidas, senão desfeitas. E braços erguendo-se. Vestindo camisitas de acinte obsceno, pregando tábuas, levantando degraus, lançando cordas, rufando tambores, tan, tan, tan, a chamar a multidão, tan, tan, tan.
- Vinde, povo!
Apresta-se a execução. E o povo vai, parte aplaudindo os mensageiros das más notícias, parte sem saber o que fazer, mas vai, engrossando o rebanho. Não há fogueiras. Agora, é tempo de morte sem cheiro, com direito a lugar sentado.
Não são povo (eles são o povo, não nós!), mas assistem à distância de um gesto de controlo e mando, quais predadores aprontados.
Doutros mares, por onde navega o jornalismo da clarividência e a política do bom-senso, chegam palavras, poucas de cansadas que vão estando, roucas de tanto esforço. Querem denunciar o jogo, em vão! Os poderosos, ainda deuses, opõem-se, dispostos que estão a não perderem o comando, o comando escondido, que de tudo dispõe. O outro, o comando visível, esse não comanda, é só um poder vazio, e só.
O baralho das cartas viciadas permanece nas mãos dos mesmos de sempre. Eles tudo compram, incluindo talibans na santa cruzada pela liberdade de expressão. Espadanam, espessando o ar com um biombo, para além do qual aprisionam um mundo de sombras para que se não veja o desemprego, a miséria, a fome, e os olhares tristes. Ordenam que se toque tan,tan,tan...Dirigem todos, começando pelos que enfeitam o “poder”.
Hermafroditas, irmãs, que são, a verdade e a mentira, persistem na dança incestuosa do esconde-esconde, dando à luz, de quando em vez, criatura excêntrica, a inverdade.
Por momentos fugazes ainda se consegue ouvir um eco de longe: “não é o grito dos maus que me assusta…e sim o silêncio dos bons”.
O teu País está mergulhado num profundo silêncio!
Assim vai o teu País, marulhoso.
Em águas engrossadas por gordura encardida de sebosas mentes vertida, banham-se políticos e jornalistas numa dança orgíaca. Delas se ouvem vozes, vociferando sem nada dizerem, gritando por virgindades ofendidas, senão desfeitas. E braços erguendo-se. Vestindo camisitas de acinte obsceno, pregando tábuas, levantando degraus, lançando cordas, rufando tambores, tan, tan, tan, a chamar a multidão, tan, tan, tan.
- Vinde, povo!
Apresta-se a execução. E o povo vai, parte aplaudindo os mensageiros das más notícias, parte sem saber o que fazer, mas vai, engrossando o rebanho. Não há fogueiras. Agora, é tempo de morte sem cheiro, com direito a lugar sentado.
Não são povo (eles são o povo, não nós!), mas assistem à distância de um gesto de controlo e mando, quais predadores aprontados.
Doutros mares, por onde navega o jornalismo da clarividência e a política do bom-senso, chegam palavras, poucas de cansadas que vão estando, roucas de tanto esforço. Querem denunciar o jogo, em vão! Os poderosos, ainda deuses, opõem-se, dispostos que estão a não perderem o comando, o comando escondido, que de tudo dispõe. O outro, o comando visível, esse não comanda, é só um poder vazio, e só.
O baralho das cartas viciadas permanece nas mãos dos mesmos de sempre. Eles tudo compram, incluindo talibans na santa cruzada pela liberdade de expressão. Espadanam, espessando o ar com um biombo, para além do qual aprisionam um mundo de sombras para que se não veja o desemprego, a miséria, a fome, e os olhares tristes. Ordenam que se toque tan,tan,tan...Dirigem todos, começando pelos que enfeitam o “poder”.
Hermafroditas, irmãs, que são, a verdade e a mentira, persistem na dança incestuosa do esconde-esconde, dando à luz, de quando em vez, criatura excêntrica, a inverdade.
Por momentos fugazes ainda se consegue ouvir um eco de longe: “não é o grito dos maus que me assusta…e sim o silêncio dos bons”.
O teu País está mergulhado num profundo silêncio!
(Para o tema "Silêncio", da Fábrica de Letras)
25 comentários:
Estou sem palavras Carlos! Neste "grito", extaordinariamente bem concebido e escrito, está o retrato do que se passa, onde se passa, como se passa, com quem se passa... Enquanto lia as palavras, delatoras de uma verdade bem explicada, senti calma e não exaltação... É um grito espontâneo mas simultaneamente contido, um lamento...
Carlos
Partilho da angústia do Viajante. Tantas contradições, tanto jogo sujo.
Não vejo grande saída, tal como ele diz, o jogo é com cartas viciadas.
Bjs
Amigo Carlos. Grande grito de palavras,que todas elas vão de encontro ao povo...o verdadeiro,que sempre luta e ninguém o ouve,gostei de todas as palavras.
Beijinho Lisa
Pois, infelizmente...
Beijinhos.
Querido Mwata, eis-me de volta, a correr, mas por aqui. Amanhã quero ler, deliciar-me (como sempre) com o que postaste. Por agora, apenas passo para dizer que tens um Miminho no meu blog.
Abraço grande.
Meu amigo
um texto muito bom ,como sempre.
O de do na ferida.
Beijinhos
Sonhadora
convite para seguir a história de Alice, lá no
... continuando assim....
já começou !
espero que goste
bj
teresa
Carlos, reverêncio seu escrito desse post
e me silêncio diante dele
após um aplauso e meu grito de Bravo!!!!
"Hermafroditas, irmãs, que são, a verdade e a mentira, persistem na dança incestuosa do esconde-esconde, dando à luz, de quando em vez, criatura excêntrica, a inverdade."
Te espero la no meu blog, as saudades de vc por la ja gritam.
Bjins entre sonhos e delírios
Amigo Carlos Albuquerque,
Mais uma bela sátira política a merecer o nosso acordo pelas verdades subentendidas! Acredite que aprecio o seu humor simultaneamente venenoso e sádio muito a propósito ao momento que vivemos!
Um abraço amigo.
Belíssimo retrato de um país amordaçado pelos interesses corporativos, mesclados com interesses partidários e projectos de poder pessoal. Eu não queria escrever ist, Carlos ,mas vai-me desculpar, porque não consigo resistir: este país cheira mal e começa a meter-me nojo.
Bom fds
Eu já entendi q o mundo em q eu vivo é uma tenda de circo só estou batalhando pra ñ virar palhaça,ñ consegui pois os bons moços fizeram questão de nos pintar.
Um beijo grande.
Carlos,
Está brilhante o seu texto!?...Que mais posso dizer? Rendição completa às suas palavras!...
Bjs,
Bom fim-de-semana,
Manuela
é verdade carlos,este povo esta quieto por demais será que nos cansamos de lutar?
obrigada amigo pela visita desculpe a ausencia aos poucos vou retornando bjs!
E o amigo já ouviu falar do
polvo unido?
Um abraço
Querido amigo Carlos,
Dá gosto ler o que escreve, mesmo tratando-se de um tema que por ser totalmente real é triste...
Este povo está mesmo demasiado pacífico e silencioso.
Está aqui tudo dito, de forma satírica mas muitíssimo clara.
Parabéns pelo magnífico texto.
Beijinhos
Ná
Extraordinário, caro Carlos... só o que consigo dizer, extraordinário!!
Olá, manejas a batuta (pena) da melhor foma que sabes e, tens razão, muita razão, mas continuo a dizer que os homens hoje só têm força para malhar nas mulheres,(a violência doméstica subiu que nem sei) e deviam-na aproveitar para malhar nesses gajos que se mostram os traidores do Povo, porque nos andam a enganar a tramar o Pais que se é de todos, está a ser mal gerido e só em proveito de alguns...Aí os Homens de bem deviam erguer-se e marcar encontro com a corja de safados que andam a governar para o bolso deles, e...abaixo com eles, mas, hoje os homens de bem são poucos, a maioria preferiu ir para o lado errado, um dia pagarão por todas as asneiras que fizeram, mas, entretanto vamos nós pagando e a factura cada vez é mais dificil de pagar pelos que menos têm!...
Não leves isto para o teu lado e de muitos homens de bem, mas, sabemos que a maioria é assim...
beijinho da laura com saudade de te ver...
Poucos meses depois do 25 de Abril de 1974 apareceu um movimento que se deu pelo nome de Maioria Silenciosa. Apareceram cartazes por toda a Lisboa. Dizia-se ser ligado ao então Presidente indigitado, António de Spínola. Um dia, quando caminhava nas ruas da Baixa lisboeta, era ainda pequeno, vi uma senhora com trajes de hippie a arrancar esses cartazes, fiquei escandalizado e pensei que alguém a viesse prender... nem eu sabia o que era isso da Maioria Silenciosa! A verdade é que poucos dias depois deu-se o 28 de Setembro e o afastamento de Spínola e a entrada em cena de Costa Gomes. Continuei sem nada perceber do que se tinha passado... isto para referir que as maiorias geralmente são silenciosas e essas são as mais perigosas...
Sofá Amarelo
Pertinente, o teu comentário!
Mas, sabes, o silêncio a que o Viajante se refere não é o da execrável "maioria" a que te referes. É, sim, o silêncio dos bons. E este é, infelizmente, profundo.
Um abraço!
Vieira Calado
É bom vê-lo por aqui! Seja bem-vindo.
Polvo unido?
Esmiúce, por favor.
Um abraço
Carlos Barbosa de Oliveira
Não peça desculpa, sinto o mesmo.
Bfs
"Quando os elefantes brigam, quem é esmagada é a relva."
Meu amigo Carlos
Andei a pensar no que o Viajante lhe disse...
Confesso que também eu faço parte daqueles que sentem vontade de ficar em silêncio. Não porque me abstenha de dar atenção ao que me rodeia ou porque tenha perdido a vontade que anima a indignação. Antes sinto, que muitas das coisas que defendo, para as quais fui educada e sem as quais não consigo organizar-me na vida,não fazem parte do código de conduta de tanta gente que comanda (directa e indirectamente) o nosso país. Acho que eles já não nos entendem e nós que felizmente somos a maioria, muito menos a eles.
Ando confusa e triste... acho que temos de fazer alguma coisa, mas o quê? Dava jeito uma flauta mágica, não dava?
Um grande abraço para si e um enorme beijinho ao Viajante. Gosto do olhar sábio que ele tem. Deve ser a esse olhar que chamam ou chamavam, antigamente "Sageza"
Boa noiteeeeeeeeeeeeeeeeeee.
Vim te agradecer a visita.
beijos.
E o povo vai, parte aplaudindo os mensageiros das más notícias, parte sem saber o que fazer, mas vai, engrossando o rebanho.
Só esta tua frase já era elucidativa mas, se falarmos do post todo, esse então tem toda a verdade.
Beijinhos
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