Bom fim-de-semana.

Encurtemos distâncias, falando pouco e bem. As palavras medíocres nada nos contam; as boas explicam-nos quase tudo. Sigamos, a vida é breve!
Aberturas e Fechaduras
Ali por baixo, na base do monte onde na praia-mar as águas largam o espumar de zanga das ondas, vê um tridente apontando. Segue o sinal, que o conduz até à boca duma caverna. Sendo, embora, o que não parece, depara-se-lhe uma porta fechada. A um dos lados, na pele curtida de um qualquer bichano apanhado numa saída incauta das profundezas quentes da terra, está escrito: Casa do Demo, encerrada para obras. Não force a entrada. Volte daqui a sete dias.
Respeita a recomendação, dá meia volta, segue encosta acima. Ao entardecer, queixam-se-lhe os pés do farto e duro caminhar. Encosta-se a uma rocha, nascida de dentro do mato. Em frente descobre um portal. Da soleira desce uma placa de pechisbeque, segura por um cordão de mateba. Nela lê: deuses em retiro, não perturbe. Tente no próximo milénio.
Resignado deita-se, aninhado sobre si próprio.
Acorda-o uma manhã de sol promissor. Deita mão ao seu bordão de caminhante. Parte em busca do pico da montanha. Passa anos entre tempestades e bonanças. Vagabundeia por planícies vazias. Vence medos. Vive silêncios. Vê nascer e morrer o Sol, a Lua, e as estrelas. Descansa em sombras de confiança. Encontra gentes de cuja existência jamais suspeitara. Aprende outros falares. Conhece diferentes sentires e viveres. Não crendo que a terra seja maior do que ele próprio, prossegue. Chega, finalmente, sendo certo que, onde a terra termina, começa ele agora, conquistador, erguendo-se, olhando em redor. Nada havendo a dizer-lhe que não, abre a porta meio escondida entre nuvens.
Numa estopa meio esfarrapada, talvez fruto de maus-tratos de mãos por si passadas, tombada num chão de cascalho solto, lê, a custo: vedada a entrada a humanos.