À sombra de uma mulemba, e no atrás do seu tronco, a ele encostado dado a um momento de pensar, decidi pôr fim ao Conversas Daqui e Dali.
Talvez a mangonha se tenha de mim apoderado dando berrida à vontade de continuar.
Talvez!
Mas, de há uns tempos para cá, as palavras parecem ter desacertado o passo da quizomba. Foram-se tornando cambutas, algumas cambaias, tal o peso do silêncio, de dentro e de fora, que foi sobre elas caindo. A maior parte ficou de olhos semi-cerrados como os grãos de areia apagados dos musseques do meu antigamente. As restantes arderam numa fogueira, delas se vendo agora, apenas, fagulhas perdidas no ar.
Mais de dois anos depois de ter chegado à bloga, dela retiro esta minha cubata. Não é uma fuga mas, tão só, o seguir o impulso de parar, a que não resisto. Esta viagem chegou ao fim.
Aos amigos e leitores peço que compreendam esta minha decisão. Ela tem apenas a ver com alguma coisa que está dentro de mim.
Nunca é palavra de que não gosto. Por isso…
Não ponho de lado a ideia de que as palavras voltem a crescer e a quizomba a ressoar, trazendo-me um novo e diferente alento, porventura desafiando-me para a criação de um outro espaço. Não, não ponho de lado a ideia.
Agora é tempo de despedida. Acreditem que não está a ser fácil.
Deixo-vos uma pitanga vermelha, madura, para com ela desenharem um sorriso tão necessário nos dias cinzentos e de tristeza vil que nos vão envolvendo, um caju amarelo cujo fermento e odor vos poderão animar, um quiabo verde e fortificante, um caluqueta ardente para que não esmoreçam, e, um grande kandando (abraço) com ele todos envolvendo.
Recolho-me à gruta do meu embondeiro de onde colhia as múcuas para o arrepiar dos meus dias de então. Regresso às águas azuis e transparentes do mar da Kyanda olhado pelas casuarinas dançando ao bater da brisa e pelas estrelas, que à noite voltarão a pratear o espelho de água.
Até sempre!
[“À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse…Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumavam – quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham numa doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem – uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.” (Bernardo Soares, Livro do Desassossego)]
38 comentários:
Carlos
Como é possível?
Aceito a tua decisão mas não me conformo.
Aceito a pitanga, o caju, o quiabo a caluqueta...
... mas é do kandando das tuas palavras e da tua presença que vou sentir a maior falta...
O teu até sempre vai ser, para mim, um até sempre... porque vou ficar à tua espera.
Obrigada por te ter conhecido neste mundo virtual e por o muito que contigo aprendi.
Um kandando apertadinho
Até sempre!
Caro amigo Carlos Albuquerque.
Acho que é a primeira vez que uso o "amigo".
Naturalmente que qualquer decisão deve ser respeitada e eu respeito a sua, que pelo calibre que lhe conheço, não deve ter sido tomada de ambito leve.
Não lhe peço que reconsidere, mas peço-lhe que, sem duvida perceba que vai fazer falta.
Pelo menos tente que por aqui e ali a gente se possa ir encontrando.
Um Grande abraço, caro amigo.
Rodrigo
Quando faltarem as palavras, restará o silêncio... Ou o grito?
Sei que um dia voltará, mesmo que não queira, mas porque tem que ser...
Até breve
Até... se e quando tu quizeres.
Um abraço.
Meu amigo...
...respeito a sua decisão, mas não posso dizer que a aceito. Estou triste, pois o seu cantinho vai-me fazer falta.
Despeço-me com a frase com que o homenageei no meu blogue.
«Diante das adversidades, tanto as provadas quanto as previsíveis, é que se conhecem os amigos.”
José Saramago
Não gosto de despedidas, prefiro um até breve!
beijinhos
Carlos, é com tristeza que vejo mais um excelente blog a "dar um tempo" (acredito que as palavras voltarão a crescer), mas deves fazer o que achas certo. Escrever tem de vir de dentro, tem de ter vontade própria e usar-nos apenas como ferramentas para nascer.
Se achas que elas preferem ficar aninhadas num canto, aconchega-as bem até terem idade para voar.
Suco de caju é muito bom, já dizia o Tim Maia (http://www.youtube.com/watch?v=KjWrn5DtVFQ)
Se, além do seu, precisar de mais um, deixo-lhe o meu:
Vejo-te solitário e fulgido
Em fundo vermelho de sol poente
Como monumento p´la natureza erigido
Sobre a planície agreste e inclemente;
Como se benfazeja chuva mendigasses
Teus secos braços nus aos céus lanças
E como se a árida paisagem afagasses
Pelo espaço te estendes e avanças;
Caem-te, como lágrimas, frutos tão pesados
A saciar o faminto e sedento caminheiro
Que, de pés descalços, gretados e cansados,
Te reverencia e te atribuiu dons de curandeiro;
Tens bravia beleza e mistérios de feiticeiro
Habitas o meu chão, a minha história por contar,
Sempre estiveste no meu caminho, Embondeiro,
Quisera eu nunca de ti me separar.
Boa caminhada e feliz regresso.
Já estive aqui, mas não consegui traduzir em palavras a minha tristeza, meu amigo de sempre.
Ainda tenho esperança que seja só um tempo de reforço, e que em breve volte aqui com a sua excelente prosa.
ATÉ BREVE, CARLOS, ATÈ BREVE!!!
Lamento esta decisão, porque gosto muito da sua escrita. Muito mesmo.
Mas respeito-a.
Voltarei a este espaço, para reler os posts que tanto me agradaram.
Beijinhos.
Até sempre.
Caro Carlos, não me agrada rigorosamente nada esta sua decisão, embora nada mais me reste do que respeitá-la.
Espero sinceramente que regresse qualquer dia a partilhar connosco esse agradável manjar da sua escrita. E o mais breve possível.
Entretanto, deixo-lhe um abraço grande. Já com saudade.
Carlos.
Tenho quase a certeza que um dia as palavras voltarão a crescer e o som da quizomba se vai fazer ouvir dentro de si. Então, a este ou a outro espaço voltará.
Seja feliz, Carlos!
Um abraço
Janita
Meu Mwata,
Não acredito que vais embora.
Se bem que ultimamente tenha comentado menos, o "Conversas Daqui e Dali", era, é, um blogue de paragem obrigatória.
Fizeste-me sonhar muita vez, ensinaste-me muita coisa, não só vocábulos como a magia que caracteriza África.
A ti devo belos momentos de leitura. Podia não dizer nada, mas saía do "Conversas..." de alma lavada.
Por tudo isto um grande obrigada, por tudo isto fica o pedido: se puderes, se te apetecer, volta.
Abraço muito grande, meu Mwata.
mas carlos, porquê? aceito a tua decisão, mas fico triste
kis :=(
Carlos
Lamento profundamente, mas respeito sua decisão.
Lamento porque perdemos um dos melhores espaços desta nossa blogosfera, lamento porque a ausencia do amigo distante vai ser muito sentida...
Respeito porque sempre respeito as decisões alheias e porque por mais de uma vez senti essa vontade de parar... Só me faltou coragem para encarar o vazio que se faria em meus dias já meio vazios... Como o amigo não tem nada de vazio em seus dias, vai-se para outras caminhadas, deixando, porém, o vazio de sua presença sempre tão amiga. Fique bem, Carlos, seja muito feliz, amigo...
E se sentir vontade de voltar, faça-o sem pestanejar, porque será grande a nossa alegria em recebe-lo de volta.
Beijos e até sempre.
Embora não tenha sido muito assídua por aqui ultimamente, aliás não tenho sido muito assídua em lado nenhum a não ser em hospitais, é com tristeza que vejo o encerramento do blogue, pois embora ainda haja muitos por aí, nem todas apresentam a qualidade de escrita que por aqui encontrei.
Espero que regresse um dia.
Um abraço e tudo de bom para si.
Caro Carlos
Espero que isso seja passageiro. Já passei várias vezes por esa tentação, mas rsisti. Não nos prive da sua belíssima escrita e das suas excelentes histórias por muito tempo. Vá lá, concedemos-lhe umas férias até Setembro, mas na Rentrée queremô-lo de volta, ok?
Abraço
Carlos que surpresa é esta? Não estava à espera disto. Espero que reconsideres e voltes, fazes falta. Beijinhos
Carlos
Meu querido amigo
Já li esta sua mensagem há dias. Na altura, fugiram de mim as palavras e, confesso, até agora ainda não encontrei, aquelas que me ajudariam a dizer o que realmente sinto.
Não vou repetir o quanto foi para mim especial, sua presença na blogosfera; a sua escrita, o seu sentido de partilha e o seu sentir humano e solidário.
O Carlos é, como sempre foi, e isso mesmo assim confirma, na hora em que decide colocar aqui, um ponto final.( não acredito nos pontos finais, apenas nas virgulas ou no máximo nas reticências ), seja como for, meu amigo...
"Estarei onde me deixa, no exacto momento em que me procura.."
Um abraço do tamanho do mundo, muita saúde e acima de tudo, que esteja bem.
Obrigada por tudo o que me deu e me fez crescer. Obrigada pelas palavras e pelo amor que lhes dá. Obrigada pela amizade...
Sua amiga, sempre!!
Maria João
Espero que nao seja um adeus às letras, mas tão somente ao blog. Um talento como o seu não deve silenciar. Tenho certeza que todos os dias vc escreve, na intimidade do lar, e alguns privilegiados podem ter acesso aos seus escritos. Confesso que a distância geográfica e os termos do português de Portugal, somados às palavras que vc usa, que me parecem de algum idioma ou dialeto africano, faziam com que nem sempre eu alcançasse seus artigos, além de que vc se refere muito à situação política de seu país, e aí eu ficava mesmo perdida, pois nao acompanho a situação política de Portugal.Daí o motivo de não comentar seus artigos:eles me pareciam dirigidos a um público específico. No entanto volto a dizer: mesmo falando de assuntos que nao me eram pertinentes você os apresenta maravilhosamente bem. Eu tb gostava do seus coments no meu blog.
Também perdi o encanto com o meu blog,mas NUNCA é um lugar longe demais. o futuro a DEus pertence!
Felicidades Carlos, homem intelectual e chic, bastante seletivo nas amizades e um tantinho snobe.kkkkkkk
(brincadeira!) Um beijo do Brasil pra vc)
Não pode ser!
O seu blog foi um dos primeiros que segui. Foi através deste blog que voltei a "viver" a minha querida Angola. Aprendi muito, deliciei-me nos seus textos. Cresci com os seus comentários no meu blog.
Lamento imenso a sua retirada. Como gostaria que ela nunca existisse...
Deixo um kandango choroso.
Não pode ser!
O seu blog foi um dos primeiros que segui. Foi através deste blog que voltei a "viver" a minha querida Angola. Aprendi muito, deliciei-me nos seus textos. Cresci com os seus comentários no meu blog.
Lamento imenso a sua retirada. Como gostaria que ela nunca existisse...
Deixo um kandango choroso.
Amigo,
Hoje estou passando apenas para lhe fazer um convite.
Estou falando do www.superlinks.blog.br que é um site agregador que vale a pena visitar, pois é mais um espaço no qual você poderá publicar seus links de matérias, pois é um site sério e com critérios bem positivos.
Espero que goste da dica.
Um grande abraço
Felicidades.
Um abraço
Carlos
Desculpa vir aqui deixar estas palavras.Mas não há outra hipótese.
Andas bem? Quando regressas?
O fim dos blogues fazem-me mal.A ausência dos Amigos, muito pior.
Saudades
Beijo
Mwata,
Ontem, no "cronicas" recordei-te com imensa saudade.
É que fazes mesmo falta, meu Mwata!
Essa perna arreliadora ter-se-á portado melhor? Como estarás? Questões e mais questões.
A juntar a todas estas (e outras) questões para as quais não tenho resposta, há uma certeza: deixaste muitos de nós vazios de sonho.
E o mundo que se complica, e o desnorte que nos deixa numa incerteza, numa mágoa imensa.
Que fututo para as gerações mais novas?
Desculpa, não quero maçar-te, mas...? Mas comecei a conversar como se estivesses aí, a ouvir-me.
Abraço grande, meu Mwata.
P.S. Caso possas, caso a saúde te permita, não queres voltar?
Eu vou passando por aqui...
Caríssimo Amigo Carlos Albuquerque, Regresso de férias e ao visitá-lo li as suas belas palavras que me lembraram os meus tempos africanos e fiquei triste, muito triste! Fico na esperança que volte a estar connosco pois as suas palavras foram e serão sempre bem-vindas!
Um forte e amigo abraço e até breve.
Caro amigo:
Regressei de férias com a esperança de o encontrar......faz-me falta!!! :(
Beijinhos
E as palavras vão voltar a crescer e a quizomba a ressoar.
Claro que vão.
Abraço grande, meu Mwata.
P.S. Como vês, agora, como antes da tua partida, a paragem na tua cubata, é, era, obrigatória.
Não davas por mim? Não! Mas eu ia de alma lavada.
"Egoista", dirás, mas bastava-me saborear cada palavra, cada vocábulo daqueles que desconhecia e te maçava a pedir "tradução".
Abraço, meu Mwata.
"E as palavras vão voltar a crescer e a quizomba a ressoar".
Claro que vão.
Carlos, venho deixar-lhe um grande e amigo abraço, na esperança de um dia poder ver, no topo dos meus blogues, as suas belas "CONVERSAS DAQUI E DALI".
Desejo que esteja bem e continuarei esperando-o.
Beijinhos.
Janita
Boa semana.
Beijinho, Mwata.
Carlos,
Fiquei longos meses longe do meu espaço, estou retornando e visitando amigos... e vejo que não estas mais aqui.
Respeito tua decisão, você sabe de teus motivos. Mas se for possível, regresse, renasça.
Boa sorte em tudo, na tua vida.
Beijo meu
Um beijo.
Boa semana, meu Mwata!
Beijinho.
Cá volto. Porque voltarei.
Um beijo
Meu Mwata,
Acabo de ler um livro em que o autor - Vladimir Nabokov - afirma possuir um característica rara. Esta consiste em ver as letras com cores, ou seja, a cada letra a sua cor.
Finalmente percebi a magia da tua escrita: conseguias que cada letra, cada palavra que escrevias tivesse uma cor, um colorido muito próprios.
Elas, as palavras, vão voltar.
Beijinho Mwata, boa semana.
Meu querido amigo,é com mágoa que o vejo desistir de um blog belíssimo que o devia ter enchido de orgulho e que nos fazia reflectir em tudo o que dizia,mas certamente foi uma decisão muito pensada e espero que alcance tudo de bom que a vida lhe possa dar.
Bem haja meu amigo,por ser quem é.
Um grande beijinho da amiga...Miuíka
Seja bem vindo Carlos! Que este regresso seja definitivo e que continue a brindar-nos com os seus escritos, gosto de os ler, ensinam. E assim vou aprendendo.
Um abraço amigo.
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