Não há muitos dias, li na coluna de “opinião” dum jornal diário, qualquer coisa como isto (cito de cor): …este é um país triste, cinzento e, ultimamente, até mal frequentado… Não digo, por pudor, o nome do jornal nem do autor de tais palavras.
É certo que a fome e a miséria ainda cá estão, que os cuidados de saúde continuam por chegar a todos, que o desemprego está onde está, que o vendaval do desentendimento, que se abateu sobre a Educação, tarda em desaparecer. Que nos tabuleiros do xadrez da Justiça os reis avançam nus, as rainhas meio despidas, e os peões, esses ,vão ardendo e tombando como pedras de dominó.
É certo que à maioria dos políticos, no poder e na oposição, falta um olhar para ver e um ver para reparar, como diria Saramago. Deste estar certo nasce a tristeza, é verdade, mas brota, também, a esperança de que a tristeza deixará, um dia, de o ser. Assim saibamos afastar os profetas da desgraça, que enxameiam os media, e peroram, alguns, no Parlamento, regando a terra com sal e vinagre, matando a semente antes que dela brote o porvir. É gente de coração enrugado, de alma mirrada, de espírito tacanho, que se esconde atrás do medo e da inacção, gente de que não gosto. A gente do meu país, ressuscitado numa madrugada de Abril, não é assim. Aquela é invasora, vinda do passado.
Cinzento, o meu país!?
Não, não é. Passe o cinzentismo de alguns que se arvoram em pensadores e educadores das massas. A juventude já de mim se despediu! Agora, vejo os jovens do meu país, alguns incertos, inseguros, não nego, mas muitos deles, senão a maioria, agarrados ao sonho, ao fulgor com que querem escrever o futuro! Riem, choram, revoltam-se, interpelam, questionam, exigem, apontam! Eles são as sementes germinando na terra fecundada com o húmus das estrelas. Sei que eles não querem que o meu país volte a mergulhar na noite escura em que, por décadas, o enjaularam. Bem hajam os jovens do meu país, que lhe dão cores vivas e quentes. Com eles reaprendo o caminhar e a esperança!
Ultimamente mal frequentado!
Não, não, e não!
Que alegria me dá, quando saio à rua, cruzar-me com gente de outros povos, de uma cor de pele que pouco tem a ver com a que nasci, de sorrisos e risos diferentes, de trajares exóticos, dum jeito de estar que não é o meu, de prantos e orações desconhecidas, de certo linguajar que mente e fala verdade! Que, como a minha, rouba, esconde, e até mata! Que alegria me dá ver essa gente por cá, pelo meu país! Com ela aprendo outros pensares, outros sentires, nem todos me agradam, é certo, mas o que é verdade é que fico mais rico! Mal frequentado foi, de facto, o meu país, durante quase cinquenta anos, mas isso a História já guardou.
Perigos!? Por certo. Mas não foi viajando pelo perigo da aventura que a minha gente de então dobrou o Bojador e deu novos mundos ao mundo, lançando-lhe o fermento que o fez crescer? E não foi com as suas lágrimas que o mar se salgou e ficou como hoje o temos e dele gostamos? Venha, venha mais gente para o meu país! Quero vê-lo continuar a erguer-se por entre perigos e aventuras. Como diria Ulisses, se aqui estivesse, quero que o meu país não deixe de procurar as imperfeições perfeitas.
Prefiro o perigo, a viver só na noite obscura das mentes que erguem fronteiras, que matam a liberdade, que tolhem o pensamento, que calçam botas remendadas.
É certo que a fome e a miséria ainda cá estão, que os cuidados de saúde continuam por chegar a todos, que o desemprego está onde está, que o vendaval do desentendimento, que se abateu sobre a Educação, tarda em desaparecer. Que nos tabuleiros do xadrez da Justiça os reis avançam nus, as rainhas meio despidas, e os peões, esses ,vão ardendo e tombando como pedras de dominó.
É certo que à maioria dos políticos, no poder e na oposição, falta um olhar para ver e um ver para reparar, como diria Saramago. Deste estar certo nasce a tristeza, é verdade, mas brota, também, a esperança de que a tristeza deixará, um dia, de o ser. Assim saibamos afastar os profetas da desgraça, que enxameiam os media, e peroram, alguns, no Parlamento, regando a terra com sal e vinagre, matando a semente antes que dela brote o porvir. É gente de coração enrugado, de alma mirrada, de espírito tacanho, que se esconde atrás do medo e da inacção, gente de que não gosto. A gente do meu país, ressuscitado numa madrugada de Abril, não é assim. Aquela é invasora, vinda do passado.
Cinzento, o meu país!?
Não, não é. Passe o cinzentismo de alguns que se arvoram em pensadores e educadores das massas. A juventude já de mim se despediu! Agora, vejo os jovens do meu país, alguns incertos, inseguros, não nego, mas muitos deles, senão a maioria, agarrados ao sonho, ao fulgor com que querem escrever o futuro! Riem, choram, revoltam-se, interpelam, questionam, exigem, apontam! Eles são as sementes germinando na terra fecundada com o húmus das estrelas. Sei que eles não querem que o meu país volte a mergulhar na noite escura em que, por décadas, o enjaularam. Bem hajam os jovens do meu país, que lhe dão cores vivas e quentes. Com eles reaprendo o caminhar e a esperança!
Ultimamente mal frequentado!
Não, não, e não!
Que alegria me dá, quando saio à rua, cruzar-me com gente de outros povos, de uma cor de pele que pouco tem a ver com a que nasci, de sorrisos e risos diferentes, de trajares exóticos, dum jeito de estar que não é o meu, de prantos e orações desconhecidas, de certo linguajar que mente e fala verdade! Que, como a minha, rouba, esconde, e até mata! Que alegria me dá ver essa gente por cá, pelo meu país! Com ela aprendo outros pensares, outros sentires, nem todos me agradam, é certo, mas o que é verdade é que fico mais rico! Mal frequentado foi, de facto, o meu país, durante quase cinquenta anos, mas isso a História já guardou.
Perigos!? Por certo. Mas não foi viajando pelo perigo da aventura que a minha gente de então dobrou o Bojador e deu novos mundos ao mundo, lançando-lhe o fermento que o fez crescer? E não foi com as suas lágrimas que o mar se salgou e ficou como hoje o temos e dele gostamos? Venha, venha mais gente para o meu país! Quero vê-lo continuar a erguer-se por entre perigos e aventuras. Como diria Ulisses, se aqui estivesse, quero que o meu país não deixe de procurar as imperfeições perfeitas.
Prefiro o perigo, a viver só na noite obscura das mentes que erguem fronteiras, que matam a liberdade, que tolhem o pensamento, que calçam botas remendadas.
17 comentários:
Gostei do seu desabafo!
Acredito no futuro, num futuro "comandado" pelos jovens de hoje, possivelmente já cá não estarei, mas sei,sinto, que eles vão ter a sabedoria, a honestidade, a humildade e a coragem dos que num passado tornaram grande o meu país.
A geração que neste momento detém o poder é demasiado vaidosa, pouco humilde, muito ambiciosa e precipitada...
Os media (alguns) semeiam ventos e tempestades... e os que os lêem colhem-nos sem pensar, sem se interrogar,...
Cultiva-se o "coitadinho" ... e não se colhem os frutos maduros...
Bjis
Um belo texto, misto de realismo e de poesia romântica, com muito valor literário.
Admiro esta forma de expressar as ideias que tenho publicado no Do Miradouro, de forma mais simples com a esperança de serem compreendidas por pessoas menos eruditas. Mas, mesmo simples, não são lidas por muitos, infelizmente.
Procuro semear o optimismo e a esperança que agora aqui li, mas algumas vezes dou comigo a pensar que estou a ser utópico, como teme têm chamado. Mas continuo a lutar e a dar publicidade aos casos mais positivos que surgem nos ornais, utilizando-os como iscos a atrair outros para o estudo, a investigação o trabalho honesto e produtivo.
Caro Amigo, é nosso dever procurar legar aos vindouros um Portugal melhor que aquele que encontámos à chegada.
Parabéns por este texto tão valioso.
Um abraço
A. João Soares
Carlos vim visitar-em e foi um prazer ler-te.
Vi que temos vários amigos em comum,
estou te seguindo
grande abraço.
ÀS FLORES INTERROMPIDAS
Para o irmão
Ó Flor interrompida Flor da Vida
Salpicada do sangue multicores
Ouve atende esta súplica prece
Permeia de pacíficos odores
O campo onde se dá acirrada luta
Bruta inglória justa ou injusta
Na mente deste povo refloresce
O mesmo que impediu teu crescimento
Implanta aqui o teu renascimento
Tu que permaneceste germinante
A lâmina em ti não foi fulminante
Fora banhada na água de um amor
Abundante extenso e tão profundo
O maior amor que há nos vastos mundos
Que de tanto te amar e prantear
Murchou ao sol após a tua poda
Era rubra brilhante esplendorosa
A rosa cujo pranto generoso
Fecundou o chão árido rochoso
Agora honra tão honroso choro
Verte o mais amoroso e fértil pranto
Para que do solo irrompa com encanto
A Beleza esquecida e prometida
Às flores hoje ainda interrompidas"
rc
Porque sonhamos desejamos escrevemos um dia há-de ser
Beijos
Renata
maria teresa
De acordo com tudo o que escreveu no seu comentário.
bjs
A. João Soares
Grato pelas palavras ditas. No seu blog nada encontrei de utópico. Vi foi uma vontade de agarrar a esperança que parece perdida. Continue, meu amigo, prossiga com o seu Do Miradouro.
Um abraço
e com toda a razão Carlos !!!
mal frequentado esteve este País mais de 50 anos
e agora ... é preciso muito cuidado com esses discursos demagógicos fascistas e xenófabos
não esquecer que o Hitler foi eleito pelo povo
muito cuidado com tudo isso
a mim....assusta-me
bj
teresa
Quem dera que eu sentisse essa esperança. Pelo meu filho, pelos meus netos...
Um abraço
Tem toda arazão. Não é o país que é cinzento, são alguns seres que o dirigem que são cinzntos e é contra esse cinzentismo que temos de erguer a nossa voz. Se este país é cinzento, que dizer daquele antes de Abril?
Quem diz que o pa´s é cinzento, não deve saber o que foi antes. Mas talvez nem seja culpa de quem o afirma, mas sim dos cinzentões que tão pouco valor dão às circunstâncias que lhes permitiram chegar onde chegaram.
Concordo com vc...do que vale tudo sem os riscos e perigos? Aí está uma das grandes coisas da vida que muitos preferem privar-se do grande sabor de enfrentá-los e corre o risco de colher ótimos frutos...
Abraço,
Rafael
Carlos
É tudo verdade o que diz, também partilho dessa postura optimista, senão, como me levantaria todos os dias para trabalhar?
Mas na verdade, o que vejo, é pessoas muito tristes e cinzentas e isso faz-me pensar....
Beijinhos
Amigo Carlos, que texto maravilhoso escrevestes; um ode a liberdade, a igualdade e a fraternidade( se assim me permitem os franceses ,o plágio)na mistura de raças, credos, línguas, hábitos e pensares, que tanto enriquecem e contribuem culturalmente.
Faço minha tuas palavras, cá deste lado do Atlântico, onde também conhecemos a noite escura em que não podíamos pensar, amar, sentir e expressarmo-nos livremente...
Estamos, também, atentos aos sinais que "emanam" algumas almas, que como morcegos só se comprazem na escuridão! Grande abraço,
Nereida
Amigo Carlos.
Como partilhoessa esperança que aqui escreveu,sim porque eu ainda sou do tempo sem esperança,que vivia escondida do pensamento,e sentia o obscurantismo de um país amordaçado e cinzento! Isso sim,o era,hoje ainda sinto o cheiro da liberdade que alcançamos,emboara muita coisa esteja por fazer,acredito,mas muitos fazem para que assim seja.
Amigo beijinho e bem haja.
Lisa
Parabéns pelo texto.Sempre aprendo aqui. Liberdade é se expressar como deseja e ir e vir para onde quiseres. Sempre haverá o cinza,mas, tb sempre existirá as cores do arco-íris. A esperança não morre. O trabalho é de formiga,mas,com um monte delas juntas,se alimenta um formigueiro gigantesco. bjs amigo adorei!
Olá,
Há para aí uns senhores «iluminados», que têm a mania do choradinho, somos um país assim, somos um país assado...e pronto parece que nasceram para serem carpideiras. Poderemos não estar bem, mas de facto já estivemos muito piores o que é preciso é ter esperança que há uma varridela de gente inconveniente que é preciso ser feita, mas não é só no nosso país, é em muitos outros.
Caro Carlos, usando o lugar comum, «a esperança é a última coisa a morrer»!
Bjs,
Manuela
É uma alegria encontrar um texto tão positivo sobre Portugal, meu caro amigo.
Embora, eu não veja o nosso país com as cores tão radiosas como o Carlos o descreve; achei o seu artigo tremendamente bem escrito - um deleite em lê-lo. Parabéns!
Nossa amigo , teu país cinzento??
Dá onde isso ?? Teu país e lindo , de se ver , de se apreciar e certamente de se morar ...
problemas todas as nações do mundo enfrentam , não vê o Brasil lutando sempre contra a corrupção , a violência , o tráfico de drogas , a banalização da nudez , a prostituição infantil?/
Tantos problemas, tantas lutas , mas fazer o que né ??
Paraíso aqui na terra é impossível , que atire a primeira pedra a nação que se achar perfeita , pois a partir do momento em que ela achar-se perfeita já estará se condenando a imperfeição...
Adorei o seu desabafo e achei lindo tu dizeres que adora sair a rua e encontrar pessoas de etnias , culturas e crenças diferentes, eu também adoro o meu Brasil por causa disso , e creio que essa mistura é que torna os povos tão especiais ...
bjusssssssssssssss
Mwata,
Passei por aqui, li, meditei, e agora calo-me. Isto, por uma razão muito simples. Tenho medo que os jovens do meu país venham a herdar um fardo demasiado pesado, um fardo que não pediram, que não merecem. E é precisamente quando os vejo sorrir, optimistas, que mais me envergonho!
Abraço.
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