sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Palavras emprestadas

Tenho procurado por elas. Avaras, escondem-se. Umas, em terras e mares distantes deste mundo. Outras, num dongo vazio no fundo dum rio que deixou de correr. Vi algumas, mas quando as chamei mostraram-me uns olhos cansados. Fugindo ao encontro seguiram num caminhar tímido e arrastado, sem sequer um adeus, um sorriso que fosse. Dobraram a esquina, não olhando para trás. Então, porque sem palavras estou, peço emprestadas:

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
(Vinícius de Moraes)

Um bom fim-de-semana para todos.

11 comentários:

maria teresa disse...

Soube a quem se dirigir para fazer o empréstimo! E justificou ainda melhor a necessidade que teve em fazê-lo!
Abracinho

Rogério G.V. Pereira disse...

Nunca se envergonhe,
nem diminua
por usar uma palavra
que não seja sua.
Traga-me muitas assim
tão bem colocadas
Foram emprestadas?
O que é que tem?
Por mim até quero mais
Sobretudo se forem
do Vinícius,
do Vinícius de Moraes

(mas gosto bastante das suas...)

Laços e Rendas de Nós disse...

Julgo que não precisas de pedir palavras emprestadas.

Sei que há dias em que elas nos parecem poucas para o tanto que queremos dizer.

Mas elas estão dentro de nós, às vezes adormecidas. É só esperar que elas acordem.

Beijo

Mª João C.Martins disse...

Carlos
Meu amigo...

Quantas vezes, quantas, vimos as palavras, as nossas, fugirem de nós sem um único aceno ou um sorriso que seja. Esperamos por elas, serenamente... sabemos que voltaram, como uma surpresa, numa manhã de nevoeiro enlaçadas no perfume orvalhado das flores do nosso jardim, ou à noite, penduradas na lua. Sabemos que voltaram, porque elas sabem o bom uso que delas faremos .
As suas, Carlos, estão apenas a amadurecer nessa sua preciosa arca de afectos.
Das que pediu emprestadas a Vinícius, levo a profunda sabedoria que elas contêm.

Hoje, ao reparar de novo na barra lateral do seu blogue, fiquei mais uma vez comovida. O tanto que dizem os gestos, para além das palavras...

Obrigada meu querido amigo!!!
Bom fim de semana também para si.

Marcia M. disse...

por vezes a s palavras se vão...bjs querido!

Marilu disse...

Querido amigo, nosso poetinha Vinícius de Moraes, nos deixou um legado enorme de poemas e poesias. Lindo . Tenha um excelente final de semana. Beijocas

ematejoca disse...

O Carlos não precisa de pedir palavras emprestadas, tal como o Rogério, eu gosto imenso das suas.

Um poema do Vinícius de Moraes também sabe bem.

Um óptimo fim-de-semana!

Catsone disse...

Carlos, lembrar Vinícius é sempre "legal" ;)

Bom fds.

Penélope disse...

Sempre estamos procurando por palavras emprestadas e muitas vezes elas não vêm.
E, quando não nos são emprestadas são frutos de uma recriação na nossa historia e percepção de leituras...
Por tudo isso é que "sempre amei por palavras mais do que devia", como diz tal poetisa da tua TERRA Alice Vieira.
Vinícius foi nosso escritor que renovou... inovou a concepção de SONETOS na Língua Portuguesa do Brasil.

Mas não importa se as palavras nos são emprestadas. Importa sim as intenções que carregam.

Amigo, perdi seu comentário no meu blog.
Talvez por inabilidade de minha parte, pois perdi a postagem anterior que tinha feito e tive que refazê-la (rsrsrsrs)

Grande abraço e beijinhos e um bom fim de semana para ti também

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Entendo-o perfeitamente, meu amigo, porque faço o mesmo, inúmeras vezes... São tantas as vezes que recorro aos poetas de meu coração que até já perdi a conta.
Gosto muito deste poema de Vinícios.
Beijos e um bom final de semana para você também.

Neve disse...

Oi Carlos, tudo bem?
Uma boa escolha, Vinícius.
Obrigada por ser meu amigo constante. Não parei com o blog porque ainda existem pessoas como vc, que dão-me forças para sentir que nem tudo é inútil, e que o que publico nao sao apenas palavras ao vento.
Não sei se devo dizer, mas aqui na minha cidade não chove há meses e acabei de sair de uma quase pneumonia, pensei em comemorar e já recomeçou tudo de novo.Estou de cama há oito dias, pedindo a Deus que chova para limpar a poluição atmosférica e eu possa sarar.
Um abraço