quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A ver se me pasa a neura (II)


...E se posso continuar a sonhar…
 Hoje, vamos numa de culinária! Porquê a admiração!?
A obra chama-se PERCA-DO-NILO AO DENDÉM. Não basta o poder de criar. São necessários pontos de apoio. Aqui estão eles, para quatro pessoas:
Perca-do-Nilo: Quatro postas;
Camarões: Três, por cada posta de peixe, descascados sem se lhes tirar as cabeças;
Cebolas: Cortadas às rodelas finas, que garantam a cobertura do fundo de um tacho, em duas camadas sobrepostas. (De preferência chalotas. Na falta destas qualquer outra como, por exemplo, a cebola pêra);
Alho: Dois dentes descascados e esmagados;
Tomate bem maduro: Quatro, cortados aos pedaços;
Gengibre: Uma colher de sopa de gengibre fresco ralado;
Óleo de Palma: Uma lata pequena, para se utilizar apenas metade;
Azeite: Um fio;
Vinho branco seco: Um copo;
Leite de coco: Três colheres de sopa;
Sal e Gindungo caluqueta, como se diz na terra onde nasci, ou piripiri, como é hábito chamar-se-lhe por cá: Ao gosto e ao paladar de cada um.
NOTAS: A perca-do-nilo é um peixe de água doce originário da região da Etiópia por onde passa o Nilo Azul. De alto valor nutritivo e comercial é hoje a principal fonte de divisas da Tanzânia que, depois de com ela ter povoado o Lago Vitória, a exporta para os países da UE, incluindo Portugal. Por cá a encontramos, fresca ou congelada (de excelente qualidade). O óleo de palma é um azeite que se obtém da prensagem e centrifugação do dendê (ou dendém), fruto do dendenzeiro, ou Palmeira-Dendém. O mosto que fica, a que se chama moamba, é também aproveitado em culinária, sobretudo em África e no Brasil. Do caroço do dendê, ou coconote, extrai-se um óleo, que é saponificado e utilizado no fabrico de cosméticos. A perca-do-nilo, o gengibre fresco, o leite de coco e o óleo de palma compram-se em qualquer super ou hipermercado. As chalotas são mais difíceis de encontrar. Posto isto, mãos à obra.
Dendém
Cebola para dentro do tacho, mais o alho, o fio de azeite e um pouco de vinho a cobrir. Deixar ferver até que a cebola fique transparente, mas não aloure. Juntar o tomate e o gengibre, mexendo e deixando ferver mais um pouco. Adicionar o óleo de palma, refugando tudo, mexendo com colher de pau para que o tomate fique em pasta, engrosse e apure o caldo. Acrescentar o resto do vinho mantendo a fervura. Temperar de sal e Gindungo (dois bagos secos, ou mais, depende do picante que cada um quiser). Juntar o peixe e o leite de coco. Abanar o tacho. Se o peixe não ficar coberto pelo caldo, acrescentar água até tapar as postas, dando mais uma sacudidela ao tacho. Deixar cozer o peixe. Acertar o tempero de sal e Gindungo. Aqui chegados juntar os camarões, mantendo o preparo ao fogo por mais cinco minutos.  Está pronto! Para acompanhar: arroz branco, banana de assar, cortada às rodelas e frita, e farofa, sendo esta feita com farinha de mandioca (também conhecida como farinha de pau) torrada e moída em grão grosso, à venda em pacotes de um quilo. Juntar a porção de farinha que se queira com um preparado de vinagre de vinho branco, uma colher de chá de vinagre balsâmico, cebola muito picada e pimenta-caiena, até se obter uma mistura areada.
Gindungo Caluqueta
Para beber, não sendo muito exigente: Um branco seco do Douro, Planalto é uma escolha acertada, ou um da região de Azeitão, o Pegões que, não sendo seco, também vai bem. Bom apetite!
 

13 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Tenho em casa todos os ingredientes... Se calhar, amanhã vai.

Este seu saboroso prato não é "perigosamente" parecido à muqueca de peixe?

(não se admire com o meu novo rosto. o anterior foi deposto)

Luis disse...

Caro Amigo Carlos Albuquerque,
Gostei da receita e julgo que comendo o prato indicado também me passará a neura... o necessário é haver "euros" que permitam!
Um abraço Amigo e Solidário.

Laços e Rendas de Nós disse...

Carlos

Este post é '''pura''' maldade!!!

Como é que posso ficar indiferente ao aroma e ao paladar que conheço e que, imediatamente,me assaltaram? Como posso ficar indiferente se tu pormenorizaste tudo?

Pronto, de castigo, não vou comer nem um colherita de chá. Fico-me pela imaginação.

Bom fim de semana. O meu vai ser 'ogada' de todo...

Beijo

Já me não chegava não ter acesso ao petisco, também não consigo enviar o comentário.

Está tudo contra mim!!!

Caso haja comentários a duplicar, por favor elimina-os.

Beijo

BlueShell disse...

Não será difícil...e deve ser bom...

Prazer vir aqui.
BShell

BlueShell disse...

Ah...espero que a neura passe depressa!

folha seca disse...

Caro Carlos Albuquerque
Até na culinária o meu caro é bem dotado.
Acho que vou aproveitar a receita, mas substituo a Perca por outro peixe, talvez Corvina. Não é por nada, mas acho que a Perca é Canibal e come tudo, mesmo tudo e não deixa nada. (pior que um tal de Cherne).
Abraço

Carlos Albuquerque disse...

Rogério Pereira
A muqueca para ser muqueca leva não só óleo de palma, mas também moamba. É esta que lhe acentua a consistência cremosa.
Já tinha reparado no seu novo rosto, que encontrei numa visita feita ao seu blogue.

Carlos Albuquerque disse...

folha seca
Caro Rodrigo
A perca é canibal como quase todos os peixes, desde os pequenos guppys criados em aquários, em nossas casas,até ao pargo real, peixe de altíssima qualidade (acima da garoupa do Atlântico) e preço elevado.
Há uns anos, ainda em Angola, para além de outros peixes, criei guppys em aquários. Era uma dor de cabeça. São ovovivíparos. Mal as crias nasciam, se não as separasse de imediato para uma rede (maternidade de aquário) a progenitora comia-os, mesmo tendo alimentação ao dispor.
Pesquei pargos reais com 10 e 15 quilos de peso, também em Angola. Quando me faltava o isco rumava às águas baixas dos mangais do Mussulo e, com uma rede, apanhava crias de pargo (aquela era zona de reprodução)que serviam de isco vivo. Os pargos maiores ficavam no anzol seduzidos por se alimentarem das suas crias!
Quanto à corvina, confesso, não é peixe de cujo sabor goste. Talvez porque sempre que a comprei me tenha calhado exemplar capturado em águas salobras criadas pela entrada no mar da foz dos rios.
Abraço

São disse...

Oh, meu caro, por favor! Onde vai parar o meu regime?! rrss

Venho convidá-lo a ir lá a casa amanhã.

Serena noite para si,

Anónimo disse...

Vou guardar, Carlos. Gosto bastante de perca e ando a precisar de cozinhar coisas novas. Obrigado
Abraço e bom fds

Fê blue bird disse...

Meu amigo :)
Nada melhor para passar a neura do que cozinhar e comer :)
Não estava nada à espera de ver aqui uma receita e ainda por cima tão saborosa, já a copiei e prometo fazê-la, depois digo-lhe como me saí ;)

beijinhos

Laura disse...

Carlos, lá ando a encontrar-te e a perder-te, mas hoje ao ler o que deixaste na acácia rubra, não pude fazer de conta e cá estou.

Adoro esses pratos da nossa terra mas nem sei como não conheço a perca do Nilo, vou ver se encontro nos grandes supermercados...

Uso o óleo de dendê desde sempre, leite de coco, e piripiri, embora a mim nem me faça muito bem muito picante, mas o pessoal gosta.

Apertadinho kandando e beijinhos ao meu amigo lá dos Luanda...


laura

Teresa Santos disse...

Querido Mwata,

Não páras de me surpreender. Até cozinhar sabes?!...
E que belo deve ser o petisco! Vou imprimir a receita, posso?

Beijinho, bom fim-de-semana.