E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito dos rios fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar
(Chico Buarque)
Bom fim-de-semana
6 comentários:
A calma só se zanga quando o corpo se desalma...
Abr
J
....a CPLP
por isto que se canta,
por isto que se lê,
deve ser o nosso plano B.
Caro Carlos Albuquerque
A voz certa, para o poema certo, publicado no dia certo.
Abraço
Rodrigo
Com certeza! E como!
"E inundou de água doce
A amargura do mar "
Assim, jamais a calma se zanga!
Um beijinho, Carlos
Meu amigo estou à espera que a calma se zangue de vez!
À quanto tempo não ouvia esta belíssima canção.
beijinhos
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