quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Amigas e Amigos - Desejo-vos um BOM Natal

Natal



Branca roupa ao sol
Pirrulas na mulemba
cantam chuva.

Não há estrela-guia
sol-caju brilhando
pelos caminhos antigos
pés gretados batidos
vêm todos




…vovo Bartolomé enlanguescido
em carcomida cadeira acordado…
…sô Santo subindo a calçada
a mesma calçada que outrora descia…
…Zito e Dimingas
no maximbombo da linha 4…
…Mussunda amigo
com a firme vitória da sua alegria.

E vêm
vêm também
cheirando a suor
as buganvílias a den den
pedro monangamba
olhos abertos de amor
na mão o cetro
a pá de trabalhador
Pascoal
(Ué ainda é vivo velho Pascoal?!)
a vassoura de mateba
a farda caqui da Câmara Municipal.

De Calumbo
o sol do Cuanza
nos seios cajus
docinha manga
trouxe Jana

Vieram também
também vieram
algas verdes na garganta
os três magos da Ilha
- ngoma, reco-reco e violão!

Branca roupa ao sol
Pirrulas na mulemba
não havia luar
porque a noite já não era
estrela-guia
e do ventre da mãe negra
O menino nascia.

( Luandino Vieira – poeta angolano radicado em Portugal. Em 2006 recusou o Prémio Camões, com que fora galardoado, invocando “motivos íntimos e pessoais)

14 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...

Carlos

"
Vieram também
também vieram
algas verdes na garganta
os três magos da Ilha
- ngoma, reco-reco e violão!"

e vim eu a acácia rubra, que num cenário destes não podia deixar de me enquadrar.

e vim eu para te desejar um Natal feliz, cheio do quentinho de todos os que te são mais próximos.

Um beijo natalício

folha seca disse...

Caro Carlos Albuquerque
Alguem me rogou uma praga e fiquei sem o meu computador. Tenho andado a inventar, até que me entregaram Há pouco um "clone". Claro que não deixei de ver os seus ultimos posts.
Mas a este tinha que responder porque sei que embora só virtualmente me é tambem dirigido.
Tudo de bom para si e família no Natal e por aí fora.
Abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

O poema, belo (como não ser?) trás-me cores, sons, odores idos... Saudades? Não que só as tenho do futuro. Trás-me memórias e a certeza de que se fosse, o menino nascido, um menino negro, o Natal não seria de festa (embora pudesse ser o Salvador)nem chegaríamos a saber qual o nome do monte onde seria crucificado...

(Quanto às razões invocadas por Luandino, ambos sabemos que "um poeta é um fingidor"...)

Marilu disse...

Querido amigo,
É Natal...
Um momento doce e cheio de significado para toda a nossa vida...
É tempo de repensar valores,de ponderar sobre a vida, e tudo que nos cerca.
É o momento de deixar nascer essa criança pura, inocente e cheia de esperanças que mora dentro do nosso coração para termos um mundo com muito mais Amor e Paz!!!
Desejo a você e toda a sua família um Natal abençoado e cheio de alegria.
FELIZ NATAL!!!!!

Beijocas de luz e paz...

M. disse...

Tomo o poema como presente. E até como futuro:)

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo

Que o Natal traga todos os sorrisos...todos os sonhos...todas as emoções...que a plenitude do amor ilumine a vida com estrelas de esperança e nos faça acreditar num tempo de paz e prosperidade.
Desejo um Natal muito feliz...pleno de amor e paz junto de todos que amas.

Beijinhos com carinho
Sonhadora

Irene Alves disse...

Venho desejar-lhe um Feliz e
Santo Natal.
Bj.
Irene

Rosa Carioca disse...

Venho desejar-lhe momentos muito felizes na companhia da sua família.
(Não será isso o verdadeiro Natal?)

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Abraços fraternos, amigo de sempre.

"Sou uma árvore de Natal diferente

Um dia senti,
Que a terra ardia.
Pensei, ser eu
Que estava febril,
Delirante,
Ou tinha mesmo acordado
Atordoada,
De uma noite mal dormida.
O tempo era de Verão,
O vento que soprava
E a gente que passava.
Grande era o alarido
Que num instante
Virou clamor e fundiu o espanto
Em pranto de dor.
Não estava febril, afinal,
Nem mesmo mal acordada.
Tudo ardia em meu redor
Ao som de gemidos e estalidos
Em tom de sinfonia gritada,
E logo em cinzas eu via
A minha terra,
A minha gente,
O meu adro
E o meu terreiro…
Holocausto em nome de nada.
A dor foi passando
Como a água do ribeiro
Ao encontro da outra margem.
Do meu chão,
Erva verde, frágil e mansa
Foi crescendo,
Relembrando a cada instante
A minha solidão,
A negrura,
Que em tom de amargura
Se havia instalado
Em todo o canto de mim.
Sem ramos, nem folhas,
Sem filhos, nem amigos
Desistia da vida,
Mesmo,
Que o vento me açoitasse
E as lágrimas teimassem
Em saltar porta fora.
O tempo foi passando
Estirada naquele chão,
Espreitava o dia acontecer,
No desejo de me arrastar
Para além do mar.

Um dia,
Um outro dia…
O chão estremeceu.
Do céu, uma fresta de luz
Incandesceu,
E não sei mesmo
O que me aconteceu.
Senti mãos,
Escutei vozes,
E fiz viagem até esta paragem.
E aqui estou eu!
Nesta sala iluminada,
Neste sítio ajeitado no abraço,
Neste canto todo feito de ternura.
Continuo feia e queimada,
Ressequida e enquistada,
Não mo lembrem, …sei bem.
Mesmo sem ramos, nem folhas,
Mesmo tendo perdido o vigor
E a robustez doutros tempos,
Neste espaço tão mimado
E com laços brancos enfeitada,
Sinto-me noiva, amante
Deste tempo de Natal.
Saibam de mim!
Escutem a voz do meu coração,
Olhem bem em meu redor…
E mesmo que a noite seja fria
Não há maior alegria
Do que aquela
Que a minha alma canta.
De braços queimados,
E toda vestida de branco,
Oh gente de Campos,
Oh gente desta terra
Bem-haja!
Obrigada.

Natal de 2011
Poema de Maria José Areal"

Fê blue bird disse...

Meu amigo, um poema que infelizmente não tenho a capacidade de alcançar em todo o seu significado.
Mas a minha alma humilde de quem tenta escrever poesia, sentiu nele uma mensagem bem diferente e muito mais verdadeira .
Também lhe desejo um BOM NATAL na companhia aqueles que ama.

Beijinhos
Fernanda

Luis disse...

Caríssimo Amigo Carlos Albuquerque,
Poema lindo que me faz recordar as terras quentes de Angola... Aproveito para lhe desejar Feliz Natal e um 2012 o melhor possível.
Ultimamente pouco visitado mas não esquecido!
Um forte e amigo abraço.

Laços e Rendas de Nós disse...

Carlos

Deixaste-me esta frase

"“Natal também é lembrar”. É, sim. Também é lembrar que ele só será Natal quando não mais houver crianças a chorar por um colo..."

Venho dizer-te que a minha filha seria uma das que chorariam por um colo. Tinha três meses quando me foi entregue, após processo de adopção. É o bem mais precioso que eu tenho!

Obrigada pela tua amizade, outro bem que não quero deixar de ter.

BOM NATAL e um beijo

ematejoca disse...

Ignorante como sou, nunca tinha ouvido falar deste poeta angolano; do poema gostei.

Saudações Natalícias, meu caro Carlos, e um forte abraço da Alemanha, a minha segunda pátria!

Anónimo disse...

Caro Carlos
Um Natal muito feliz e que 2012 continue a trazer a esta cubata as belas histórias a que nos habituou.
Obrigado e um forte abraço