quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

in memoriam





Alves Redol
(1911-1969)
Nome grande da literatura portuguesa do século XX.





Chegam-se-me Gaibéus, Avieiros e Vindima de Sangue. E, também, Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos, um pequeno livro, uma obra pura e apaixonada. “Obra de pura devoção”, assim lhe chamou o próprio Alves Redol. De devoção pelos humildes, acrescento.
Constantino Cara-Linda é um jovem da região saloia do Freixial. Frequenta a escola, é inteligente, gosta de contar ninhos e anda pelo campo guardando vacas como quem guarda sonhos, transportando-os numa alma que ri.
“…Os animais precisam de verde, resmunga-lhe a avó. Constantino percebe o que ela quer dizer, mas entrega-se à fantasia de admitir que as vacas e as burras necessitam de comer cores, agora um bocado de verde e depois outro de amarelo ou de vermelho. E enquanto as desamarra da manjedoura, dá-se ao gosto de pensar como seria divertido levá-las a pastar no arco-íris, podendo cada uma delas escolher a cor que mais lhe apetecesse, ou misturá-las e fazer cores diferentes. Ele próprio deitar-se também sobre a faixa azul ou violeta, e depois rolar pelas outras, ficando pintado com as sete cores às manchas. E só quando o Outono chegasse, se elas fossem vivas como a folhas, vê-las mudar para amarelo e depois para castanho, até caírem de cima do seu corpo, que só então voltaria a ser igual ao de agora. O pior é que as burras poderiam dar cabo de tudo, se chegassem ao arco-da-velha e se espojassem a zurrar, como sempre fazem, mal encontram poeira no caminho para o monte, baralhando as sete cores…” (Pág. 87. Edição Europa-América, 1977)


[Nas fileiras da Oposição Democrática, do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e do PCP, Alves Redol bateu-se intensamente contra a ditadura do Estado Novo. Um dia disse ele: “Não é difícil entender-se o que escrevo e porque escrevo. E também para quem escrevo. Daí o apontarem-me como um escritor comprometido. Nunca o neguei; é verdade.”]
 

8 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...

Pois é, Carlos, "Gaibéus" um grande livro.
"Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos" é de leitura obrigatória. Uma maravilha pela capacidade de análise do mundo infantil.

Aqui há uns anos ainda iam aparecendo textos nos livros dos 7º anos. Agora não, o que é pena porque se perde a oportunidade de as gerações comunicarem entre si. Quando ainda apareciam textos desses, costumava pedir que falassem com os avós sobre o tempo deles, sobre o que viveram, sobre os seus sonhos.

Agora já nem as/os burras/os zurram ( falam inglês), já se não espojam nas ladeiras dos montes porque já só há tratores, que baralham tudo e a maquinaria é que dá status nos campos abandonados de gentes e de sonhos.

Como se diz aqui, "é mesmo um arco-da-velha!"

Beijo

São disse...

Alves Redol é um dos escritores que mais admiro e de quem li a obra toda, com excepção de dois outrês livros.

feliz 2012 para si e para os seus.

M. disse...

Não é dos meus preferidos...Mas li.

Teresa Santos disse...

Meu Mwata,

O pragmatismo embuído de sonho? Sim é possível!
Redol é disso a prova.

Bom ano meu Mwata.
Bom ano dizemos nós, bom ano desejamos nós, sabendo que...

Esqueçamos por uns dias, esqueçamos.

Abraço grande, muito grande, querido Mwata.

Anónimo disse...

Os Gaibéus é um livro apaixonate, Carlos
Abraço e feliz 2012

Laços e Rendas de Nós disse...

Carlos

Venho desejar que 2012 seja o Ano. Não mais um, mas aquele em que tenhamos a certeza de que a nossa voz se ouve, que as mãos se dão, que o marasmo e o pântano para onde nos atiraram nos vai dar a coragem de ressurgirmos.

Carinhosamente, um beijo

Anónimo disse...

Melhor 2012 que 2011.

::))::))

LUIZ

Fê blue bird disse...

Já passaram tantos anos, mas ainda me lembro da altura em que o li.
Até 2012 meu amigo !

beijinhos