Que hei-de fazer
a este tempo todo?
Andei por um sonho de roupas usadas. Nele me encontrei com gente esquisita, bruxas sem piaçaba, dragões apagados, cavaleiros apeados, virgens perdidas correndo pelo vale de um rio seco. No meio de uma mata a Bela e ele, dormindo ambos.
Aquilo era terra sem mar nem ar, nem Sol, nem chuva, e Lua não tinha. Não dava para sonhar, mas continuei.
Também por lá vi uma lâmpada, baça, de génio despejada. Caminhei por uma estrada, em que mais ninguém viajava. Ao fundo dei com uma gruta de portas escancaradas. Lá estavam, não quarenta, mas mais de mil, agarrados a tetas que, adormecidas, se deixavam sugar. Um deles, ser de olhos faulhentos e dentes saídos, intimou-me a sair.
Cá fora havia um coreto. Um maestro nu dirigia, de batuta na mão. Não vi quem tocava, apenas ouvi uma música lânguida e triste. Para lá do caramanchão pastava um rebanho de carneiros por sobre relva amarela. Na terra do lado, tingida de vermelho, espantalhos faziam que dançavam.
Saltei, então, do sonho.
Despertei com iras, tempestades e calmarias inventadas, a um tempo só!
Que hei-de fazer a este tempo todo?
Estou sem paciência para repousar o pensamento.
E vocês, que fariam?
Aquilo era terra sem mar nem ar, nem Sol, nem chuva, e Lua não tinha. Não dava para sonhar, mas continuei.
Também por lá vi uma lâmpada, baça, de génio despejada. Caminhei por uma estrada, em que mais ninguém viajava. Ao fundo dei com uma gruta de portas escancaradas. Lá estavam, não quarenta, mas mais de mil, agarrados a tetas que, adormecidas, se deixavam sugar. Um deles, ser de olhos faulhentos e dentes saídos, intimou-me a sair.
Cá fora havia um coreto. Um maestro nu dirigia, de batuta na mão. Não vi quem tocava, apenas ouvi uma música lânguida e triste. Para lá do caramanchão pastava um rebanho de carneiros por sobre relva amarela. Na terra do lado, tingida de vermelho, espantalhos faziam que dançavam.
Saltei, então, do sonho.
Despertei com iras, tempestades e calmarias inventadas, a um tempo só!
Que hei-de fazer a este tempo todo?
Estou sem paciência para repousar o pensamento.
E vocês, que fariam?
(Creio já o ter dito. O Viajante passou a viver nesta cubata com o Mwata e comigo. Julgo que este sonho o terá tido numa viagem que fez à terra dos lusitanos)
20 comentários:
O bom de se saber sonhar e de gostar dos sonhos é isto, meu amigo... poder viver e sentir de tudo.
Meus sonhos também são assim - com todas essas coisas lindas possíveis e impossíveis - que mesmo feias são belas porque damos a elas essa magia.
Beijinhos em ti
Carlos. Mas sonho é sonho,e nunca conseguimos saber bem o porquê de cada um,e porque sonhamos com tal coisa,eu penso que seja o cérebro a relaxar da magia diária que temos pela frente.
Beijinho Lisa
É incrível como "sente-se" um ritmo no texto. Não sei explicar... mas sinto-o.
Grande abraço.
Carlos
Sonhos muitas vezes nos leva a um mundo desconhecido e não sabemos como explicar, só nos resta viajar nas asas da imaginação.
Abração
Olá Carlos,
O tempo é terrível e eu gostava de acompanhar todos, mas hoje cheguei até aqui!...
Gosto muito de ler as suas prosas, esta muito surrealista e sempre com laivos poéticos.
Faz como os surrealistas, tem um sonho e logo de manhã se apressa a escrever?
Um grande abraço,
Manuela
Olá Carlos
Se há tempo e pouca paciência para repousar o pensamento, o melhor mesmo é sonhar, sonhar qualquer coisa, sonhar sempre. A realidade encontrará o seu momento para se voltar a impor.
Bjs
Gosto de sonhar. De ter aqueles sonhos que de manhã, ao acordar, me ajudam a luminar o dia. Cada vez sonho menos e por isso os dias se tonam mais cinzentos. Será da idade, ou da turbulência da minha vida nos últims tempos? Preciso de repousar para perceber.
Obrigada pela sua visita e carinho, amigo.
Estou melhor...
Os sonhos existem..as vezes ruins , as vezes maravilhosos.
As vezes é preciso sonhar para conquistar a realidade...
Corremos atra´s de nossos sonhos, não é mesmo?
Um grande carinho a vc.
Sandra
Amigo Carlos!
É simplesmente admirável a forma como escreve.
Fico deslumbrada como alguém pode descrever assim um sonho...mesmo que pareça mais um pesadelo.
O que é que eu faria??? talvez fosse beber um copo de água com mel a ver se acalmava.
Beijinho
Ná
hum... eu sinceramente, viajaria... rsrs se é que você me entende...
hehehe
xD
:-P
Olá, Carlos! Que maravilha encontro quando venho visitá-lo! Sonhos? Tenho cada um! Sonhos nos alimentam, bons ou ruins. O importante é tê-los, porque quem os tem, um dia há-de torná-los realidade. É preciso tê-los e sobretudo recordá-los. Só assim se faz e refaz o mundo. O mundo precisa de pessoas desta fibra, como você, querido amigo.
Ofereço-lhe este poema + Beijos + Felicidadess
Renata
*No silêncio dos olhos
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?*
José Saramago
Os Poemas Possíveis
Amigo Carlos.
Mais de mil, que agarrados as tetas,
que adormecidas, se deixavam sugar.
E eu que faria?
Não me deixava sugar mais.
um abraço,
José.
Eu, repousaria o pensamento. Mesmo.
Um beijinho.
Olá amigo, o que é que eu fazia?
Iria sonhar, mas acordada
Sonhos lindos de encantar
No tempo, eu, ficava parada
Para ti, a olhar extasiada
Contigo, ia aprender a amar.
Estamos a falar de sonhos não é? Beijos e bom fim de semana
Caro Carlos Albuquerque
O seu texto levou-me a acreditar que nada disso foi um sonho...
É como se você acordasse "na" sua própria realidade e refletisse por tudo o que passou e as pessoas que conheceu.
Imaginei cada pessoa nas suas metáforas e cada momento que passou representado por suas palavras muito bem escritas, mas subjetivas para quem não lê nas entrelinhas...
Essa é a vantagem de ser escritor, brinca com as palavras e consegue convencer o interlocutor que tudo não passou de um sonho...
Viajei nos meus pensamentos?
Ah! Também sou poeta!
Obrigada pela visita lá no meu cantinho poético.
Abraços,
Chris
Carlos
Um sonho perturbador, talvez um pesadelo... Creio que, ao acordar, talvez não conseguisse repousar meu pensamento, Penso até que levaria um certo tempo para recuperar minha paz, talvez ficasse buscando respostas para cada visão que o sonho me trouxera... Não sei... confesso que não sei o que faria.
Beijos e bom final de semana
Carlos
A meio do texto,também eu senti vontade de despertar desse sonho!
Sei, porque sei, que nem sempre conseguimos repousar o pensamento. Ou porque não temos paciência, ou porque simplesmente ele é tão irreverente e rebelde que nem a sonhar descansa!
Um abraço
Bom, a pior coisa que um viajante pode fazer é passar pela terra dos lusitanos...
Depois de um sonho assim, eu tomaria um banho, e depois assistiria um filme bem leve... um desenho animado bem engraçadinho.
Repouse sim, Carlos, repouse os pensamentos do Viajante, acalme-o com palavras só suas e deixe-o a sonhar melhor.
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