Estou de visita à rua da minha vida.
Seja o que for que outros nela tenham visto, dela guardava a imagem de um corpo a duas partes. Olho do fim da ladeira, que lhe dá início. Avisto a rua Ele. Não como a recordo. Está diferente.
Dos seus cabelos está a ir-se o negro. Passa-lhes trincha a branqueá-los. Rios correm-lhe pela testa, que se alonga por entradas cavadas. Pequenos ribeiros sulcam-lhe a face. As sobrancelhas encorparam, são agora negras e espessas, dois bosques de pinho bravo e rebelde, crescendo desordenados. Um caminho, ainda escuro, não caldeado pela poeira do tempo, cruza-lhe a barba. Como eram, os seus olhos permanecem grandes, largos, profundos, de brilho saltitante, sempre à procura do olhar cúmplice e companheiro. Os seus lábios movem-se num sorriso a querer chegar ao centro do Mundo. As palavras da sua voz ouço-as mais serenas, repousadas e aconchegantes. Falam do muito que ainda têm para dizer.
Subindo um pouco, é a rua Ela que vejo.
Envolve-a uma brisa elegante, por certo vinda da Primavera, ondulando-lhe o cabelo e o peito, estreitando-lhe a cintura, por ela descendo até pousar suavemente no chão, e por ele caminhar de passo curto e seguro. Os olhos lá cintilam vestidos de verde do mar e de azul do céu, o nariz de graça arrebitada. O riso de menina também. Traços do giz do tempo ajeitam-se-lhes nas maçãs do rosto, alindando-o. Reparo, agora, que a fala se lhe mudou, é mais tranquila, solta as palavras sem pressas, dando-lhes o sentido íntimo de vida a dois. Passa, serena, transportando, na concha das mãos, os afectos e desafectos, para a rega dos dias com que continua a construir a vida.
Dos seus cabelos está a ir-se o negro. Passa-lhes trincha a branqueá-los. Rios correm-lhe pela testa, que se alonga por entradas cavadas. Pequenos ribeiros sulcam-lhe a face. As sobrancelhas encorparam, são agora negras e espessas, dois bosques de pinho bravo e rebelde, crescendo desordenados. Um caminho, ainda escuro, não caldeado pela poeira do tempo, cruza-lhe a barba. Como eram, os seus olhos permanecem grandes, largos, profundos, de brilho saltitante, sempre à procura do olhar cúmplice e companheiro. Os seus lábios movem-se num sorriso a querer chegar ao centro do Mundo. As palavras da sua voz ouço-as mais serenas, repousadas e aconchegantes. Falam do muito que ainda têm para dizer.
Subindo um pouco, é a rua Ela que vejo.
Envolve-a uma brisa elegante, por certo vinda da Primavera, ondulando-lhe o cabelo e o peito, estreitando-lhe a cintura, por ela descendo até pousar suavemente no chão, e por ele caminhar de passo curto e seguro. Os olhos lá cintilam vestidos de verde do mar e de azul do céu, o nariz de graça arrebitada. O riso de menina também. Traços do giz do tempo ajeitam-se-lhes nas maçãs do rosto, alindando-o. Reparo, agora, que a fala se lhe mudou, é mais tranquila, solta as palavras sem pressas, dando-lhes o sentido íntimo de vida a dois. Passa, serena, transportando, na concha das mãos, os afectos e desafectos, para a rega dos dias com que continua a construir a vida.
Rompe a madrugada. Avisto, ao fundo da rua, Ela e Ele caminhando de braço no namoro.
É tempo de terminar a visita. Debruço-me sobre as pedras da calçada, bordejadas por musgo verde. Delas recebo duas flores que se me estendem. Regresso a casa com elas abraçando-me o coração.
(Texto para participação no tema Velhice da Fábrica de Letras)
20 comentários:
O giz do tempo é aquele que genuinamente melhor molda os contornos das faces suaves das ruas desta Vida!
Um doce envelhecer lado a lado, um caminho percorrido de mãos dadas e corações enlaçados... Um sonho que vai se realizando em cada pedra da rua que os acolhe e lhes serve de caminho...
Um lindo, lindo caminhar...
beijos
Carlos
É tão bom quando se visita a rua da nossa vida e se vê um caminho trilhado de mão dada. Que importa o giz branco qua vai deixando os seus riscos? O que importa é ser feliz!
Bjs
Que lindo desenho, que poética visita, que maravilhosa rua tão sabiamente trilhada!
Abençoadas mãos que tão bem sabem pintar o tempo da vida…
Que esta rua continue a ver passar os eternos namorados, coroados de flores esplendorosamente coloridas!
Abracinho
Puxa, me emocionei com a bela história poetica do envelhecer juntos,creio que é o sonho de todos nós que estamos longe de entender que o amor se constrói somando flor por flor aumentando o jardim e não subtraindo. Qto ao seu comentário no mendigo eremita, com certeza amigo, existe um dentro de nós, eu o observei por um ano todos os dias,já fazia parte da minha vida,claro que ele estava e está dentro de mim. Concordo com você.Montão de bjs e abraços
Nem todos têm a sabedoria necessária para trilhar os caminhos dessa rua.
um olhar maravilhoso!gostei!
sobre o post tens razão é mesmo trite,tal qual o é!bjs com carinho obrigada por fazer parte da estoria dos meus pensamentos!
Boa noite meu querido.
Te vi visitar uma amiga e fiquei curiosa.
Gostei muito do seu blog,ñ vou questionar a sua postagem pq ainda estou intrigada,mas prometo ler com mais cautela.
Uma linda noite.
Beijos
Passeando pela minha rua vi que tenho muita coisa para para consertar.
Um grande abraço
Gemária Sampaio
Lindíiiiiiiissimo, Carlos! Do mais bonito que tenho lido por aqui!!
Parabens!
Um beijo e bom fds
Graça
É sempre surpreendente quando "visitamos" as ruas da nossa vida, pois em todas elas encontramos moradas do nosso crescimento
Lindo, este texto cheio de afecto.
Um beijinho.
Muito bem. Gosto da forma como está escrito, num estilo não muito habiutal, mas que tem ritmo e dá gosto ler.
Boa tarde.
As maças do meu rosto corou rs.
Obrigado pelo carinho.
Beijos.
Carlos
Como sempre, a serenidade a marcar presença nos seus textos. Uma doce e serena harmonia, de quem tem ainda muitas palavras cheias de sageza para dizer...
Que longas e tranquilas caminhadas continuem a ser feitas, de braço dado de namoro. Ele e Ela e todo o jardim que a vida lhes continuar a oferecer.
Um beijinho
Bonito, xará. Me fez lembrar minha "Rua Vital Brasil".
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Tem uma brincadeira pra você no meu blog. Mas é livre caso não queira participar
Carlos, é com grande agrado que leio os teus textos, sempre tão expressivos e detalhados.
Abraço
Carlos
Quase que me encontrei na rua de Ele e Ela... quase que lhes toquei... quase que beijei as maçãs do rosto dela... quase que me perdi nos bosque de pinho bravo e rebelde. Um passeio deveras agradável.
Parabéns!
Beijinho**
Ps: vi o seu comentário em "os meus óculos do mundo", sobre as pipocas no cinema... pois... a triste verdade é que sou mesmo viciadinha de todo!O_o
Boa noite.
Não sei o que está acontecendo com o meu blog. Ele excluiu as pessoas e não estou conseguindo incluir, está dizendo que você bloqueou a minha entrada. Pela manhã quando eu fui postar, entrou uma mensagem dizendo que o meu blog havia sido excluído. Só quase na hora do almoço ele voltou ao normal. Pensei que fosse algum tipo de manutenção, mas agora uma amiga blogueira me mandou uma mensagem se dizendo aborrecida poir tê-la excluída e eu nem sei como fazer isso. O pior é que aqui está acontecendo a mesma coisa, não consigo adicionar você. Se souber como resolver isso, por favor me avise. Pois não tenho idéia do que pode estar acontecendo e nem onde me reportar para tentar solucionar.
http://www.silnunesprof.blogspot.com
FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER...
Quando eu tento adicionar você, diz a mensagem que o proprietário bloqueou o meu login. Não entendi nada. Será que fiz alguma coisa que aborreceu? Se fiz, por favor me desculpe.
E eu que sou meio atolada para lidar com certas coisas, nem sei o que fazer para resolver isso. Tive de entrar com outra identidade de e-mail. O que será que está acontecendo ?
Silvana Nunes
Um Ele e Ela bem desenhado que me fascinou e me deixou a sonhar com uma velhice que caminha de braço dado.
Maravilhoso
Beijinhos
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