sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Do Mwata

NÃO
O descontentamento, a revolta e a indignação são uma constante no quotidiano dos portugueses. Hoje, para subsistirmos, tornamo-nos subservientes da Europa dos poderosos e dos mercados. Impõem-nos leis, políticas e até o OE.
Se o hoje continuar como está, que amanhã teremos?
Há culpas portuguesas? Por certo que sim. A incompetência e a incapacidade da classe política que, de há décadas, tem estado à frente dos destinos do país são por demais evidentes para que possam ser negadas. Incompetência e incapacidade para se opor e controlar os abusos do poder económico e financeiro dos poderosos e dos sacrossantos mercados. Basta recordar, por exemplo, a destruição do aparelho produtivo das pescas e da agricultura que nos foi imposta, a troco de uns tostões, no tempo em que o actual PR era Primeiro-Ministro.
Culpas também nos pesam pelo medo, apatia e resignação do povo que somos.
E não só. Sobre nós pende o anátema da mesquinhez, da inveja, da insinuação, dos pequenos ódios. Dos especialistas do mal-dizer. Do regabofe do consumismo que nos cega. Da sedução pela corrupção. Queremos, creio, ser um povo de corpo inteiro. Mas querer ser não pode ser deixarmo-nos ir como um rebanho. Queremos ter o direito à opinião. Tenhamo-lo, sem nos aquartelarmos na exiguidade da indiferença, sem pensarmos que a dignidade se conquista com a renúncia à participação.
Há dias, no debate parlamentar sobre o OE, a deputada Manuela Ferreira Leite (ex-líder do PSD) defendeu a necessidade de “acalmar” os tais mercados que, na sua opinião, não devem ser atiçados já que, acrescentou, “quem manda é quem paga”! Virando-se para o Governo e para os deputados do partido que o apoia (o PS) prescreveu a terapia: “Finjam, finjam que estamos todos muito amigos”!
Quando o maior partido da Oposição, amanhã eventualmente no poder, entende que o grande milongo para os nossos males é o fingimento, o que nos resta? Dizer que não, certamente! Basta de hipocrisia!
As duas centrais sindicais (CGTP e UGT) marcaram uma greve geral para o próximo dia 24. Paralisar o país para dar um abanão nos políticos, despertando-os para a realidade, forçando-os a corrigir erros, é o objectivo. A esmagadora maioria dos portugueses parece estar de acordo com a greve, embora apenas uma minoria nela esteja disposta a participar, talvez por receio de represálias, ou, tão só, por mera fuga à responsabilidade de cada um, aquele permanente encolher de ombros, aguardando que outros façam por nós o que a cada um de nós cabe. O manifesto da indignação pode não ser gratuito, mas o não só será efectivo se colectivo for.


8 comentários:

São disse...

Já escrevi sobre esta capacidade impressionate de Cavaco se colocar à margem como se não estivesse em actividade política há mais de trinta anos e , para cúmulo, exrcendo altos cargos públicos!!

Também me imoressiono com Ferreira Leite...não foi ela ministra das Finanças e Educação?

E o povo português apara esstes jogos?!

Enfim...


Tudo de bom

rosa-branca disse...

É amigo Carlos, os portugueses têm as costas largas, o estomago estreito e a carteira pequena. Não consigo entender esta situação, que cada vez está pior. Beijo com carinho

Carla Farinazzi disse...

Carlos,

Fica fácil reclamar sentado em uma cadeira, sem agir nem reagir. E se deixar seduzir pela corrupção, é tão fácil. O povo gosta disso. Chafurdar na lama das benesses ilícitas, desde que se tire uma vantagenzinha qualquer.

Beijo

Carla

Anónimo disse...

Os portugueses?! Somos nós os portugueses! Nós é que escolhemos "aquelas pessoas para governar" Portugal, nós é que... eu nem sei, não percebo muito... Nós temos mudar a situação pois se nos deixarmos comandar por "aquelas pessoas do governo" estamos feitos! Mas como? Também não sei como podemos nós mudar "isto"!

Marilu disse...

Querido amigo, aqui no Brasil estamos com o mesmo problema, e vai piorar muito depois dessa última eleição, continua um governo de corrupção absoluta. Ai de nós....Tenha uma linda semana. Beijocas

Carla Farinazzi disse...

Carlos,

Voltei só pra dizer que "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

Sendo assim, há um selo do Prêmio Dardos pra você em meu blog.

Com carinho.

Carla

Mª João C.Martins disse...

Carlos

Estou em todas as palavras, solidária com o seu pensamento.
A minha revolta cresce, dia a dia, na mesma proporção da indignação e do sentimento de injustiça.
Sou, portanto, pela manifestação colectiva deste estado de espírito e desta indignação, pois quanto maiores forem os gritos mais elevados e fortes os seus ecos.
O que não sei, no momento presente, é se esta manifestação deva ser feita debaixo de um protesto de greve efectiva ao trabalho. Porque independentemente das responsabilidades e culpas, o certo é que o país está em falência económica e, nesta conjectura, não me parece que seja essa a melhor forma de nos pronunciarmos enquanto cidadãos de um país que amamos tanto, apesar de tudo.
Porque não uma mega manifestação em todo o país, a um sábado ou domingo, onde as pessoas de cada freguesia, cada cidade, cada concelho, viessem para a rua gritar o quanto estão tristes, insatisfeitas e revoltadas com tudo o que lhes foi e será sonegado?

Um beijinho

Brown Eyes disse...

arlos concordo com esta tua frase: Culpas também nos pesam pelo medo, apatia e resignação do povo que somos.
E não só. Sobre nós pende o anátema da mesquinhez, da inveja, da insinuação, dos pequenos ódios. Dos especialistas do mal-dizer. Do regabofe do consumismo que nos cega. Da sedução pela corrupção.
Nós nunca fomos um povo de lutadores, dizem que somos de brandos costumes, eu acho que somos é egoístas, não queremos queimarmo-nos, se alguém tiver que ser que seja o vizinho. Represálias nunca, perder o pouco que temos para lutar por algop? Nem pensar. Por isto, porque somos medricas (somos entre virgulas que felizmente não nasci aqui e de portuguesa nada tenho)porque só queremos os beneficios, os bónus, não iremos lutar por mal que estejamos. Eu vou fazer greve, vou sabendo que vou receber represálias no emprego, preciso de dinheiro e de emprego tanto ou mais que os outros mas entendo e sempre entendi que se não lutarmos nada temos e que tudo o que temos devemos a outros lutadores, que se quero deixar uma país onde os trabalhadores, onde os seres humanos são considerados como humanos tenho que lutar ou não? Soframos as consequências que sofrermos. Mas, assim penso eu que tive uma vida de luta que nunca escolhi o fácil que cresci a sonhar com a união das pessoas, que sofro ao ver como o poder trata os pequeninos. Enfim... lá estarei dia 24. Beijinhos