Há poetas onde me encontro. Fernando Pessoa é deles o maior. Porquê? Se as palavras perguntam, também respondem. Talvez porque como a de Bernardo Soares, a sua leitura me desassossegue.
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.
(Fernando Pessoa, “Novas Poesias Inéditas”. Lisboa, Ática, 4ª ed. 1993).
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.
(Fernando Pessoa, “Novas Poesias Inéditas”. Lisboa, Ática, 4ª ed. 1993).
Como na poesia há prosas únicas. Proponho-vos, a seguir, a leitura do que sobre Fernando Pessoa escreveu José Saramago:
“Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, como se fosse a primeira vez. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um Camões muito maior que o antigo, mas, sendo uma pessoa conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio. Afinal, um super-Camões não vai além de ser um Camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca visto antes em Portugal. Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa.(…)”
“Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, como se fosse a primeira vez. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um Camões muito maior que o antigo, mas, sendo uma pessoa conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio. Afinal, um super-Camões não vai além de ser um Camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca visto antes em Portugal. Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa.(…)”
Aqui podem continuar a ler.
Um abraço para todos e bom fim-de-semana.
Um abraço para todos e bom fim-de-semana.
15 comentários:
E é com esse desassossego, que até nos dá um certo comprazimento, que nos encontramos /situamos na escrita deles.
Beijo
Versos de Pessoa, texto de Saramago falando sobre Pessoa, e fez-se preciosa esta sua postagem, meu amigo.
Beijos e um ótimo final de semana para você.
Que contributo precioso
para meu uso...
É que lendo os melhores, melhoro. Não sei se tal é importante, de qualquer forma agradeço-lhe este prazer
lê~lo, ler Pessoa, Saramago
e sentir-me crescer...
Querido amigo, lindo texto. Tenha um excelente final de semana. Beijocas
Pessoa, Saramago, uma dupla explosiva!
Uma postagem que me deixou preparado para o vazio da semana que se adivinha: Nato, Anti-Nato, orçamento, anti-orçamento, anti-cultura, anti-cultura...
Parabéns por falar do que interessa!
Tenha uma boa semana!
Abraço,
António
Abraço,
Carlos, andas sempre bem acompanhado!
Bom fds.
Gosto muito de ler Fernando Pessoa. Quanto a Saramago... confesso que estou a "aprender a gostar" através de si, dos seus posts. Obrigada e boa semana.
E já agora, peço uma sugestão.
Entre "A Jangada de Pedra" e "O Memorial do Convento", qual devo ler primeiro?
Rosa Carioca,
Ainda bem que assim é!
Sugiro-lhe o Memorial do Convento, onde se encontrará com Belimunda.
Boa semana
CARLOS: Para mim, Pessoa é o maior...Os seus OXIMORONS(antíteses do ABSURDO) são a VIDA , NAS suas realidades mais cruas: "só estou bem onde não estou..."
Seria salutar a tanta gente que por aí anda, sem saber para onde vai...ler , ao menos, "O livro do desassossego"....
BEIJINHOS, AMIGO
Mª ELISA
Belo e extraordinário texto em que se presta homenagem a duas figuras maiores das letras Portuguesas.
Manuel Aldeias
Obrigada pelo conselho e vou segui--lo.
Meu Bom Amigo Carlos Albuquerque,
Belo Post que homenageia dois grandes escritores. De pessoa e seus heterónimos sou fã e tenho tido a felicidade e a oportunidade de seguir a sua obra pois sou grande amigo de um seu sobrinho-neto que tem procurado fazer aparecer obras dele que estavam no esquecimento.
Bem Haja por este seu post. Um forte e amigo abraço.
Ah, Carlos, assim como você, estou sempre me encantando com poetas imortais, bebendo na poesia dele, e tentando delirar na minha própria poesia.
Tu neste post, me oferecestes uma taça com deliciosa poesia do essa e do Saramago, obrigada...
Que seja linda tua semana :)
Ah, Carlos, assim como você, estou sempre me encantando com poetas imortais, bebendo na poesia dele, e tentando delirar na minha própria poesia.
Tu neste post, me oferecestes uma taça com deliciosa poesia do essa e do Saramago, obrigada...
Que seja linda tua semana :)
Não conhecia...
Adorei. Obrigada.
Um beijinho.
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