Em Luanda, na madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de angolanos armados com catanas e varapaus, atacou a Casa de Reclusão Militar e a Cadeia Civil, iniciando a insurreição contra o regime colonial português. Vesga e incapaz de entender que a História iniciara, de há muito, de forma imparável, a escrita do livro das independências dos povos, a ditadura salazarista respondeu “rapidamente e em força”, alimentando pela força das armas, e não pela da razão, uma guerra de 14 anos. Durante anos Salazar instilou a mentira: em Angola não se travava uma guerra, mas o combate a um grupo de terroristas que punha em causa a nação lusíada.
A 11 de Novembro de 1975 os três movimentos de libertação (MPLA,UNITA e FNLA) proclamaram a independência de Angola, embora em cidades diferentes: Luanda, Huambo (antiga Nova Lisboa) e Ambriz, respectivamente. Só a do MPLA foi reconhecida e aceite pela Comunidade Internacional, incluindo a Organização de Unidade Africana. O Brasil, no tempo do presidente Ernesto Geisel, foi o primeiro país a fazê-lo. Portugal só tardiamente o fez.
Muito se tem dito e escrito sobre a guerra colonial, e, igualmente, sobre as guerras civis que se lhe seguiram, alimentadas pelos dois senhores do mundo de então: Estados Unidos e União Soviética. Eu próprio publiquei um livro em 2002: Angola – A Cultura do Medo. Não venho, por agora, nada acrescentar. Angola é hoje um país independente, em paz desde 2002. É certo que o caminho seguido não tem sido o desejado pela “Nação Crioula do MPLA”: Uma Democracia Plena com respeito pelos direitos humanos, activista contra a corrupção, reconhecimento e harmonia inter-racial, respeito pelas minorias; um verdadeiro Estado de Direito. Estou convicto, contudo, que os angolanos lá chegarão.
Hoje, ao recordar a data, passei pelos meus arquivos. Peguei num livro. Tem como título “ A Última Grande Oportunidade Para a Paz em Angola”. Foi escrito em Maio de 1999 (depois de mais um acordo de paz entre o Governo de Angola e a UNITA), pelo embaixador norte-americano Paul Hare que conheci pessoalmente, e foi representante especial dos Estados Unidos no processo de paz em Angola, entre 1993 e 1998.
Diz o embaixador, a abrir o seu livro:
«Os angolanos contam habitualmente a seguinte história do seu país: no princípio, quando Deus criou o mundo, ofereceu a Angola as partes melhores, mais belas e mais ricas, e o resto do mundo ficou a lamentar-se. Mas a história da criação de Deus continua. De acordo com os angolanos, Deus lançou uma maldição sobre Angola: a de que esta Terra Prometida nunca passaria de uma ficção. A razão para esta infelicidade é o mau carácter do povo angolano que, de forma figurativa, Deus terá retirado do fundo do barril e condenado à miséria e a disputas constantes».
Conheço bem os angolanos. Sei que, como nós, são pródigos em ironizar sobre si próprios. Aquela facécia, porém, nunca a escutara nem lera. Surpreende que um diplomata tenha aceite, que no princípio Deus andou por aí, de cajado empunhado, em trabalhos de criação, fazendo umas terras, abençoando-as, mas amaldiçoando-lhes os povos que por lá deixava. Outras, erguendo-as, para logo de seguida as anatematizar, enquanto lhes santificava as gentes, numa espécie de carambola divina.
O que dirá o Sr. Hare, se um dia escrever um livro sobre o seu país?
A 11 de Novembro de 1975 os três movimentos de libertação (MPLA,UNITA e FNLA) proclamaram a independência de Angola, embora em cidades diferentes: Luanda, Huambo (antiga Nova Lisboa) e Ambriz, respectivamente. Só a do MPLA foi reconhecida e aceite pela Comunidade Internacional, incluindo a Organização de Unidade Africana. O Brasil, no tempo do presidente Ernesto Geisel, foi o primeiro país a fazê-lo. Portugal só tardiamente o fez.
Muito se tem dito e escrito sobre a guerra colonial, e, igualmente, sobre as guerras civis que se lhe seguiram, alimentadas pelos dois senhores do mundo de então: Estados Unidos e União Soviética. Eu próprio publiquei um livro em 2002: Angola – A Cultura do Medo. Não venho, por agora, nada acrescentar. Angola é hoje um país independente, em paz desde 2002. É certo que o caminho seguido não tem sido o desejado pela “Nação Crioula do MPLA”: Uma Democracia Plena com respeito pelos direitos humanos, activista contra a corrupção, reconhecimento e harmonia inter-racial, respeito pelas minorias; um verdadeiro Estado de Direito. Estou convicto, contudo, que os angolanos lá chegarão.
Hoje, ao recordar a data, passei pelos meus arquivos. Peguei num livro. Tem como título “ A Última Grande Oportunidade Para a Paz em Angola”. Foi escrito em Maio de 1999 (depois de mais um acordo de paz entre o Governo de Angola e a UNITA), pelo embaixador norte-americano Paul Hare que conheci pessoalmente, e foi representante especial dos Estados Unidos no processo de paz em Angola, entre 1993 e 1998.
Diz o embaixador, a abrir o seu livro:
«Os angolanos contam habitualmente a seguinte história do seu país: no princípio, quando Deus criou o mundo, ofereceu a Angola as partes melhores, mais belas e mais ricas, e o resto do mundo ficou a lamentar-se. Mas a história da criação de Deus continua. De acordo com os angolanos, Deus lançou uma maldição sobre Angola: a de que esta Terra Prometida nunca passaria de uma ficção. A razão para esta infelicidade é o mau carácter do povo angolano que, de forma figurativa, Deus terá retirado do fundo do barril e condenado à miséria e a disputas constantes».
Conheço bem os angolanos. Sei que, como nós, são pródigos em ironizar sobre si próprios. Aquela facécia, porém, nunca a escutara nem lera. Surpreende que um diplomata tenha aceite, que no princípio Deus andou por aí, de cajado empunhado, em trabalhos de criação, fazendo umas terras, abençoando-as, mas amaldiçoando-lhes os povos que por lá deixava. Outras, erguendo-as, para logo de seguida as anatematizar, enquanto lhes santificava as gentes, numa espécie de carambola divina.
O que dirá o Sr. Hare, se um dia escrever um livro sobre o seu país?
6 comentários:
Seus textos são ótimos!
É muito bom conhecer estas histórias!!
Bom fim de semana!
Beta
Querido amigo, seus textos sempre nos trazem de volta a história que a maioria de nós desconhece. Tenha um lindo final de semana. Beijocas
Amigo Carlos:
Os norte-americanos têm uma maneira muito particular de se referirem aos outros povos, acham que não procuram compreendê-los mas sim submetê-los.
Um texto excelente e cheio de sabedoria.
Também desejo o melhor para o povo angolano.
Beijinhos e bom fim de semana
Lentamente, o povo angolano vai construindo o seu futuro de uma forma promissora. Pelo menos são esses os relatos que me fazem amigos que para lá foram trabalhar nos últimos anos.
Abraço
Caro Carlos Albuquerque, li primeiro o post seguinte. Repito aqui o que lá comentei é uma agradável novidade sabe-lo autor (suspeitava). Quanto ao futuro de Angola sou da opinião do CBO, mas as coisas vão andar muito lentas...
Abraço
Tens toda a razão. Para quem não conhece o povo pode ficar com uma noção errada dela. Merecia que lhe pagassem da mesma moeda, claro que sim.
Excelente, como sempre. Beijinhos
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