A primeira vez que ouvi o fado que hoje vos trago, foi há muitos anos atrás. Cantarolava-o, baixinho, um colega meu. Andávamos ambos em reportagem de guerra, nas matas de Sandongo no Leste de Angola, acompanhando um grupo de guerrilheiros que combatia o governo de Luanda. Um jornalista, em reportagem de guerra numa mata perdida em terras longínquas, ignorada do mundo, onde de manhã à noite se ouviam tiros e explosões, que nos obrigavam a um constante atirar para o chão, a cantar o fado?! Pois é verdade! Como verdade foi que gostei de ouvir a sua voz roufenha, eu que, confesso, não sou grande apreciador de fado. Porque quis saber, disse-me ele que cantava aquele fado por o ter como uma homenagem à mulher! Como eu, o meu colega era, e é, um romântico dado à poesia e ao belo da vida.
Não me perguntem porque vos falo hoje disto. Foi um fragmento das minhas recordações que me visitou. E quando as memórias chegam, não há nada a fazer, apoderam-se de nós!
Pergunta tenho eu para vos fazer: também acham que este fado é uma homenagem à mulher? Não sejam frugais no alimentar do pensamento. Respondam, por favor.
Um abraço e desejos de bom fim-de-semana.
Não me perguntem porque vos falo hoje disto. Foi um fragmento das minhas recordações que me visitou. E quando as memórias chegam, não há nada a fazer, apoderam-se de nós!
Pergunta tenho eu para vos fazer: também acham que este fado é uma homenagem à mulher? Não sejam frugais no alimentar do pensamento. Respondam, por favor.
Um abraço e desejos de bom fim-de-semana.
Não Venhas Tarde
Voz: Carlos Ramos
Composição: Anibal Nazaré e João Nobre
“não venhas tarde!”,
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, baixinho
“não venhas tarde!”,
E eu peço a deus que no fim
Teu coração ainda guarde
Um pouco de amor por mim.
Tu sabes bem
Que eu vou p’ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer,
Tu estás sentindo
Que te minto e sou cobarde,
Mas sabes dizer, sorrindo,
“meu amor, não venhas tarde!”
“não venhas tarde!”,
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde
Na fogueira do ciúme.
“não venhas tarde!”,
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela
Tu sabes bem
Sem alegria,
Eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia,
“meu amor, não venhas cedo!”
Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E seja tarde demais!
11 comentários:
Se é uma homenagem à mulher não sei! Mas é um fado bem meu conhecido...um fado que já ouvi cantar por outras vozes e trautear por outras tantas. Eu também o trauteei enquanto o "re-ouvia"...
Abracinho
Se há uma homenagem é à paciência e à pouca capacidade de dizer "não" que aquela mulher revela.
Outros tempos, outros amores, outro enfrentar de situação. Fosse agora e, de certeza, o receio demonstrado de ser tarde demais já se teria revelado.
Mas foi um grande fado e fez correr muita lágrima.
Bom fim de semana.
Beijo
Querido amigo, adoro fado..Tenha um lindo final de semana...Beijocas
Oi Carlos
Adorei seu post, o fado é uma música que me trás muita nostalgia, mas que eu adoro.
Um abraço
Pois há muitos anos atrás este fado estava na berra.
Homenagem à mulher? Vou tentar dar a minha interpretação:Este fado será do fim dos anos 50.Poucas mulheres se atreviam a entrar num divórcio e serem independentes, nestes casos a única coisa a fazer era usar a inteligência, não fazer alarde e fingir que não se sabia o que se passava. Havia a imagem, os filhos, a família e depois dizia-se que ao homem tudo era permitido.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.Tout court.
Um abraço
Maria Lx.
2010/08/07
Olá, Carlos. Não sei a época em que a música foi feita, mas sem dúvida faz parte de um passado que não queremos de volta. Esse homem do fado é um machista, egoísta, e, segundo ele mesmo, covarde e mentiroso! ora meu Deus, quem no mundo quer amar um covarde e mentiroso?
Essa letra nao é uma homenagem à mulher, mas um desejo do autor de que a situação da época,vivida por tantas coitadas, perdurasse para sempre.
Graças a Deus que essa atitude faz parte do passado. Além de tudo, ele confessa que faz tudo que a outra quer, que ele nao resiste à outra, mas que, assim mesmo, ele nao quer que a sofredora se refaça, acorde dessa doença e diga um basta!
Que letra terrível, e que terrível era a vida, para tantas mulheres que viveram essa situação!!
Conheço muito pouco de fados, mas tenho gostado muito.E este é especialmente lindo :o)
Obrigada por compartilhá-lo.
Obrigado aos que aqui têm vindo, deixando as palavras amáveis dos seus comentários sobre um tema - o fado - que me pareceu árido.
Se me permitem, deixo uma palavra especial à Turmalina por ser a primeira vez que a encontro no meu blog.
Obrigado Turmalina, é muito bem-vinda.
Volte. Terei muito gosto em recebê-la.
Só bastante tarde comecei a gostar de fado mas, estranhamente, mesmo antes de gostar de Fado, cantarolava este muitas vezes.
Decididamente, não acho que seja uma homenagem à mulher. Bem pelo contrário...
Então porque o cantarolava tantas vezes? Gostaria de encontrar uma explicação racional, mas não consigo
PS: Falta no meu curriculum a reportagem de guerra. Nunca tive oportunidade de a fazer e agora já é tarde, mas tenho pena de não ter passado por essa experiência
Todos
Quase todos
Acordamos para o Fado, já em idade "madura"...
Mas respondendo à pergunta "também acham que este fado é uma homenagem à mulher?" respondo que me parece, hoje, ser a memória de uma relação que tende a deixar de inspirar estes sentimentos (de espera, de ciùme, de abandono...)
PS - Publiquei a minha primeira homilia, onde o Carlos aparece como apostolo... (8. Agosto)
Caro Carlos;
Não à mulher mas provávelmente à Santa Paciência que elas tinham...
Nos dias de hoje, a vida que o Fado relata, já teria dado em divórcio... mas aí, já é assunto para outros fados.
Um abraço, Carlos.
Osvaldo
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