Alguém lhe disse ter ela sido podada há pouco. Intoleráveis e intolerantes, os homens despojaram-na da liberdade de crescer como queria.
Já no carro, voltou a olhar para ela, juntando à certeza de que a terra grita, uma outra: as árvores choram.
Mas, ao contrário dos homens, dos de outrora, dos de agora, e, por certo, dos próximos, que insistirão em caminhar por passos velhos, o choro das árvores não verte nem o ódio, nem a maldade, tão pouco a vendeta. Unicamente uma dor que não se sente, se não ouve, apenas se vê.
Quis com aquela árvore falar. Não o conseguiu. Lembrou-se, então, das lianas das árvores da sua África. Quando cortadas, embora magoadas, jorram a água da vida, deixando que os sequiosos com ela se dessedentem. Depois, as árvores saram, e delas outras lianas persistem no nascimento.
Na Primavera irá procurar a árvore do outro lado da rua do restaurante. Encontrá-la-á, certamente, com os braços vestidos de verde, dada à tarefa de os florir. Crescendo, não como ela desejaria mas, apesar disso, com altivez, não se deixando vencer pela intolerância. Continuará a existir, orgulhosa da simplicidade do seu viver, não se furtando a abrigar sob a sua sombra quem dela precisar, não interrompendo a passagem do luar pelos seus ramos.
