O Rogério e a Fernanda tiveram a iniciativa de homenagear José Saramago, convidando-nos a divulgar nos nossos blogs, durante as próximas semanas, textos ou pensamentos do escritor, com o objectivo de vencer o silenciamento e a omissão que se instalou em Portugal depois da morte do Nobel da Literatura. A ideia foi, de pronto, acolhida pelo Carlos. Aqui estou, também, a abraçá-la e a convidar os amigos do meu blog a que o façam, igualmente.
Diz o Rogério: interpretem isto como um apelo, uma sugestão, ou um imperativo de consciência. Pouco importa. O importante, é mesmo manter viva a memória de Saramago.
Pois bem, aqui deixo hoje um extracto da crónica As Palavras, de José Saramago.
“…Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que se não oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça.
Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do acto.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.”
[In Deste Mundo e do Outro – Crónicas – 2ª Edição (1985), p.56]
Diz o Rogério: interpretem isto como um apelo, uma sugestão, ou um imperativo de consciência. Pouco importa. O importante, é mesmo manter viva a memória de Saramago.
Pois bem, aqui deixo hoje um extracto da crónica As Palavras, de José Saramago.
“…Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que se não oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça.
Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do acto.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.”
[In Deste Mundo e do Outro – Crónicas – 2ª Edição (1985), p.56]
11 comentários:
Eu sabia que o Carlos aderia logo a este apelo do Rogério.
O texto, uma escolha de primeira água, já o conhecia, mas é sempre um prazer em voltar a lê-lo.
Mesmo sem quer uma rua Saramago na minha cidade, espero que me deixem participar.
ematejoca
As ruas da sua cidade nada têm a ver com isto. Com ou sem o topónimo Saramago continuarão a ser o que são - ruas!
Fico a aguardar a sua participação que será muito bem-vinda.
Querido amigo, perder um escritor do gabarito de José Saramago para um país, é perder um filho querido. Nada mais juntos que homenageá-lo com toda a honra e pompa...Parabéns..Beijocas
Escolheu As Palavras
Não conhecia
Mas sabia
Que escolheria
As Palavras
e, neste caso, o trigo
(O silêncio fica para quem, nos visitando, nos ouve, nos examina, observa,pesa e analisa. São o nosso húmos)
Boa!
Pois bem,amigo, suas sugestões são sempre bem-vindas!
Sou brasileira e amo este escritor que em mim continua vivo.
Com certeza postarei algo no INFINITO e mencionarei esta tua iniciativa.
Beijinhos, sempre
Carlos
Quando folheava este livro de crónicas do Saramago, para escolher um texto para o desafio, detive-me nesta crónica e estive quase a escolhê-la lá para o CR. Depois optei pelo Verão, pelas razões que expliquei.
É uma belíssima crónica e uma excelente forma de homenagear Saramago.
Esperemos que muitos mais blogs respondam ao desafio emm boa hora lançado pelo Rogério e pela Fernanda.
Abraço
Bela homenagem!
O que não podem é esmagar as palavras nas entrelinhas! E antes eu achava que palavras eram só palavras, hoje eu vi que não, quantas vezes recitei e falei palavras, de nomenclaturas, muitos pronomes e sílabas difíceis sem saber que em alma já tinha significados e em mim já estava plantada!
Carlos Albuquerque,
Vinda da "nossa amiga" Dulce, que visito amiúde, "espreitei" o seu blog. Um agrado, como sempre.Se me permite tb quero deixar algumas palavras do José Saramago.
Leia só o quão bonito ele escreveu sobre as mulheres :
As mulheres são os motores dos homens.
Na minha infância, quando vivia com os meus avós maternos, via-se perfeitamente que naquela casa a grande força era a minha avó. E durante toda a vida pude sempre comprovar que num casal a figura forte é a da mulher. O homem alimenta-se da força delas.
In O Jornal 1991/11/08
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A Deus, seja ele Alá seja ele o outro, nada é impossível!Excepto, pelos vistos, diria eu, fazer a paz entre o Islão e o Cristianismo.
2005/08/18
Obrigada.
Maria.Lx.2010/08/06
Anónimo (Maria)
Grato pela sua presença e pelas palavras aqui deixadas, neste recordar Saramago.
Entre quando quiser, será sempre bem-vinda.
Se tiver um blog deixe o link, gostaria de a visitar.
Obrigado
Carlos
Escreveu Saramago in " O Caderno 2" a própósito da memória:
" ... Sou um bicho da terra como qualquer ser humano, com qualidades e defeitos, com erros e acertos, deixem-me ficar assim. Com a minha memória, essa que eu sou. Não quero esquecer nada. "
Queiramos sempre nós, não esquecer nada de nós, onde se inclui a memória desse escritor imenso que ele, Saramago, sempre será!
Recebendo de si a sugestão de o recordar, embora jamais possa esquecê-lo, coloquei palavras suas, preciosas, em " Detalhe importante". E é exactamente o que elas são.
Um beijinho
Caro Carlos...
Para mim Saramago não é uma recoradação, é uma presença tão sólida que não só estou a postá-lo , como estou lendo com meus alunos " O conto da Ilha Desconhecida" em http://gizelda-literatura.blogspot.com
O melhor é que eles estão encantados.
beijo
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