segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eleições - Dias difíceis pela frente

Após ter assumido, por inteiro, a derrota eleitoral do Partido Socialista, José Sócrates anunciou a demissão do cargo de Secretário-Geral do seu partido. Fê-lo num discurso digno, não ao alcance da maior parte dos líderes políticos actuais. Recordo-me do triste discurso de vitória de Cavaco Silva nas últimas presidenciais.

Com a preciosa ajuda do BE e do PCP, que fizeram de Sócrates e do PS os alvos a abater, a direita conquistou o poder. Passos Coelho vai para São Bento e para que não restem dúvidas quanto ao que pretende fazer leva com ele Paulo Portas.

Viu-se no que deu a “clarividente” estratégia do BE, desde a apresentação da célebre moção de censura – os eleitores viraram-lhe as costas, reduzindo a sua presença parlamentar de 16 para 8 deputados, relegando-o para o último lugar das representações políticas na Assembleia da República. Não foi para mim surpresa. Surpresa tem sido, até agora, a expressão eleitoral do BE. É que, francamente, nunca entendi o voto dos Portugueses, não num partido, mas, de facto, num bloco de, entre outros, trotskistas, marxistas-leninistas e dissidentes do PCP! Talvez tenha sido um voto não de ideologia mas de simpatia em figuras como a da socióloga Ana Drago. Talvez…

Ideológico e seguro foi o voto na CDU. Aumentou ligeiramente o seu eleitorado (chegou-se aos 8%) e reconquistou o deputado por Faro, perdido há 20 anos. Passou a ter mais um assento parlamentar (16), o dobro dos do BE. A família comunista tem sabido, com êxito, passar de geração em geração, os ideais do partido de Álvaro Cunhal, e agora de Jerónimo de Sousa, dando-se ao luxo de levar à boleia o PEV. A sua quota eleitoral é sólida e inamovível. É um forte e indispensável partido de protesto na nossa Democracia. Pena é que o PCP não perceba que sem um PS forte a direita estará sempre no poder.

Agora, dada a maioria parlamentar absoluta ao PSD e CDS, os Portugueses têm pela frente dias difíceis, de grande dureza. Penso que não se terão apercebido, claramente, do que os espera.

15 comentários:

São disse...

Posso assinar por baixo, posso?

Boa semana.

ematejoca disse...

Palavras que podiam ser minhas!
Posso roubá-las?

Volto já!

Rogério G.V. Pereira disse...

As minhas análises nunca serão orientadas pela perpectiva do papel que cada pessoa tem, pelo estilo da liderança, pelo discurso. A minha visão não a reduzo ao simples tacticismo, à aritmética ou ao jogo das alianças... Contudo, não as esqueço. Como posso esquecer que para manter o Estado corrupto, o PS se aliou à direita, votando contra uma iniciativa de um seu deputado? Como posso esquecer que foi com os apoios da direita que os sucessivos PECs foram aprovados? Mas a questão essencial até não estas andanças, mas as politicas próprias. Essas abriram o caminho à continuação que agora irão ser prosseguidas. Se me não engano, terão ainda suporte do PS... Terão que ser coerentes com o que assinaram~(e neste aspecto terão até que resistir a pressões para não realizarem "acordos de regime"... Por mim, continuo a pensar que a renegociação da dívida é a única saída. Se o PS inviesar, temos companheiros com quem lutar. Caso não... a UGT terá que fazer o seu papel, a valer... e vai doer, sem a contrapartida de se sair do buraco...

Rogério G.V. Pereira disse...

No comentário anterior, esqueci de deixar-lhe isto, que deve ser lido

Carlos Albuquerque disse...

São
A sua assinatura já cá está! Bem-vinda.

Carlos Albuquerque disse...

ematejoca
Claro que as pode roubar, Teresa.
Quero dizer-lhe que o seu comentário me fez feliz!

Carlos Albuquerque disse...

Rogério Pereira
Respeito as suas opiniões e, até mesmo, a forma "avinagrada" como por vezes as formula.
Peço-lhe que não ponha nas minhas palavras o que eu não disse. Somos leitores um do outro, já há tempo considerável. Não terá nunca encontrado, nos meus escritos, quando no campo da política,subterfúgios,jogos de cintura, ou recurso a metáforas. As palavras que utilizo só contêm o que contêm, rigorosamente mais nada!
Afirmei, e reafirmo, que o discurso de demissão de Sócrates foi digno. Onde encontrou, nisto que eu disse, visão reduzida a tacticismo,aritmética, ou de jogo de alianças?
Quanto ao link que me sugeriu, agradeço-lhe, mas não era necessário fazê-lo. Estou de acordo consigo no que respeita à renegociação da dívida, e penso que ela acabará por acontecer mais cedo do que muitos pensam...
Para sua informação: Não sou do PS e nada tenho a ver com a UGT. A central sindical que sempre apoiei, e apoio, quer estando presente em manifestações, quer através de outras iniciativas, é a CGTP.
Não sou seguidista. O meu voto foi sempre, e continuará a sê-lo, um voto de esquerda, esquerda que creio o Rogério reconhecerá não se esgota na CDU.

ematejoca disse...

Esta sua análise é em ABSOLUTO o que eu penso, Carlos, por isso, não resisti em publicá-la no "ematejoca azul", embora parte dos dos nossos leitores sejam os mesmos.
Neste caso, é mais uma homenagem por o Carlos expressar aquilo que eu venho a dizer há muito tempo, mas numa linguagem simples e mal formulada.
Muitíssimo obrigada!

Continuo a chorar a derrota do PS, mas muito orgulhosa com a atitude do José Sócrates. Saíu em BELEZA.

Abração da amiga de longe.

Luis disse...

Amigo Carlos Albuquerque,
De uma maneira geral concordo com a sua análise no entanto para mim os resultados do BE refletem que ele é um partido de protesto enquando o PCP é um bom partido de oposição. Acredito que os tempos que vêm agora vão ser difíceis mas os três partidos que acordaram com a "troika" vão ter que assumir esse mesmo acordo. Os movimentos de greves infelizmente na maioria dos casos ficam-se a dever a quem mais ganha (casos da TAP, CP, REFER e Função Pública) e que por tal motivo pouca diferença lhes faz fazerem-nas! Quem sofre com elas é o povo em geral e Portugal!
Espero que o Bom-Senso prevaleça quer nos governantes quer nos governados! Se acabarem com Institutos, Fundações, mordomias dos deputados e dos ministros e subsecretários e das Casas da Presidência da República com esses "dinheiros" poder-se-á fazer face aos mais desprotegidos sem se recorrer a mais impostos. O que é preciso é ter coragem para acabar com os boys e girls que proliferam por aí.
A propósito lembro que todos os deputados dos diversos partidos com excepção, julgo que de dois do PS votaram a favor dos seus aumentos quando já se estava à beira da BANCARROTA... E o mesmo se passou no PE, mas aí até só houve uma excepção que foi Miguel Portas, creio eu... Portanto há que acabar com essas manobras! Há que moralizar os costumes!
Um abraço amigo e solidário.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Carlos!

Vim até cá para saber a sua opinião.
Não vou tecer comentários, mas gostava que soubesse que se a direita ganhou não foi por culpa do BE, mas sim porque o PS nunca foi um partido socialista e com Sócrates muito menos.
Da CDU não falo mesmo.

Bj.
Fernanda

Carlos Albuquerque disse...

Amiga Fernanda!
Que alegria me dá vê-la, de novo, por aqui.
Li um seu comentário num blogue amigo que o seu voto foi para o BE - Francisco Louçã.
Nada tenho contra, jamais poderia tê-lo,o voto é livre.
Diz que o PS nunca foi um partido socialista. É a sua opinião. Respeito-a.
Permita, contudo, que lhe pergunte: Acha que o BE tendo como coordenador um trotskista como o Dr. Francisco Louçã, é socialista?
Bj.

Paulo Vicente disse...

Já se sabia que havia dias difíceis pela frente antes das eleições, isso não é nenhuma surpresa.

E também não é surpresa a vitória do PSD, estava na hora...

O nosso sistema político é "rotativo" ou de "alternância", há dois partidos que se revezam no poder e as eleições servem só para "passar a pasta" de um para outro.

Hoje ganhou o PSD, daqui a alguns anos quando ele estiver desgastado e fatigado, ganha o PS, depois o PSD outra vez, PS...

Na prática não muda nada, PS e PSD são farinha do mesmo saco, fazem sempre a mesma coisa, um governo mais ou menos corrupto com tachos para os "boys" e os "lobbys" e o "zé povinho" a pagar.

E vai continuar a ser assim, talvez um dia apanhemos uma crise demasiado grande para os nossos corruptos e o povo se volte para um ditadorzeco sem sentido de humor que acabe com a farsa das eleições, mas por agora vamos tropeçando em frente com este sistema.

Por isso não dês demasiada importância a isto, foi um "render dos boys", como o render da guarda.

É pena que não haja mudança verdadeira e alternativas a sério para escolher nas eleições, é pena que o Sócrates e o Coelho não tenham morrido engasgados com os microfones a meio dos discursos, mas é com isto que temos de viver...

Laura disse...

Olá Carlos, vim do blogue da acácia e quando te li a falar sobre as matacanhas, pronto, voltei lá..andei quase sempre descalça no bairro onde morava, o pai tirou-me sem rebentar o saco, vai-se afastando a pele com a ponta da agulha, minha nossa, eu chorava e tudo ehhhh, devia ter uns 11 anitos, mas ficou a marca na unha, diferente das demais.

Um beijinho com saudades de te ver.

laura

Anónimo disse...

Li primeiro este texto na Ematejoca, mas não tinha percebido que era seu, Carlos.
Concordo com tudo, mas apensa faria uma ressalva: o BE teve mais responsabilidades nesta situação do que o PCP, porque foi o Bloco que apresentou a moção de censura que deu força a PPC para avançar.
Tinha consideração por Loução, que considro uma pessoa inteligente...
O meu espanto é que ainda não se tenha demitido!
Abraço

Mª João C.Martins disse...

Carlos

Sabíamos que estas eleições, como todas aliás, traduziriam o querer, não querer e desinteresse da população, relativamente ao futuro governamental do nosso país.
Queiramos ou não, uns concordam, outros, obviamente, discordam dos resultados. Embora todos tenhamos que os aceitar, porque vivemos ainda num país democrático.
A consciência de que os tempos não vão ser fáceis não é, para mim, maior agora do que anteriormente. Sei que preciso trabalhar muito, gastar pouco e gerir muito bem os recursos que possuo, sem os desperdiçar e com a perfeita noção das minhas possibilidades, para governar a minha casa sem que nenhum dos meus perca, o que é essencial para ter a qualidade de vida que merece, porque se esforça para isso.
Espero que o meu país também entenda isso, principalmente quem se propôs tomar agora conta da "casa" e a quem, o povo deu legitimidade para isso.

Reconheço, também, a dignidade do discurso. Todos deveriam ser (e ter sido) assim. Os dele e os de outros, mas infelizmente, sabemos que isso será muito sempre muito difícil.

Um abraço, meu amigo