sábado, 18 de junho de 2011

José Saramago

Passa hoje um ano sobre o dia da morte de José Saramago. Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente, com ele ter privado e do o ter acompanhado no seu deambular pelo País para escrever “Viagem a Portugal”. Tenho (e li) a sua obra praticamente completa, alguma autografada. A propósito da data de hoje, que se me não torna indiferente, a editorial Caminho anunciou que será este ano publicado o romance “Clarabóia”, um inédito do Nobel da Literatura, escrito em 1953.

Em “Clarabóia”, segundo a editora, «José Saramago imagina um prédio que tem rés-do-chão e dois andares ou três, cada andar está ocupado por uma família, as famílias são todas completamente diferentes e ele conta-nos a história de cada uma delas»

De acordo com uma pesquisa que fiz, a leitura de “Clarabóia” deixa-me antever o encontro com uma personagem que, tal como Saramago, se interroga: Será a Humanidade recuperável ou não, e qual a atitude a tomar por cada um de nós.

No dia da morte de Saramago, o ensaísta Carlos Reis afirmou: “desaparece não apenas um grande escritor português, mas sobretudo um enorme escritor universal”. E acrescentou: “No entanto, fica connosco um universo: esse que Saramago criou, feito de uma visão subversiva da História e dos seus protagonistas, dos mitos estabelecidos e das imagens estereotipadas.”

A ficção saramaguiana legou-nos grandes temas, refere ainda Carlos Reis. Entre eles “a reflexão sobre Portugal e o seu destino (mau destino, para Saramago) de integração europeia, a problematização de mitos portugueses em articulação com um tempo histórico tão bem identificado como o do início do salazarismo, a revisão crítica e provocatória do Cristianismo, ou a reflexão em clave ficcional sobre as origens históricas e políticas de Portugal, de novo em incipiente diálogo com a Europa”.

Palavras que subscrevo inteiramente, nesta simples homenagem à memória de José Saramago, cujas obras continuarão a ser lidas como grandes romances da literatura universal, frutos de um estilo único na literatura contemporânea e da mestria no tratamento da língua portuguesa.

("O que chamamos democracia começa a assemelhar-se, tristemente, ao pano solene que cobre a urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde."

.. / / ..

"A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo.")

(José Saramago)

12 comentários:

São disse...

Saramago merece o meu respeito e tive também o gosto de falar com ele pessoalmente algumas (poucas) vezes.

Que esteja na Luz!

Bom fim de semana para si, meu caro Carlos.

Laços e Rendas de Nós disse...

Um ano passou.

Queria acreditar na possibilidade do "homem novo", educado para paz. Queria acreditar nessa revolução cultural.
Mas, não há-de ser no meu tempo. Não há-de ser em tempo nenhum porque a História do homem a não contempla.

Para se semear e colher o fruto, há que, primeiramente, trabalhar a terra, arejá-la, fortificá-la... falar-lhe.

E a "terra" que temos é pantanosa e surda...

Beijo

Laços e Rendas de Nós disse...

Carlos, voltei.

O que a seguir vou escrever, porque o copiei, era a resposta ao teu comentário lá no acácia.

Retirei-o, mas desculpa colocá-lo aqui.

Na Literatura Contemporânea Portuguesa há dois vultos que persigo. Saramago e Lobo Antunes.

O que foi sendo editado, fui comprando e lendo. Infelizmente, agora, as prateleiras desses autores estão vazias... A voragem do desfazer de anos de uma vida, levou-os. Eram simplesmente livros que só eu tinha lido, que só a mim diziam muito. Mas havia a vida, a minha, que não vem em livro nenhum e que não se troca por papel.

Foram-se os livros... Fiquei eu, quase inteira

Beijo

folha seca disse...

Caro Carlos Albuquerque
Para além de ter lido alguns dos livros de Saramago no fundo até à sua morte pouco mais conhecia.
Na verdade, foi depois de ter partido que muito do que foi fazendo e dizendo se tornou conhecido. Há um pequeno filme "Falsa Democracia" que vi dezenas de vezes, onde as palavras que lá diz têm uma actualidade impressionante.
Abraço

Lisboa disse...

Depois de um longo e ( por vezes)tenebroso inverno, eis-me de volta, apreciando seus escritos, Sr. Carlos! Pelo visto, está o Sr. totalmente recuperado em sua saúde dos problemas do ano passado, não? Um abraço.

Fê blue bird disse...

Saramago está e estará sempre presente em todos aqueles que se interessam pela vida, pela igualdade e pela cultura.
Excelente este seu post de homenagem a Saramago.

Beijinhos

Agulheta disse...

Saramago na sua escrita sabia o que tentava transmitir,penso que nem todos saibam ler o significado das palavras,como estas que o amigo escreveu aqui...penso que a Europa está pelas costuras,os países ricos a tentar humilhar os pobres,e assim vai continuar,a não ser agora que estejam calados,com Governo da direita lhe faça o frete,e nós encolhemos.Fico triste pelo meu país e pelo seu povo incluindo eu claro.
Beijinho bfs

Eu, Meu Contrário e Minha Alma disse...

...em coro:

NÃO PODIAMOS FALTAR
(excelente post, o Rogério vai gostar...)

Luis disse...

Meu Bom Amigo Carlos Albuquerque,
Já lá vai um ano... Mas as suas palavras aqui respigadas mantêm-se muito vivas!
Continuação de um bom fim-de-semana e um forte e amigo abraço.

Anónimo disse...

Não sei se a demoracia poderá ser reinventada, caro Carlos. Começo a ser invadido por uma enorme descrença quanto a essa possibilidade. No entanto, este reparo não invalida que tenha gostado muito da homenagem que aqui prestou ao nosso Nobel
Abraço

Teresa Hoffbauer disse...

Também eu conheço um pouco da obra de José Saramago.
Como gosto muito da poesia dele, fiquei muito satisfeita, que fosse traduzida para alemão. Vamos lá ver se estou de acordo com a tradução.

Já agora cá fico à espera do romance "Clarabóia".

Abraço da amiga de longe.

Mª João C.Martins disse...

Era bem jovem quando alguém me falou de José Saramago e do " Memorial do Convento". Na altura não o entendi e não me aproximei da sua leitura. Volvidos vários anos, percebi que, afinal, estava muito mais ligada a tudo o que escreveu, do que algum dia pude imaginar.

Um abraço, Carlos