“…Os combates pela dignidade, pela justiça, pela
solidariedade efetiva, pelos direitos humanos, pelo direito ao trabalho, pelas
liberdades, pela democracia vão ter de estar presentes nos 365 dias do ano. A persistência
na denúncia pode, por vezes, parecer ausência de criatividade mas, em tempos de
escuridão, a ilusão de que podemos ser conduzidos por quem nos apagou as luzes
pode sair muito cara…”
Vive com a sublime memória das palavras que partiram.
Partiram, talvez, ou mesmo por certo, para um futuro que não
passará de um outro presente.
As que ficaram tornaram-se errantes, andam perdidas, pisam
hoje um chão que é já outro, de cardos feito, lhes embaraça o andar e lhes tolhe
o vocabulário.
Apesar disso esforçam-se por encontrar o legado dos seus
antepassados, as palavras que já cá estavam, por cá andavam, antes de quem hoje
as procura.
Um repente sacudiu-me, despertou-me, e vi-a chegar.
Não me pareceu uma estrela entre estrelas. Provavelmente, nem estrela seria.
Mas que se despegou do manto tricotado a luzes, lá em cima, e veio rodopiando
pelas encostas do céu, cá para baixo, é verdade!
Tive-a, sentada, a meu lado. Perguntei-lhe ao que vinha. Cumprir uma ordem,
disse. Uma ordem? Que ordem? Uma ordem, e basta, replicou, seca.
Não são muito de fiar, as estrelas que falam. Desconfio que aquela, pois que
fosse estrela e não um qualquer objecto desassossegado e perdido, sem nome,
seria a do anúncio do nascimento de um Menino, a querer dizer-me que vai ser
Natal. És tu, não és? Carregou-se-lhe o olhar, crispou-se-lhe a face. Disse não
dispor de tempo para conversas, a noite poderia esgotar-se rapidamente. Não
desfez a minha desconfiança.
Falei-lhe que não, que não queria que nascesse outro Menino, o fizessem crescer
e depois o pregassem vivo a uns paus cruzados, ali o deixando até a morte o
desamarrar da dor e do sofrimento. Não, insisti, já bastam os milhares de
outros meninos e meninas que todos os dias morrem de fome, pregados aos braços
de mães moribundas. Não, teimei, já bastam os milhares de outros meninos e
meninas que, todos os dias, as guerras mutilam, aniquilam. De outros milhares,
que todos os dias são atirados para as ruas apodrecidas da prostituição, ou
devorados pela pedofilia predadora. De outros milhares diariamente acorrentados
a trabalho escravo. De outros milhares a quem todos os dias põem armas na mão,
maquinando-os para o mal, dizendo-lhes vão, vão matar.
Não, não quero que faças nascer outro Menino! Não quero que ergas mais cruzes.
Quero que ensines os botões de flor a sorrir, o mar a cantar e o vento a
embalar sonos livres. Quero que mates a fome, cures a doença, pares a guerra e
apagues a violência. Quero que não roubes almas, mas lhes dês forma e beleza,
as enchas de valores e as forres de Natal. Quero que cuides de todos aqueles
meninos e meninas, e não faças nascer outro Menino. Quero que corras, com o
chicote que já usaste, as mentiras dos homens. E, não te esqueças, corre com a canalha,
o bando de más consciências, que tomou o poder no meu País.
Sem me olhar e nada dizer, cabisbaixa, envergonhada me pareceu, a estrela
regressou. Foi, por ali acima, esconder-se por detrás das nuvens de portas
fechadas.
“…Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue
a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos,
penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem…”
“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São
palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o
medo nos fará continuar cegos…”
Mandei um trabalho para a Editora
Multifoco, do Rio de Janeiro. Se fosse seleccionado seria publicado, o que
aconteceu. Na Colectânea de contos O
Tempo De Cada Um, da colecção Antologia,
cuja capa reproduzo do exemplar que a editora me enviou, estão publicados quinze
autores, todos eles brasileiros, à excepção deste vosso amigo.
Sobre o meu trabalho, O
Tempo de Todos os Tempos, escreve a editora:
“…delicada construção sobre a vida comum e os desígnios entre
Deus e o demo. Aqui o xadrez aparece como em O Sétimo Selo de Ingmar Bergman.
Quem leva a partida? Quem dará o xeque-mate…?
Perdoem-me, mas não quis deixar de partilhar convosco a
alegria que sinto.
«O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro
emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc...
que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e
permanece intacto entre suas letras e suas palavras. Esses selos foram criados
com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de
demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.»
Já em 2010 mo tinham dado. Agora volto a recebê-lo. Desta
feita por mãos da Laura Abrantes do blogue que brilha
Que fiz eu para tanto merecer?
Ultimamente tenho andado feito novelo embrulhado para o lado de dentro. Mas,
afinal, o Sol não fugiu.
Muito obrigado, Laura.
O prémio tem regras: exibir a
imagem do selo; revelar o link do blogue que o atribuiu; escolher quinze
blogues a premiar. Cumpridas as duas primeiras, desrespeito a última. Todas as
amigas e amigos da minha cubata, que me dão o prazer da sua visita e a honra de
comentários deixados, o merecem mais do que eu. A todos peço que o levem e o
publiquem.
E deixem que vos diga. Por muito
que os vampiros que nos andam a sugar queiram, o Sol não se porá, não rolará
pelas encostas do céu abaixo. Está bem agarrado às nuvens para as desfazer.
Nesta batalha com as trevas a luz vencerá.
Bom fim-de-semana
PS
Depois de ter editado este post soube que o prémio também me
foi atribuído pela São do blogue
Era Domingo quando embora foi sem
prevenir, porque assim o quis a dor. Abalou.
Foi andando com o pensamento
pelas costas, carregado de palavras que lhe diziam ser ele o seu dono, sim, e não
uma carta de jogar. Fora, baralho podre e viciado!
Adormeceu no exílio do seu eu.
Desperta acordando de si.
Olha para trás. Quando partiu não
chovia.
Agora, de regresso, vê o seu país
fustigado pela dibanda. Pára entre duas gotas. Vê à frente e atrás, à esquerda
e à direita. As armilas já lá não estão. A eclíptica, o equador e os meridianos
desapareceram. O vermelho escarlate é laranja e o verde amarelo.
Volta a olhar, não vá a chuva fazê-lo
entrar em disfunção. Vê o mesmo, e mais: o país está encarquilhado. E, como em
dizer de Saramago, para aqui trazido, as nuvens estão ali pardas e pesadas.
Ontem, já a tarde se metera na tarde, encontrou-o.
Ouviu-lhe não se sabe o quê. Pareceu-lhe uma voz que
dançava, assustada. Fosse outro o tempo, a era do musseque das pirucas de Sábado,
e aquela pareceria uma fala à toa, ou mesmo uma chaladice de adormecer.
Prestou atenção nele.
A voz ainda dançava assustada:
“Perderam-se os moldes. Os humanos desapareceram. Agora há só
uma sub-espécie, espécie de pedras com olhos, onde não mora o carácter. São
pedras com feitio de curva de ferro-de-engomar, que nos queimam. Queimam tudo,
até as estrelas já vestem de escuro. Vou. Vou, pelo suor que me escorre no
corpo, à procura dos moldes perdidos. Enquanto lá não chego, e hei-de chegar,
fico por aqui em convívio com os roseicollis.”
Há muito que ele sabe estar apaixonado pela palavra. Enamorado,
assim, é como sofrer de doença incurável. Só outra palavra é capaz de aliviar o
sofrimento, pensa ele. E quantas vezes parte numa busca desenfreada…!
Cogita, do mesmo modo, que com as ideias passar-se-á algo de
idêntico.
Então, que venham outras, porque as até agora suas
conhecidas, restos deixados pelo tempo, mantêm-no agarrado à dor.
A última vez que te vi
estavas deitada, serena, dada ao sono de que não se desperta. Olhei-te.
Invadiu-me uma raiva maior que a dor. Foi
dela que eu nasci, disse para mim, em
silêncio, agarrado à solidão que se me chegou. Não chorei. Tocaram-me no ombro.
Vi taparem-te. Fizeram-me um sinal.
Acompanhei a tua viagem até
ao local em que te desceram e te cobriram com uma terra diferente da que te
vira nascer. Segurei as lágrimas que teimavam em soltar-se. Aquela mágoa não a
quis partilhar. Era só minha! Sofri-a na alma e no meu coração que sangrou.
No suco dos meus olhos vi, então, partes da nossa vida. A
tua foi longa, chegaste perto dos 100. Lembrei-me que tempos antes te fôramos
visitar, já tu vivias num mundo longe do nosso. Oferecemos-te uma caixa de
bombons. Deliciaste-te, eu vi, mas as palavras que então disseste já nada
tinham a ver connosco. Estavas noutro local, provavelmente num paraíso para que
te transportaras, onde contigo vivias, e nós não habitávamos.
Recordei-me, também, do muito que me ensinaste. Um dia, era
eu ainda um catraio que jogava descalço com bola de trapos, fui fazer-te queixa
de uma “malandrice” que o meu irmão me fizera – zangado, rasgara-me a camisa.
Soubeste da atitude dele, vi nos teus olhos que não gostaste, e logo pensei
agora é que ele vai ver! Atiraste-lhe umas palavras, de que já não me lembro, e
ele voltou para o quintal. A mim deste-me um ralhete, apontaste-me o dedo e
disseste: não se denuncia um irmão!
Aprendi para todo o sempre! Como para sempre em mim ficaram
os carinhos das tuas mãos fagueiras, nos tempos em que caminhava pela minha
meninice.
No momento em que a última pá de terra sobre ti caiu, subiu
um eco trazendo-me à memória silêncios. Silêncios meus, hoje cheios de palavras
que gostaria de te ter dito.
Não sei por onde andas agora. Pouco importa. Mas se te
voltar a encontrar, dir-te-ei: Mãe gosto muito de ti.
Pelo caminho se meteu. Ao fundo,
deu com uma casa meio acubatada, duas tábuas a darem ares de porta. Forçou a
abertura, sem o conseguir. Caiu-lhe em cima uma tabuleta. Leu o que escrito
estava, em linhas meio enviesadas: “aqui vive Deus, em recolhimento, meditando,
não entre.”
Obedeceu.
Três dias depois voltou à
estrada. Caminhou pelo primeiro desvio. Deu com um portão de ferro, de cadeado
franqueado. “ Reino do demo”, leu numa chapa chamuscada e meio amolgada, “faça
o favor de entrar”.
Rejeitou o convite.
De regresso a casa, pôs-se a
cismar. Assim ficou sete dias inteiros. Ao oitavo, voltou às andanças, por um
carreiro de poeiras, desta feita. Uma vida depois parou. Sacudiu o pó, limpou
os olhos. Aquilo não era cubata, nem casa, nem nada de parecido, era só um
sítio com um letreiro, de luz aos tremeliques, dizendo: “Aqui vivemos os dois.
Entre.”
Entrou.
Numa mesa a levitar, estavam,
Deus, com o bordão de peregrino no bolso, e o demo, tridente à cinta, a jogar
xadrez. Nos intervalos de cada jogo, antes das peças realinhadas, Deus tentava
moldar um pedaço de barro. O demo batia com o sílex nos chavelhos, a ver se
deles tirava a faísca para atear o tridente. Palavras não as largava o
silêncio.
De confusão se encheu. Voltou
para trás. Em casa uma vez mais imaginou, com tenacidade. Findo o torvelinho do
pensamento tornou ao sítio do letreiro, que já lá não estava. Caída no chão,
apenas uma parra gatafunhada.
“Ele ganhou, mas batotou.
Voltarei mais tarde. Quero a desforra. Assinado – demo.”
Ao dobrar da folha, numa das
esquinas, estava aposto o carimbo: “Assinatura reconhecida por Deus.”
Ficou sem saber que destino dar
aos seus pensares perturbados.
Muita vida depois, foi de novo ao
letreiro. Encontrou-o, despido de dizeres, de luz apagada. Claridade, apenas a
do tecto brumaceiro descido da Lua, chegando para os ver. Um sem o bordão de
peregrino, outro despojado do tridente. O primeiro de testa enrugada, barbas
longas e brancas, o segundo de chavelhos caídos. Ambos envelhecidos, mas
continuando, em silêncio, de olhos pregados no xadrez.
A 20 de Junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em
Paris, decidiu convocar anualmente os trabalhadores para uma manifestação pela
conquista das 8 horas de trabalho diário. Em homenagem aos trabalhadores “
Mártires de Chicago” (a cidade que era o principal centro industrial dos
Estados Unidos naquela época), o dia escolhido foi o Primeiro de Maio. Em 23 de
Abril de 1919, o Senado francês aprovou a jornada diária de 8 horas e proclamou
feriado o dia 1 de Maio desse ano. No ano seguinte a Rússia adoptou o Primeiro
de Maio como feriado nacional, exemplo que foi seguido por muitos outros
países. Instituíra-se o Dia Mundial do Trabalho.
Como se chegou aqui:
Há que retroceder aos primórdios da Produção Capitalista, quando ainda eram
comuns práticas selvagens. Não apenas se procurava, desenfreadamente, a
mais-valia, através de baixos salários, como até mesmo a saúde física e mental
dos trabalhadores era comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas
de trabalho diário, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos
no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal,
cuidados de saúde, apoio à maternidade e reformas não existiam. Para se
protegerem, os trabalhadores criaram vários tipos de organização como as caixas
de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.Com as primeiras
organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando maiores
salários e redução das horas de trabalho diário. Greves, nem sempre pacíficas,
explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos principais pólos
industriais norte-americanos, era, também, um dos grandes centros sindicais.
Duas centrais lideravam os trabalhadores em todo o país: a AFL (Federação
Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As
organizações (centrais), sindicatos e associações, que surgiam, eram formadas
principalmente por trabalhadores de tendência socialista, anarquista e
social-democrata. Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. Os
trabalhadores reivindicavam melhores salários e a passagem da jornada de
trabalho de treze para oito horas diárias. À época, Chicago não era apenas o
centro da máfia e do crime organizado, era, também, o centro do anarquismo na
América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung
e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel
Schwab.As entidades patronais controlavam igualmente jornais, onde os líderes
operários eram descritos como “preguiçosos e canalhas” que só procuravam a
desordem. O Chicago Tribune foi mais longe e publicou em editorial: "Para estes vagabundos esfarrapados, a melhor comida é uma
carga de chumbo no estômago". No decorrer da greve, uma passeata
pacífica, pela Avenida Michigan, de trabalhadores no activo, desempregados e
familiares, vestindo roupas de Domingo, e empunhando cartazes onde se lia
"8 horas para trabalhar, 8 horas para
descansar e 8 horas para fazermos o que for de nossa vontade",
silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos no
curto prazo. Do alto dos edifícios e nas esquinas a polícia vigiava, fortemente
armada. A passeata terminou com um comício. No dia 3, a greve continuava em
muitos estabelecimentos. Diante da fábrica McCormick Harvester, a policia
disparou contra piquetes de greve e outros operários, matando seis, deixando 50
feridos e deteve centenas. August Spies convocou os trabalhadores para uma
concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos líderes
pedirem calma. Os oradores revezavam-se; Spies, Parsons e Sam Filiem, pediram a
união e a continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180
policiais atacou os manifestantes, espancando-os. Uma bomba explodiu no meio
dos guardas. Sessenta foram feridos e vários morreram. Chegaram reforços
policiais que começaram a atirar em todas as direcções. Morreram centenas de
pessoas: mulheres, homens e crianças. Os acontecimentos ficaram conhecidos como
A Revolta de Haymarket. A repressão foi
aumentando num crescendo sem fim: o Governo decretou o “Estado de Sítio”, e o recolher obrigatório, com a consequente
proibição de circulação pelas ruas. Milhares de trabalhadores foram presos,
muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gangsters, pagos pelos
patrões, invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo-lhes
bens. A justiça levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam
Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O
julgamento começou a 21 de Junho de 1886 e desenrolou-se rapidamente. Provas e
testemunhas foram inventadas.
Mártires de Chicago
A sentença foi lida a 9 de Outubro. Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram
condenados à morte por enforcamento; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua e Neeb
a quinze anos de prisão.
Linng, ao centro na foto, não foi enforcado por ter sido encontrado morto na
sua cela.
Gerou-se, então, um movimento de solidariedade internacional pressionando o
governo dos Estados Unidos a realizar um novo julgamento, o que acabou por
acontecer em 1888. O novo júri, entretanto constituído, reconheceu a inocência
dos trabalhadores, admitiu, como provado, que fora um capitão da polícia a
mandar rebentar a bomba em Haymarket, culpabilizou o Estado norte-americano e
decidiu a libertação dos trabalhadores presos, incluindo os condenados a prisão
perpétua.
Em
Portugal só a partir da Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, é que se
voltou a comemorar o Primeiro de Maio, livremente, e este passou a ser feriado
nacional. Hoje, as duas centrais sindicais, CGTP (Central Geral dos
Trabalhadores Portugueses) e UGT (União Geral de Trabalhadores), assinalam-no,
em liberdade, com manifestações e comícios por todo o país. Durante a ditadura
salazarista do Estado Novo as comemorações eram reprimidas pela polícia.
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Os Estados Unidos, onde tudo
começou, não reconhecem, apesar disso, ainda hoje, o Primeiro de Maio como Dia
do Trabalhador. Naquele país também se celebra um Dia do Trabalhador (Labor
Day), mas isso acontece na primeira segunda-feira de Setembro. É feriado
federal (nacional), estando relacionado com o período das colheitas e com o fim
do Verão. A decisão de assim ser foi tomada pelo presidente Stephen Grover
Cleveland (Partido Democrata), por recear que a celebração em Maio reforçasse o
movimento socialista nos Estados Unidos.
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Viajar pela História deixa-nos uma certeza: lutando por
melhor, é sempre possível mudar.
Nunca desistir é lema que sigo desde sempre.
Recordo, com emoção, o 1º de Maio de 1974 em Lisboa.
Nunca vira manifestação como aquela. Vivi-a com o sentimento de ter recuperado
esse bem precioso que é a Liberdade. Chorei enquanto desfilava e ouvia os
líderes políticos regressados do exílio. Hoje, não fora a ainda impossibilidade
de caminhar como quero, voltaria à Manifestação.
Deixo-vos com palavras de Manuel Alegre:
É
possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é
possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas
medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que
seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece
dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível
transformares em arma a tua mão. É possível o amor é possível o pão. É possível
viver de pé! Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver
sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre.
( Em Portugal estamos a regressar aos primórdios da Produção
Capitalista. Na cena política portuguesa ressurgiram os vendedores de ilusões,
que nos pretendem acorrentar de novo)
Véspera de um dos
dias mais felizes da minha vida, o que nasceu da ALVORADA LIBERTADORA DO 25 DE
ABRIL DE 1974.
No mundo da
blogosfera tem sido uma descoberta de amizades, companheirismo e muito carinho.
Senti bem tudo isso, nos momentos difíceis porque já passei, nalguns dos quais
mordi os ossos da alma e tive que partir as vidraças das janelas do espírito.
A todos muito
obrigado por me acompanharem e se darem ao trabalho de me lerem.
No solo da minha, e
vossa, cubata os cravos continuarão a florescer.
[…Enquanto não
alcançares a verdade, não poderás corrigi-la. Porém, se a não corrigires, não a
alcançarás. Entretanto, não te resignes…]
Porque julgo ser o texto que o Carlos me enviou a vós dirigido, aqui vo-lo deixo:
estafilococos aureus
“Sabe não ser eterna a veste que usa, a carcaça com que se cobre. Dura quanto tiver que durar. Mas há, sob ela, um corpo real que sente.
Anda, alheio, na missão que se impôs, quiçá inútil, de desenhar a geografia da realidade, sendo tal, porventura, a razão de um destino.
Por isso se pergunta: Onde é que o Universo é ele, a Terra ela é, e ele, ele próprio tem que ser?
Não sabe se o destino foi, ou é, fruto de arquitectura trabalhada na forja de deuses ensandecidos ou resultado de uma imbecil incúria médica. Sabe, sim, que a terrível e predadora bactéria que dá pelo nome de estafilococos aureus voltou a implantar-se, enfraquecendo-a, na estrutura óssea que lhe suporta a prótese total da anca esquerda.
Na arrecadação do espírito, no sótão da alma, para onde migra de quando em vez, encontrou artes para o combate e foi vencendo, batalha a batalha, incluindo as com o médico que não passa de capataz duma companhia de seguros. Não é uma guerra ganha. Este cocos é recidivante e oportunista. Ataca à mínima debilidade do hospedeiro, como já o fez, por várias vezes, forçando a remoção e substituição de próteses. De há uns tempos para cá tem aparecido enfraquecido (assim parece…), fruto, talvez, das 60 sessões de oxigenoterapia na câmara hiperbárica do Hospital da Marinha. É que, diz quem julga saber destas coisas, o aureus foge do oxigénio como o diabo da cruz.
Sustido o cocos, logo irrompeu a litíase renal bilateral.
cálculo renal
Cerca de três semanas com uma cólica renal violenta. Duas idas às urgências hospitalares. Tudo tentado, nada resultando, cirurgia marcada com utilização de cateter para condução de um lazer com o objectivo de “ir à procura” dos cálculos, no dizer do médico especialista. Dois dias antes as “pedras” forçadas pela pressão do liquido drenado pelo rim, e aproveitando a boleia da força da gravidade, resolveram vir por ali abaixo, rasgando ao som da dor. Três! Uma pequenota, outra com seis milímetros, a terceira com um centímetro de largura – o dobro do diâmetro do uretere! A dor foi passando, o rim desinflamando. Grande rim, verdadeiro resistente!
Desmarcada a cirurgia. Não será desta vez que a equipa de urologistas (quatro) irá “à procura” dos calhaus.
Vencidos os furacões, tudo está de regresso à normalidade. Muito lentamente, ainda.”
Pediu-me ele para vos dar a explicação da ausência, e, também, a todos um grande abraço.
No céu mortiço de azul baço, nuvens e as suas sombras caminhantes escondendo o horizonte, vê uma borboleta, saída da alma, trazendo a manhã pelas asas.
Não soubesse ele ser ela quem é, diria estar com cara de tempestade vinda para amassar.
Mas, não. O que ela está é masé atarefada, esta sua manhã.
Como mulembeira sarmentosa, de pau novo, plantando os ramos com folhas de um verde recém-nascido, de cujas axilas brotam frutos monandengues ainda, que as pintadas recolherão quando de mucefos caírem.
Dela faria um poema, soubesse ele escrevê-lo!
Na sua cubata, porém, o poeta não mora! Apenas uma flor de embondeiro por ali se vê andar, e dizer numa voz de perfeita imperfeição ser a flor da vida.
Paleta e espátula na mão, a manhã chegada mistura cores, trabalhando, com afã, no retrato do dia.
Olha-a.
Move-se, para cima e para baixo, como que a querer dizer que lhe segue o pensamento.
Sabe lá ela!
Ainda assim, pergunta-lhe ele:
- Que cores tens tu?
A manhã, que sabe não ser o sentido oculto de coisa nenhuma, responde-lhe, de pronto:
- Que te importam as cores? Só vês o visível!? Ter consciência é mais que ter cor!
Ouvido isto, ele fica a pensar no mistério do que se quer dizer. Ela aquieta-se. Volta à tábua das tintas. Um traço mais. Obra completa. Pronto, está feito o Domingo para ele usar amanhã, que hoje ainda Sábado é. Domingo um pouco muxoxo. As nuvens ronronarão, por elas ximbicará o vento acinzentando-as.
Outros afazeres a chamam. A manhã parte. Não sem antes lhe dizer:
- Não te esqueças, ter consciência é mais que ter cor.