segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Kandandu



Aos que nasceram, ou não, em Angola e de lá tenham vindo.
Que beberam água do Bengo. Que apimentam a comida com Kaluketas ou Kahombos. Que ximbicaram no Mar da Boavista. Que passaram o Cuanza para o curral da Quiçama à pesca dos pargos gigantes. Que no buraco do Mussulo ou em Moçamedes degustaram caranguejos do fundo. Que viram as Welwichia Mirabilis do Namibe, os chipas, saguis e os papagaios do Maiombe, e os crocodilos e sengues do Panguila. Que beberam marufo, rebitaram e merengueram em quintais de musseques. Que comeram pungo, pirão, muamba, maboque, pitanga, caju, carambola, manga, sape-sape, fruta-pinha, maçã da Índia e gajaja, quitaba e quiquerra. Que foram aos cacussos da senhora o Bairro Operário em Luanda. Que desceram e subiram a Leba e viram bué de caraculos. Que sentiram a vertigem da fenda da Tundavala. Que fotografaram a Palanca Negra em Pungo Andongo ou no Ruacaná. Que se banharam na lagoa do Kinaxixe. Que curaram bebedeiras com mezonguê à sombra das casuarinas da Ilha de Luanda. Que amaram de madrugada sobre a areia das praias do Lobito e Baía Farta. Que viram nascer o Sol em Waku Kungo. Que se perderam pelas mulatas de Benguela vendo-as bambolear sob as acácias rubras. Que têm Angola a correr-lhes nas veias e se não deixaram aprisionar pela solidão da saudade.
Estamos juntos!
Um Kandandu

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