Foi na primária, na Escola 8, ali como quem vai para o Bairro Miramar, em Luanda, que aprendi as contas. Ensinou-mas o velho e sábio Professor Cardoso. Já não está entre nós, mas tenho-o bem vivo na minha memória. Olá, Senhor Professor!
Dizia-nos ele: somar é ter mais; diminuir ficar com menos; multiplicar é amontoar; dividir, o mesmo que compartilhar ou repartir. Tudo isto ia exemplificando, a giz branco, no negro da ardósia do quadro. A conta de que ele mais gostava era a de dividir.
Deixava o quadro, caminhava entre as filas de carteiras e ia dizendo: «há alunos que trazem duas laranjas, duas bananas, ou dois pães para o lanche, e outros não, porque os pais não têm dessas coisas em casa para lhes darem. Os que isso trazem podem dividir com o companheiro de carteira (éramos dois, em cada uma), que nada trouxe. Já sabem que dividir dois por dois dá um. Assim, cada um fica com uma laranja, uma banana e um pão. O resto é zero, e como é zero, nada fica, nada se estraga”
Passámos a fazer aquelas contas. Nas minhas não aparecia resto zero. O que via no lugar do zero era outra palavra, um pouco maior – amigos!
As bananas, laranjas e pães repartidos deixaram-me um sabor para toda a vida: o gosto pela conta de dividir.
Obrigado Professor!
Dizia-nos ele: somar é ter mais; diminuir ficar com menos; multiplicar é amontoar; dividir, o mesmo que compartilhar ou repartir. Tudo isto ia exemplificando, a giz branco, no negro da ardósia do quadro. A conta de que ele mais gostava era a de dividir.
Deixava o quadro, caminhava entre as filas de carteiras e ia dizendo: «há alunos que trazem duas laranjas, duas bananas, ou dois pães para o lanche, e outros não, porque os pais não têm dessas coisas em casa para lhes darem. Os que isso trazem podem dividir com o companheiro de carteira (éramos dois, em cada uma), que nada trouxe. Já sabem que dividir dois por dois dá um. Assim, cada um fica com uma laranja, uma banana e um pão. O resto é zero, e como é zero, nada fica, nada se estraga”
Passámos a fazer aquelas contas. Nas minhas não aparecia resto zero. O que via no lugar do zero era outra palavra, um pouco maior – amigos!
As bananas, laranjas e pães repartidos deixaram-me um sabor para toda a vida: o gosto pela conta de dividir.
Obrigado Professor!
23 comentários:
Todos deviamos ter um Professor Cardoso...
beijinhos
que linda lembrança de uma forma de aprender com alguém muito especial.
Tão bom quando percebemos que pessoas lindas passaram por novas vidas, aplainaram nossos caminhos, ensinaram-nos a melhor viver.
beijos e boa tarde
Adorei esta maneira nova que aprendi hoje por si de fazer essas contas, vou tentar ensinar isto aos meus filhos, quando os tiver!
Beijocas ;)
Carlos
Maravilhosa esta lição e de certeza, esteja onde estiver o teu velho professor, há-de sentir orgulho do seu aluno que aprendeu tão bem a dividir pelos amigos!
Um beijo
Graça
Vim a partir do blog da minha amiga Maria João - Pequenos detalhes - por me terem chamado a atenção os teus comentários lá.
Em boa hora o fiz, pois gostei imenso do teu espaço.
O teu último post é encantador. Essa imagem de a conta de dividir não dar resto zero mas sim "amigos" é espantosa! Linda!
Sem querer parecer piegas, atrevo-me a dizer que chega a ser comovedora.
E depois...um professor assim, quem não gostaria de ter?
Bom, com tudo isto tenho que fazer-me tua seguidora, para não te perder o (precioso) rasto.
Beijinhos
Mariazita
Que lindo,amigo.Numasemana em que estou meio fragilizado,desanimado,leio isto e me arrepio. Sábio professors cardoso.Deve ter percebido que gosto muito de histórias de escola,pois contei tantas no meu blog numa gostosa saudade. O resultado dessa matemática nao é mesmo zero, é o amor ao próximo. Parabéns
Amigo Carlos! Se calhar somos dois com lembranças destas,tive uma professora que era um amor de pessoa,no meu tempo trazia consigo o almoço,e como havia uma menina que pouco tinha,ela repartia com ela o mesmo,e nos ensinava a dar,nunca mais esqueci a mesma,e ainda hoje tenho saudades.Grande lição esta,como se devia ensinar nos tempos que correm,mundo egoísta que estamos a assistir diáriamente.
Beijinho de amizade
Lisa
Rosário Albuquerque
Pois devíamos, só que hoje...
Dulce
O meu Professor Cardoso não foi único!
A minha Professora de Português (já no liceu, aí acho que dizem vestibular)também vive na minha memória. Um dia falarei dela.
Beijos
Karochinha
De certo que os seus filhos virão!
Ensine-lhes a tolerância, a fraternidade, a amizade e o amor pelo próximo. Sentir-se-á uma MÃE!
Beijocas
Graça Pereira
Obrigado, Graça. Honra-me sempre a tua presença.
Um beijo
Mariazita
Vens de uma amiga comum, a Maria João.
És bem-vinda.
Obrigado pelo comentário, que me sensibilizou. Irei ao teu blog (ainda não sei a qual deles) e por lá ficarei para nos irmos encontrando.
Beijinhos
Carlos Soares
Obrigado, xará. Nada de desânimos. Prá frente!
Abraço
Agulheta
Olá, Amiga.
Somos dois, ainda bem!
Parece-me que hoje, no ensino, há valores que se perderam. Não só no ensino...
Beijinhos
As minhas contas de dividir foram aprendidas com muito menos entusiasmo. A professora era a Clara e gostava mais de ver os números a passar no relógio do que no nosso caderno. É como em tudo, há bons e maus profissionais...
Marta Albuquerque
Tens toda a razão...
Acho que quem baptizou a professora Clara se enganou no nome que lhe deu, digo eu!
E assim se aprende VIDA vivida, e assim se aprendem VALORES, e assim se aprende SOLIDARIEDADE, e assim se aprende AMIZADE!
Abraço, Amigo.
Carlos.
Que aula gostosa!!
Associar a matemática com a vida é sem duvida uma grande lição.
Os alunos odeiam a matemática dos algorítimos sem compreensão, mas eu imagino que seja porque os professores desconhecem os segredos do Professor Cardoso.
Beijos
heli
Carlos
Excelente relato! Repleto de emoção, ternura e vida.. cheio de valores semeados em terra fértil.
Emocionei-me, porque cada palavra sua produziu em mim o eco das coisas vividas!
Muito obrigado por este momento!
Um beijinho
Maravilhosa lição e certamente o professor Cardoso sabia o q estava fazendo...dividir é o tudo.
mil beijos!
Se eu tivesse um professor assim,nao teria as dificuldades de aprendizado que tenho hoje. Apanhava da professora porque errava as contas, uma vez ela chegou a quebrar um régua gde na minha mão. Muito obrigada pelo comnetário no meu blog. É muito importante pra mim. bjão novo amigo!
Caro amigo Carlos;
Quando assim ensinada, como é fácil a Matemática...
É que além da matemática, o professor era professor de filosofia e humanismo.
Belas lembranças, Carlos.
Um abraço,
Osvaldo
Verdadeiro Mestre, aquele que ensina para além de uma "sala de aula".
Excelente lição!
Um beijo.
Que lição maravilhosa! Que texto edificante...
Obrigada por nos presentear com liçoes assim! Um abraço,
Nereida
Carlos,
Obrigada pela sua visita e interesse.
Amei a sua historia. Verdade, se requer sensibilidade para ensinar não só as contas mas lições de caráter e benevolência. Por outro lado se requer sabedoria para poder aceitá-las. Certamente não todos os teus companheiros terão sido afetados pela lição...
abraços,
Paula
Bem, cheguei ao blogue comecei a ler e fui por ai fora não consegui ler apenas o primeiro texto.
A amiga Dulce tinha razão em recomendar, pois estou a adorar e tenho intensão "se o meu tempo permitir" de ler tudo
Um Beijo
Bel
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