terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nada de barulho!


“Leiam o livro, e nada de barulho”.


Falou o professor, ao começar a aula, sentando-se de seguida à secretária, sem mais nada dizer.
Isto contou-me um jovem aluno, que acrescentou: “quis dizer ao professor que, se era só para ler, fazia isso em casa e voltava depois para o teste, mas tive medo”.
O professor ali de cima pertencerá, provavelmente, a um dos sindicatos que hoje se reúnem com a nova Ministra da Educação. Será que também lhe vão à frente um papel, dizer leia e nada de barulho?
Lembrei-me da Professora de Português dos meus anos de liceu. A Senhora (que saudades!) dizia-nos, algo parecido, porém com uma diferença, o “nada de barulho” era substituído por um “se não perceberem alguma coisa perguntem”. E perguntávamos, perguntávamos sem medo. Ela gostava que a interrogássemos. Não se ficava por aqui, ia passando pelos alunos, querendo saber: “estás a gostar do que lês?”.
Um dia, ao começar a aula, disse-nos:
“Não chega conhecer, temos que estar informados”. Percebemos o que nos queria dizer.
Com ela, ler era um prazer. Aprendi a amar a leitura, e a fazer da escrita uma companheira.
Como eu gostaria que a minha Professora de Português estivesse hoje na reunião com a nova Ministra da Cultura!
(Este post é dedicado aos Professores, seres que exercem uma das profissões mais nobres)

21 comentários:

Roberta de Souza disse...

Muito bom seu texto.
Concordo plenamente com vc!

Bj
Beta

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Carlos

Uma linda homenagem.
Nós que tivemos a sorte de termos bons professores, sabemos bem que no ensino, é o professor que faz a diferença...
Beijos e boa tarde.

RENATA CORDEIRO disse...

Boa Tarde, Carlos!
Tocante postagem! Aprecio muito. Por quê? Porque fui professora de Filosofia do 1 ano do Ensino Médio na rede pública do estado de São Paulo. Minha experiência: fontes primárias, não só de filosofia, mas o que na época eu julgava que tocasse de algum modo os alunos. Tudo na máquina de escrever e depois no mimeógrafo a manivela. Os dois primeiros textos: 1 capítulo de Iracema. Dificuldades: vocabulário. Resolvidas. Método: maiêutica (só conhecia esse). O que você entende por isso? Um aluno ergue a mão. Responde. Outro. E Outro e vai até bater o sino. Tinha um projeto em mente; caso contrário, não começaria. 2 texto: Mito de Eros e Psique. Resultado: muito positivo. Todos os alunos, ou quase todos, apreciaram, sobretudo porque tiveram acesso justamente às fontes primeiras.
Foi uma experiência única e enriquecedora de que jamais me vou esquecer.
Obrigada, amigo, por esta partilha. Sinto-me elogiada por esta linda postagem. Além do que, me proporcionou um resgate.
Beijos e carinhos
Boa Semana
Boa saúde,
Renata

Manuela Freitas disse...

Olá Carlos
Muito interessante o teu texto. Considero que é muito nobre a profissão de professor e revolta-me com a forma como têm sido tratados. Tenho professores na família e bem vejo como eles abdicam de muita coisa, para preparem o seu trabalho e descansarem, porque o seu trabalho é esgotante.
Todos sabemos que há bons e maus professores, como em todas as profissões, eu também tive professores que me marcaram e que até foram um incentivo para ir mais longe.
Vamos lá a ver se vai haver consenso, relativamente aos problemas que se têm arrastado com os professores.
Beijinhos,
Manuela

Agulheta disse...

Amigo Carlos! Adorei o texto que fala numa das mais dignas profissões,tudo deve ter um princípio,em todas as profissões temos bons e menos bons,mas eu respeito muito o professor,que nos dias que correm não é muito fácil o ser. Tudo é muito difícil de gerir,porque não podem os meninos ouvir um berro,uma chamada de atenção,porque os pais não gostam.Os pais tem o dever de educar,o professor ensinar,se as crianças forem de casa ensinadas a respeitar,temos gente,senão temos a rebaldaria que se vê.Ainda guarda recordações dos meus.
Beijinho e obrigado pelas palavras no blog.
Lisa

Penélope disse...

Bela postagem, meu amigo.
Muitas vezes por conta de bons professores é que surgem grandes leitores e o contrário também se faz...
Beijinhos em teu coração

O mar me encanta completamente... disse...

Adorei a construção poética
acompanhando a vibração
dos seus sentimentos puros e intensos...
Lindo mesmo!

Beijos

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Carlos, estou visitando seu blog pela primeira vez, gostei muito de seus textos. Vou voltar.
Um grande abraço

Mª João C.Martins disse...

Carlos

Tenho pelos meus professores, uma profunda admiração e respeito. Foram eles os meus mestres, que com sabedoria e paciência me ajudaram a crescer e souberam semear em mim o gosto e prazer pela busca no conhecimento. Sinto-me previligiada por isso.
Concordo que hoje em dia, falta a muitos professores a motivação e o gosto pela nobre função que desempenham. Mas a sociedade mudou e temos assistido a uma verdadeira cultura do desrespeito e da desautorização da figura do professor e da pessoa mais velha em geral. As crianças têm apreendido a desvalorizar a figura e a função do professor, muitas vezes pelas atitudes dos seus próprios pais. Não será fácil ensinar nesta conjuntura e aceito isso. O que me preocupa, sériamente, é que serão sempre as crianças que sairão prejudicadas desta situação, crianças e jovens de hoje que serão os adultos da sociedade de amanhã, num futuro que todos desejamos que seja melhor.
Tenho dúvidas!

Um beijinho

João Videira Santos disse...

Um texto interessante. Gostei e...voltarei.
Abraço

Graça Pereira disse...

Benditas as professoras de Português que tivemos!!! Estejam aonde estiverem reveem-se felizes nos seus alunos...Tambem é verdade que não é fácil hoje em dia ser professor...Contudo, continua a ser
uma das profissões mais dignas...lembrar-se-á o senhor Presidente da República, o senhor Primeiro Ministro que, um dia lá atrás, tiveram um professor??
Um beijo
Graça

Carlos Albuquerque disse...

Beta
Grato pela presença. Sempre desejada.
Bj

Dulce

Pois é, minha amiga, no ensino é o professor que faz a diferença...

Beijos

RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO
É com muito gosto que a vejo aqui.
Gostei de conhecer a sua experiência, enriquecedora, sem dúvida, para alunos e professora.
Beijinhos
Regresse sempre que quiser

Carlos Albuquerque disse...

Manuela Freitas
Acredito que se são encontrar consensos para resolver os problemas que têm afectado professores, e não só.
Beijinhos

Agulheta
Há sempre bons e maus profissionais em qualquer sector, é verdade, e a gestão não é fácil.

Beijinho

Malu
Nada mais certo do que o que disse!

Beijinho

Carlos Albuquerque disse...

O mar me encanta completamente

Como sempre carinhosa e poética no comentário

Beijos

Wanderley Elian Lima

Seja muito bem-vindo, cá o espero, de novo.

Grande abraço

Maria João
Estamos ambos de acordo.Os nossos professores marcaram-nos, por isso ainda hoje os recordamos. Quanto ao que diz sobre o desrespeito e desautorização da figura do professor, aqui deixe que lhe diga que quem não se dá ao respeito não é respeitado.
Um beijo

Carlos Albuquerque disse...

João Videira Santos
É um prazer receber um novo amigo. Vou visitar o seu blog.
Um abraço

Graça Pereira
Estou contigo. Não me parece que o PR, o PM e as vozes da oposição se lembrem que um dia tiveram professores! E esta convicção instala-me um desassossego que não gostaria de ter.
Um beijo

Elvira Carvalho disse...

É bom quando se recordam os professores pelo que nos ensinaram.
Eu só tive uma professora. Não tenho boas recordações dela, não fora o meu pai e não sei se eu teria aprendido a ler e escrever. Também era uma professora para mais de 50 alunos. Da 1ª à 4ª classe. Quando penso nisso hoje penso que nem sei como era possível, ela dar conta do recado.
Um abraço

Teresa Diniz disse...

Não quero duvidar de si, mas não acho possível dizer a uma turma "leiam e nada de barulho" e eles cumprirem. Hoje os miúdos já não são assim e exigem tudo de nós, durante a aula inteira.
Abençoados os que ainda lembram e abençoam os professores que tiveram.
Abraço.

Carlos Albuquerque disse...

Teresa
Não duvide. A ordem "leiam, e nada de barulho" aconteceu, e acontece. Não digo, no meu post, que os alunos "cumpriram". O que referi foi o que um deles pensou,teve medo de dizer, e me levou a recordar a minha Professora, que jamais diria uma ordem daquelas. Medo! Exactamente o que hoje dizem, também, muitos professores.Há de tudo,entre discentes e docentes. Dos meus professores na primária, no liceu e na Faculdade, recordo-me com saudade, só guardo boas memórias. Tenho amigos, da minha geração, que já não dizem o mesmo... Porque será?
Sei que é professora (também já ensinei), mas permita-me dizer-lhe que as generalizações não são boas conselheiras.
Gostei de a ter encontrado. Volte, será sempre bem-vinda.
Abraço

Teresa Diniz disse...

Tem toda a razão, não devemos nunca generalizar. Mas temos sido tão maltratados, que tenho necessidade de dizer o que me vai na alma, às vezes. Ninguém imagina o que hoje nós passamos, dentro e fora da sala de aula, com os meninos e os papás dos meninos, que nos vêm exigir o que não são capazes de fazer em casa.
Quando comecei o blogue, foi precisamente por uma necessidade premente de me evadir da escola. Depois, outros interesses foram acontecendo, claro. Mas, no início, foi a revolta: porque é que ao fim de quase 30 anos de trabalho tenho de aguentar isto?!
Abraço
(Já falei demais de escola!)

Carlos Albuquerque disse...

Teresa
Não nego que professores tenham sido maltratados.Diga sempre, e não só às vezes, o que lhe vai na alma! Julgo que estará de acordo comigo: não estávamos preparados para a Liberdade readquirida (fica assim, na primeira pessoa do plural). É ver, por aí, como grassa a imbecilidade! Os papás a que se refere (dou-lhe toda a razão) são fruto disso. Mas não só os papás...
Já alguma vez participou numa reunião de condomínio ou ouviu o "opinião pública" da SIC?...
Tem acompamhado, certamente, a liturgia de analistas políticos que escrevem nos jornais, falam nas rádios e peroram nos canais televisivos...
Penso que este é o quadro porque estamos a passar, reconquistada a Liberdade, a caminho de outro que espero melhor!
O que eu não aceito, não aceitarei, é que um professor inicie uma aula dizendo o que disse: leiam o livro, e nada de barulho. A vírgula está ali, cumprindo o papel que lhe compete - criar uma pausa na leitura para que melhor a entendamos.
Compreendo, perfeitamente, as razões que a levaram à criação do seu blog. Peço-lhe, mantenha a sua revolta!
Há um fardo que nos caiu em cima. Temos que com ele caminhar. Se não o fizermos, quem o fará? A imbecilidade?
Não falou demais sobre a escola. Aqui, no meu blog, terá sempre o espaço que quiser, sem qualquer crivo censório! Venha, venha quando quiser.
Abraço

Teresa Diniz disse...

Obrigada pelo convite. Tem toda a razão no que disse e, sabe?, o mais triste é que eu acho que a Escola tem uma enorme responsabilidade no estado em que está a sociedade, nessa imbecilidade geral de que fala e de que, acredite, eu sou boa testemunha. Porquê? Porque a Escola não está a preparar os alunos para a sociedade. O facilitismo e a mediocridade da escola actualmente não preparam os miúdos para o trabalho, o empenho, a persistência, pensar antes de falar, ter espírito crítico... E como as famílias também não, aí temos o resultado.
Disse que já tinha falado muito de escola porque já percebi que não adianta falar. O meu discurso é incómodo, não é o das elites dominantes no nosso eduquês. Melhor distrair-me com o blogue, não é?
Tenho muito prazer em recebê-lo nas minhas salas de visita: o "Óculos do Mundo" tem as minhas reflexões sobre o mundo e o quotidiano; o "Olhares Viajantes" é uma espécie de álbum de viagens virtual. É bem vindo em qualquer deles.
Abraço.