Rompe magnífica e medonha, a tempestade. Apaga-se o horizonte, não se lhe vê franja.
A ventania verga, a seus pés, mulembas e mangueiras. Cajueiros tombam cansados, cavalgados por vultos irados da floresta. Lá mais atrás, fetos gigantes abraçam-se às acácias. Em cada poça de água a tremulina mostra o chispar do céu. Emagrecida, a Lua retira-se. Nuvens descem a boiar, descarregam, desenfreadas. Caxindes tremelicam nervosos, ao passar enleante da jibóia recolhendo-se ao palmar. A capota e a prole buscam o ninho.
Sabrina salta da cabina.
- Tive uma ideia! Vamos desencaixotar embalagens. As tábuas darão para se fazer um estrado para o macaco.
- Pode ser!
Desatam cordas, enrolam oleados. A madeira sobre a lama serve de sustento. André, o ajudante, manivela, Paulo ajuda. Sabrina aproxima-se. Descuidada, desequilibra-se desamparada, tomba no charco. Estás boneca de barro, diz-lhe Paulo com voz a rir, meio abafada pelo ramalhar das árvores agitadas.
Já vais ver! Zum! Sabrina atira-lhe com lama.
André põe mão no desatino.
- Então!? Vamos mudar o pneu, ou não?
Finalmente o trabalho está feito, poderão prosseguir viagem. Gritam e pulam, os três, contentes. Pinoteiam à chuva numa dança agora nascida. Sabrina despe-se por completo. Não é mais a boneca de barro, mas doce flor de mafumeira com os longos cabelos soltando-se-lhe por peito e costas, fios de seda acariciando-lhe os seios. Paulo segue-lhe o exemplo. André também.
- Haka! Vocês, brancos, são mesmo malucos!
- E tu, meu negro, és o quê?
- Aiué, meu irmão! Aiué! Um feliz, um buereré feliz. Vocês me dão gana de ser feliz.
A nudez dos corpos, mostrada esplendorosa a cada relâmpado, não os envergonha, nem os perturba. Dão-se as mãos. Metem-se de harmonia com o cair sincopado das gotas de chuva. Dançam em roda, ora para um lado, ora para outro, à cadência do pulsar dos corações joviais, todos de uma vez, como um só rufo batendo-lhes dentro. São criaturas de fora do mundo da gente, duma lonjura onde fronteira é pau desconhecido.
A chuva bebe-os, aligeira-os da lama, percorre-os com um sopro suave. Entre trovões, a voz de Sabrina agiganta-se à do alto:
- Somos irmãos.
Paulo e André vão atrás:
- Somos irmãos.
Os três, em conjunto, lançam um grito, abafando ribombar mais forte.
Da dança sobem silhuetas atravessando as nuvens, desenhando o arco-íris a caminho da madrugada de um novo começo. As árvores vão secando o orvalho das lágrimas do céu.
Com a prole sob as asas a capota adormece. A jibóia deixa-se estar.
Os vultos da floresta fogem. A tempestade parte. A Lua ressurge, Nova, brilhante!
A ventania verga, a seus pés, mulembas e mangueiras. Cajueiros tombam cansados, cavalgados por vultos irados da floresta. Lá mais atrás, fetos gigantes abraçam-se às acácias. Em cada poça de água a tremulina mostra o chispar do céu. Emagrecida, a Lua retira-se. Nuvens descem a boiar, descarregam, desenfreadas. Caxindes tremelicam nervosos, ao passar enleante da jibóia recolhendo-se ao palmar. A capota e a prole buscam o ninho.
Sabrina salta da cabina.
- Tive uma ideia! Vamos desencaixotar embalagens. As tábuas darão para se fazer um estrado para o macaco.
- Pode ser!
Desatam cordas, enrolam oleados. A madeira sobre a lama serve de sustento. André, o ajudante, manivela, Paulo ajuda. Sabrina aproxima-se. Descuidada, desequilibra-se desamparada, tomba no charco. Estás boneca de barro, diz-lhe Paulo com voz a rir, meio abafada pelo ramalhar das árvores agitadas.
Já vais ver! Zum! Sabrina atira-lhe com lama.
André põe mão no desatino.
- Então!? Vamos mudar o pneu, ou não?
Finalmente o trabalho está feito, poderão prosseguir viagem. Gritam e pulam, os três, contentes. Pinoteiam à chuva numa dança agora nascida. Sabrina despe-se por completo. Não é mais a boneca de barro, mas doce flor de mafumeira com os longos cabelos soltando-se-lhe por peito e costas, fios de seda acariciando-lhe os seios. Paulo segue-lhe o exemplo. André também.
- Haka! Vocês, brancos, são mesmo malucos!
- E tu, meu negro, és o quê?
- Aiué, meu irmão! Aiué! Um feliz, um buereré feliz. Vocês me dão gana de ser feliz.
A nudez dos corpos, mostrada esplendorosa a cada relâmpado, não os envergonha, nem os perturba. Dão-se as mãos. Metem-se de harmonia com o cair sincopado das gotas de chuva. Dançam em roda, ora para um lado, ora para outro, à cadência do pulsar dos corações joviais, todos de uma vez, como um só rufo batendo-lhes dentro. São criaturas de fora do mundo da gente, duma lonjura onde fronteira é pau desconhecido.
A chuva bebe-os, aligeira-os da lama, percorre-os com um sopro suave. Entre trovões, a voz de Sabrina agiganta-se à do alto:
- Somos irmãos.
Paulo e André vão atrás:
- Somos irmãos.
Os três, em conjunto, lançam um grito, abafando ribombar mais forte.
Da dança sobem silhuetas atravessando as nuvens, desenhando o arco-íris a caminho da madrugada de um novo começo. As árvores vão secando o orvalho das lágrimas do céu.
Com a prole sob as asas a capota adormece. A jibóia deixa-se estar.
Os vultos da floresta fogem. A tempestade parte. A Lua ressurge, Nova, brilhante!
10 comentários:
Muito obrigada meu querido amigo,pelo belo poema que me dedicou,amei...amei.
Para si um beijão...MIUÍKA
Amigo Carlos,
Por questões de saúde, vou estar pelo menos um mês sem comentar e sem publicar nada.
Estou fazendo uma despedida aos meus amigos do peito, esparo que seja por pouco tempo.
São apenas exames, mas enquanto não saber os resultados não tenho ânimo para fazer nada. Já passei por esta experiência uma vez foi bastante dolorosa mas no final tudo
correu bem, desta vez tenho poucas expectativas.
mas eu sou um resistente e vou ganhar mais esta batalha
tenho o apoio de uma familia maravilhosa que me vão apoiar nesta luta.
Irei deixar qualquer coisa escrita
no meu blog e irei passando por aqui todos os dias.
Um grande grande abraço meu amigo
espero que a minha ausência seja breve
texto poético , com ricas descrições.Belas metáforas. Gostei!
Carlos! Belo texto,onde a juventude rompe os sonhos e impulsos da hora vivida.
Beijinhos de amizade Lisa
CARLOS: sinto muita vida, neste texto narrativo/poético!A mensagem para mim é que ,apesar de todas as contrariedades, a VIDA NASCE TODOS OS DIAS.
BJTs de LUSIBERo
MIUÍKA
Satisfaz-me ter gostado do poema.
Beijinhos.
José
Espero que regresse em boa forma. Desejo tudo de bom para si. Estou a preparar-me para algo semelhante.
Grande abraço
Ignoto jardim
"belas metáforas". Obrigado pela gentileza.
BJS
Agulheta
Talvez seja como diz, a juventude a romper...
Beijinhos de amizade
Maria Ribeiro
É certo que a vida nasce todos os dias. Este texto procurou-me porque hoje acordei.
BJS daqui
Carlos,
Magnífica tempestada a nos renovar a vida. Parabéns! Abraço, ney.
Belíssimo, este texto que o procurou hoje só porque acordou.
Texto mágico, que fez sorrir enquanto o lia.
Poético, Carlos.
Um beijo.
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