sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ver e ouvir este Sábado (Mãe Preta)

Tenho por hábito propor aos amigos do meu blog algo para ouvirem ao Sábado. Desta vez antecipo-me para este terminar de Sexta-Feira. Porquê? O Brasil vive hoje o Dia Nacional da Consciência Negra. Se quiserem saber do que se trata podem ir ao Chega Junto. Eu vivo a saudade, que me queima, da Mãe África, que me viu nascer branco
Mae Preta

Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou

Era assim que mãe preta fazia
criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava

Mãe preta, mãe preta

Enquanto a chibata batia no seu amor
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô
(Piratini / Caco Velho)

(Mãe Preta foi interpretada por Amália Rodrigues, Paulo de Carvalho e Dulce Pontes, entre outros. Optei por esta)

14 comentários:

heli disse...

Carlos.
Cheguei a emocionar-me com a apresentação do vídeo e com a música escolhida.

Em termos culturais, o reconhecimento às contribuições dos descendestes dos povos africanos é algo recente, até bem pouco tempo encarava-se com certa curiosidade e até mesmo suspeição as manifestações culturais, de uma riqueza longe de ser totalmente explorada. Como em relação a muitas outras coisas, foi preciso que houvesse antes um reconhecimento internacional para que no Brasil se começasse a valorizar o que sempre esteve à nossa vista.

Abraços e obrigada pela visita ao Chega Junto.

Mª João C.Martins disse...

Carlos

Contava-me com frequência o meu Pai, quando recordava a sua passagem de 2 anos por terras da Guiné, numa guerra que nunca entendeu completamente, que certa vez, após uma noite dormida na inconsciência de um semi-coma etílico, abriu os olhos e fixou-os no olhar de uma mulher preta, que com o maior dos sorrisos, aconchegava o seu rosto no regaço e lhe dava colheres de canja à boca.
Dizia ele, que se havia sentido novamente menino ao colo da sua mãe e naquele negredo, aquela foi a melhor sensação do mundo.
Quando oiço esta musica, recordo sempre esta história, uma das muitas que me ensinou que a dignidade humana, não tem cor, religião, política, sexo ou condição socio-cultural.


Um abraço

ematejoca disse...

Só gosto da Mãe Preta interpretada pela a Amália Rodrigues!!!

Há um desafio de fim-de-semana no
"ematejoca azul". Por favor, aceite-o!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Carlos.

Foi com muita emoção e uma lágrima que teimou em rolar pelo meu rosto, que li e ouvi este hino a África, a todos os que foram escravizados e mal tratados, especialmente as mulheres, não fosse eu mulher...e muito principalmente à mãe preta.
PARABÉNS!

Como Portuguesa, sinto muita vergonha do que foi feito durante a colonização, muita mesmo.

Abração amigo,
Bom fim de semana.

Penélope disse...

Bela e tocante representação, meu amigo, que só poderia partir de uma pessoa como ti.
Ontem aqui aconteceram grandes eventos, muitos deles alegóricos de uma certa forma, desviando-se do propósito da data, mas hoveram também palestras de grande valia.
A história teima em fugir das pessoas, que estão cada vez mais desconhecendo seus costumes, suas tradições e suas origens. Isto é triste, Carlos.

maria teresa disse...

Nunca vivi em África e dela conheço apenas paises do norte mas esta canção, bem minha conhecida, sempre me fez um friozinho na coluna...

Carlos Albuquerque disse...

heli

Não é fácil evitarmos que a emoção nos toque quando vemos o vídeo.
Abraços

Maria João

Não na guerra, mas ainda em menino vivi momentos que me marcaram como a seu pai...
Um abraço

ematejoca

A voz de Amália é incomparável, mas para mim esta interpretação de um quase desconhecido, tocou-me mais fundo.
Sobre o desafio já fui ao seu blog.
Abraço

Carlos Albuquerque disse...

Fernanda

São tantas as manchas que a Humanidade carrega!
O importante é não repetirmos o passado no presente e no futuro.
Abração, bom fim-de-semana

Malu

Não podemos fugir à História. Temos é que caminhar, ponderando...
Beijinhos

maria teresa

Faz mesmo um friozinho na coluna...
Gostei de a ver nesta cubata

Manuela Freitas disse...

Olá Carlos,
Uma emocionante sugestão! Tantas vezes sinto necessidade de ouvir essas canções que me motivaram emoções, exaltações e muitas utopias!... Hoje há um desencanto, mas ao ouvi-las ainda se acende uma luzinha no meu peito!...
Beijinhos,
Manuela

Teresa Santos disse...

Carlos,
Sabes? Há alturas em que quase se fica sem palavras! Depois de ver o video foi isso que me aconteceu. Claro, que já conheço esta canção há anos, e sempre me tocou de forma muito especial.
Sentia, sinto, uma vergonha imensa por esse período da escravatura, pelos maus tratos que eram infligidos aqueles que no fundo, tinham uma grande ternura pelos seus senhores, principalmente, pelos seus meninos que acarinhavam como seus. Lamento que se tenha querido conspurcar uma civilização na sua maneira tão autêntica de estar/ver/viver a vida.
Penso que tinhamos ganho se o processo tivesse sido inverso. Tinhamos aprendido valores e saberes únicos.
Obrigada, Amigo.
Como te invejo pelo que bebes-te naquele mundo mágico!

Teresa Diniz disse...

Olá Carlos
Lembro-me bem desta canção, interpretada pelo Paulo de Carvalho. O segredo está em nos respeitarmos uns aos outros. Parece fácil, mas é tão difícil, não é?
Quando dizes que nasceste branco em África, fizeste-me lembrar o Pepetela, de que eu gosto tanto, no livro "O Planalto e a Estepe." Deixo como sugestão.
Bjs

Agulheta disse...

Carlos!
É com alguma nostalgia que li o texto e senti uma revolta,do tempo que escravizou e maltratou seres humanos,então em África...Os senhores era os donos destes seres como de coisas sem importânciase tratassem, como dói na alma recordar todos este triste cenário,por vezes fica bem no fundo esta vergonha que temos guardada.Sabes ainda me lembro de ouvir em casa dos pais,uma tia,um dia pelo carnaval se vestiu de Mãe-Preta,e cantou esta canção de que falas,e não é que a PIDE,a foi buscar a casa,á força de porrada e a manteve um dia inteiro pressa para dizer o porquê daquilo! Olha amigo,que nunca voltemos a este tempo,nem os filhos nem os netos,peço sempre.
Beijinho

O mar me encanta completamente... disse...

Saudades poeta,
Fico feliz demais ao ver sua obra literária...
O mundo blogueiro só tem a ganhar com sua presença e escritos dignos
do grande poeta que vc é, de fato.
Há alguns dias não vinha aqui, aproveitei e me alimentei de
uma farta porção de sua inspiração...
Hoje vim te ler, e compartilhar com você um presente:
Sou a poetisa da semana no Blog do VALTER POETA e
é claro, gostaria que lesse, e caso queira, opine.
É sempre pra mim um prazer e uma honra saber sua concepção,
sua opinião, seu parecer.

Te espero...

http://valterpoeta.blogspot.com


Beijinhos... Glória

Sitônio disse...

Carlos,
se você sabe qual gravação Amália fez de "Mãe Preta" (Caco Velho - Piratini, 1934), por favor indique-me, pois há anos que procuro. Assim como de Paulo de Carvalho. Sei que ele gravou "Mãe Negra". Tenho encontrado "Mãe Preta" referida à Amália, mas, quando abro, trata-se da versão portuguesa "Barco Negro" (Caco Velho - Piratini - D.J. Mourão- Ferreira). Quando Jacques Morelenbaum era o maestro de Mariza, propus a ele gravar as duas peças em seqüência, como uma só, numa só faixa. Ele gostou da idéia, mas pouco tempo depois deixava o grupo de Mariza. Agora, estou tentando entrar em contato com o grupo Maria Lua, ou com Lara Afonso, que já gravaram as duas toadas (a peça original foi composta como uma toada), para juntarem as duas numa só. Mandei um emeio para os editores com essa proposta. Se você tiver o contato do grupo (ou de Lara), ou do produtor, por favor remeta-me.
Diariamente ouço essas peças.
Um abraço daqui do Brasil,
Sitônio.