terça-feira, 19 de maio de 2009

Perguntei à Vida





És tu que andas por aqui?

Aconteceu.
A primeira vez:

Estava eu prestes a passar-me para o segundo sono e eis que um som, que não consegui decifrar, me fez acordar e descerrar os olhos. Por breves instantes, não sei quantos, não deu para pegar neles e contá-los, vi uma imagem a esfumar-se. A primeira foi uma figura de mulher, de braços abertos, cabeça levantada e coberta, pareceu-me a sorrir, vestida até aos pés.
Fui a correr lá acima, em busca do rosto daquele sorriso. Nada! Nicles! Quando lá cheguei já aquilo se tinha ido embora. Levantei-me. Fui à casa de banho, passei água pelos olhos e recolhi à cama. Dormi, sozinho, até de manhã.
A segunda:

Dias depois, melhor dizendo, umas noites a seguir, quase logo após ter pegado no primeiro sono, voltou o tal som, agora um barulhito agudo. Fez-me abrir os olhos. Não, não, não estava lá nenhuma mulher, mas sim um par de braços e uma cabeça de homem, que me pareceu familiar, mas só isso, a quererem abraçar-me (seria?). Desta feita ergui eu os braços. Em vão. Só pus as mãos no vazio. Não me levantei. Puxei o lençol e o cobertor. Atirei-me ao sono e por lá me quedei até um raio da manhã ter entrado pela persiana mal fechada a despertar-me, sem que nada me tivesse voltado a abrir os olhos.
A terceira:

Não ficou por ali. Já veio outra vez. Agora mais de mansinho. O som franzino parecia um zunido. A imagem de uma mulher, sim de uma mulher de cachecol ao pescoço, sorridente (quase lhe vi os dentes, mas os olhos não, não estavam lá, só uns redondos escuros!), de braços alçados, vestida até aos pés como a da primeira vez. Esta pareceu-me mais adelgaçada. Levantei-me, andei pelo corredor, virei à esquerda para a sala, liguei as luzes. Estava tudo no sítio. Não sei porque me dei a esta verificação. De que andaria eu à procura? A verdade é que o fiz. Dei a volta ao interruptor, voltei para trás. Um arrepio roçou-me as costas a arrefecer-me. Vi se a persiana estava completamente fechada. Deitei-me. Mandei o frio às urtigas com o lençol e o cobertor, virei-me para a direita, pus a mão desse lado debaixo da almofada e, antes de fechar os olhos, perguntei à vida:

- És tu que andas por aqui, ou é a tua irmã?

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