segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tristeza (Benfica)





Rapazes sem jeito






Há muito que se sabe ser a terra redonda.
Os caldeus, os hindus, os egípcios, para não citar outros, já se referiam à esferacidade de terra. Na Antiga Grécia, o tema era assunto corrente.
No século IV antes de Cristo, Aristóteles demonstrou-o por A+B (quer dizer com argumentos seus), e elaborou mesmo uma teoria astronómica. Dois séculos depois Ptolomeu pegou nos argumentos de Aristóteles e defendeu-os.
Mais tarde vieram certezas científicas: a Terra é redonda ligeiramente achatada nos pólos e mexe-se com movimentos de duração variável. Cinco deles: Rotação, em torno de si próprio (24 horas); Translação em volta do Sol (365 dias e 6 horas), Precessão, deslocação do seu eixo como um pião (25.868 anos); Nutação, pequena oscilação periódica (ciclos de 18,6 anos) e Revolução em redor do centro da Vila Láctea, levando com ela o Sol, que também não está fixo lá em cima, (250 milhões de anos - nunca mais acaba!).

A bola de futebol não é, como a Terra, redonda e achatada. É só redonda, mas é chata!
Pelo menos para os futebolistas do Benfica, que não tendo Aristóteles ou Ptolomeu à mão, ainda não perceberam como é que ela se movimenta e como é que na dita se mexe.
Se a atiram para a baliza contrária é certo e sabido que há-de um espectador apanhar com ela, ficando o guarda-redes a ver a banda passar. Se a recebem de um companheiro, rente à relva, ficam sem saber que movimento ela traz, e que pé lhe hão-de chegar. Vai o esquerdo e ela escapa-se, esticam o direito e ela foge. Quando vem pelo ar, param especados à espera que o azimute lhes caia do céu. Entretanto, já o adversário lá foi. Então, caiem e pedem, por gestos, ao árbitro que mostre um cartão ao adversário (coisa feia!). Quando por teimosia da bola (o esférico, ou pelota – aí Brasil! – como também lhe chamam) esta lhes chega aos pés, ensarilham-se, sem saber o que fazer à criatura, que não se mostrando rogada vai à procura de outras canetas, ou rola sobre si mesma para fora. Depois, mãos à cabeça, olhos para o céu, um ar incrédulo e, muitas vezes, o sinal da cruz! Cristo nunca jogou à bola, que eu saiba, e Deus deve ter mais que fazer! A bola dos futebolistas do Benfica não é, como as outras, redonda, é mesmo só chata!
Sou um inculto futebolístico. Admito-o, mas aquilo dá para ver.
Gosto do espectáculo quando a televisão o passa. É muita gente, imenso ruído, águias a voar, grandes planos de crianças besuntadas por gelados, mães protestando com os falhanços, pais roendo as unhas, outros ao telemóvel, outros, e outras, ainda, a caretear para as câmaras. Ah! E também 22 futebolistas e um rapaz de apito na mão sobre a relva. Todos contra este (o árbitro), um intruso que ali foi posto para estragar o espectáculo. Lá aparecem marjoretes, no intervalo, a adocicar. Tudo aquilo enchendo o ecrã, mais os comentadores que me entram pelos ouvidos fazendo-me rir de tanta parvoeira: é o mágico, é o matador, é o fora de jogo à tangente (provavelmente há-os à secante) é o…, sei lá que mais.
Desde miúdo, talvez por um daqueles fascínios que nos seduzem sem sabermos porquê, torço (aí Brasil, de novo!) pelo Benfica.
E ando triste porque aqueles rapazes a que chamam futebolistas passam a vida a fazer queixinhas (detesto queixinhas) dos árbitros, do público, dos adversários e até dos colegas. Aqueles rapazes também se portam mal, porque tratam mal a desgraçada da bola e, por arrasto, tratam-me mal a mim. E têm a obrigação de o não fazer.
O que estudaram e sofreram Aristóteles e Ptolomeu para nos deixarem os conhecimentos de que ainda hoje desfrutamos, sem nada em paga.
Para maltratarem o futebol (ou nem isso, pois muitos deles passam parte da vida no banco dos suplentes, no corte e costura) aqueles rapazes do Benfica ganham, num só mês, o que um cidadão comum amealha, com esforço, ao longo de uma vida inteira de trabalho! Não há paciente que aguente!
Solução: passem a pagar-lhes, mensalmente, dois salários mínimos (vá lá quatro, que a bica está cara!). Talvez deixem as queixinhas e aprendam a tratar da bola, que é como quem diz a jogar futebol.
Se não resultar, mandem-nos para casa e arranjem outros mais baratinhos e com vontade de se ajeitarem. Pode ser que a minha tristeza benfiquista ganhe a esperança de um dia não ser mais triste não, como diz o poeta.
Então, e o treinador? Pois! O rapaz espanhol só se assemelha a um treinador, não é. Não me parece que seja treinador quem após uma derrota diz terem sido alcançados “objectivos invisíveis” (só ele, meus, só ele) e considere o 3º lugar uma boa classificação, ou afaste um futebolista, de provas dadas, com o argumento de que precisa de “ver o jogo de fora”e ponha outros no seu lugar que, estando dentro, nada vêem nem fazem. Falta-lhe, vontade, querer, ambição e o mais importante: sabedoria. Não me parece que seja treinador (aqui como líder e orientador de homens) quem trate um seu ex-futebolista como “uma pessoa que mostrou ser medíocre”. O rapaz é vazio de formação cívica, e desconhece a boa educação.
Solução: que saia pelo seu pé.
E os dirigentes? A raiz da tristeza benfiquista.

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