sexta-feira, 1 de maio de 2009

Revisitar a História (1º de Maio)






O Primeiro de Maio







A 20 de Junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu convocar anualmente os trabalhadores para uma manifestação de luta pela conquista das 8 horas de trabalho diário. Em homenagem aos trabalhadores “ Mártires de Chicago” (a cidade que era o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época), o dia escolhido foi o Primeiro de Maio. Em 23 de Abril de 1919, o Senado francês aprovou a jornada diária de 8 horas e proclamou feriado o dia 1 de Maio desse ano. No ano seguinte a Rússia adoptou o Primeiro de Maio como feriado nacional, exemplo que foi seguido por muitos outros países. Instituíra-se o Dia Mundial do Trabalho.
Como se chegou aqui:

Há que retroceder aos primórdios da Produção Capitalista, quando ainda eram comuns práticas selvagens. Não apenas se procurava, desenfreadamente, a mais-valia, através de baixos salários, como até mesmo a saúde física e mental dos trabalhadores era comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas de trabalho diário, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal, cuidados de saúde, apoio à maternidade e reformas não existiam. Para se protegerem, os trabalhadores criaram vários tipos de organização – como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.
Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando maiores salários e redução das horas de trabalho diário. Greves, nem sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos, era, também, um dos grandes centros sindicais. Duas centrais lideravam os trabalhadores em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As organizações (centrais), sindicatos e associações, que surgiam, eram formadas principalmente por trabalhadores de tendência socialista, anarquista e social-democrata. Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. Os trabalhadores reivindicavam melhores salários e a passagem da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias. À época, Chicago não era apenas o centro da máfia e do crime organizado, era, também, o centro do anarquismo na América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.
As entidades patronais controlavam igualmente jornais, onde os líderes operários eram descritos como “preguiçosos e canalhas” que só procuravam a desordem. O Chicago Tribune foi mais longe e publicou em editorial: "Para estes vagabundos esfarrapados, a melhor comida é uma carga de chumbo no estômago". No decorrer da greve, uma passeata pacífica, pela Avenida Michigan, de trabalhadores no activo, desempregados e familiares, vestindo roupas de Domingo, e empunhando cartazes onde se lia "8 horas para trabalhar, 8 horas para descansar e 8 horas para fazermos o que for de nossa vontade", silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos no curto prazo. Do alto dos edifícios e nas esquinas a polícia vigiava, fortemente armada. A passeata terminou com um comício.
No dia 3, a greve continuava em muitos estabelecimentos. Diante da fábrica McCormick Harvester, a policia disparou contra piquetes de greve e outros operários, matando seis, deixando 50 feridos e deteve centenas. August Spies convocou os trabalhadores para uma concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos líderes pedirem calma.
Os oradores revezavam-se; Spies, Parsons e Sam Filiem, pediram a união e a continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180 policiais atacou os manifestantes, espancando-os. Uma bomba explodiu no meio dos guardas. Sessenta foram feridos e vários morreram. Chegaram reforços policiais que começaram a atirar em todas as direcções. Morreram centenas de pessoas: mulheres, homens e crianças.
Os acontecimentos ficaram conhecidos como A Revolta de Haymarket
A repressão foi aumentando num crescendo sem fim: o Governo decretou o “Estado de Sítio”, e o recolher obrigatório, com a consequente proibição de circulação pelas ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gangsters, pagos pelos patrões, invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo-lhes bens.
A justiça levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O julgamento começou a 21 de Junho de 1886 e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas.
A sentença foi lida a 9 de Outubro. Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte por enforcamento; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.
Linng, ao centro, na foto, não foi enforcado por ter sido encontrado morto na sua cela.
Gerou-se, então, um movimento de solidariedade internacional pressionando o governo dos Estados Unidos a realizar um novo julgamento, o que acabou por acontecer em 1888. O novo júri, entretanto constituído, reconheceu a inocência dos trabalhadores, admitiu, como provado, que fora um capitão da polícia a mandar rebentar a bomba em Haymarket, culpabilizou o Estado norte-americano e decidiu a libertação dos trabalhadores presos, incluindo os condenados a prisão perpétua.
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Em Portugal só a partir da Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, é que se voltou a comemorar o Primeiro de Maio, livremente, e este passou a ser feriado nacional. Hoje, as duas centrais sindicais, CGTP (Central Geral dos Trabalhadores Portugueses) e UGT (União Geral de Trabalhadores), assinalam-no, em liberdade, com manifestações e comícios por todo o país. Durante a ditadura salazarista do Estado Novo as comemorações eram reprimidas pela polícia.
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Os Estados Unidos, onde tudo começou, não reconhecem, apesar disso, ainda hoje, o Primeiro de Maio como Dia do Trabalhador. Naquele país também se celebra um Dia do Trabalhador (Labor Day), mas isso acontece na primeira segunda-feira de Setembro. É feriado federal (nacional), estando relacionado com o período das colheitas e com o fim do Verão. A decisão de assim ser foi tomada pelo presidente Stephen Grover Cleveland (Partido Democrata), por recear que a celebração em Maio reforçasse o movimento socialista nos Estados Unidos.
------------------------------------------------------------------------------------------------- Viajar pela História deixa-nos uma certeza: lutando por melhor, é sempre possível mudar. Passemos os olhos pelo texto de Manuel Alegre, reproduzido a seguir.
É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor é possível o pão. É possível viver de pé! Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre.

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