quinta-feira, 14 de maio de 2009

Revisitar a História (fuga à República)




A fuga do último rei

“…A imensidade vazia das coisas, o grande esquecimento que há no céu e na terra…”
(Fernando Pessoa)
A cadeira está ali. Olha o mar com a gaivota a ver. Também nós a vimos, minha mulher e eu, da mesa onde almoçámos no restaurante mesmo ao lado, na Ericeira, a terra de que se gosta, sempre que se lá vai. A cadeira vive ali há dois anos, explicou-nos o empregado que nos serviu. Antes esteve lá outra, adiantou, mas o mar roeu-a, debilitou-a e acabou por comê-la. “Sabem, foi daqui que a família real portuguesa fugiu…”. Disto lembrávamo-nos nós, mas perdoe-me Fernando Pessoa, no céu não há, certamente, esquecimento. Aquilo não é campo para lá se plantarem recordações, nem memórias, é um vazio imenso, cheio de pouca coisa. Se insistirmos no plantio, nada medrará, decerto.
Fiquei por terra e dei uma volta pela História a avivar a memória.
Pois foi!
Da Praia dos Pescadores, ali mesmo ao lado das Furnas, onde está a cadeira, fugiu a família real portuguesa (D. Manuel II, a mãe Rainha D. Amélia e a avó, Rainha D. Maria Pia) para o exílio em Inglaterra. Aconteceu a 5 de Outubro de 1910. Vinda de Mafra, para onde já fora, escapando aos revolucionários republicanos, a família real, embarcou no iate D. Amélia, fugindo da revolução republicana que estalara em Lisboa e proclamara a República.
D. Manuel II não mais voltou a Portugal. Apesar de algumas tentativas de correntes restauracionistas, a República manteve-se. O monarca fugitivo acabou por morrer em Inglaterra em 2 de Julho de 1932. A ditadura de Salazar autorizou a sua sepultura em Lisboa, tendo organizado funerais de estado. Os restos mortais chegaram a Lisboa a 2 de Agosto e estão sepultados no Panteão dos Braganças no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa.
Contei a história à cadeira.




Imagem retirada de Wikipédia

2 comentários:

Rosário disse...

vê lá que vou tantas vezes à Ericeira e nunca vi a cadeira!

Joaquim Santos(Porto) disse...

E o que disse a cadeira?
eh...eh...eh