terça-feira, 5 de maio de 2009

Morreu Vasco Granja




“Olá, amiguinhos”.





Era assim que Vasco Granja começava o seu programa “Cinema de Animação”, na RTP.

Lembram-se?

Vasco Granja nasceu em Lisboa (Campo de Ourique) a 10 de Julho de 1925 e faleceu na madrugada de 4 de Maio de 2009 em Cascais, com 83 anos.
Deixa-nos um vazio.

Ninguém, como ele, falou, ou fala, do cinema de animação com o carinho, a ternura, até mesmo amor, para além de conhecimentos profundos, com que ele o fazia. Utilizava palavras doces que seduziam as crianças. Pela forma, sem pressas, como descrevia as apresentações, os adultos aprendiam a descobrir a beleza e a magia dos filmes de animação.
Foi, desde muito jovem, um apaixonado pelo cinema.
No decorrer dos anos 50, durante o regime fascista do Estado Novo, associou-se ao movimento cineclubista Em Lisboa, participava no aluguer de salas e na projecção de filmes obtidos através das embaixadas, em formato de 16 milímetros. Os filmes tinham sempre que passar pela censura. Apesar disso, conseguiu mostrar obras do neo.-realismo italiano. Em 1952, foi detido pela PIDE, sob a acusação de financiar o movimento de resistência ao regime de Salazar com o dinheiro que obtinha da exibição dos filmes. Esteve preso durante seis meses, no Aljube.
Em 1960, viajando pela primeira vez para fora do país, representou Portugal no festival de animação de Annecy, em França (como representante do Cine-Clube Imagem), onde ganhou uma nova paixão pela animação. Acabaria por tornar-se divulgador da banda desenhada em Portugal, tendo editado, através da Bertrand, a versão portuguesa da revista Tintim (de 1968 a 1982), que, além do herói de Hergé, também contava as histórias de Spirou e Corto Maltese.
Escreveu em várias revistas e jornais, divulgando a arte da animação, e foi professor na ETIC (Escola Técnica de Imagem e Comunicação) durante dois anos. Foi agraciado com dois prémios: o Troféu de honra Zé Pacóvio e Grilinho, no 7.º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (1996) e o Grand Prix Saint Michel para a promoção da BD (1972).

Vasco Granja esteve ligado ao PCP e participou na festa do jornal do partido, a Festa do Avante.
Durante os anos 60, foi novamente detido pela PIDE, devido à sua ligação, na altura, ao Partido Comunista Português, mais concretamente à célula comunista dos cineclubes. Esteve preso durante 16 meses, tendo cumprido parte desse tempo em Peniche. Na prisão, foi submetido a várias torturas físicas e psicológicas, como a tortura do sono.
Em 1974, após o 25 de Abri, a RTP convidou-o para a apresentação de um programa. Vasco Granja chamou-lhe "Cinema de Animação", e manteve-o no ar durante 16 anos, com mais de mil emissões. No programa, dava a conhecer a animação de todo o mundo, desde a que era realizada nos países do leste da Europa, até à proveniente da América do Norte – Estados Unidos. Pretendia, com o seu programa, divulgar, para além da própria animação, uma mensagem de paz, que considerava estar presente em muitos dos filmes da Europa de Leste que apresentava.
Ainda em 1974, foi membro do júri do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême.
Em 1975, criou um curso de cinema de animação, a partir do qual viria a nascer a Associação Portuguesa de Cinema de Animação.
Em 1980, foi membro do júri da quarta edição do Animafest, o Festival Mundial de Animação de Zagreb, realizado na então Jugoslávia. Participara já como observador neste festival na edição de 1974 logo após o 25 de Abril.
Permaneceu na RTP até 1990.
Teve uma breve aparição no programa humorístico de televisão Herman Enciclopédia, em 1998, durante a qual parodiou os seus próprios programas sobre animação.
A Festa do Avante de 2006, contou com a sua participação na selecção de filmes de animação de diversas origens, com particular destaque para películas oriundas da antiga Checoslovaquia.
Em “Cinema de animação” Vasco Granja divulgou filmes de animação como Yellow Submarine, dos Beatles, e muitos trabalhos de qualidade realizados e produzidos na Europa de Leste. Uma criança chamou-lhe um dia “ O Pai da Pantera-cor-de-rosa”, personagem cujos filmes também divulgou. Assim ficou conhecido. Deu, igualmente, a conhecer ao público português os desenhos animados do Bugs Bunny.
Deve-se a Vasco Granja a utilização da expressão “banda desenhada” tradução do francês “bande dessineé”. Até ele as publicações eram conhecidas como “histórias aos quadradinhos”.
Colou durante 16 anos a crianças e adultos ao ecrã da televisão para verem animações de autor. Hoje o que as crianças vêm nas televisões são enlatados de animação, escolhidos a maior parte das vezes sem critério. Muitos deles indutores de uma cultura de violência contra a qual Vasco Granja sempre se bateu.

1 comentário:

Jorge Lopes disse...

Este é sem dúvida um icone de uma geração (ou duas). Quando a TV ainda só "dava" a partir das 6h30 da tarde e ao sábado à hora do almoço esperávamos ansiosamente pelo "Bugs Bunny" e "Speedy Gonzalez". O pior eram os desenhos animados Checos :). Grande Vasco, Descansa em Paz...