terça-feira, 14 de julho de 2009

Autofagia



Somos pequenos,

pobres e incultos.

Disse-o alguém.



E bem sei que a má-língua é um culto retintamente luso. Sabê-lo não me liberta do pesar de que assim seja. Ultimamente, com eleições à vista, a liturgia acentuou-se. Tem sido um dizer mal a torto e a direito, um despudorado desfilar de políticos acolitados pela coscuvilhice e pela inveja. Nos tempos da outra senhora batemo-nos (os que o fizeram!) contra o nacional-porreirismo. O bicho chama-se, agora, nacional-pessimismo. Ele aí está, no seu melhor.
Revela-se, a cada passo, nos ardores demagógicos de Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel, Moraes Sarmento, Paulo Portas, Nuno Melo, nas notas professorais de Rebelo de Sousa ou nas intervenções impróprias do PR. Tudo está mal, mas não nos preocupemos, eles são os regeneradores. Só não dizem o que farão, embora não seja difícil adivinhá-lo. É a direita às voltas sobre ela própria, a ver como pode apossar-se do poder.
Na outra aba do leque são as inflamações revolucionárias de Francisco Loução ou Luís Fazenda. Tudo está mal. O PM e o Governo são um desastre. Ignorantes, não sabem o que fazem. E eles, para além do verbo fácil? Porque é esta esquerda autofágica?
O PCP, cauteloso, dá tratos à bola para manter o seu eleitorado. Que outra coisa lhe resta?
Com erros de cálculo e cedências à mistura, o PM e o Governo lá vão navegando por entre ondas alterosas e ventos desencontrados, sem que da direita (nem pensar) e da esquerda (fora de questão) se acenda um farol.
De entre coisas até ali inexistentes chegou-nos numa madrugada de Abril: universalização da Segurança Social; Serviços Nacional de Saúde para todos; alargamento da escola pública com acesso universal ao ensino; descriminalização do aborto, enfim!
Não se me afigura que a esquerda autofágica, onde há virtudes que teimam em esconder-se, pretenda destruir tudo aquilo. Se esta terra for queimada dela não brotarão novos cravos! Mas se continuar pelo mesmo caminho, dará, sem dúvida, uma preciosa ajuda aos que pretendem fazê-lo.
Então, sim, ficaremos mais pequenos, mais pobres e mais incultos.

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