domingo, 19 de julho de 2009

Leituras para férias

De acordo com Saramago: “ a leitura é, sem dúvida, uma boa ocupação para uma tarde na praia ou no campo. Ou em casa se o dinheiro não der para férias”.
É desnecessário, senão inútil, entrar aqui em teorizações sobre famílias literárias com que eventualmente nos identifiquemos.
Façamos da leitura não uma penitência mas um prazer e, ao mesmo tempo, um instante de aprendizagem. Assim uma espécie de dois em um.
Três propostas:
1) – Memoria de mis putas tristes (Gabriel Garcia Marquez). A história de um nonagenário, cronista e crítico musical que, ao fazer 90 anos pretende oferecer a si próprio uma noite de amor com uma adolescente virgem. Depois de muito penar e comprar favores, consegue que lhe apresentem uma. Porém, ao vê-la adormecida, não tem coragem de acordá-la. Apaixona-se, então, por uma garota adormecida. Escrito com o génio de Garcia Marquez é uma leitura empolgante de que se procura, a cada página, o desenlace;
2) – A Viagem do Elefante (José Saramago). D.João III, Rei de Portugal, ofereceu um elefante a seu primo Maximiliano, Arquiduque de Áustria, como prenda de casamento. O livro é a história da viagem do elefante de Lisboa a Viena de Áustria. Diz o autor tratar-se de uma metáfora da vida humana. Não é um romance, acrescenta, porque lhe faltam condimentos para tal, como, por exemplo, o elefante ter encontrado uma elefanta na viagem. O que nele vi foi um olhar irónico e sarcástico sobre o mundo, na crítica política, social e religiosa e, ao mesmo tempo, um manifesto de compaixão solidária com as fraquezas humanas.
3) - A Parábola do Cágado Velho (Pepetela). Um olhar sobre a guerra civil em Angola: (“…dois exércitos, os “nossos” e os “inimigos”, travam uma guerra civil em todo o país, que aos poucos vai destruindo a vida de um povo que nada tem a ver com toda essa disputa e nem mesmo sabe dizer quem são os “nossos” e quem são os “inimigos”. Só sabem que qualquer dos dois exércitos que apareça no kimbu, a tribo deles, significará roubos e mortes que deixarão marcas nas vidas desses moradores. O kimbu onde vivem ainda conserva as tradições, mas Munakazi representa a modernidade. Munakazi representa a nova mulher, forte, independente, deixando Ulume perdido entre a tradição e os novos tempos. Dentro de tantos dilemas, de tantas dificuldades, o homem só pode contar com a ajuda de um cágado velho a quem ele visita quase todos os dias, desde criança…”). Sobre o livro diz Pepetela que ele “deve ser lido e esquecido logo que fechado. Para que não desperte os maus espíritos da intolerância e da loucura. Os mais velhos sabem, não devemos relembrar aquilo que nunca aconteceu”.

Boas férias, fora ou em casa.

3 comentários:

Raquel Abrantes disse...

Olá, Carlos!

Estou lendo As Intermitências da Morte, do Saramago. Ele é realmente um gênio. Nada mais confortante se pode ouvir sobre a morte.

Abraço de cá.

Carlos Albuquerque disse...

Olá,Raquel!
Só ele, de facto! Para tratar das coisas da vida com naturalidade, mordacidade e humor, Saramago criou uma morte cansada de ser detestada por toda a gente e que, por causa disso, decide suspender as suas actividades, embora regressando mais tarde...
Óptima escolha de leitura.
Um abraço daqui, nesta tarde de segunda quente pra xuxu (36º)

Filoxera disse...

Ainda só li o primeiro. Mas o último será um dos próximos, não me esqueci do conselho.
Os embondeiros também me fazem o coração bater mais depressa, devido a uma história que me liga a Angola e da qual tenho publicado alguns excertos no meu blogue, na etiqueta "As minhas histórias".